quinta-feira, dezembro 26, 2024

A culpa é do Alan Smithee

Talvez você não conheça de imediato o Alan Smithee.

E se eu disser que ele é um célebre diretor de cinema em Hollywood, roteirista e até ator? Certamente, você ainda não conseguiu lembrar do Alan Smithee, né? Talvez, citando alguns de seus filmes, roteiros e papéis, você se recorde de sua importância e relevância para a cultura ocidental.

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Alan Smithee (ele também assina Allen Smithee) é um cara Gump em todos os sentidos. Ele estreou no showbiz no ano de 1968, mas bizarramente, existem filmes feitos por ele anteriores a sua estréia! Parece estranho? Talvez não para Marty Mcfly, né?

 

Filmes do Allan Smithee

  • Fade-In / Ferro Cowboy (1968)
  • Morte de um Pistoleiro (1969)
  • Cidade em pânico (1980)
  • Fun and Games (1980)
  • Twilight Zone: The Movie (1983) (segundo assistente de diretor)
  • Stitches (1985)
  • Vamos começar Harry (1986)
  • Morgan Stewart’s Coming Home  (1987)
  • Ghost Fever (1987)
  • The shrimp on the Barbie (1990)
  • Solar Crisis (1990)
  • The Birds II: Fim da Terra (1994)
  • National Lampoon’s Senior Trip (1995)
  • Raging Angels (1995)
  • Hellraiser: Bloodline (1996)
  • Mighty Ducks the Movie: The First Face-Off (1997)
  • An Alan Smithee Film: Burn Hollywood Burn (1998)
  • River Made to Drown In (1999)
  • Woman Wanted (2000)
  • Dune (1984)
  • Gunhed (1989)
  • The Guardian (1990)
  • Catchfire (1990)
  • Perfume de Mulher (1992)
  • Roteiro de O Nutt House (1992)
  • Rudy (1993)
  • Showgirls (1995)
  • Calor (1995)
  • Meet Joe Black (1998)
  • The Insider (1999)

Direções dele para a TV

  • Tiny Toon Adventures (alguns episódios)
  • A Nero Wolfe Misterio, Motherhunt
  • Call of the wild (1993)
  • Dalton: Code of Vengeance II
  • É Académica (gameshow australiano) (2006);
  • Karen Song (só o primeiro episódio).
  • La Femme Nikita , “Catch a Falling Star”, – Ele dirigiu o episódio 16 da 4 ª temporada da série de TV dos EUA.
  • Riviera, (1987) Piloto de telefilme
  • MacGyver (1985) dirigiu o piloto da série
  • The Heist (1985)
  • Luar (telefilme e piloto de série)(1982)

Direção de Videoclipes

  • I Will Always Love You- da Whitney Houston (1992)
  • Heaven n’Hell – Salt-N-Pepa (1994)
  • Digging the Grave- do Faith No More (1995)
  • “Lets Get Down” – Tony! Toni! Tone!
  • “Building a mistery”- Sarah McLachlan (1997)
  • I dont want to wait- Paula Cole (1997)
  • “So Help Me Girl” – Gary Barlow (1997)
  • “Victory” – Puff Daddy com The Notorious BIG e Busta Rhymes (1998)
  • ” Kiss the rain “- Billie Myers (1998)
  • ” The first night “- Monica (1998),
  • ” Sweet Surrender “- Sarah McLachlan (1998)
  • “Reunited” – Wu-Tang Clan (1998)
  • ” Waiting for Tonight “- Jennifer Lopez (1999),
  • “The future is X-Rated” – Matthew Good Banda (1999)
  • ” Maria “- Blondie (1999)
  • “No More” – Ruff Endz (2000)
  • “In Your Eyes” – Jeffrey Gaines (2001)
  • “wrong impression” – Natalie Imbruglia (2001),
  • ” late goodbye “- Poets of the Fall (2004)
  • ” Lose my breath “- Destinys Child (2005)
  • ” Juicebox “- The Strokes (2005)
  • ” Hunting for Witches “- Bloc Party (2007)

A lista dos filmes do Alan Smithee está na wikipedia

 

Pensa num sujeito tão egocêntrico capaz de colocar o próprio nome no titulo do filme? Sim, isso aconteceu em ” An Alan Smithee Film: Burn Hollywood Burn (1998)“.

Agora, de fato, temos que reconhecer que Alan Smithee é um sujeito versátil. Não é todo mundo que consegue ser assistente de diretor no Twilight Zone, dirigir o piloto da série do McGuyver , o filme Duna, e clipes da Whitney Huston e da banda Faith no more sem ficar muito conhecido.

Talvez isso se deva a sua maior característica: Não ter um estilo próprio.

Além de filmes de cinema,  tv e roteiros, o cara ainda meteu a mão em produtos culturais diversos, como games, quadrinhos e até dublagem ele fez.

Alan Smithee foi roteirista de quadrinhos da Marvel Comics e  diretor de um jogo de videogame de RPG chamado EQUINOX,  do  Super Nintendo! O cara ainda foi diretor de arte do game Marine Sharpshoopter 4. Se já não fosse o bastante, ele foi também o dublador de Rolento no game Street Fighter X Tekken. Ele também é creditado como membro do conselho científico do filme Decay (2012).

Agora, se Alan é tão egocêntrico a ponto de ter um filme com seu nome, é porque ele é foda.

Qual pessoa no mundo pode tirar a onda de ter nascido no mesmo ano em que dirigiu seu primeiro longa metragem? Somente ele! 

Sim, é isso mesmo! De acordo com o IMDB, ele nasceu em 1967, ano em que dirigiu o filme “Morte de um pistoleiro”.

Mas como isso é possível?

Simples, porque ele não existe!

Alan Smithee é uma criação ficcional.

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Acontece, que antes de 1968, as regras da DGA (Directors Guild of America ) não permitia que diretores de cinema usassem pseudônimo. A organização então precisou criar o Alan Smithee para que pudesse obrigar os diretores que por qualquer razão não quisessem ter seus nomes envolvidos com o produto que fizeram a creditar os filmes.

É por isso que a grande maioria dos filmes do Alan Smithee são umas merdas dignas de pena.

O pseudônimo Alan Smithee foi criado para uso no filme Morte de um Pistoleiro , lançado em 1969.

O caso desse filme foi peculiar, porque dois diretores fizeram o trabalho. No fim das contas, nenhum dos dois quis o credito pela obra, talvez por achar que de fato, por ter feito só metade, ela não era a obra de nenhum dos dois, mas sim de ambos. O jeito foi dar o filme ao Smithee.

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Assim foi com a maioria dos filmes, que por uma razão ou outra, o diretor verdadeiro acha que o filme não representa a sua visão criativa. Quando isso acontece, tornou-se o “padrão” dar o filme ao Smithee.

A escolha do nome foi curiosa. A proposta inicial era creditar a obra a um fictício “Al Smith”, mas este foi considerado um nome muito comum, e que na verdade, já estava em uso dentro da indústria cinematográfica.

Assim, eles mudaram o último nome para “smithe”, e depois “Smithee”, de modo que garantisse que ficasse distinto o suficiente para evitar uma futura confusão, mas sem chamar a atenção.

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O mais engraçado é que sem saber que o diretor não existia, os críticos elogiaram o filme e o diretor “novato”. Na época, a crítica do The New York Times comentou que o filme foi “fortemente dirigido por Allen Smithee, que tem uma habilidade única para a captação de rostos e extração de um grande background dramatico”.

Na sequência da sua criação, o pseudônimo “Alan Smithee” foi aplicado retroativamente a alguns filmes, como fade-in (também conhecido como Cowboy de Ferro ), um filme estrelado por Burt Reynolds e dirigido por Jud Taylor , que foi lançado pela primeira vez antes do lançamento do Morte de um Pistoleiro .

 

Taylor também solicitou o pseudônimo para o City in Fear (1980) com David Janssen .

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Depois de um tempo, a relação quase sempre tensa e conflituosa entre produtores executivos, roteiristas e diretores produziram enxurradas de filmes onde os profissionais, contrariados,  se recusavam a assinar. Assim, esses filmes acabavam indo para o Alan Smithee.  Mas nem todo caso de filme do Alan Smithee é causado por desavenças ou filmes de qualidade tão porca que o diretor tem medo de colocar seu nome nele e se queimar.

A inexistência física do Alan Smithee foi um segredo por muitos anos. Mas com o passar do tempo, o nome e seu objetivo se tornou mais conhecido. Alguns diretores violaram a proibição da associação sobre discutir o uso do pseudônimo.

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Em 1998, estrelou então o tal do filme An Alan Smithee Film: Burn Hollywood burn. Neste filme, um homem chamado Alan Smithee ( Eric Idle ) pretende renegar um filme que ele dirigiu, mas é incapaz de fazê-lo porque o único pseudônimo permitido é o seu próprio nome.

O filme foi dirigido por Arthur Hiller , que relatou a DGA que produtor Joe Eszterhas tinha interferido muito em seu controle criativo, e removido com sucesso seu próprio nome do filme. Por isso, “Alan Smithee” foi creditado em seu lugar.

 

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Infelizmente, o Alan Smithee se aposentou após este filme. Ocorre que o tal produto foi um fracasso comercial e de crítica. Lançado em ridículos 19 cinemas apenas, ele arrecadou só 45.779 dólares. O custo da obra foi de US $ 10 milhões, (imagina como os produtores ficaram putos).

A publicidade negativa que cercou o filme chamou uma indesejada atenção da mídia para o pseudônimo. Assim, o DGA aposentou oficialmente o Alan Smithee. O filme Supernova (2000), teve como crédito ao diretor “Thomas Lee”, que é uma espécie de “Alan Smithee 2.0”

Embora o nome tenha sido abandonado na indústria cinematográfica, ele continua a ser usado em outras mídias e em projetos de filmes que não estão sob a alçada da DGA.

E foi assim que ele foi parar nos quadrinhos da Marvel.  Ao que parece, até histórias em quadrinhos do Demolidor, publicada pela Marvel foram creditados ao Smithee. Isso aconteceu quando o escritor da série, DG Chichester decidiu abandonar o trabalho, sendo contratualmente obrigado a fornecer cinco scripts adicionais. Por não querer seu nome no projeto, ele pediu ao editor-chefe da casa que os quadrinhos fossem creditados ao Alan Smithee.

Embora o pseudônimo quase sempre tenha sido usado por diretores, uma busca lá no IMDB mostra que Alan Smithee também aparece em varias outras atividades, entre produtor, dublador, roteirista e até ator. Aparentemente, existe uma versão “fêmea” do senhor Smithee. É uma tal de Alana Smithee. Seriam parentes? Ela é tão imaterial quanto ele.

Seja como for, Alan Smithee é uma figura célebre, apesar de imaterial. Confira esta compilação com alguns de seus trabalhos

 

Você pode saber mais sobre Alan Smithee no IMDB
No site da wikipedia há uma lista dos filmes com Alan Smithee, onde você achará o credito para o diretor original de cada uma das obras. Em muitos casos, Alan Smithee só é creditado em versões dos filmes, quando vão para a Tv e etc. Isso costuma causar alguma confusão, pois muitos filmes tem versões com o nome do diretor original e outras com o Smithee. Curiosamente, colecionadores pagam altas somas por filmes do Smithee. Parece que o Duna é um dos mais cobiçados.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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Comentários

  1. Que doideira essa Hollywood não?
    Phillipe, esse final de semana eu assisti 2 filmes muito bons: O primeiro foi o terror invocação do mal – melhor filme de terror dos últimos tempos e tem todo aquele fusúe de que foi baseado em fatos reais e bla bla bla, e sobre a historia do casal Warren (demonologistas). Cara, a historia real desse casal acho que daria uma boa matéria gump aqui.
    O outro filme é gravidade: Filmaço, você não pode perder hein.

  2. Uma outra alternativa que Hollywood está usando, além de creditar o fiasco ao Alan Smithee, é a de contratar diretores brasileiros (vide Robocop – o remake).

    • Bom, só posso falar mal depois de ver o filme. O Padilha é bom diretor, eu acho ele bem acima da media dos diretores americanos não estrelados. Vamos ver como ele se sai com robocop. Temos que reconhecer que este é o tipo de trampo ingrato que caiu no colo dele e ele teve coragem de encarar. Remake já é foda, remake do classico Robocop é pior ainda. O estudio deve se meter EM TUDO. Fazer este filme nos EUA deve ser pior que correr 100m rasos usando uma armadura medieval.

  3. o filme ser bom ou ruim depende do ponto de vista, eu adoro filme trash, e filme “quanto pior melhor”. Não sei bem o que Hollywood define como filme bom, até porque os que ganham o Oscar não me apetecem (mas eu gosto de filmes B).A propósito, você poderia fazer um post sobre filmes trash, com os nomes mais grotescos e assim por diante (um que adoro é o Palhaços Assassinos do Espaço Sideral).

    • E aquele strippers zumbis? Hahaha tem muito filme tosco mesmo. Alguns são tão toscos que ficam legais, como o “machete”. Mas tem filme que nego tenta se levar a serio demais e fica uma bosta. Geralmete, quando a mentira é excessiva eu me sinto chamado de palhaço e fico puto com o filme. Tipo na cena da geladeira e da bomba atômica no ultimo indiana jones.

  4. mostrei a matéria pra um amigo meu.. e ele disse que tem alguns filmes da lista que tem diretor creditado.
    Ai fui pesquisar e Twilight Zone: The Movie (1983), é um deles. Alan Smithee só aparece como diretor assitente.
    “second assistant director (segment “1”) (really Anderson G. House) ”

    “Directed by
    Joe Dante … (segment “3”)
    John Landis … (prologue & segment 1)
    George Miller … (segment “4”)
    Steven Spielberg … (segment “2”) “

    • Em muitos casos, Alan Smithee só é creditado em versões dos filmes, quando vão para a Tv e etc. Isso costuma causar alguma confusão, pois muitos filmes tem versões com o nome do diretor original e outras com o Smithee. Curiosamente, colecionadores pagam altas somas por filmes do Smithee. Parece que o Duna é um dos mais cobiçados.

    • Esse filme “Twilight Zone” é famoso por ter acabado na morte de três pessoas, os atores do episódio do John Landis, o ator Vic Morrow e as duas crianças que atuavam com ele. Parece que o John landis entrou em depressão por isso.

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