Hoje é dia 31. Dia do Saci.
Para comemorar, eu vou colocar um trecho do meu livro, onde o escravo Raimundo dá de cara com o saci. Vocês vão perceber que eu trato o Saci com mais respeito do que o Monteiro Lobato ou o Ziraldo que embabacaram a criatura maléfica e terrível que é o lendário Saci Pererê como um negrinho boa praça. Praticamente um Jairzinho sem perna. Onde já se viu o Saci ser amigo da Emília e do Visconde de Sabugosa??? Inaceitável! Como eu não aceito este tipo de “vacilação” com meus ícones míticos do folclore nacional, reparem no estilo grotesco do meu Saci.
Pra quem vai pegar o bonde andando ( 99,9% dos leitores do blog que não leram o meu livro e os 2,3% dos leitores que irão se predispor a ler um post deste tamanho cavalar) o Raimundo é o escravo que fugiu de uma fazenda, suspeito de um homicídio e há um capitão do mato chamado Anastácio no rastro dele que é muito sinistro ( em todos os aspectos possíveis do termo). Ele é um psicopata que segue Raimundo na mata fechada há alguns dias. Na fuga, Raimundo acabou caindo de uma ribanceira ao tentar escapar de cães selvagens do mato e após se arrebentar todo, achou uma pequena lagoa onde entrou para se refrescar e tirar a lama do corpo. Ele estava faminto e achou algumas frutinhas que não soube distinguir o que eram exatamente. Acreditando serem pitangas, comeu algumas e com a fome que sentia, só viu que eram extremamente amargas e não eram pitangas quando já havia engolido varias delas. Começou a torcer para que não fossem venenosas.
Raimundo é apaixonado por uma escrava chamada Rosa. O problema é que o feitor também é apaixonado por ela. E pra piorar, ela é apaixonada pelo filho do dono da fazenda. Mas isso não vem ao caso. O que é importante aqui é o encontro com o Saci:
(…)
No meio da madrugada. Os ferimentos aliviavam um pouco. Outros, mais antigos, ardiam como novos. Suas costas queimavam em brasa. Mesmo naquela água fria, seus pés machucados e braços pareciam queimar. Queimavam tanto, que ele não aguentou e saiu dali.
Saiu para sentir mais frio ainda na escuridão da noite. Estava complemente molhado desde a chuvarada que tinha lhe surpreendido. Nu, lavou a roupa com rapidez. Fazia quase tudo com os olhos fechados, uma vez que eles não lhe apresentavam serventia na escuridão da noite. Ou quase….Ao abri-los, viu dezenas de vaga-lumes cruzando a lagoa. Observando bem, notou que não eram tantos, mas apenas poucos, que ao voarem sobre a superfície da água, tinham sua luz refletida. Ficou um tempo ali, parado, contemplando aqueles poucos momentos de paz. Observava o movimento de dança daquelas graciosa criaturas no ar. Ah, se ele pudesse fiar ali parado com a Rosa. Só os dois. Ele talvez até se declarasse. E quem sabe, não seria nem necessário…
Algo grande pulou da água, assustando tanto os vaga-lumes quanto Raimundo. Poderia ser um peixe. Um peixe grande, pelo barulho…
Mas poderia ser outra coisa qualquer, um índio? Um boi? Uma onça a beber água? o Capitão do mato? Correu para o mato, pelado, com as roupas molhadas nas mãos.
Tratou de sair daquele lugar. Vestiu as roupas molhadas na escuridão da mata. Correu por entre as árvores o mais rápido que pôde, mesmo sendo o mais rápido que podia, algo como um andar apressado. Com as mãos à frente para evitar colisões, corria levantando bem as pernas e virando os dedos dos pés para cima. Vez ou outra levava um tombo, tropeçando em uma raiz, ou casca de árvore. Procurava não pensar em cobras ou aranhas, ou escrpiões. Temia pisar uma lacraia, ou bicho venenoso.
A mata alta, com suas grandes árvores, de troncos grossos e raízes tão altas que faziam-no cair, deu origem a uma capoeira baixa, sem árvores e com um matagal não muito alto. Calculou que devia estar em um pasto. Pela altura do mato, não estava sendo usado fazia coisa de um mês ou dois. Era uma área plana, com uma quantidade de grilos que faziam a mosquitada ao seu redor parecer coisa pouca. E se era realmente o pasto, com certeza, estaria perto da estrada. Se estivesse certo, ali era um trecho deserto que levava a um pedaço de estrada que não se avistava nenhum rancho com morador.
Continuou parado na beira do princípio do pasto, a olhar em volta. Ali era mais seguro, por entre a capoeira mais baixa, a altura da cintura.
O sono já se aproximava forte, mas ele não poderia dormir ali. Era maluquice. O capitão poderia aparecer a qualquer momento. Virou-se para trás. Podia ver contra o céu estrelado e sem lua o contorno do grande morro, lá atrás. Ouvia os pássaros, as corujas, vez ou outra, lá para dentro.
Um tiro ecoou lá para as bandas do grande morro. Era o Capitão do mato. Teria ele encontrado uma onça? Atirado para assustar? Seriam os cachorros do mato? De qualquer maneira, ele estava muito longe para ser o alvo. Relaxou, sabendo o paradeiro do Anastácio. Estava em relativa vantagem desde que caíra, escorregando naquela pirambeira.
Sentiu atrás de si um vento. Vento frio, que passou rápido, causando em Raimundo um arrepio que subiu de um pouco acima da bunda até a ponta da nuca, passando pela cabeça, onde pôde sentir o arrepio se acabar na ponta do cabelo. Se virando, não viu nada. Porém, sentiu uma presença ali. Tinha mais alguém com ele. Outro arrepio percorreu sua coluna. Era sexta feira de noite sem lua. Devia ser meia noite. Ele sabia e temia o que aquilo significava. Virou-se em giro de corpo, a olhar para todos os lados. Até que viu, ali na sua frente, aquela estranha criatura magra, alta, na negritude da mata, movendo-se rápido na sua direção. Era alto, a despeito do que ouvira falar.
Pois fora justamente ali, de fronte a mata escura e fria, ao olhar para os lados, ouvido atento, o coração batendo apressado, que se deparara com a coisa parada bem à sua frente. Era o bicho do mal, o servo do capeta, com os olhos vermelhos de sangue e morte a desejar-lhe as entranhas — o Saci! – Raimundo ficou desesperado.
Dele, do Saci, contavam-se coisas terríveis.
Entrava nas casas para roubar criancinhas e depois comê-las com a fome insaciável de um servo do mal. Fazia ciladas para os viajantes. Matava quem cruzasse seu caminho. Aparecia nas noites escuras de sexta-feira. Quase sempre na noite. Quieto, ouvia-se o seu riso e a brasa do cachimbo. Aparecia conforme sua vontade, num redemoinho de vento. Era ladrão, zombeteiro, assassino de uma perna só. Atravessava paredes, ria-se e zombava da cruz. Diziam que dele o padre Afrânio tinha nas costas a cicatriz do tridente do diabo. Em uma noite de lua cheia, o saci entrou no quarto do padre. De um salto caiu de um pé só nas costas do padre, e com sua unha desenhou o tridente do diabo bem nas costas do padre Afrânio, coitado.
Esse era o tipo de piada do Saci. Ao menos era o que se dizia lá na senzala.
Suas unhas podiam atravessar ferro, seus dentes rasgar a carne, e seus braços – embora magros, estouravam a cabeça de um escravo tal qual um ovo. Escapar ao Saci Pererê era impossível! Ouvira muitas histórias daquela criatura dos infernos.
Muitos já não acreditavam no poder do bicho, mas só quem ficou cara-a-cara com ele é que realmente sabia do que se tratava. E desses, só havia um. O Bartolomeu. Um gordo preto velho que contara a sua aventura, quando sozinho na lida, ao voltar para a fazenda, deu de cara com o Saci. Bartolomeu não tinha uma das mãos. O Saci a comera na luta.
Bartolomeu só escapara da fúria do Pererê porque, em um golpe de sorte, foram surpreendidos em luta pelo comandante Rodrigo, filho do patrão, que vendo aquilo, atirou, fazendo o saci sumir na nuvem de vento, mas sem antes dentar a mão do pobre Bartolomeu, engolindo-a toda, de uma só vez.
Sorte do pobre Bartolomeu que o comandante Rodrigo havia saído para caçar com seus dois pretos naquele dia. E estarem voltando do mato sem caça. Comandante Rodrigo era o filho do nosso senhor e patrão. Ele era bonito e valente. Também era muito justo, porém teimava em ser chamado de “capitão”, pois odiava o termo “nhonhô” com o qual os escravos costumam chamar os filhos do senhor da fazenda, – sempre de forma carinhosa.
Bem que as crianças são avisadas que escravo fugido é comida do Saci.
Agora Raimundo podia ver os olhos acesos da criatura. E arrepios percorriam sua coluna, em ondas que aumentavam. O coração disparado. O terror lhe impedia de dar um passo sequer. O Saci parou a uns dez passos dele. Raimundo ouviu as rizadinhas do Saci. O som era de um riso infantil, destoando do tamanho do bicho. O pânico aumentava. Olhava bem na cara do bicho quando uma linha vermelha se delineou abaixo dos olhos também vermelhos. A linha, logo se dividiu em duas metades, que se abriram lentamente na escuridão. Dentes. Milhares de dentes pontudos apareceram na cavidade. A criatura passou a emitir uma certa luminosidade, que tornava visível uma língua comprida, terminada em ponta, como um rabo de cobra, a se mexer naquela boca nojenta e babenta que lentamente pronunciou em outro tom de voz, dessa vez um som gutural, sufocado e assustador:
-Cê…Vai…Morrê…-Arregalando os olhos para ver bem o Raimundo, que desesperado, não sabia se chorava, se fugia, se implorava pela vida ou se desistia de prender a diarréia nervosa que logo o acometera.
Trêmulo, chorando de medo, todo mijado e cagado, Raimundo deu um passo para trás. E viu o Saci partir para cima dele em saltos da única perna que possuía.
O saci pulou para cima de Raimundo. Com a bocarra escancarada e cheia de dentes na direção de sua cabeça. Raimundo, vendo-se indefeso, jogou o corpo para trás, caindo de bunda. Sentado, contemplou o saci prostrar-se na frente dele, abrindo os braços para agarrá-lo.
E foi assim, indefeso, vendo a morte iminente de frente, que o Raimundo, quem diria, foi sentindo uma força que nunca sentira antes. Decidiu que se fosse morrer ia ao menos lutar antes. Mas não estava em posição das mais confortáveis naquele momento.
O Saci inclinou-se para atacá-lo em mordida. Raimundo, passou uma banda na única perna que o saci possuía, desequilibrando-o e fazendo com que caísse no chão. De cara.
Em um salto, Raimundo estava de pé. E o Saci caído no chão, emitia risadas como louco. Raimundo procurou um pedaço de pau com que pudesse bater no Saci, mas não se via nada naquela escuridão.
O Saci levantou-se rapidamente e avançou para cima de Raimundo com fúria. A boca escancarada vertia uma baba fétida. Mais uma vez, Raimundo acostumado a golpes de capoeira esquivou-se. Ele saltou sobre Raimundo novamente com as garras afiadas para cima. Raimundo segurou-lhe os braços. Pôde ver a força que o bicho tinha. Fez um galeio do corpo para trás, enquanto com o pé posicionado no peito do monstro fazia força para cima. Lançou longe o Saci.
Levantou-se rápido e correu para cima do monstro. O saci nem reagiu direito, pois ao que parece ninguém nunca havia enfrentado assim a criatura. Raimundo logo chutou-lhe as costelas, o que fez com que o Saci caísse e não conseguisse se levantar. Aproveitou a deixa para uma fuga.
O Saci se levantou. Raimundo correu para o meio do pasto. O Saci, visivelmente sentindo dores nas costelas, saltava um pouco mais lentamente, ficando para trás. Raimundo, já no meio do pasto parou e se virou para ver o Saci.
Nada. O bicho tinha sumido. Olhou para os lados… Nada.
Teria o Saci ido embora?
De repente, as garras geladas do Saci agarraram-lhe a garganta, na tentativa de enforcá-lo. O Pererê era muito forte. Apertava, enquanto, desesperado de medo e susto, Raimundo buscava agarrar-se na cabeça da criatura. As garras do Saci entravam lentamente em seu pescoço.
Raimundo estava em total desespero. Tentava em vão socar a cabeça do Saci. Porém ele apertava o pescoço de Raimundo com tamanha força que o negro não conseguia respirar. O Saci ria aquele irritante riso insano e infantil com macabro prazer.
Esticando o máximo possível o braço para alcançar a cabeça do bicho, Raimundo conseguiu tocar-lhe o estranho e pontudo gorro. O Saci apertou mais, e Raimundo sentiu seus olhos injetando de sangue, seus pensamentos nublaram-se e tudo parecia rodar. Agarrou o chapéu do Saci arrancando-o da cabeça do bicho. Tudo ficou preto. As risadinhas do Saci de súbito se acabaram. O corpo de Raimundo caiu, pesado no chão.
Estava tonto. O ar faltava-lhe aos pulmões. Ao se levantar, viu o Saci Pererê parado bem a sua frente. A olhar com os olhos em forma de duas bolas vermelhas em sua direção. Raimundo tossia. Ainda um pouco zonzo, olhava fixamente para aquela figura estática bem à sua frente. Deu-se conta de que estava com o gorro do Saci em suas mãos. Era mole e gosmento. E mexia-se sozinho. Estava vivo Ao olhar viu que o chapéu tinha transformado em um verme, uma espécie de larva gigante.
Raimundo ficou com nojo daquele troço. Coisa do diabo… Pensou em jogar longe.
-Me dá isso aqui. -Saiu novamente a voz gutural da criatura escura e sombria, que agora estava encolhida em frente ao Raimundo.
-Isso? -Falou Raimundo. Olhava agora para o gorro, que se mexia como se fosse um imenso verme, com aquela baba. Mas ele segurava firme.
-Isso me pertence. Dá pra mim! -Os olhos da criatura vermelhos e luminosos no escuro da noite cresciam de ódio, porém o Saci continuava parado, na mesma posição.
Raimundo não era bobo. Se o bicho podia tê-lo matado tão facilmente, porque não o fazia agora? Estava parado ali. Parecendo indefeso…E pedindo, o gorro. E aquele negócio gosmento nas mãos de dele, lutando para sair, já estava incomodando o coitado do Raimundo. Dar ou não dar? Raimundo em dúvida falou:
-Te dar para quê? Vem pegar, ô filho de uma égua!
-Me dá que é meu!
-É? Eu acho que vou ficar pra mim.
-Qué trocá? -Disse o Saci, tentando mudar de tática.
-Pelo que? Suncê acha que eu vô confiá em palavra de Saci?
-Eu mato vozmecê!
-Suncê? Não parece muito perigoso agora não! -Raimundo estava nervoso. Aquilo na mão dele, fosse o que fosse, era muito importante para o Saci e lutava bastante para sair. Parecia um minhocão. Mas Raimundo, tentando salvar a própria pele, tentava manter o nojo sob controle a qualquer custo.
-Seu Saci…Toma! – Raimundo deu um chute na barriga da criatura, que parecia agora sofrer como se fosse uma pessoa comum. O saci caiu e gemeu, abaixado.
-Ahhhh….Faz isso não garoto, ahhhhh….
-O quê? Isso?-E deu chute na cabeça do Saci.
-Ung! Vozmecê deu sorte de ter tirado o gorro do Saci. Mas ai docê se eu pegar ele de volta! Vô cumê suas tripa!
-Cala a boca, Saci abusado! Me respeita! -Disse dando outro chute na cara do Saci. Porém no fundo, no fundo, Raimundo estava desesperado de medo….-E se o Bicho pega essa minhocona de mim? Ele disse que me mata….E pelo que sei, mata mesmo. -Pensou.
Talvez o jeito fosse barganhar com o Saci. Mas como poderia confiar naquilo? Uma criatura que não se pode chamar de gente e também não é bicho, que não tem alma e vive de fazer maldades?
-Dá logo isso pra cá! Isso é meu. É meu gorro.
-Eu sei, “seu”Saci Pererê…-sorriu e começou a propor negócio com a criatura. -E esse seu gorro te dá poder, não é?
-…-O bicho emudeceu, como que não quisesse responder a Raimundo. Porém, ele prosseguiu:
-Bem, já que suncê não fala, eu vô achá que sim. Esse gorro vale muito prá ocê, né Saci?
-Pois vale! -A voz gutural…
-Então, quer fazer uma barganha?
-Vozmecê quer fazer trato com o Saci? -O ser parecia se interessar na proposta de Raimundo. –Pois fale!
-Quero que vozmecê suma daqui, pois te venci na luta. Volte para sua sepultura, ou pra casa do tinhoso, e não me apareça mais aqui. Quero que vozmecê vá embora sem me machucar.
-Umm…Tá acertado. Mas dá aqui meu gorro!
-Espera, “seu” Saci….Eu não terminei. Como é que vou saber se vozmecê vai cumprir sua proposta?
O Saci olhou em volta. Parou para pensar um pouco e tornou a virar-se para Raimundo.
-Olha! –O Saci apertou a unha comprida no próprio pulso, até sair uma coisa vermelha, que pingou no chão. Ao pingar, um cheiro de enxofre queimou no ar. Uma labareda de fogo abriu-se do chão bem na frente de ambos, e Raimundo pode ouvir milhares de gritos de pavor, dor e sofrimento. O Saci falou:
-Tá vendo? É minha casa. -E, voltando-se para a labareda de dois metros que continuava a queimar, mas sem iluminar o ambiente, enfiou o rosto no fogo. Gritou umas palavras que Raimundo não conseguiu entender.
Enquanto olhava aquilo apercebeu-se de uma outra presença ao seu lado. Virando de sobressalto, viu, ali, bem do seu lado, Rosa.
O fogo se apagou. O Saci permanecia ali parado bem na sua frente. O gorro em forma de minhoca continuava a debater-se nas mãos de Raimundo e agora, Rosa, seu amor, por mais incrível que aquilo parecesse, estava ao seu lado.
Ela virou-se para o Saci e perguntou:
-Por que pediu que eu viesse? -Ela estava linda, em um vestido como o da senhora patroa da fazenda. Raimundo a interrompeu:
-Rosa, a patroa vai te dar surra de bacalhau quando souber que roubou o vestido dela! Ela se virou para ele e com um sorriso de ternura, mas não deu a menor importância para Raimundo, ignorando-o por completo. Virou-se para o saci e repetiu a pergunta. O Saci respondeu:
-Mestre, o crioulinho tomou meu gorro.
-Você sabe que não vou interceder.
-Não, mestre. Ele quer que eu faça com ele um trato.
-Um trato? Pois faça. -E virando-se para Raimundo, ela disse com aquele rosto tão desejado por ele:
-Raimundo, eu não sou a Rosa.
-Ora, olha aí! Tô vendo que é! -Disse Raimundo tentando segurar a minhocona em suas mãos.
-Arre! Pensa bem, ô Raimundo! Cumé qui a Rosa vai aparecê aqui? No meio do mato? Eu não sou a Rosa. Quem eu sou, não lhe dou chance de saber, mas apareci como ela para não te assustar com minha verdadeira aparência.-Disse a Rosa, quero dizer, o Dêmo.
– Mas então suncê não é? Então se não é a Rosa é… MeuDeusdoCéu!- Raimundo saltou pra trás com terror.
-Você pode me chamar de Rosa ou Diabo, como quiser. -E sorriu, para Raimundo, que aterrorizado observava.
-Que trato é? -Perguntou ela.
Logo o Saci falou:
-Perdi em luta. O Raimundo tirou meu gorro. E como a lei ordena, o Saci não ataca o portador de seu gorro. Também perde seus poderes até que volte a ter o gorro. Mas o Raimundo só devolve o gorro do Saci com a condição de eu não me voltar contra ele.
-É isso, Raimundo? -Perguntou a Rosa, na realidade o diabo em pessoa.
-É, sim senhora.
-Pois então pode dar o gorro do Saci pra ele. Eu lhe garanto. -Disse-lhe com a mão delicada em seu ombro. Raimundo, morria de medo daquilo tudo. O diabo havia posto a mão no ombro dele. Logo, entregou aquele verme nojento e pesado que se mexia como uma imensa larva para o Saci.
Ao tocar a mão do Saci, a larva, transformou-se novamente no gorro vermelho e pontudo que havia visto antes. O Saci colocou o gorro na cabeça, olhou bem nos olhos de Raimundo e deu a risadinha assustadora com voz de criança que costumava dar. Sumiu, em um redemoinho de vento.
Só ficaram ali, no escuro Raimundo e o diabo na forma de Rosa. Ela virou-se para ele e disse:
– O trato está feito, Raimundo… Você foi esperto desconfiando do Saci. Ele ia mesmo te matar, não fosse eu para testemunhar e te garantir. Adeus! -E sumiu em um clarão branco naquela escuridão, cegando Raimundo por alguns segundos.
Quando finalmente voltou a si, Raimundo não podia acreditar. Lutara com o Saci e sobrevivera. Começou a chorar de nervoso. Tinha falado com o diabo. Caiu de joelhos, e começou, a rezar desesperado. Pedia perdão a Deus por ter falado com o satanás.
Ficou ali, no mesmo lugar, rezando, por quase uma hora. Pôs-se de pé. Estava exausto. Olhando para o céu viu que faltava mais ou menos uma hora ou duas para amanhecer o dia. Ele tinha que dormir um pouco.
(…)
FIM
Muito bom!
Quero ler o livro hein… :P
To curiosos pra ve q q vai da isso…
Ei… onde eu encontro o teu livro pra comprar???
Cara, tu deveria fazer parceria com quem desenvolve animação. É misturar o útil com o agradável. hehehe Qdo possível, faz a gentileza de ir http://www.70ae.blogspot.com e trocar o banner. Boa semana, Philipe.
Valeu galera. Não é que pra minha surpresa alguém leu?! Eu jurava que ninguém ia ler.
Infelizmente eu fiz uma edição muito pequena do livro e esgotou.
Yoshio, eu troquei já.
Qual o nome do livro? Será que eu acho no emule?! heheh
Gostei do encontro, e fiquei curioso pra saber se els se batem novamente no restante da história.
E, por não ser conhecedor profundo de folclore, tive uma dúvida: que partes do Saci, de sua aparência e daquelas histórias dele são “verdade” e o quê é contribuição sua?
abraços,
Cara… Ficou muito boa a sua história. As nuances fiéis ao folclore, a criatura diabólica, o diabo “honrando tratos”…
Sensacional!
E sim, eu li tudo, hehehe
Vou ser sincero philipe, amanhã eu leio ele todo, hoje estou cansado.
Mas você deveria é começar o post dizendo que 99.9% das pessoas NÃO SABEM QUEM É O SACÍ, quanto mais o Caipora.
Para fazer a gurizada conhecer o Bumb-meu-boi já é um sufoco.
Quanto ao Sací bonzinho, lembro que no episódios iniciais do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, ele não era amigo do Jairzinho e da Emília. Aliás, era caracterizado como uma coisa ruim. :D
Não sei se foi imposição da censura militar ou a tal “liberdade artística” que os autores tomam, mas eles mudaram o personagem conforme o decorrer da série.
VAleu galera. Fico lisonjeeado com vocês gostando, pq quando eu escrevi o livro eu tinha 22 anos e foi meramente por diversão.
Mto bom, incrivel a riqueza de detalhes, até consegui imaginar o saci revoltado, affz o melhor saci de todos rsrsrs
Tá lido! E é show de bola! Parabéns!
A propósito, do que mais trata esse livro?
É a história de um escravo que foge e o melhor capitão do mato da época começa a perseguir ele. Os dois vão parar numa floresta e a questão do perseguido e perseguidor começa a ficar dúbia no ambiente hostil.
Excelente! Imaginação fértil, criatividade, detalhes e uma incrível facilidade de comunicação! Queria escrever como você! Me dá a receita?! Parece que as palavras têm vida e fluem, viajam pela cabeça da gente……..tu é supertalentoso, viu? Bravo, Bravíssimo!!! Rosi
Poxa, brigadão mesmo, Rosi.
Otimo, quase perfeito. O tezto prende de um jeito legal de um jeito que começa dificilmente vai parar de ler.
Muuuuuito legal!!
Realmente gostei..
Pq me fez lembrar duma histórias deles quando ele chegou perto dum Saci de verdade.. AUhauauAH!
Abraços!
Valeu Vinícius. Abração
Poxa Philipe faz outra edição desse livro, fiquei muito curiosa pra ler ele. Vc fez só esse livro ou tem outros?
Vc escreve bem d+
quem fez esse site fez muito bem x_x
Eu realmente fui capturado e entretido no conteúdo do assunto… mas quando a coisa desenrola, vem o fim… gostaria muito mesmo de ler o final da história…
Philipe você tem um dom, sabe usar muito bem as palavras e coloca-las melhor ainda, escreve muito bem… nos prende em suas histórias… eu adorei, li também a história do Licantropus, muito boa… se houver como e onde encontrar seus livros nos diga por favor, compraria todos com certeza!
Parabéns pra você meu amigo, e não nos deixe orfãos, continue escrevendo assim… você tem talento!!!
Mais uma vez, meu parabéns!!!
Este é um trecho do meu primeiro livro, Capitão do Mato. Infelizmente este livro esgotou e eu só tenho uma copia. Estou pensando em colocar esse livro naquele esquema de venda sob demanda. Mas antes tenho que pegar um tempo e dar uma boa revisada nele, pois quando eu escrevi tinha só vinte anos.
Entendi… quando fizer a revisão e se a caso decidir vender… nos avise, creio que muitos gostariam de ter-lo.
Obg pela atenção :)
Legal mesmo, adorei não consegui tirar os olhos até o fim do post. Bem escrito fez com que eu me transportasse para mata torcendo por Raimundo. Qual o nome do livro?
Abraço
chama-se capitão domato. Valeu
adorei esso e e quese chorei de emoçao
Gostaria muito de poder ler a história inteira, gostei demais mesmo cara, parabéns vc escreve mto bem mesmo. Ha alguma chance de eu conseguir o livro? Ele está a venda em algum lugar? Obr
Muito bom!
Parabéns
excelente história
só não lê, quem não gosta…
impressionante.
muito bom
mas..cade a continuação?
quero continuar lendo esta história…
Este é um trecho do meu primeirfo livro, que esgotou. TAlvez eu relance ele. Vc acha uma boa ideia?
gostei do trecho do livro, muito bom….!!!!!! li quando jovem a obra de Monteiro Lobato; o sítio, reinações de narizinho, a chave do tamanho, etc…
grande abraço
Parabens pelo texto, eu estav procurando algo sobre sacis, justamente os do mal… estamos com um grupo de cinema iniciante, e uma das idéias era rodar um curta nesses moldes, de repente pode servir de base pra gente montar um roteiro! Abraços