Les feuilles mortes – Roberto Carlos copiou?

Veja só que coisa curiosa. Há uma famosa musica do rei Roberto Carlos, que se chama “Os seus botões”. É uma das mais emblemáticas canções do período (o que presta) romântico da carreira do Rei, que vai do fim dos anos 70 até meados de 1986. A musica do Roberto Carlos é muito bonita, e esta montagem aqui ficou bem legal também. Veja só:

Mas então, se você prestou atenção, vai notar uma certa similaridade, que muitos poderiam até considerar um plagio na melodia, desta musica aqui, chamada Les Feuilles Mortes, cantada pelo Yves Montrand, no filme “Paris é sempre Paris”, de 1951. A musica em questão foi composta por Jacques Prevert e Joseph Cosma em 1946.
Uma coisa legal desta cena é o casal mais Robert do cinema, que insistem em dançar na frente da câmera, obstruindo toda hora o belo casal apaixonado do filme. Veja aí:

Me amarro nessas paradas meio retrôs do tempo da II Guerra… Mas voltando ao assunto do post, Roberto copiou ou não?
Eu não sei dizer. Talvez ele tenha se inspirado. Dá pra notar que há uma riqueza e um forte trabalho de criação na musica do Roberto Carlos. No fim das contas, a musica do Roberto Carlos me parece ter uma letra muito mais bonita que a letra triste da canção francesa, que é só um bloco pequeno de versos repetidos varias vezes.
Desconfiar que Roberto Carlos, considerado por milhões (e pela Globo) o Rei da musica brasileira plagiou, não é exatamente uma heresia. Roberto Carlos já respondeu processos por plágio na justiça.

Em 2007, o portal Te Contei trazia uma matéria anunciando que o cantor Roberto Carlos estava envolvido em um novo processo judicial por plágio. Assinada por Juliana Carnevalli, a reportagem relatava que neste processo, a justiça examinava a real autoria da canção “Traumas”, lançada pelo cantor em 1971. Com base na Lei do Direito Autoral (Lei 5.988/73), a professora de ensino municipal Erli Cabral Ribeiro Antunes entrou com ação contra o rei na 22ª Vara Cível do Rio de Janeiro. Erli diz ser a verdadeira autora de “Traumas”, que originalmente levaria o nome de “Aquele amor tão grande”, escrita e registrada por ela na Escola Nacional de Música sob o nº 100, em fevereiro de 1971.

De acordo ainda com a matéria da Te Contei,

“se o caso for confirmado, Roberto e Erasmo Carlos, que também assina a autoria de “Traumas”, teriam agido rápido. Seis meses após o rei ter recebido a fita cassete com a gravação de “Aquele amor tão grande”, a canção, com o novo nome, foi lançada. De acordo com o advogado de Erli, Nehemias Gueiros Jr., especializado em Direito Autoral, Show Business e Direito da Internet, a indenização pode chegar a R$ 1 milhão. É esperar pra ver”.

Não foi a primeira vez, já que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro julgou que o sucesso “O Careta”, lançado por Roberto Carlos em 1987, realmente tratava-se de um plágio da canção intitulada “Loucuras de Amor”, de autoria do compositor Sebastião Braga.

Embora não caiba a nós, os fãs do trabalho de Roberto julgar, há certas coincidências recorrentes em seus temas musicais. Por exemplo, “A mulher que eu amo”. Presta atenção no início:

Agora compare com a introdução desta musica, do famoso grupo Air Supply:

https://youtube.com/watch?v=J6qxMP3deU8

Se ele não obteve autorização, teríamos que acreditar em milagres para isso ser mera coincidência.
Outra introdução meio “igual” ocorre na famosa musica que embalou a transada de Silene e Bibelô em “Os sete gatinhos”: Cavalgada. A introdução de Cavalgada do Roberto Carlos, é uma replica perfeita das notas iniciais de Moonlight Sonata, do Beethoven. Que convenhamos, tem tudo a ver mesmo com a musica do Roberto. Dá um confere. (não achei a cena da Silene e Bibelô)

https://youtube.com/watch?v=VQimEYIwXDo

A musica do Beethoven:

Mas isso constitui plagio? Eu sinceramente não sei.

O que eu sei é que a musica, não só a brasileira, mas do mundo todo, está cheia de plagiadores famosos. Alguns do quilate do Tom Jobim, que já foi envolvido em diversos casos de plágio. O que teve mais repercussão foi o de que a música “Águas de Março”, composta por ele em 1972, teria sido inspirada em “Águas do Céu” gravada por Leny Eversong em 1956. O próprio ícone musical Bob Dylan assumiu que plagiou muita musica na carreira.

Pela lei, para uma musica ser considerada plagio de outra, ela precisa ter quatro compassos iguais que comprovem ser cópia de outra. Vale lembrar que nem sempre ritmos parecidos são plagiados.
Nas letra da música, duas músicas não podem ter letras idênticas, nem pode-se copiar as chamadas “palavras rítmicas” (exemplo: “Tê-tetere-teretetê”).
Um caso emblemático de plagio de palavra rítimica se deu com Jorge Ben Jor. Em 1978 o rockeiro Stewart usou a “frase” (palavra rítmica) “Tê-tetere-teretetê” e ia ser processado por Jorge, mas foi conseguida uma conciliação, onde Stewart cedeu os lucros da faixa para uma instituição beneficiente.

Há casos em que o plagio se instaura, assumido e a coisa fica por isso mesmo. O melhor caso desse tipo (para a sorte de Renato Russo) foi com o Legião Urbana.
Este foi um caso de plágio assumido por parte do Legião Urbana. O “autor”, Renato Russo, disse que se “inspirou” mesmo na letra do Soft Cell para compôr a música “Será”.

“Tire suas mãos de mim/ eu não pertenço a você” […]

Neste caso, nem a banda legião urbana foi processada, e muito provavelmente, a banda Soft Cell nem sequer foi notificada do possível plágio.

Voltando a musica “Les Feuilles mortes”, é bom que se diga que nosso papel não é menosprezar o trabalho de Roberto Carlos, que é sob meu ponto de vista um ótimo intérprete, um poeta genial e carismático. Mas mostrar que no fim das contas, independentemente de plágio ou não, essas duas belas canções dão um exemplo de como uma mesma base melódica pode dar origem a dois trabalhos artísticos de grande qualidade musical.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.
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Comentários

  1.  É, provavelmente foi copiada/inspirada em Les Feuilles mortes… E como disse, vários são os plágio, “versões” etc que ocorrem na industria musical. E pode-se notar que no Brasil VARIOS casos de versões acontecem que, na minha opinião, são um assassinato a musica original (exemplo: (quase) todo repertorio do latino).

    E só pra constar, eu prefiro Les Feuilles mortes na voz do Andrea Bocelli fazendo dueto com a Veronica Berti *—* http://www.youtube.com/watch?v=eACrOy7Kt2Y 

  2. Estamos mal de monarquia, hein? Entre o Pelé e o Roberto Carlos, não sei qual inspira menos confiança.

    Nas duas ultimas musicas, talvez não tenha plagio da melodia principal, mas do arranjo, com certeza!

  3. Muitas vezes acontece do cara ter escutado a música, ainda que uma vez só, e isso fica meio que no inconsciente, e um belo dia, quando está com um violão nas mãos, a ‘cópia’ se consolida, ainda que involuntáriamente. Digo por que isso já aconteceu comigo, e só tempos depois fui perceber que fiz uma cópia de outra música, apenas com outra letra.
    E a música ‘pop/rock’ usa muitas bases iguais: sobre a mesma base melódica dá para cantar ‘With or without you’, U2, ‘Será’, da Legião, ‘Let it be’, dos Beatles, ‘No woman no cry’, Bob Marley, e até ‘Linda’, do Roupa Nova. Aí acaba que algumas partes ficam parecidas mesmo.
    Então a não ser que o cara admita ou que fique enquadrado pela lei, é temerário sair julgando, dando veredictos dizendo que é ou não é plágio.

  4. Philipe, tem tambem a musica de Flavio Venturini e Caetano Veloso _ Ceu de Santo Amaro, por sinal muito linda  http://youtu.be/AyQdpN3poO0 e compare com http://youtu.be/x6LNdz43a1I de Johann Sebastian Bach, mas ao que parece as obras de Bach sao consideradas publicas e Flavio Venturini e Caetano Veloso reconhecem ser uma versao e esta especificado no cd.

  5. Roberto Carlos nem conta…
    Ele é o próprio plágio da depressão propiciada pelo capitalismo… É por isso que toda a música e o corpo que ele carrega são deprimidos

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