O inevitável desejo de voar: A história dos jetpacks

Uma das coisas mais dramáticas em nos tornarmos adultos é que lentamente vamos perdendo a capacidade de sonhar os sonhos impossíveis. O cotidiano nos rouba dos mundos de fantasia, tão bons, tão legais… De uma certa forma, isso me faz invejar um pouco os loucos, que podem habitar seus mundos fantásticos e edificados em sua própria mente.

Eu estava aqui, agora a pouco, olhando pela janela do meu escritório e vi as crianças brincando no play. Um menino corria atrás do outro, o dedo em riste com o  polegar levantado para cima.

-Eu te acertei!

-Não acertou não! – Respondeu o irmão, saltando no ar com a mochila da escola nas costas.

As crianças corriam no parquinho de um lado para o outro, ao som que elas mesmas produziam. Era um sibilo contínuo como um escape de gás: “PSSSSSSSSSSSSSS”

Se eu também nunca tivesse sido um daqueles intrépidos combatentes espaciais, talvez eu não entendesse e olhasse com a mesma cara de paisagem que as babás olhavam a cena.

Pra elas, eram apenas dois meninos pulando e correndo, a razão de ser de seus próprios empregos.

Mas eu, da janela do quinto andar, estava vendo o combate aéreo mais empolgante do ano de 2014. Dois meninos usando mochilas “voadoras” duelavam com pistolas de raios laser pelo espaço da imaginação.

Quando era eu que estava pulando de cadeiras com “mochilas à jato nas costas”, qualquer um que me perguntasse como seria o futuro depois do ano dois mil, ouviria uma bela ladaínha sobre carros voadores, robôs, armas de raios e pessoas com mochilas que voam e se vestem com roupas prateadas.

É triste chegar a 2014 e ver que ainda não podemos colocar as mochilas e sair voando, explorando o espaço, livres como pássaros…

Só no GTA
Só no GTA

É deveras intrigante esta ideia de colocar uma mochila nas costas e com ela disparar para o espaço. É intrigante e irresistível. Mas de onde isso surgiu?  Motivado pela dúvida, percebi que talvez isso desse um post.

A história dos jetpacks é, para a minha surpresa, e talvez para a sua também, muito antiga.

É de agosto de 1928.  Nas ruas, carros Ford Modelo T buzinam. Nas bancas de jornais, discretamente pendurado por um grampo, está a primeira referência a um jetpack que se conhece. Está na capa da revista Amazing Stories. A ilustração, mais que um enfeite da capa, é uma obra de arte por si só.

Nela, um homem com atitude confiante voa livremente acima de um gramado, vestindo um  capacete e um colante macacão vermelho.  O sujeito tem um jetpack nas costas e  acena para uma mulher – certamente apaixonada por ele e encantada com suas manobras aéreas.  

 

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Essa ilustração é obra de Frank R. Paul.  Para a maioria das pessoas, é um delírio artístico, mas alguns sabem que o que está ali é na verdade a primeira representação convencional de um jetpack personalizado que realmente existiu cerca de trinta anos depois daquele desenho ser feito.

O tal aparelho, foi criado por uma equipe de nazistas astutos,  e por meio deles surgiu o primeiro protótipo de mochila voadora realmente funcional.

Por uma estranha coincidência, aquele mesmo volume de  Amazing Stories de 1928, continha a história inaugural Buck Rogers, “Armageddon – 2419 AD”.

Pela primeira vez uma revista trazia duas histórias de seres humanos propelidos por foguetes nas costas.

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Em 1928, as histórias envolvendo os jetpacks eram curiosamente similares em alguns aspectos. Ambas tratavam do funcionamento do aparelho como um efeito antigravitacional da aplicação tecnológica de elementos químicos raros. No caso do Buck Rogers, na época ainda chamado de Anthony , o elemento misterioso se chamava inertron. O inertron anulava a gravidade enquanto simples foguetes geravam a manobrabilidade.  Já na outra história, que aparece na capa da revista, o sistema precisava além de um elemento “X”, de uma bobina Tesla (evocar essa bobina dava mais legitimidade técnica, pelo menos naquela época).

Claro que como esses elementos misteriosos não existiam, a galera que esperava ansiosamente pela sua mochila voadora na época morreu sem ver a novidade.

Em 1945, durante a sombria era da Segunda Guerra Mundial, os delírios ficcionais da mochila voadora se tornaram surpreendentemente reais.

O Jetpack alemão (pelo menos como conta a lenda) se chamava “Himmelstürmer”, ou Sky Stormer. Tinha que ser macho para ser piloto de testes na Alemanha Nazista. Olha só o trequinho:

 

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Supostamente, o jetpack alemão era baseado no mesmo sistema de propulsão a jato de pulso Schmidt encontrado no núcleo das bombas V-1, também apelidadas de “bomba de zumbido”, porque elas caíam fazendo auele barulho característico que ouvimos quando o Coiote cai do Abismo nos desenhos do Papa-lèguas.
Na segunda Guerra ouvir aquele som era suficiente para travar a “saída de emergência retal” do mais valente dos homens.

Aqueles proto-mísseis que mais tarde seriam a base de conhecimento para o foguete que levou o Homem à Lua, aterrorizaram os cidadãos de Londres como nada antes ou depois deles conseguiu fazer.

Os dois tubos de pulso portáteis utilizados pelo Himmelstürmer eram muito mais curtos do que o V-1, permitindo às tropas fazer saltos relativamente curtos de cerca de 54 metros de altura sobre campos minados, cursos de água, arame farpado e trincheiras, entre outros obstáculos. O sistema usava um combustível de foguetes misturado com o oxigênio pressurizado.

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O jetpack alemão tinha dois foguetes. Um na frente, mais fraco, e que era a unidade direcional do “vôo” e o outro, um trambolho enorme nas costas, que gerava o empuxo para subir.  Diz-se que pelo menos um desses jetpacks nazistas foi entregue à Bell Aerosystems nos EUA após a guerra.

Infelizmente, não há, até onde se sabe,  imagens do Himmelstürmer originais.  As imagens acima e à esquerda são simplesmente interpretações artísticas do engenho.

Imagina só a quantidade de vezes que esta merda deu defeito e explodiu até poder ser usada com segurança pelas tropas do Hitler… Naquele tempo não havia padrões, comitês  estudos de segurança. Era tudo no improviso, e as coisas eram realmente testadas na base do “vai lá e vê se explode. Se explodir, a gente conserta”. 

Em 1949 surgia o primeiro Super Herói com um jetpack que não era do futuro.
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Enquanto a Bell Aerosystems trabalhava nos despojos dos jetpacks nazistas, o público dos EUA era entretido com o “Rocket Man”, um personagem de 1949 que apareceu em bom um número de séries cinematográficas até 1955. Naturalmente, o Rocket Man era alimentado por “energia atômica” (note a evolução. Agora já não era necessário o Inertron ou Elemento X), que o ajudava a recuperar o aparelho “Decimator”, roubado pelo gênio do mal, Dr. Vulcan. O decimator seria um dispositivo poderoso o suficiente para converter (hahahaha PQP!) todas as unidades métricas dos EUA nas unidades “imperiais” do sistema decimal.

Tortas voadoras

Em 1955 surge uma coisa tão estranha quanto seu apelido: A Torta vodora.
As tortas voadoras eram aparelhos que decolavam verticalmente com um sujeito em cima. Olha a presepada aqui:

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Era um projeto da Marinha. Criada em 1955, a Marinha dos EUA, em parceria com o fabricante de helicópteros Hiller, começou a testar sua “tigela de torta voadora.” Em vez de jatos, o foco aqui era usar dois rotores girando em rotação oposta, e instalados na horizontal. Isso gerava força de empuxo vertical. Os dois motores geravam 100 cavalos de potência. “No caso de qualquer motor falhar, a coisa caía como um tijolo”, disse a revista Popular Science num artigo, complementando com uma infame previsão do futuro que ainda não chegou: “…Quando isso for superado, as tortas voadoras irão te levar do seu quintal para o escritório.”
A torta voadora não deu muito certo, porque a manobrabilidade dela era um lixo, e num combate, levantar um soldado sem deslocá-lo horizontalmente, torna-o apenas um lindo alvo para atiradores.

Em 1958 A História do Jetpack realmente engrenou. A revista Popular Science fez uma matéria exclusiva falando de uma empolgante demonstração de um “cinto voando” criado pela Thiokol Chemical Corporation.

“O Antigo sonho do homem de voar como um pássaro, livre de máquinas desajeitadas, pode estar mais perto do que pensamos.”

 

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Era um projeto “mutcho loco”. Basicamente, os caras projetaram um cinto repleto de latas de algum propelente super-pressurizado. Você só tinha que pular e acionar um botão que liberaria o propelente, uma lata por vez, impelindo seu salto às alturas ou então podia dar uma de Joselito e liberar o propelente de todas de uma só vez, o que supostamente daria uma autonomia de vôo de um minuto. (provavelmente ninguém foi macho de tentar pra ver no que dava)jump_belt_555
A revista diz que uma vez que as latas são esvaziadas, basta trocar o “refill”, uma operação feita “em menos de um minuto” – Haja otimismo. Claro que ninguém mencionava que se uma lata dessa estourasse, ela te separava em duas partes, hahaha.

 

Em 1958, as coisas começam a ficar mais e mais perto do Jetpack do Buck Rogers. Novamente a questão vinha à tona para os leitores ávidos por inovações que compravam a revista Popular Science.
Aquele era o primeiro registro do que viria a ser celebrado como o jetpack. Ainda em 58, seu apelido era “cinturão voador”, embora estivesse mais para uma mochila.

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Ele foi desenvolvido pela Reaction Motors. Segundo eles, aquilo se tratava de uma solução viável que estaria no mercado “em dois anos” e que tinha autonomia para levar qualquer pai de família em um vôo de várias “milhas”. Nada mal, hein?
E assim, mais uma geração ficou esperando ad eternum pelo que seria o presente de natal ideal.

A verdade é que mais de três anos depois, os vôos “bem sucedidos” da coisa ainda eram medidos em dezenas de metros.

Em 1959, os Estados Unidos apresentavam ao mundo o “soldado do futuro”. Um sujeito trajando uma roupa que lembra a dos soldados Imperiais de Guerra nas Estrelas. Era uma roupa cheia de geri-geri, e que incluía o equipamento para “saltos gigantes” propelidos a gases em alta pressão.

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20 de abril de 1961: Dia histórico

A coisa parecia só um monte de promessas e viagens na maionese para vender revista, quando em 20 de abril de 1961, o bagulho ficou doido.

Tinha pouco mais de uma semana que Yuri Gagarin havia se tornado o primeiro ser humano a romper o espaço exterior. Naquele dia, Harold Graham impulsionou-se à incrível altura de quatro metros (UAU!) acima do chão.

O vôo durou fantásticos 14 segundos, cobrindo uma distância de menos de 35 metros a uma velocidade de cerca de 6 mph. Aquilo marcou a data histórica como sendo o primeiro ensaio técnico ao ar livre bem-sucedido de um jetpack em vôo livre (sem amarras).

O equipamento utilizado foi desenvolvido por Wendell F. Moore para Bell Aerospace (lembra quem ficou com um jetpack nazista?) que ganhou com isso um contrato para fazer um jetpack para o Exército dos EUA.

O sonho de Wendell Moore de fazer aquela joça realmente funcionar começou em 53, quando o engenheiro aeronáutico começou a rabiscar desenhos de um jetpack na mesa da cozinha.
Naturalmente, ele foi o próprio piloto de testes de seu invento, chegando até a quebrar o joelho em um acidente depois que o tanque de combustível prendeu em uma linha de apoio em um dos vôo amarrados.

O projeto da Bell era composto de um tanque de 19 litros cheios de água oxigenada a 90% que era pressurizada através de uma tela de pequenos catalisadores de prata revestidos de nitrato. Isso gerava combustível suficiente para cerca de 20 segundos de vôo. O peróxido de hidrogênio foi escolhido como o combustível por sua relação potência-peso, capaz de criar cerca de 300 libras de empuxo como jatos super-aquecidos de vapor que saíam de um par de bicos laterais. Em outras palavras, o bagulho produzia uma grande quantidade de ar quente e um som altíssimo.

O tempo passou e a coisa foi se aperfeiçoando, cristalizando a mente de milhares de pessoas que realmente aquela tecnologia poderia um dia nos levar para a escola voando pelo ar. Em 8 de julho de 61, foi feita a primeira grande demonstração pública do jetpack.

Olha que foto maneira:

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Naquele dia de 1961, Harold Graham Bell demonstrou “o foguete portátil do Exército” pela primeira vez a um público incrédulo e atônito.

O povo viu Graham voar sobre um caminhão, a uma altura de 4 metros e meio e pousar nada menos que 45 metros de onde decolara. Tudo isso depois de ficar 14 segundos no ar. Aquele vôo foi descrito como “ensurdecedor” pelo New York Times, mas aclamado como “curto, mas espetacular” pelo jornal, aumentando a credibilidade daquele equipamento, para uso militar e quem sabe um dia, civil.

Até dezembro de 1961 o jetpack da Bell que pesava 100 quilos levaria um homem a 10 metros de altura, permitindo-o percorrer a incrível distância de 112 metros em poucos segundos.

Em 1962, o projeto de Moore foi então considerado “perfeito”, chegando a uma velocidade máxima de 96km/h, uma altitude máxima de 60 metros, e suportando 21 segundos de operação.

Foi um avanço e tanto para a tecnologia dos Jetpacks. Infelizmente, ele também criou 130 decibéis de um barulho ensurdecedor – que é quase tão alto quanto um avião à jato decolando.

Moore morreu em 1969, mas as variações de seu design original de jetpack seriam demonstrados em todo o mundo muitos anos após sua morte, incorporando o equipamento ao imaginário popular de modo indelével.

Até hoje, quando pensamos na palavra “jetpack”, a coisa que nos vem à mente é o foguete de Bell Moore.

O astronauta de jetpack

Em 62, a Nasa entrou na jogada. A agência espacial havia sido fundada apenas quatro anos antes. Agora, os mais inteligentes e preparados engenheiros se debruçavam sobre os projetos para criar algo que hoje parece bizarro. Chamaram de: “nave espacial humana”. Olha ele aí do lado —->jetpack_astronaut-Popular_Science_-_Google_Books-300pxl

O projeto da nave espacial humana foi desenvolvido para a Força Aérea por Chance-Vought. A roupa foi projetada para usar jatos de peróxido de hidrogênio pressurizado com nitrogênio para impulsionar futuros astronautas por até quatro horas de cada vez, a uma distância de poucos quilômetros.

O SMU (Unidade de auto-manobra) conduziu a outro equipamento, apropriadamente chamado (por ser bem mas mais volumoso) AMU (Unidade de Manobra do Astronauta), e depois ao MMU (Unidade de Manobra Tripulada) e posteriormente, para o SAFER (Sistema de ajuda simplificada para suporte do traje extraveicular) são aqueles mochilões utilizados em vôos reais da NASA.

Em 1964, os militares desenvolveram um programa chamado Ícarus, que envolvia o uso de jetpacks, mas a coisa não foi adiante (não sei porque) talvez porque fosse pura viagem na maionese.
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Em 65, o jetpack continuou seu caminho de evolução. (e acriançada lá esperando que essa merda chegasse logo nas lojas)

Neste ano, a Bell criou uma “cadeira de foguetes”.

 

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Era esquisito realmente, mas tratava-se de um conceito de assento ejetor. O protótipo usava uma cadeira comum que os engenehiros roubaram do refeitório da Bell no maior estilo McGuyver!

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A empresa também experimentou uma versão de dois homens.

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Uhuuuu! Se o James Bond usou, agora vai!

Quem não levaria a sério o invento quando até o James Bond, a materialização suprema do macho-alfa usou o bagulho para escapar de seus inimigos?

O espião mais célebre do mundo usou um jetpack em 1965, e isso sem dúvida alguma, ajudou ao jetpack tornar-se um fenômeno do mainstream. Agora olhe o poster abaixo e diga: Ele é sensacional porquê 007 usa o jetpack, porque tem explosão, porque ele parece até entediado decolando ou porque… “PORRA TEM TUBARÕES VOADORES!!!”

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Quando Sean Connery usou um jetpack que era basicamente uma versão do rocketbelt da Bell, todo mundo acreditou que era real.

007 até usa um outro, um tipo de mochila sem nome, para uma batalha subaquática. Em suma, de certa forma, 007 foi o avalista que garantiu ao mundo que seria possível usá-los em todos os lugares, do espaço ao fundo do mar.

De James Bond a Bill Suitor, a lenda do jetpack ganha mais força

Se alguém realmente provou ao mundo que o Jetpack era algo realmente pilotável longe das fantasias arriscadas de James Bond, esse alguém é Bill Suitor. Ele, junto com Gordon Yeager se tornaram os pilotos mais conhecidos do rocketbelt da Bell.

Bill se tornou uma lenda do jetpack. Sua história é interessante, porque ela começa com uma simples amizade de vizinhos. Na ocasião, Bill tinha apenas 19 anos, e o ano era 1963. O tal do vizinho de Bill, era Wendell F. Moore, ninguém menos que o inventor do rocketbelt. Por sua amizade, baixo peso e disponibilidade irrestrita para os testes da engenhoca do vizinho, o garoto passaria os próximos 30 anos pilotando aquela coisa. Ele demonstrou o jetpack mais de 1.000 vezes em mais de 40 países em todo o globo.

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Foi Bill Suitor que voou a jato durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles, fato visto por um número estimado de 2,5 bilhões de pessoas.

Perdidos no espaço

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Continuando a incrível história da mochila voadora, de 1965 a 1968, a famosa série “Perdidos no Espaço” divertiu os telespectadores. Quem não lembra do Senhor Smith e a voz daquele robô repetindo “Perigo, perigo Will Robinson!”?

Na série, novamente o jetpack de Bell surgia, dessa vez reintegrado ao mundo da ficção científica. No show, os telespectadores podiam se maravilhar com o uso do professor John Robinson, enfiado num macacão prateado (no futuro todo mundo usará prateado, kkk) voando nos planetas distantes com seu jetpack. A série se passava no futuro “impossivelmente distante de 1997!”

É estranho pensar naquele futuro como sendo o passado.

E novamente… A promessa não aconteceu. Mas as crianças seguiam em seu desejo de um dia ver aquela coisa finalmente popularizada. Esperar era o que três ou quatro gerações vinham fazendo e não restava outra alternativa mesmo.

Em 1966, foi concedida uma patente para o jetpack. A edição de junho 1966 da Popular Science publicou que se tratava de uma versão ainda inédita do “cinto jato” da Bell, só que agora ele usava um motor turbo e combustível de jato convencional para propelir o piloto pelos ares. O co-inventor não seria outro senão o já lendário Wendell F. Moore.

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Dois anos depois da patente ser concedida, já em 68, surgia o protótipo funcional do jetpack feito de combustível de jato mesmo e turbinas.

Na foto abaixo podemos ver a comparação dos dois modelos. O novo tem exaustores bem mais roliços.
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A data exata era 27 de junho de 1968. Neste dia o New York Times proclamou que o cinto voador de Buck Rogers estava “mais próximo de hoje”.
A Bell Aerosystems demonstrou o novo jetpack, que era alimentado pelo menor motor de jato do mundo, (cerca de um metro de largura e dois metros de comprimento), construído pela Williams Research para queimar combustível de aviação padrão (que era armazenado em tanques de plástico transparente). A autonomia deu um salto! Agora o tempo de uso era medido em minutos e a distância realmente em milhas. Pelo menos foi o que disseram na época.

O jetpack de combustível de jato parecia uma promessa de futuro sólida, mas tinha desvantagens em relação ao modelo anterior. A maior delas era o peso. Ele era bem mais pesado do que o sistema original e por ser mais alto, era desajeitado de usar.

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Em 7 de abril 1969, o piloto Robert Couter de Bell (Agora Textron Aerosystems) fez o primeiro vôo livre bem sucedida do “Jet Belt” ou “Jet Flying Belt”. Ele voou uma distância de mais de 300 metros a cerca de 20 metros do chão. A Popular Science disse então que:

“Talvez um dia o seu segundo carro será um cinto voador guardado no armário do corredor.”

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Nos anos 70 e 80 o jetpack meio que estagnou. Não teve grandes inovações de tecnologia ou design no período, mas talvez seja uma época em que eles mais apareceram nas mídias, (como na Olimpíada de 84) em desenhos animados diversos e em brinquedos, claro!

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Nos começo dos anos 80, o Jetpack servia até pra vender cerveja! Curte aí:

Tem Jetpack até na Saga Star Wars! O Boba Fett Tem um Jetpack na sua mochila-míssil.
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Nos anos 80, a NASA bombou e fez a cabeça de todo mundo da minha geração. Em 1984, o mesmo ano que em Bill voava nas olimpíadas, e o Jetpack estava até vendendo uns gorós, a NASA finalizou o projeto da sua versão do jetpack, criada para uso no espaço!

A traquitana chama-se unidade de manobra extraveicular (MMU)e é movido a nitrogênio a “24 nozzel”.  O MMU foi bastante usado em conjunto com as missões dos ônibus espaciais.

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Depois de um primeiro teste sem intercorrências, a MMU quase causou a perda de um satélite quando ficou fora de controle durante uma missão de recuperação improvisada. Apesar do galho, a MMU teve uma nova chance e mostrou um melhor desempenho na terceira missão, ajudando os astronautas capturar dois satélites e devolvê-los para o compartimento de carga útil.

Após o triste desastre da Challenger, o sistema MMU foi reavaliado e considerado muito arriscado. Ele foi substituído pelo SAFER. O SAFER, foi desenvolvido pela Divisão de Robótica da NASA no Centro Espacial Johnson, e voou pela primeira vez em 1994. O trequinho funcionou como um aparelho de auto-salvamento de emergência, para o caso de rolar uma “cagada” espacial nos moldes “Sandra Bullock feelings” durante uma caminhada espacial.

 

O SAFER
O SAFER

Em 2000, dois astronautas usariam o SAFER movido a nitrogênio para realizar um “suave vôo de 50 metros”, enquanto avaliavam as condições externas do ônibus espacial.

Em 1991 estreava nos cinemas o filme Rocketeer. Novamente o mundo tinha um super-herói equipado com uma mochila foguete.

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Lá pelo inicio dos anos 90, o Jetpack seguia firme na moda, e até mesmo o ROBOCOP tinha o seu!

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Bom, Robocop é uma coisa… Mas Michael Jackson???

Isso mesmo. Eu disse Michael Jackson!

O próprio!
O próprio!

É 1992 – apenas um ano após o lançamento do filme The Rocketeer, o sujeito que popularizou o Moon Walker e nadava no dinheiro comprou um jetpack pra ele.

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Michael supostamente voou no fim de um show mega lotado em Bucareste.

A treta do jetpack que acabou em morte e prisão perpétua

No mesmo ano, em 1992, Brad Barker resolveu construir o rocketbelt-2000. Ele se aliou a dois parceiros: Joe Wright e Larry Stanley.
Após dois anos de muito trabalho e pesquisa, eles tinham um protótipo funcional do projeto original de Wendell Moore. No ano de 94 eles ja tinham modernizado o aparelho, usando componentes mais leves e permitindo assim um aumento do estoque de combustível.

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Era 12 de junho de 1995, quando Bill Suitor voou no RB-2000 por 30 segundos (9 segundos a mais do que o recorde anterior do projeto de Moore).

Apesar do sucesso do aparelho, os sócios entraram em conflito (no português claro, saíram em franca porradaria!). A treta foi entre Brad Barker e seu sócio Larry Stanley. Brad achava que era o chefe do projeto, mas Stanley foi quem bancou e dessa escaramuça resultou que Barker causou uma concussão em Stanley com a ajuda de um martelo. E isso na terra do processo, minha gente!

Barker foi condenado. Stanley posteriormente ganhou uma ordem judicial dando-lhe a propriedade do RB-2000.

Quando Stanley foi então à loja de Wright para recolher o RB-2000, cadê??? Hahahaha o maluco fugiu com a parada!
Então, Stanley foi atrás de Joe Wright querendo saber “cadê meu jetpack?”

Resultado: Joe Wright apareceu morto, tão espancado, que o corpo de Wright teve que ser identificado a partir de sua arcada dentária, véi!

Em todo este tempo, aquela foi a primeira morte a ser causada pelo Jetpack. E o mais curioso é que não foi acidente aéreo e sim treta por dinheiro.

Você acha que a história acaba aqui? Negativo: Stanley então trouxe Barker ao tribunal afim de receber uma indenização de US$ 10 milhões. Barker se recusou a pagar e acabou trancafiado por capangas de Stanley (presume-se) em uma caixa de metal, trancada pelo lado de fora.

Após oito dias tentando, Barker conseguiu escapar do cativeiro. A polícia prendeu Stanley, e em 2002, ele foi finalmente condenado à prisão perpétua, posteriormente a pena foi revista e reduzida a oito anos. (nada mal!)

Nesse rolo todo, o aparelho sumiu. O RB-2000 nunca foi encontrado.

Em 2001 um “homem foguete” assombrou a plateia da Sapucaí no desfile de carnaval.

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Mas o aparelho ainda era o bom e velho Jetpack da Bell.

Em 2002 tivemos acesso nos cinemas a primeira e única cena de LUTA envolvendo jetpacks. Era no Filme Minority Report, com Tom Cruise no papel principal. Se controlar um jetpack deve ser um cu é difícil, imagina controlar e lutar!

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O renascimento

Os cintos de foguetes ressurgiram após os anos 2000. Após um longo período de uso do combustível de aviação e turbinas miniaturizadas, Houve uma volta à água oxigenada. Dessa forma, os mais recentes projetos ainda imitam o projeto original de Moore, destacando-se o aumento da capacidade operacional de 34 segundos graças aos avanços em materiais e os maiores tanques de combustível de 10 galões.

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Infelizmente, o ruído, os custos, as dificuldades de pilotagem e a curta duração do vôo continuam limitando a tecnologia em “presepadas para inglês ver” a ações de publicidade, filmes e entretenimento. Ainda assim, um punhado de entusiastas como TAM, Go Fast!, Thunderbolt Aerosystems, Ky Michaelson, e Dan Schlund mantém o sonho vivo.

Um homem em particular, Juan Manuel Lozano Gallegos, é especialmente obcecado com jetpacks – seja de qualquer forma de foguete. O engenheiro autodidata construiu sozinho, oito jetpacks (A Sino Aerosystems fez apenas quatro) a um custo de cerca de 35 mil dólares cada.

Seu primeiro protótipo custou US$ 500.000 para desenvolver. E uma vez que você não pode mais comprar peróxido de hidrogênio a 90% (farmácias só vendem uma concentração de 3%), Juan construiu uma máquina para criar sua própria solução de água oxigenada 90%. Juan é tão obcecado com jetpacks que convenceu sua filha – Isabel Lozano – a se tornar a primeira “mulher foguete” do mundo. Ela estreou na carreira aérea no dia 11 de agosto de 2006.

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Ainda em 2006, outro sujeito ganhou destaque mundial (até aqui no Mundo Gump) quando pulou de um balão para virar ele mesmo um jato!

Yves Rossy, também conhecido como “Jet Man”, fez seu vôo em novembro de 2006. Na ocasião, prenderam quatro motores a jato Jet-Cat P200 movidos a querosene a um par de asas semi-rígidas de fibra de carbono. Isso tudo foi amarrado ao corpo dele por correias e ele saltou de um balão para um vôo compatível com o do Super-Homem, com duração de seis minutos e nove segundos.

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Dois anos depois o cara repetiria a façanha.
Em 2008, ele atingiu uma velocidade de descida de 189 mph sobre os Alpes e, em 2010, ele se jogou de um balão de ar quente a 7.900 pés e começou seu vôo recorde de 18 minutos antes de pousar de pára-quedas, com as asas dobradas.

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Entrou água!

Em março de 2005 Raymond Li e Jetlev realizaram o primeiro teste de vôo tripulado de um jetpack diferente. Ele era movido a água.

Em março de 2011, a empresa concluiu o desenvolvimento de seu U$ 100.000 R200. Baba:

O sistema conta com um motor de 4 tempos e tem o combustível transportado por uma “unidade barco” flutuante que está amarrado ao jetpack com uma mangueira de 33 metros. O pacote em si pesa apenas 30 quilos e produz 420 libras de empuxo quando a água é forçada através da mangueira com diâmetro de 4 polegadas. A velocidade máxima é listado em 25 mph com uma duração de 4 horas e autonomia de 80 milhas.

As hélices estão de volta

Ele é grande, pesado e movido a gasolina. Chama-se Martin Jetpack, e nos remete ao prato de torta voadora da Marinha nos anos 50.
Inaugurado comercialmente em julho de 2008, o Martin Jetpack pode voar por um período de 30 minutos a uma altura acima 1524 metros! Ou em uma velocidade máxima de 96 km/h, cobrindo uma área de 50km.
O treco é movido a um motor duplo V8 de 200 cavalos. Ele está mais para um helicóptero portátil, mas acho que ainda merece figurar nessa lista. Infelizmente, o aparelho ainda é muito barulhento para o trajeto urbano e demasiado volumoso para guardar no armário ou debaixo da cama. Mas sua maior desvantagem é o precinho: U$ 100.000.

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A Martin Aircraft da Nova Zelândia vem aperfeiçoando rapidamente seu jetpack.

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É surpreendente que tantos anos após a concepção artística da capa de Amazing Stories de 1928, o sonho do vôo individual ainda esteja sendo perseguido arduamente. Volta e meia, surgem pilotos decolando com jetpacks à serviço da publicidade.

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Enquanto essas promessas de um futuro onde as pessoas podem se locomover livremente pelo ar não se realizam (e eu acho que é provável que não se realizarão nunca) resta à nossa mente a esperança de um futuro onde esses equipamentos façam parte de nossas vidas, talvez com uma tecnologia que ainda não conhecemos, sem barulho, sem poluição e com baixo risco, para vôos curtos em áreas delimitadas. Certamente os jetpacks fazem parte integrante da nossa cultura e visão de futuro e continuarão a nos impressionar e atrair, seja no cinema, em demonstrações e nos videogames.

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Se você curte jetpacks, tem este livro que conta a história do veículo em mais detalhes.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Acho que o conceito do jetpack é ainda mais antigo que isso, lembro de um episódio do mythbusters que eles estavam tentando recriar uma cadeira propulsora que um chinês tentou usar pra alçar voo amarrando foguetes nela, isso há vários séculos atrás.

  2. Você fala de um custo de U$ 100.000 como sendo um absurdo inalcançável. Porém lembres-se que existem vários ricaços com carros mais caros que isso andando nas ruas de qualquer capital do país.
    Se a produção se massificar, o preço tende a cair e, mesmo que não caia, esses ricos ainda teriam grana para bancar um desses e fugir do trânsito.

  3. Hahaha, me identifiquei muito com sua história dos moleques brincando com a mochila… Me lembro de ter tido a mesma sensação quando assisti o quadro do Hermes e Renato onde o Jailson pede uma mochila voadora no “Portão da Esperança”. Eu vi, nitidamente na minha cabeça, eles moleques no playground perguntando um pro outro o que pediriam se fossem ao programa do Silvio Santos. Aposto que a mochila voadora ganhou disparado do sabre de luz, dos buracos portáteis do Roger Rabbit e do relógio do Prof. Pardal que pára o tempo.

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