Enquanto eu almoçava, passou na Tv uma propaganda da novela Mulheres de Areia, que está sendo reprisada no “Vale a pena Ver de Novo”.
A cena em questão envolvia o Tonho da Lua. Fiquei vendo aquilo, aquele jeito estranho de falar, os olhos arregalados do personagem e me lembrei de uma frase que ouvi certa vez do experiente ator e roteirista Chico Anysio:
O tipo sempre vence.
Chico Anysio é um cara sábio. Eu nunca achei muita graça dos personagens dele, mas é inegável que a frase acima, essa pequena conjunção de míseras quatro palavras, contém uma grande dose de sabedoria dramatúrgica. É uma verdade inquestionável. O tipo sempre vence. Sempre vencerá. Uma novela, filme, conto, minissérie ou seja lá que produto audiovisual ou editorial, sempre que houver uma figura suficientemente estranha e curiosa, ela atrairá a atenção do público como um poderoso ímã. Não é à toa que o tipo, como recurso de roteiro costuma ser usado no alívio da alta pressão dramática. Ele é a válvula da panela de pressão. E quanto maior a pressão nas cenas anteriores a do tipo, maior será a graça do personagem.
Evidente que alguns autores acabam usando o recurso além do normal, e tudo acaba forçado, com personagens estranhos demais, descambando o material para a bizarrice (o que às vezes funciona, vide Saramandaia) ou para um estilo pastelão, que funcionaria sozinho, mas que afeta a qualidade de uma novela de cunho mais dramático quando em excesso.
Nem sempre, o tipo é um personagem caricato ou engraçado. Ele pode simplesmente ter algo estranho, algo que o diferencie das pessoas do resto do elenco. Ele pode falar, ou ser chapliniano, ele pode ser estranho ter uma aparência esquisita, se transformar num monstro, ou apenas ser envolvido em algum mistério que desafia a lógica. Ele pode operar bordões, se meter em enrascadas, pode ser um bêbado que tem licença para falar as verdades que ninguém diz, ele pode ter um jeito estranho de falar ou apresentar graves defeitos morais (praticamente sempre perdoados). O Tipo quando bem conduzido é um perigo. Ele pode esfriar a tensão de uma trama, pode “roubar a cena” e pode também ser tão épico que ficará colado indelevelmente ao ator, afetando sua carreira, o que é um dos maiores medos dos profissionais do ramo não só no Brasil como no exterior, vide William Shatner, que raramente consegue escapar à gravidade do comandante Kirk, da Enterprsie.
Pensando nisso, resolvi elencar meus 10 tipos preferidos nas produções Globais. Está pela minha ordem de preferência.
1-Agostinho Carrara (A grande Família)
Ator: Pedro Cardoso
Tipo de personagem: Malandro atrapalhado
Agostinho é um cara estranho. São suas características o jeito de falar que emenda uma palavra na outra, as sacadas para passar a perna nos outros, o jeito meio irresponsável, sua forma de vestir com roupas bizarras e cafonas e também seu bom coração. Sem Agostinho o seriado A grande Família perde mais de 50% da graça.
2-Tião Galinha (Renascer)
Ator: Osmar Prado
Tipo de personagem: Matuto obcecado por elemento folclórico
O Tião Galinha era um homem do campo, ignorante, que acreditava que ao ficar com uma galinha preta no colo, poderia pegar o primeiro ovo que ela colocasse sem que o ovo tocasse o chão. Ele acreditava que com este ovo, poderia ser capaz de aprisionar um pequeno demônio numa garrafinha e assim teria o corpo fechado. O diabinho também lhe facultaria obter tudo que quisesse. Ao longo da novela, Tião Galinha vai ficando cada vez mais obcecado com a ideia de ter seu próprio diabo, com prejuízo ao seu casamento e sua saúde.
3-Professor Astromar (Roque Santeiro)
Ator: Ruy Resende
Tipo de personagem: Sujeito mórbido e misterioso que se transforma
Professor Astromar era famoso por seus discursos cheios de palavras complicadas e incompreensíveis. Todo mundo fazia cara de paisagem, fingindo que estavam entendendo. Além de sua estranha aparência, sua altura de quase dois metros e sua magreza de vara-pau, o Professor Astromar tinha uma particularidade: Nas noites que quinta para sexta, quando a lua cheia surgia no céu, ele virava um lobisomem.
4-Jamanta (Torre de Babel e Belíssima)
Ator: Cacá Carvalho
Tipo de personagem: Maluco com bordão
Jamanta é o único tipo que fez tamanho sucesso que trabalhou em duas novelas. O personagem era muito estranho, e um tanto infantil. Se metia em encreencas e não demorou a cair no gosto das crianças, que o imitavam. Por ser do tipo de personagem com bordão, às vezes Jamanta ficava grudento.
5-Reginaldo, ou apenas “O gótico” (De corpo e alma)
Ator: Ery Johnson
Tipo de personagem: Desajustado social chapliniano e apaixonado
O Gótico foi o melhor personagem de Ery Johnson na Tv. O personagem era chapliniano, pois raramente falava. Suas melhores atuações são no consultório do terapeuta, quando tenta se curar de algo que ele nem sabe o que é. Eri Johnson era Reginaldo, um filhinho de mamãe que resolve pintar a parede do quarto de preto. Ele era apaixonado por Yasmim, personagem de Daniela Perez. Era uma relação um pouco perturbadora, como é ilustrada pelo vídeo abaixo.
6-Tonho da Lua (mulheres de areia)
Ator: Marcos Frota
Tipo de personagem: Escultor maluco apaixonado
Ele amava Ruth, com o mais singelo amor, e nutria uma mistura de medo e ódio por Raquel. As duas personagens vividas por Gloria Pires tiravam Tonho da Lua do sério em Mulheres de Areia. Em geral, ele era calminho. Mas quando Raquel se aproximava com suas malvadezas Tonho surtava. Aí, lá vinha Ruthinha, com seu enorme coração, confortar o escultor de areia.
7-Zeca Diabo(O bem amado – filme, serie, serie2, novela)
Atores: Lima Duarte e José Wilker
Tipo de Personagem: Assassino psicopata
Zeca Diabo é um um cangaceiro sucupirano foragido da polícia pelo assassinato de seu inimigo, Lindário de Gouveia, prefeito de Sucupira, assassinado por este em 1961. Zeca Diabo, fiel a Padre Cícero, após o assassinato de seu inimigo, fugiu da polícia e de Sucupira num lugar desértico e perigoso. Ansioso para inaugurar o cemitério de Sucupira, Odorico Paraguaçu manda seu secretário procurar pelo cangaceiro para ele ajudá-lo a inaugurar o cemitério da cidade e o nomeia delegado, mas na verdade foi o próprio prefeito que inaugurou o cemitério, quando foi morto por Zeca, na Prefeiura de Sucupira, no dia da renúncia de Jango. Pra mim, a melhor versão é a do Lima Duarte.
8-Bafo de bode (Tieta)
Ator: Benvindo Siqueira
Tipo de personagem: bêbado
O famoso bêbado de Santana do Agreste sabia de tudo o que acontecia na pequena cidade. Sempre circulado e prestando atenção ao seu redor, o personagem era hilário, e tinha até um tema musical só dele.
9-Tio Abdul Rashid(O clone)
Ator: Sebastião Vasconcelos
Tipo de personagem: Árabe neurastênico com bordão
Tio Abdul é um árabe pentelho pra dedéu. Ele vive repetindo o bordão de “queimar no mármore no inferno”.
10-O cadeirudo (A indomada)
Ator:Sônia de Paula
Tipo de personagem: Personagem misterioso que surge apenas de noite e ataca mulheres
O Cadeirudo é um tipo de personagem misterioso. Na mesma linha do Professor Astromar, acompanhado de uma musica sombria, ele causava medo nas crianças. Surgia de noite e atacava apenas mulheres. Uma referência aos Íncubos medievais. A coisa mais bizarra era sua corrida. O cadeirudo era sempre mostrado de costas, correndo com terno e chapéu, de modo estranho, como se tivesse um cavalo invisível entre as pernas. No dia em que é desmascarado, isso se dá literalmente, pois o mesmo usava uma mascara que o deixava com a cara do prefeito da cidade de GreenVille. Criou-se o mistério sobre a real identidade do cadeirudo. Um recurso útil para “encher linguiça” na novela. No final das contas, o Cadeirudo era uma mulher.
Bônus: Sérgio Cabeleira (Pedra sobre pedra)
Ator: Osmar Prado
Tipo de personagem: Sujeito que sofre de uma sina misteriosa
Sérgio Cabeleira (o nome já era bizarro, pois o personagem era completamente careca) era sujeito bom, uma pessoa normal, não fosse o fato de que nas noites de lua cheia ele precisava ser amarrado para que não saísse flutuando pelo céu. Isso porque em seus delírios ele seria abduzido (ou tragado, como preferir) pela lua. Para isso, em toda noite de lua cheia ele precisava ser contido num tipo de jaula. No fim da novela, ele acaba sendo atraído pela lua e termina levitando para o espaço.
Dos tempos que eu ainda assistia alguma coisa na Globo, acompanhei um pouco algumas desta novelas. Outros personagens eu só conheci porque ficaram tão grudentos em seus bordões e histórias que era impossível não conhecer. Até porque eu ficava, às vezes, com cara de paisagem quando alguém fazia referência ao dito cujo e eu ‘nem aí’…
Faltaram alguns, que lembro, mas eram personagens com maior participação: o coronel (Lima Duarte) do Roque Santeiro, que ficava chacoalhando o ouro em seu pulso; outro do Lima Duarte em que ele era apaixonado pela ‘Professorinha’…
Um outro em que o personagem do Luiz Gustavo, se não me engano, era um radialista e tinha o bordão “meninos, eu vi”.
Ih, caraca, to denunciando minha idade…
Sinhozinho malta, Sassá Mutema e o ultimo era um personagem do Luis Gustavo que não me lembro o nome.
Juca Pirama! Da mesma novela do Sassá!
Juca Pirama! Isso mesmo!!!!
Pra mim Tiao galinha é inesquecivel!!!
Palavra Acesa
Quinteto
Violado
Se o que nos consome fosse apenas fomeCantaria o pãoComo o que sugere
a fomePara quem comeComo o que sugere a falaPara quem calaComo
que sugere a tintaPara quem pintaComo que sugere a camaPara quem
amaPalavra quando acesaNão queima em vãoDeixa uma beleza posta em
seu carvãoE se não lhe atinge como uma espadaPeço não me condene oh
minha amadaPois as palavras foram pra ti amadaPra ti amadaOh! pra ti
amadaPalavra quando acesaNão queima em vãoDeixa uma beleza posta em
seu carvãoE se não lhe atinge como uma espadaPeço não me condene oh
minha amadaPois as palavras foram pra ti amadaPra ti amadaOh, pra ti
amadaPra ti amada T
Nossa, me lembrei de alguns personagens que guardo uma vaga lembrança, como um do Armando Bogus da novela Champagne. Eu me recordo que ele era maio abobado e apaixonado pela personagem maléfica da Mila Moreira. Um bona~chão acho que da novela Despedida de Solteiro (era das Seis) onde o Elias Gleiser fazia um velhinho que cuidava de crinças. E outra que eu acho que era Felicidade onde o ator Edney Giovenazzi interpretava um mendigo. Tamb´m tinha um gari gago intepretado pelo Murilo Benício não me lembro qual novela… e um inesquecível do jose Lewgoy que ele fazia um velho rico que tinha um bordão acho “eu não falei…” deste último eu me recordo porque minha avó vivia repetindo. A Tina Peper da Regina Casé tb é inesquecível.
Demais esse post….
agora so falta falar dos melhores apresentadores de tv,nao esquece do ratinho.
Esqueceu do “Homossexual Afetado” (não sei o nome de algum ator, mas sempre tem) e da “Biscate Ambiciosa” (Débora Secco)
Grandes faltas na lista: Perpétua, de Tieta (a beata) e Dona Armênia (também apareceu em duas novelas – Na chão!)
A Dona Armênia apareceu em duas novelas? Essa eu não sabia. Uma foi Rainha da Sucata, e a outra?
Dona Armênia reapareceu em “Deus nos acuda”.
philipe, eu ñ quero atrapalhar mas, a frase “o tipo sempre vence” tem quatro palavras, e vc escreveu q tem três (ou não né).
só uma dica
Hahaha é mesmo. Nem me liguei. Vou consertar.
Tião Galinha pra mim é fantástico! Não só por ser um tipo muito original, mas pelo fato do Osmar Prado ser um grande ator, ao contrário de muitos que só fazem bem um tipo de personagem, ele manda muito bem em papéis muito diferentes. Em Renascer, uma das poucas novelas que eu gostei, ele rouba a cena, dando a um personagem tão simplório uma dignidade e humanidade incríveis, sendo muito engraçado em boa parte da novela e emocionante quando no seu final suicidando na prisão, sem nunca ser piegas nem caricato.
O osmar é um dos melhores atores que tem. Eu já disse isso pra ele.
O bafo de bode é o q eu tenho mais lembrança por que tinha um cara parecido com ele na época da novela….
Na verdade, o Jamanta não foi o único “tipo” a voltar: Dona Armênia e seus filhos (de Rainha da Sucata) voltaram naquela novela em que a Dercy Gonçalvez era um anjo (putz!).
Ops! Já tinham faldo da Dona Armênia. Foi mal..
Alguém se lembra do mulherengo Roberto Matias (Fábio Jr) em “Roque Santeiro” ?