sexta-feira, março 14, 2025

A maior montanha de lixo do mundo

A difícil solução para o problema da montanha de lixo, um Everest de detritos que não para de crescer, no coração da Índia

O modo de vida moderno produz muito, mas muito lixo mesmo. Mas você já parou para pensar onde está e como é a maior montanha de lixo do mundo?

A Montanha de Lixo de Ghazipur: O Everest de Detritos que Assombra Delhi

Quando pensamos em montanhas majestosas, imaginamos picos cobertos de neve ou formações rochosas milenares. Mas, na periferia de Ghazipur, no leste de Delhi, na Índia, ergue-se uma montanha bem diferente: uma colossal pilha de lixo conhecida como o “Ghazipur Landfill” ou, em português, o “Aterro de Ghazipur”.

Com cerca de 70 acres (equivalente a mais de 50 campos de futebol) e uma altura que rivaliza com o icônico Taj Mahal, essa montanha de detritos não é apenas uma curiosidade impressionante – ela é um símbolo das consequências do descarte desenfreado de lixo e um desafio ambiental que afeta milhões de vidas. Neste post, vamos explorar a história desse “Everest de Lixo”, seus impactos e algumas curiosidades surpreendentes sobre o universo do lixo ao redor do mundo.

 O Nascimento de uma Montanha de Resíduos

O aterro de Ghazipur foi inaugurado em 1984 como uma solução temporária para o lixo produzido pela capital indiana, Delhi, uma das cidades mais populosas do planeta, com mais de 20 milhões de habitantes. Localizado nos arredores da cidade, o espaço deveria ser apenas um depósito controlado, mas a realidade foi bem diferente. Em 2002, o aterro atingiu oficialmente sua capacidade máxima. Em vez de ser desativado ou substituído, ele continuou recebendo toneladas de resíduos diariamente, transformando-se em uma montanha de lixo que hoje alcança impressionantes 72 metros de altura – quase tão alto quanto o Taj Mahal, que tem 73 metros.

Hoje, o Ghazipur Landfill é um dos maiores aterros sanitários do mundo, abrigando mais de 14 milhões de toneladas métricas de lixo. E o problema não para por aí: Delhi gera mais de 11 mil toneladas de resíduos todos os dias, boa parte despejada diretamente nesse “monstro” de detritos. A montanha cresce sem parar, desafiando promessas de governos locais e expondo a dificuldade de gerenciar o lixo em uma megacidade.

Curiosidade: Você sabia que o lixo acumulado em Ghazipur é tão vasto que, se fosse espalhado, poderia cobrir uma área equivalente a mais de 200 campos de futebol? Isso dá uma ideia do volume impressionante que os moradores de Delhi produzem – e do desafio que enfrentam para lidar com ele.

 Pesadelo Ambiental e Humano

De longe, o aterro pode até enganar os olhos, parecendo uma colina natural. Mas, ao se aproximar, o cheiro inconfundível de lixo revela sua verdadeira natureza. O odor fétido, especialmente intenso no calor escaldante do verão indiano, é apenas o começo dos problemas. Incêndios frequentes irrompem na montanha de resíduos, liberando fumaça tóxica que sufoca os bairros próximos. Essas chamas são causadas pela decomposição do lixo orgânico, que gera gás metano – um composto inflamável e altamente poluente.

Em abril de 2024, por exemplo, um incêndio de grandes proporções no aterro lançou uma cortina de fumaça densa sobre a região, causando problemas respiratórios generalizados. Já em setembro de 2017, um colapso devastador levou mais de 50 milhões de toneladas de lixo a desmoronar, soterrando carros, pessoas e casas próximas. Esses incidentes trágicos são lembretes sombrios de como o lixo mal gerenciado pode se tornar uma ameaça mortal.

Ibrahim Khan, um morador de 71 anos da vizinha Mulla Colony, desabafou à Sky News:

“Eu só vi essa montanha crescer. Todos os governos prometem resolver, mas nada fazem. Quem vive aqui adoece, respirar é um tormento. Sou cardíaco e sinto isso todos os dias.”

A história de Ibrahim reflete o drama de milhões de pessoas que convivem com o impacto direto do lixo acumulado.

O metano produzido pelo lixo em decomposição é 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono como gás de efeito estufa. Em Ghazipur, esse gás não só alimenta incêndios como contribui para o aquecimento global, tornando o aterro um vilão climático além de um problema local.

O Lixo que Não Para de Crescer

Apesar dos alertas e das promessas de autoridades, o Ghazipur Landfill segue em expansão. A cada dia, caminhões despejam centenas de toneladas de resíduos, desde restos de comida até plásticos descartáveis, formando camadas sobre camadas de lixo. Especialistas estimam que, se nada for feito, a montanha pode ultrapassar os 100 metros de altura nos próximos anos, superando até mesmo o Qutub Minar, outro marco histórico de Delhi com 73 metros.

O crescimento descontrolado reflete um problema maior: a falta de infraestrutura para reciclagem e compostagem na Índia. Apenas cerca de 20% do lixo gerado em Delhi é reciclado ou tratado adequadamente; o resto vai direto para aterros como Ghazipur. Esse cenário é agravado pelo aumento do consumo em uma sociedade em rápida urbanização, onde embalagens descartáveis e produtos de curta vida útil dominam o dia a dia.

Curiosidade

Você sabia que a Índia é o segundo maior produtor de lixo do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos? Estima-se que o país gere mais de 62 milhões de toneladas de resíduos por ano, e menos da metade recebe tratamento adequado. O lixo, nesse contexto, é um reflexo direto do estilo de vida moderno.

 

Impactos Além do Cheiro: A Vida ao Redor do Lixo

Viver perto de Ghazipur é como habitar uma zona de guerra silenciosa. Além do fedor e da fumaça, o aterro contamina o solo e os lençóis freáticos com substâncias tóxicas, como metais pesados e produtos químicos. Crianças brincam entre montes de lixo, catadores arriscam a vida para coletar materiais recicláveis, e doenças respiratórias e infecciosas se tornam rotina. Estudos locais apontam que a qualidade do ar ao redor do aterro frequentemente ultrapassa os limites seguros, expondo os moradores a riscos graves.

Outro fenômeno curioso – e triste – é a presença de animais necrófagos, como urubus,  abutres e gaivotas, que sobrevoam o local em busca de restos de comida. Essas aves, embora naturais no ciclo de decomposição, também espalham detritos pelo ar, ampliando o raio de impacto do lixo.

Em 2019, uma pesquisa revelou que o Ghazipur Landfill abriga uma “fauna” peculiar: ratos, baratas e até cobras prosperam entre os detritos. Esse ecossistema improvável mostra como o lixo pode criar vida – mas de uma forma que ninguém gostaria de ver de perto.

O Lixo no Mundo: Comparações e Recordes

O Ghazipur Landfill não está sozinho no pódio dos gigantes de lixo. Na Alemanha, por exemplo, existe a “Kali Mountain” (ou Monte Kali), uma montanha artificial feita de resíduos de potássio da mineração, que chega a 250 metros de altura e é considerada a maior montanha artificial do mundo. Diferente de Ghazipur, porém, ela é composta por rejeitos industriais, não lixo doméstico, e seu impacto ambiental é controlado com mais rigor.

Nos Estados Unidos, o Fresh Kills Landfill, em Nova York, já foi o maior aterro do planeta, cobrindo 890 hectares até ser fechado em 2001. Hoje, o local está sendo transformado em um parque ecológico, provando que soluções para o lixo são possíveis com planejamento. Já na Indonésia, o aterro de Bantar Gebang, perto de Jacarta, é outro “monstro” de resíduos, com mais de 40 metros de altura e uma população de catadores que vivem em suas encostas.

O maior lixão a céu aberto da história foi o de Smokey Mountain, nas Filipinas, que operou até os anos 1990. Ele chegou a sustentar uma comunidade de 30 mil pessoas que viviam do lixo – um exemplo extremo de como os detritos moldam vidas.

O Futuro do Lixo em Ghazipur

Autoridades indianas já anunciaram planos para reduzir o tamanho do Ghazipur Landfill, incluindo a instalação de usinas de incineração e projetos de biometanização para converter o lixo em energia. No entanto, essas iniciativas enfrentam atrasos e críticas por sua lentidão. Enquanto isso, a montanha de lixo segue como um lembrete visível – e fedorento – da necessidade de repensar o consumo e o descarte.

Para os moradores, a esperança é pequena.

“Quero que meus netos respirem ar limpo, mas não sei se isso vai acontecer”

lamenta Ibrahim Khan. A história de Ghazipur é um alerta global: o lixo que jogamos fora não desaparece; ele se acumula, cresce e, às vezes, vira montanha.

Você sabia que o Brasil também tem seus “montes de lixo”? O antigo lixão da Estrutural, em Brasília, foi um dos maiores da América Latina até ser desativado em 2018. Hoje, o país busca alternativas, mas ainda despeja 40% de seus resíduos em locais inadequados.

O Lixo Somos Nós

O Ghazipur Landfill é mais do que uma montanha de detritos; é um espelho das nossas escolhas. Cada sacola plástica, cada resto de comida e cada embalagem descartada contribui para cenários como esse. Reduzir, reutilizar e reciclar são passos simples que podem evitar que o lixo domine nossas cidades – e nosso futuro.

E você, já parou para pensar no destino do seu lixo? Conta aqui nos comentários e compartilhe suas ideias para um mundo com menos montanhas de resíduos!

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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