Um amigo meu com fortes inclinações políticas à esquerda, fez um texto falando em como ele não acredita na meritocracia, uma vez que ele vê pessoas com grande inclinação à direita pondo a culpa em pessoas que vivem na miséria por sua falta de proatividade, ou seja, justificando a desgraça pela meritocracia. Mais ou menos como a pessoa que criou estas imagens:
É um fenômeno cíclico em qualquer língua, que certos termos entrem “na moda”, se tornem jargões e isso pode perdurar décadas, principalmente quando revestidos de uma forte dose de ideologia.
Pessoalmente? Eu acredito absolutamente na meritocracia. Só que, e aí é importante fazer essa ressalva, não sou idiota de achar que meritocracia resolve os problemas do mundo. Vejo meritocracia quase que como uma lei de causa e efeito, mas não como uma receita de bolo, como muitos esperam que seja. Se fosse, seria fácil. Basta se esforçar para dar certo na vida. Se não deu é porque você não se esforçou, mais ou menos como o sistema de crenças da teologia da prosperidade prega: Creia firmemente, e pague mais em dízimos e contribuições “para Deus” e você fica rico. Não ficou? Então é você que tem pouca fé ou não deu o suficiente.
É uma ideia completamente idiota, mas é incrível como ela atrai pessoas que caem nisso como moscas no doce.
A meritocracia hoje é o foco de debates acalorados entre pessoas com toda sorte de inclinações políticas. Quase sempre, saltando para os exemplos mais contrastados para justificar seu ponto. Do homem que comia lixo e hoje é milionário ao menino enfiado numa poça de chorume da foto acima.
Afinal, onde está a verdade?
A meritocracia existe, e não existe separada da desigualdade, da lazarenta condição humana, da injustiça. Este é o problema, se analisarmos a meritocracia por si só, veremos que ela se justifica, mas não funciona como elemento comparativo entre realidades. Por exemplo, uma pessoa que nasce no famoso berço de ouro, tipo:
Obtém com grande facilidade todos (ou quase todos) os sinais de que é uma pessoa realizada. Casa de luxo, iate, carrões, roupas caras, pode comer e beber o que quiser, não sabe o que é se preocupar com contas a pagar, uma vida de prazeres e diversões, numa espiral de desejos infinitos, sempre realizada. Outras, ralam a vida inteira para comprar um apartamentinho quarto e sala tão pequeno que para tomar banho só de porta aberta, porque ela mal cabe no banheiro.
Quem ralou mais e quem se deu melhor?
Quem já nasce em berço esplêndido ou quem se fodeu a vida inteira, acordando cedo, trabalhando feito um puto, ouvindo desaforo, engolindo sapo, enfrentando burocracias, planos econômicos desgracentos, má gestão governamental e aquele pacote completo que vem à reboque no sócio folgado permanente que todo brasileiro sabe como é. Como podemos colocar em perspectiva duas realidades diferentes com base na meritocracia? Isso é impossível de se fazer a menos que você anule os fatores de injustiça e desigualdade social de uma equação.
Igualdade é utopia
A igualdade é completamente utópica desde sempre. Começa pelo básico, onde de cara se considera que duas ou mais pessoas são iguais e podem concorrer em condições idênticas de temperatura e pressão. Não podem. Não existem duas pessoas iguais. Só aí a igualdade já se mostra falha, que dirá num universo pautado pela livre iniciativa e com fatores heterodoxos atuando nos mais variados graus.
No entanto, mesmo que a igualdade seja uma utopia, é justo e aceitável que nos oponhamos contra isso, e trabalhemos duro para tentar mitigar ao máximo a desigualdade. É plenamente possível, e até desejável que as sociedades se tornem cada vez menos desiguais, mas sempre precisamos ter a bússola norteadora da realidade que nos mostra que JAMAIS, em tempo algum, neste planeta houve Igualdade. Jamais! Never! Nunca! Jamé!
No mundo, a História nos mostra que existiram épocas em que muita gente esteve igualmente fodida, isso sim, mas sempre vai ter um ali que estará numa condição melhor. Quer um exemplo? Cuba:
Auto-comparação
Muitas pessoas incorrem no erro de buscar a reflexão sobre a meritocracia com base apenas na comparação. Por exemplo, dois médicos vizinhos. Um compra uma lancha. O outro entra em depressão porque não pode comprar aquela lancha igual, e por isso sente-se um ser humano pior que o amigo de mesma profissão que obtém e ostenta um sinal social de status. O médico sem lancha pode pensar nisso como um mundo injusto onde meritocracia não existe, já que ele passa madrugadas atendendo crianças melequentas num posto de urgência e mal consegue pagar o condomínio, enquanto seu amigo cirurgião plástico das moças da novela está aparentemente cheio da nota.
Nesse caso, o medico sem lancha incorre no erro de se comparar com outro acreditando que estão em condições iguais quando não estão e nunca estiveram. A necessidade de pertencer à aquela classe social AA+, pode ser um motor que faça repensar suas escolhas e buscar maneiras de ganhar mais. Mas pode ser também um fator de desmotivação e inveja do sucesso alheio.
No entanto, se o médico sem lancha pensasse em seu próprio esforço que o levou a passar noites em claro cuidado dos necessitados, que trabalha naquilo que sempre desejou e que hoje mora num condominio de luxo, e se num pequeno esforço de criatividade imaginasse sua vida se tivesse passado a faculdade apenas bebendo chopp e cantando gatinhas, sem estudar, repetindo todas as matérias, sendo jubilado e acabando por se tornar um camelô de calcinha na 25 de março à espera de um benefício como o “Minha casa minha vida”, ele poderá notar que seu esforço produziu resultados palpáveis no melhor sentido meritocrático. “Ah, mas eu não tenho uma lancha”… Trabalhe para ter, sem nunca esquecer que enquanto você deseja uma ancha igual a do seu vizinho, há em algum lugar um pai desesperado tentando um prato de farinha com água para alimentar o filho às portas da morte por desnutrição.
O mundo é uma merda. Entube isso!
Meritocracia e arte
Existem campos, em que rolam situações mais meritocráticas do que outras, é verdade. Por exemplo, no esporte. Só um ganha, logo, podemos supor que quem se esforçou mais, leva. O que não é exatamente a realidade dos fatos. Novamente entra aí a fuga pela fantasia, uma vez que, por exemplo, fatores diversos extrínsecos podem contribuir para um atleta se esforçar pra caralho e não ganhar. Exemplos? Salto ornamental. O cara pula, o vento muda, atrapalhando o mergulho ele tira uma nota menor apesar de ter sido na bateria o que mais treinou. Outro exemplo, mundial de Surfe. O cara esta em condições preparado, ele sabe, ele é foda. Ele entra na onda, o vento muda, a onda caga o desempenho dele. Ele se ferra. O cara vira presidente, prepara uma melhoria para o país, faz planos tem apoio do senado, congresso, do povo… Aí vem uma crise internacional, somem investimentos, a economia regride, tudo começa a dar merda…
Isso nos mostra que apesar de podermos reconhecer o mérito do cara que jogou sua vida no ultra-hard, e que de catador de lixo se tornou presidente de empresa dando condições a outros que ele jamais teve, é preciso uma certa lucidez para reconhecer que pontos fora da curva não são a regra e sim a exceção. No entanto, quando vemos um bom violonista fazer coisas que aprecem milagre naquele instrumento…
Dom é a puta que te pariu!
Só podemos reconhecer aí uma puta duma meritocracia, porque só quem já tentou aprender um instrumento sabe a VIA CRUCIS do caralho que é. Eu sei, apesar de não tocar praticamente nada, morei em cima de uma professora de piano naquele apartamento mal assombrado… E que merda, meu.
Arte é esforço. Arte é a busca permanente pela superação, pelo alto padrão.
Novamente, precisamos reconhecer que dado o mundo atual, a lei da injustiça e desigualdade também opera no universo da arte. Um cara pinta uma tela de azul e vende por milhões para alguém que acredita que aquilo tenha valor subjetivo ou (o que é muito mais provável) esta especulando financeiramente com a arte, já que nesse campo quase ninguém sabe merda alguma mas todo mundo finge saber, então rolam essas distorções também. Mas ainda assim, o verdadeiro artista não está nessa somente pela grana. Ele esta numa permanente busca de auto-superação. Mesmo caras odiados como Romero Britto, um sujeito que nasceu pobre e hoje é milionário, o que muitos poderiam dizer ser um belo caso de meritocracia in natura, está em busca de auto-superação. Apesar das criticas dizerem que ele só faz a mesma coisa, deve ser extremamente difícil ficar rico fazendo apenas a mesma coisa, e nisso eu reconheço muito o mérito desse cara. Eu JAMAIS conseguiria fazer isso.
Um outro exemplo de pura meritocracia? Fisiculturistas.
Só quem já tentou marombar sabe como é uma fodeção existencial infinita aquilo. Mesmo que alguns recorram a artifícios químicos colocando a saúde em risco em prol de seu objetivo final que é virar um cover do incrível Hulk, você não fica monstro sem praticamente suar sangue, meu chapa.
Qualquer um consegue? Lógico que não. Mas isso não quer dizer que não possamos reconhecer o esforço empregado nesse sonho, o foco e a determinação de chegar ao objetivo.
A injustiça e a desigualdade sempre existirão. O problema da meritocracia é que muita gente entubou a ideia como se isso fosse o Santo Graal, que trará redenção a todas as almas errantes do orbe terrestre. Não vai rolar, meufí!
Vejo um problema complexo essa ideia da meritocracia aplicada nas escolas. Se por um lado é justo que se premie o aluno que se esforçou e chegou lá, há um aspecto fundamental que é pouco questionado: Qual é mesmo a função da escola? Preparar? A escola parte em sua gênese na noção de que “é preciso preparar as crianças para o mundo em permanente transformação” e mais aquele monte de coisa bonita que a gente leu no planfletinho. Com alunos diferentes, processos industriais sempre serão falhos, mas mesmo assim é possível fazer o melhor que dá considerando a máxima de que o ótimo é inimigo do bom. Alguns se destacam, a boleira se aglomera na media e um ou outro se fodem até que saem da escola acreditando que são incapazes e levarão sua cruz pelo resto da vida.
As escolas que se pautam apenas na meritocracia produzem uma corrida pelo resultado e isso em parte tem suas vantagens, mas por outro lado produz a trágica distorção que é a escola ir limando pouco a pouco os alunos que não se enquadram no molde dela de sucesso, para depois poder fazer a propaganda dizendo que é a que dá melhor resultado. Decantando e expurgando os mais indesejáveis que revelariam a incapacidade da escola de formar aquelas pessoas que são curiosamente os que mais precisam, cria-se a artificial ideia de uma “escola de excelência”. Pais incautos e com bolsos recheados caem nisso como os idiotas que vão atras da teologia da prosperidade. Se seu filho entra e não vai bem, é porque ele que não conseguiu acompanhar. “Desculpe, seu filho não está no nível da nossa escola”.
Assim, muitas escolas ditas meritocráticas não estão ali para ensinar. Estão para filtrar apenas os que já se virariam bem sem ela, e no processo, encher a burra de dinheiro, fazendo marketing em proveito próprio em cima dos alunos que se destacam por seus méritos.
Há muitas faces na meritocracia, além dos simplórios contrastes. Acredite no que quiser, até na teologia da prosperidade, mas saiba que se você tirar da equação o princípio da permanente desigualdade e os elementos extrínsecos que contribuem para sucesso e fracasso, sua percepção de mundo nunca será inteiramente honesta.
Engraçado como durante anos a bandeira da esquerda era justamente a meritocracia (a aristocracia acreditava que poder sócio-econômico dela advinha dos céus (literalmente) e por isso era mais digna de estar na posição superior que estava) para fazer a classe baixa sair da pobreza extrema. Hoje como não temos mais uma aristocracia factual (ela se esconde através de exemplos capitalistas perfeitos recheados de maracutaias) a meritocracia se tornou uma capa que esconde a intenção de manter-se no topo da classe burguesa. O mérito é necessário para o desenvolvimento humano como um todo (esforço é a chave pra quase tudo) mas não se pode acreditar que uma pessoa que está em uma situação de pobreza extrema sairá apenas por esforço próprio dessa situação de vulnerabilidade; essa pessoa precisa de mais, precisa de ajuda para que o mérito e o esforço dela possam ser capazes de fazer alguma diferença.
Esse é o ponto onde entra o assistencialismo estatal.
As grandes economias mundiais atualmente tem um pesado estado regulatório que mantém uma certa ordem em termos de licenças, funções e deveres dos cidadãos e, principalmente, auxiliam aqueles que não tem condições de atuar no nível próximo dos demais. Alemanha, França, Canadá, Bélgica, Irlanda, Suécia e o próprio Reuni Unido que recentemente saiu da UE, todos são países assistencialistas ao extremo (com bolsas para desempregados, programas que beiram a renda mínima, bolsas para estudantes se manterem apenas estudando, jornadas de trabalho reduzidas, especialização de funções determinadas pelo estado, etc). Esse assistencialismo é necessário para que as condições de igualdade sejam mínimas e para que as pessoas não sejam tão distantes uma das outras, tenham oportunidades e possam, de maneira geral, serem mais produtivas e gerarem mais riqueza pro país. Só que isso precisa vir a reboque de uma série de mudanças estruturais – imposto progressivo, liberdade de empreender, garantia de renda mínima e principalmente uma educação básica voltada para a formação e não para a competição. Sem isso o que temos é o desastroso capitalismo econômico latino-americano quando o sistema inteiro recaí na política de compadres ou, quando recaí na ditadura, o desastre completo que se chama África.
Capitalismo per se não resolve nada, achar que eliminar impostos, CLT e regulamentações vai fazer com o que o país seja, automaticamente, um país menos violento e com mais oportunidades é esquecer toda a formação da elite econômica brasileira, das estruturas sociais do Brasil. Sem ruptura social o Brasil não vai abandonar o sistema oligárquico que se mantém até hoje desde 1500 – onde a classe média quer a classe pobre mais e mais pobre, assim mantendo os serviços baratos, e a classe rica ganha mais e mais ajuda do governo em troca de “investimentos e geração de (sub)empregos”.
Ainda hoje é possível ver pessoas cuja família ganhou terras do rei de Portugal arrotando meritocracia e estado mínimo. Isso não é a solução e muito menos são essas pessoas que devemos escutar.
Culpar a meritocracia ou o Estado pelos problemas estruturais é ingenuidade (sendo bondoso).
“… Trabalhe para ter, sem nunca esquecer que enquanto você deseja uma
lancha igual a do seu vizinho, há em algum lugar um pai desesperado
tentando um prato de farinha com água para alimentar o filho às portas
da morte por desnutrição.”
Isso é o mais doloroso e a coisa mais real que existe.
Ótimo texto.
Excelente análise!
Quando você diz que o mundo é, sempre foi e provavelmente sempre será desigual, me vem à mente uma ideia que cunhei ao longo do tempo e à partir de muitas experiências pessoais: a natureza é, por excelência, a mãe de todas as injustiças.
Pena que a lenta caminhada evolutiva em busca da compensação das diferenças (e não falo aqui em regimes econômicos ou políticos) faz imperceptível, para os imediatistas, que o estado de absoluta natureza é infinitamente pior em desigualdades do que o estado de sociedade, ainda que esta seja a da pior estirpe terceiromundista – daí nascem críticas ferozes e muitos dos defensores de que “o ser humano é a pior desgraça da terra”, com as clássicas variantes do desconstrucionismo do modelo de sociedade que possuímos, da negativa da meritocracia e sua inseparável comparsa: a negativa da responsabilidade.
Falta muito, muito mesmo, para atingirmos um patamar que satisfaça os anseios quase utópicos de uma existência “justa” (ainda que justiça seja subjetiva), mas acredito piamente que a única forma de atingimento de uma realidade onde a desigualdade seja quase que completamente mitigada é com a absoluta dominância – e manipulação -, pelo homem, de todos os aspectos naturais que envolvem a sua existência. Isso se faz pela tecnologia.
Gastou saliva a toa com seu amigo Philip! Esquerda política e esquerdistas sempre deturpam tudo! De conceitos a dogmas! Comparar favelas com habitaçoes de luxo de classe média não tem nada de meritocracia, como o caso do médico pobre e do médico rico! O que acontece é que é verdade sim! Aqueles que esforçam-se mais chegam lá! Claro que há alguns fatores a considerar! Por exemplo: Nem todos que cursam uma faculdade de exatas são extremamente competentes! Assim de uma mesma turma podem sair médicos muito competentes e inovadores como pode ter um ou mais com a capacidade de jumento! Bons profissionais, a gente sabe, nunca param de estudar, de se auto-reciclar, buscam sempre estar em sintonia com tudo o que diz respeito a profissão. Mas tem médicos que nem sabem que cibazol não existe mais! Não vou me alongar aqui com isto! O negócio é que a esquerda ergue várias bandeiras subliminarmente! Mas de modo seletivo claro! Criticas são feitas ao vizinho por ter um carro novo, enquanto o próprio também tem um novo e mais caro! Os mesmos sociólogos de esquerda que criticam a imagem da favela ao lado do prédio de luxo, também moram lá! Já viram um líder de esquerda oriundo da favela?? Não né?
E as vezes isso vira moda de consciência! Explico! Lembram quando vários jogadores de futebol e atletas que melhoraram de vida criaram sua própria fundação de ação social? Ronaldinho gaúcho tinha uma, Romário, acho eu, Cafú, Vampeta, até a Hortênsi, a Magic Paula mas de repente…Ronaldinho fechou a dele e os outros seguiram atrás! Os caras são na maioria todos de origem humilde! Com exceção de Ronaldinho que era irmão de um jogador profissional que já ganhava bem! Mas o resto era muito humilde! Ficaram com crise de consciência por estarem ricos!!!!Com vergonha!!!! Claro que puseram isto na cabeça deles! Já que eles tinham tanto, por que não ajudar os mais pobres e da sua comunidade? Todos sifú!!!! Políticos logo apareceram para tentar levar vantagem, e alguns atletas até aceitaram cargos públicos (magic Paula por exemplo!) outros fizeram convenios para receberem verbas do poder público supostamente para dobrar a capacidade da sua ação social e aí é que se lascaram! Quem recebeu verbas e não deixou fazerem a fundação de cabo eleitoral recebeu a mais dura fiscalização possível do poder público! A tal ponto que pagaram multas, responderam processos, e enfim fecharam seus trabalhos sociais!
E os pobres? Não importa. A esquerda conseguiu colocar o sentimento de vergonha nos coitados (deve ser por isso que a maioria vai embora do país e as vezes até fica por lá mesmo!)
Meritocracia é uma utopia, um ideal, não algo que existe.
Acreditar que o melhor mundo seria um mundo onde cada um é recompensado proporcionalmente ao que contribui, isso é utópico, e tem vários motivos pelos quais as pessoas deliberadamente NÃO QUEREM que sejam implantados. quer ver uma das coisas que torna o mundo menos meritocrático? Herança. A base da injustiça, que é que as recompensas não são nada proporcionais ao esforço, vem de que boa parte das recompensas da vida vc ganha simplesmente pela sorte de nascer em um determinado lugar, em determinada família.
querer um mundo meritocrático, ok. aí também tem que querer um sistema que realmente faça isso acontecer. tipo, taxando enormemente heranças talvez. com impostos progressivos. com tentativas reais de nivelar uma linha base de onde todos podem partir de um lugar próximo e se destacarem por seus esforços.
agora, acreditar que o mundo que vivemos é meritocrático? é muita auto ilusão, é querer de alguma forma justificar sua própria riqueza como mérito próprio, querer ignorar toda a sociedade. mesmo o mais inicialmente pobre dos self-made-mens do mundo teve a oportunidade de nascer num lugar onde enriquecer é possível, não numa tribo isolada da amazônia, em uma aldeia agrícola dizimada na revolução chinesa, etc etc. toda a vida depende tando de esforço como de acaso, e acaso tem um peso gigante que as pessoas não querem reconhecer e se iludem com essa ideia aí.
Sendo frio e realista, está mais para:
“Aos amigos tudo, aos inimigos a Lei” – autor original incerto (não é Maquiavel)
“A meritocracia é uma ilusão proposta. O pragmatismo ilude, leva à frustração. A rota de fuga é a Sabedoria.” – MINHA
É vago ? Talvez, bem menos do que as pessoas imaginem…
Acho que quando se considera meritocracia acaba se excluindo a meritocracia dos grupos humanos, sendo a familia o mais importante deles. é so ver o grupo humano com mais sucesso no mundo, os judeus askenazi. mesmo quando chegaram pobres imigrantes em paises que nao os receberam bem, e tao pouco os ajudaram, em uma geraçao a familia já tinha saltado pelo menos uma classe. os imigrantes japas aqui, e em outros lugares tbm sempre prosperam.
uma familia turbulenta e desunida nao produz quase nunca coisas boas, geralmente é um balde de carangueijo onde qq um com mais chance de sucesso é puxado para baixo, uma criança que é criada vendo os pais discutindo todo o dia, que tem funk à toda no vizinho, que divide o quarto(quando tem) com mais 5 irmãos, que apanha sem motivo, consegue se concentrar para estudar alguma coisa? nota: nao falei em nada de dinheiro… falei em condiçoes que nao envolvem a parte financeira, pois acho que quando se fala de estrutura familiar e social so se leva a parte financeira em conta. Ja frequentou a uma comunidade de periferia ou de favela? se sim, diga, eles voluntariamente discutem sobre politica, mesmo a local? se juntam para resolver problemas que atigem a todos? recusam migalhas que criminosos ou politicos corruptos oferecem em troca de apoio? eu ja frequentei comunidade e digo, sao eles que fazem boa parte do inferno diario ser assim.
Grupos mais coesos e com mais estrategia de longo prazo vencem, simples…
A ai..esse zé povinho falando de esquerda e direita.. o problema é que se vc for um ricão, é melhor ser escroto pq então vc não será criticado como Fidel só pq ele prega a igualdade. Bom, e o que dizer de FHC..um mestre da igualdade? não. tb vive as turras com suas arrogancia. ja faz 4 eleiçoes que deixou a presidencia e ta fora do pareo mas continua tagarelando em vez de simplesmente se recolher a suas ideiazinhas.. mas enfim, sendo curto e grosso: NG QUER PERDER A SUA BOQUINHA JAMÉ..DE JEITO ALGUM!
Verdade, uma vez provando o gostinho do poder, ninguém quer sair dessa aba. Um bom exemplo disso foi o Lula que saiu da cadeira mas a cadeira nunca saiu dele, até nomear ministro no lugar da Dilma ele se arvorou em fazer. Um negócio impressionante.
Philipe, seu texto definiu exatamente o que penso sobre o assunto e que nunca sei como explicar! Hoje em dia está cada vez mais difícil falar sobre esforço, disciplina, sobre seguir seus sonhos sem sermos atacados por críticas que generalizam o assunto.
Conheço o Mundo Gump desde minha adolescência e me admiro com a persistência do site depois de todos esses anos. Seus textos são o tipo de coisa que somam e agregam coisas boas à sociedade. Continue o bom trabalho!
Valeu mesmo, Lilian!
Philipe, vc esta certo em vários pontos, mas esqueceu de considerar q a meritocracia tem um grande fator hereditário. vc pode enxergar isso facilmente nos casos de empresas familiares, sua taxa de sobrevivência entre gerações, etc.
De fato, Edson, o fator hereditário existe, mas não consigo ver nenhuma regra nisso. Conheço casos em que um cara muito foda levanta uma grande empresa do zero e seus descendentes por completa incompetência, destroem e queimam tudo que o antepassado construiu. E tb conheço casos em que os filhos só fazem o patrimônio que herdam crescer.
Phillipe, já fui defensor da meritocracia mas, após um post do Olavo de Carvalho, repensei muita coisa, inclusive o texto acima. Enfim, deixo abaixo para reflexão:
Há uns cretinos descendo o cacete na “meritocracia” como se esta fosse a quintessência do “neoliberalismo”, do conservadorismo, do capitalismo enfim. Da minha parte, nunca usei esse termo nem o conceito que lhe corresponde, que para mim tem apenas o valor nebuloso e ambíguo de um slogan. Só para dar uma idéia do que estou dizendo: qualquer regime comunista é incomparavelmente mais “meritocrático” do que o mais eficiente dos capitalismos. No regime de livre mercado, o sujeito pode subir na vida por mera sorte ou porque, sem mérito nenhum, caiu nas graças do povo. No comunismo, se você é nomeado para um cargo e não mostra competência suficiente para alcançar as metas que o governo lhe designou, você não apenas é demitido, mas vai para o Gulag. A idéia mesma de meritocracia supõe uma unidade dos critérios e da autoridade julgadora, isto é, a radical centralização do poder, como acontece no comunismo e no fascismo. O que torna o capitalismo mais suportável é justamente a pluralidade dos critérios de julgamento, a existência de um número incontrolavelmente grande de caminhos para o sucesso (e para o fracasso).
Destaque para a frase: “No regime de livre mercado, o sujeito pode subir na vida por mera sorte ou porque, sem mérito nenhum, caiu nas graças do povo”. Bem isso é o que acontece com muitas subcelebridades, pseudo-cantores e ex-bbbs que fatura muita grana fazendo presença vips, com instagram ou aparecendo peladas por ai. Ou um Neymar da vida, que chutando uma bola ganha mais dinheiro que um médico que estudou a vida toda para salvar vidas.
Então Lucas, o que entra aqui, não é exatamente a questão meritocrática mas uma questão de avaliação pura e simples. O autor avalia e estabelece ele mesmo o poder de definir que não há mérito neste ou naquele indivíduo que “caiu nas graças do povo”. No meu ponto de vista, se caiu nas graças do povo, é porque tem mérito. Podemos questionar suas práticas? Podemos. Somos infalíveis em nossa análise de seres superiores? Não. è por este motivo que digo que Funkeiros ricos tem mérito. É por este motivo que digo que Romero Britto tem mérito. Eu gosto do produto dessas pessoas? Não. Mas quem sou eu para cagar regra do que pode ou não pode ter mérito? Se há alguém que compre, dou é parabéns para quem consegue vender, meu amigo.
Neymar ganha milhões chutando bola? Ganha. Mas se você entender a industria no qual Neymar é uma peça fundamental, que é o futebol que envolve bilhões de dólares, é perfeitamente possível entender e respeitar o seu mérito. Quantos milhares de moleques estão chutando bola sonhando em ser um Neymar? Quantos vão conseguir? praticamente nenhum. Ele não ganha só por chutar bola e sim por fazer o enorme mecanismo de arrecadação funcionar. E isso é um merito foda. Até porque, quem paga o ingresso para ver jogo o faz por livre e espontânea vontade, coisa que jamais fiz e jamais farei nessa existência. É uma questão individual. E é aqui que eu discordo do texto quando diz que o comunista incompetente vai para o Gulag. O Gulag é o lugar para onde vão os inimigos do regime. Essa é uma ideia bem estupida de quem não conhece bem como a rede de conchavos e “ações entre amigos” opera no serviço público onde o bordão famoso é: “Meu chefe não é meu chefe. Meu patrão é o governo!”
O problema aqui é que governo, sobretudo comunista, não é gerador de riquezas, mas sim gerente da riqueza. Há uma diferença brutal entre o compromisso em ter lucro e o compromisso estatal de “dar emprego”. Se formos ver, quantos, entre empresas publicas, e órgãos públicos, são deficitários? Eu posso apostar que são praticamente todos, que sobrevivem não com o que geram, e sim com a coleta dos impostos, um dinheiro que vem de cima. Se o dinheiro vem com um trabalho bem feito ou malfeito, qual é efetivamente o incentivo para a busca pela excelência? Zero. É aqui que está o cerne do problema.
Opa, obrigado pelo retorno.
Concordo com sua visão, mas perceba que ela só existe em economias de livre mercado. É somente assim que Neymar, Keferas ou funkeiros faturam dinheiro pois existem N meios de se ganhar dinheiro. É meritocrático? É justo? Sim ou não, levando conta sua opinião pessoal, valores de referência ou contexto do negócio. O Barcelona paga muito ao Neymar porque ganha muito mais com o Neymar. É certo ele ganhar em 1 dia mais que 1 bombeiro em 1 ano? Aqui estou contigo e também acho que não sou ninguém para cagar regras e fazer esse tipo de julgamento.
Já em um regime comunista só os puxa-sacos e aqueles que cumprem integralmente as regras do partido sobrevivem. Ao resto só o resto mesmo. Não é a toa que os filhos de Fidel e Maduro estão ostentando em miami, enquanto o povo mingua passando fome. Só no comunismo a meritocracia realmente funciona em toda a sociedade. Qual meritocracia? A definida pelo partido. Não há outro jeito de prosperar.
E como incompetencia entendo como aquele que não cumpre 100% das metas do partido, ou simplesmente é mais uma desculpa para matar em um sistema assassino como é o comunismo. No exército vermelho de Stalin os desertores, aqueles que retrocediam no campo de batalha ou os líderes de pelotão que falhavam eram sumariamente executados.