quarta-feira, dezembro 18, 2024

O dia em que Maurício acordou EMO

31062s | Contos | bicholete, emo, good charlotte
Um dia ele acordou e algo estava estranho. Seu cabelo havia crescido de uma hora para outra. Não, calma aí. O cabelo não cresceu de fato. Mas apenas uma franja que eu julgaria escrota brotou bem em cima da testa dele, caindo nos olhos.
Quando Maurício correu para o banheiro viu estupefato que no meio da mecha superdesenvolvida estavam fios de cabelo azul. Não, nada de cabelos brancos ou descoloridos de parafina da praia, mas AZUL! Pintados!
Como alguém vai dormir e acorda com a porra do cabelo azul? – Ele se perguntou.
Mas logo em seguida começou a se olhar de perfil e viu que se sentia estranhamente bonito. Até que é um cabelo que está na moda. FEz pose de intelectual para o espelho e viu que ficava bem com aquele cabelo. Começou a gostar daquele cabelo. Mas sentiu falta de alguma coisa para marcar mais o rosto. Pegou o lápis preto da mãe dele e delineou os olhos. Adorou o resulttado. Gostou tanto que quase não conteve uma vontade de chorar de felicidade.
Foi quando Maurício se deu conta de que também estava magro. Até ir dormir na noite anterior, ele era um daqueles carinhas malhados pegadores de garotas na academia. Seu esporte era religião e sua religião era o bar. Saía com os amigos todas as sextas para beber e olhar as belezas naturais ( bundas) na noite carioca.
Mas ali estava ele agora, magricelo. Quase aidético.
Novamente ele tentou se controlar para não derramar lágrimas ao ver seu esqueleto surgindo sob a pele.
Decidiu que aquele não era mesmo o seu dia. Ele precisava sair, precisava de ar.
VEstiu as roupas que estavam sobre o cabideiro. Nada combinava com nada. Parecia até um alienígena cego perdido num brechó. Mas como ele se sentia bem usando aquelas roupas!
Aliás, de quem eram aquelas roupas? Afinal, ele nunca tinha visto aquilo antes. Elas surgiram tal qual o cabelo azul e a palidez magra de seu corpo.
Maurício havia ido dormir como sempre de cuecão e camiseta e acordou com uma camisa baby look num corpo magrelo e com uma cueca contendo um bichinho de desenho animado ( do alto de sua masculinidade, Maurício evitava reconhecer a figura, mas eu conto: Era um ursinho carinhoso!)
Ele pensou em tirar aquela cuequinha escrota, mas já que ia ficar dentro das calças rasgadas mesmo, que problema teria? E acabou deixando.
Além do mais era maneiro porque era desenho animado. E ele curtia coisas retrô.
Quando Maurício chegou até a porta do elevador e foi apertar o botão, viu que seus dedos estavam com as unhas pintadas.
Isso foi a gota d´água!
Maurício chorou. Sofreu.
Quando o elevador chegou após um tempo que pareceu uma eternidade, havia um homem dentro. Um homem com cara de mau. Era um homem velho, talvez um ex-delegado ou coronel. Talvez o síndico.
O homem com cara de mau falou:
– Bom dia! – e ficou ali parado esperando resposta.

Já percebeu que homens com cara de mau adoram dar bom dia?
Pois é. Adoram. Mas o homem da cara de mau ficou ali olhando fixo pro Maurício que estava tentando disfarçar suas lágrimas jogando o cabelo na testa. Desde sempre ele olhava todos nos olhos, mas naquele dia não conseguiu. Só olhava de esgueia, como um cachorro que sabe ter feito alguma merda. Mas o velho não parou de encarar. Isso começou a incomodar Maurício, que acabou rompendo finalmente o silêncio:
– Bom tchía titio. – E tão logo falou arrregalou os olhos assutado. Aquele não era o jeito dele de falar. Um jeito estranho, arrastado, meio doido ( miguxo). E aquela voz escrota? Fina como o de uma bicholete das montanhas felizes.
O velho estava com os olhos mais arrregalados ainda. Nunca em mais de vinte anos vivendo naquele condomínio havia visto um ser tão escroto. Seu espanto ganhou ares de ódio, mas o elevador chegou no térreo antes que pudesse esboçar alguma reação.
Maurício percebendo que o bicho ia pegar, saiu rapidinho correndo com seus tênis all star de cano longo preto, todos rabiscados com trechinhos de musicas do Embrace.
Quando ganhou a rua ele se sentiu mais livre.
Andou alguns metros e percebeu que não via direito as coisas. Talvez por ter chorado.
Enfiou a mão no casaquinho de crochê que faria o Agustinho da Grande família morrer de inveja e viu que ali estava uns óculos fininhos desses de vovó ler historinhas para os netinhos, mas com lentes amarelas.
Maurício não consegiu conter a emoção e novamente quase chorou.
– Que lindoooo. Um charme! – disse ele para si mesmo, colocando os óculos da vovó.
Da calça pendia uma correndinha que se ligava às chaves no bolso de trás da calça rasgadinha, passando por cima de um cinto cheio desses penduricalhos babacas de metal.
Maurício vinha passando pela calçada quando um sujeito numa bicicletta gritou:
– EMO BICHA!
– Bobo! Feio! cara de Mamão!!! – Foi o que Maurício conseguiu gritar com a voz esganiçada. Se sentiu ofendido. Se sentiu rotulado, se sentiu um produto marcado como se tivesse defeito de fabricação. O que estava havendo com ele? Por que o mundo era tão cruel?
E então Maurício chorou.
Mas então ele ouviu uma música que vinha da esquina. Era uma música “batuta”.
Pelos primeiros acordes, viu que era uma música do Good Charlotte e não aguentou de vontade de cantar juntinho. Correu para a loja de discos.
Maurício não curtia muito essas coisas de discos, mas desde aquela manhã teve vontade de doar seus cds e recomprar todos os discos de vinil que pudesse.
Mas seria impossível já as bandas que ele adora praticamente não tem discos em vinil. Maurício pensou nisso e sentiu-se triste.
Por que o mundo é assim? Por que os cds com seu brilho maldoso aniquilaram a beleza da imperfeição negra dos vinis?
Então Maurício chorou.

FIM

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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Comentários

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

    Bom thcía titio!!
    hahahahahahahahaha
    essa parte foi a melhor o cara lá serião, conservador, ai aparece um emoglota dispistando puxando a franjinha e diz

    “bom thìa titio”

    kkkkkkkkkkkkkkKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKk :D =D x_x x_x

  2. AfêêêÊÊ , Porque tanto preconceito contra os emos ?
    Fala serio né ?
    Será que não existe ninguem com um pouco de sensibilidade ake nãun ?
    Me poupe… Até vc Philipe ?
    Os Emos são uma prova viva (e muito sensivel) de que um dia , vc também pode acordar com o espirito meio caido ..
    :worry:

  3. os emos não precisam de tudo isso que você tanto diz , ás vezes emos são alegres e engraçados e até gordos -q
    não precisam obrigatoriamente usar óculos !
    eu acho que isso é muito preconceituoso , de se falar o que está na modinha e bla bla .
    acho que emos são aqueles que fazem o seu próprio estilo !
    Então para de por modinha .
    e pra que essa melequeira de bobo , feio , cara de mamão ¬¬ ‘

  4. Muito hilário,
    “bom tchía titio, … feio, bobo, cara de mamão”, cara tu eh muito criativo, eu temho 14 anos e naum tenho nem a metade da sua criatividade, Parabéns, a historia ta foda!

  5. hsaihsiahsuahsuahsuhas Tive q conter minha vontade de rir aqui no meio do meu trabalho lendo isso xDDDD

    Ñ tenho nada contra os emos, mas q é divertido dar uma zuadinha assim de brincadeira, isso é xD

  6. Enfiou a mão no casaquinho de crochê que faria o Agustinho da Grande
    família morrer de inveja e viu que ali estava uns óculos fininhos desses
    de vovó ler historinhas para os netinhos, mas com lentes amarelas.
    Maurício não consegiu conter a emoção e novamente quase chorou.
    – Que lindoooo. Um charme!
    —————————————————————
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

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