A Bizarra arte de organizar seres vivos invisíveis

Este belo padrão vitoriano que ilustra o post pode parecer uma ilustração, mas na verdade, se trata de um arranjo de pequenos seres marinhos quase invisíveis, chamados diatomáceas.

As diatomáceas estão na base da cadeia alimentar e fornecem sustento para muitas criaturas marinhas. Se você usar um microscópio, poderá ver essas incríveis criaturas, cujos maiores exemplares chegam a dois milímetros e perceberá que elas vêm em uma variedade incrível. Já é fabuloso o suficiente apenas descobrir centenas delas numa gota de água do mar, mas ainda mais incrível é descobrir que essas criaturas são usadas ​​como uma mídia de arte!

O cineasta Matthew Killip fez um documentário sobre o último mestre remanescente da arte de organizar diatomáceas.

Diatomáceas são algas unicelulares que criam conchas de vidro semelhantes a joias em torno de si. Microscopistas da era vitoriana os organizavam em padrões complexos, invisíveis a olho nu, mas espetaculares quando vistos sob ampliação. O melhor desses arranjos são impressionantes feitos técnicos que revelam a grandeza oculta de alguns dos menores organismos da Terra. Klaus Kemp dedicou toda a sua vida a entender e aperfeiçoar o arranjo de diatomáceas e agora é reconhecido como o último grande praticante dessa bela combinação de arte e ciência.

É um trabalho extremamente difícil, mas os resultados caleidoscópicos complexos são impressionantes.

Existem em mais de 250 gêneros, não extintos, estimando-se que atualmente existam mais de 100 000 espécies diferentes de diatomáceas (Round & Crawford, 1990). Constituem um grupo biológico bastante comum por todo o planeta, podendo encontrar-se nos oceanos, em água doce, no solo e em demais superfícies úmidas. Muitas são pelágicas, vivendo livremente na água oceânica, enquanto que outras são bentônicas, ocupando a superfície de interface entre o substrato sedimentar e a água no fundo oceânico. Sobrevivem também em locais com humidade atmosférica elevada. São especialmente importantes nos oceanos, onde se estima que contribuam para mais de 25% da produção primária da Terra e 45% da produção primária oceânica (Mann, 1999).

Klaus Kemp publica um boletim online sobre diatomáceas. Se você acha que pode estar interessado em organizar ou montar diatomáceas, Raymond Hummelink tem um tutorial . E você encontrará mais informações sobre montagem de diatomáceas na Universidade Victoria de Wellington. Esse hobby requer equipamentos caros, tempo e dedicação e paciência infinita. É sem dúvida algo que eu abraçaria se pegasse uma pena de prisão domiciliar.

O cineasta Matthew Killip conta como ele resolveu fazer seu documentário The Diatomist .

Estou realmente interessado na maneira como as pessoas interagem com o mundo natural (eu já fiz uma série de documentários curtos para a TV britânica sobre relacionamentos de trabalho com macacos). Também sou um grande admirador dos naturalistas vitorianos … Então, fiquei muito animado quando vi recentemente meus primeiros arranjos de Diatomáceas, pelo mestre alemão JD Möller (1844 – 1907). Os arranjos realmente incorporam a bela combinação de arte e ciência que se pode encontrar no período, e eu adorei ver a mão do homem exibir o trabalho da natureza tão lindamente. A enorme variedade e complexidade das diatomáceas não podem deixar de lembrar Darwin: “infinitas formas mais belas e maravilhosas foram e estão sendo desenvolvidas”.

Fiquei muito curioso para ver se alguém ainda praticava o arranjo de diatomáceas e também para descobrir como isso era feito. Eu consegui rastrear Klaus Kemp no Reino Unido – ele é realmente a única pessoa que faz isso em nível profissional (ele consegue ganhar a vida com uma pequena base de colecionadores) – e filmei com ele durante uma tarde em dezembro de 2013. Durante a filmagem, Klaus me contou que todos os diatomistas vitorianos levaram seus segredos para o túmulo, então não havia mais informações precisas sobre a prática quando ele começou, aos dezesseis anos. Ele levou anos para criar um novo método para gerar essas impressionantes lâminas microscópicas de diatomáceas arranjadas, e embora The Diatomist seja um curta-metragem modesto, espero que faça alguma justiça ao que realmente é o trabalho da vida de Klaus.

 

The Diatomist from Matthew Killip on Vimeo.

Do fundo do mar para a sua parede

Algo curioso sobre as diatomáceas é que essas criaturas tão incríveis, são usadas como argamassa de construção.
segundo a Wikipedia:

As principais substâncias de reserva das diatomáceas são óleos, que em certas espécies contribuem para facilitar a flutuação. Muitas diatomáceas flutuam nos mares e lagos, representando parcela importante do fitoplâncton. Outras produzem um muco aderente e vivem presas à superfície de organismos marinhos, como outras algas, moluscos, crustáceos, tartarugas, baleias, etc. Em certas regiões do fundo marinho as carapaças de diatomáceas acumularam-se ao longo de milhares de anos, formando camadas rochosas compactas conhecidas como terras de diatomáceas (ou diatomito). As terras de diatomáceas são utilizadas desde a Antiguidade como material de construção, geralmente misturadas à cal. Alguns exemplos de obras construídas com terras de diatomáceas e que ainda se conservam são os aquedutos de Roma, os portos de Alexandria e o canal de Suez. Por ser constituído de carapaças vitrificadas muito pequenas, o diatomito tem granulosidade finíssima, sendo por isso empregado como matéria-prima de polidores e também na confecção de filtros e isolantes.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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