A caixa de som na praia: Um Verdadeiro Pé no Saco

Elas estão por todos os lados e parecem ter se tornado um item obrigatório para certas pessoas poderem se divertir

Se tem uma coisa que eu percebo toda vez que me aventuro à beira-mar é que a caixa de som na praia é um verdadeiro pé no saco. Juro, parece que essa moda nunca vai embora, assim como tantas outras que já presenciamos por aqui. Aqui vai uma lista de por que essa praga sonora nas areias é algo que deveria ser extinto, assim como aquelas modas bizarras que surgem e desaparecem como se nunca tivessem existido.

 

1. A Tortura das Ondas Sonoras:

É como se cada onda viesse acompanhada de uma melodia forçada, uma trilha sonora indesejada para o seu dia de praia. Aquela ideia de relaxar ao som do mar? Bem, esqueça, porque agora você vai relaxar ao som da música alheia, querendo ou não.

2. Sinfonia Desafinada:

Não, eu não tenho nada contra música, muito pelo contrário, mas essa ideia de transformar a praia em uma disputa de playlists é simplesmente ridícula. Desde sertanejo até funk, passando por um pouco de pagode, parece que todos são DJs de praia agora. Só falta a batida eletrônica para a festa estar completa.

3. O Show de Horrores das Caixas de Som:

Aquelas caixas de som gigantes que mais parecem equipamentos de festivais de música invadiram as areias. Não me entendam mal, eu amo tecnologia, mas tem hora e lugar para tudo. No entanto, alguns parecem não ter entendido isso ainda.

4. O DJ da Vez:

Cada grupo na praia agora se autoproclama o DJ da vez, como se todos nós estivéssemos ansiosos para conhecer suas preferências musicais. Desculpa, mas eu vim à praia para relaxar, não para ser refém do gosto musical de desconhecidos.

5. A Invasão dos Hits do Momento:

Se eu tivesse um centavo para cada vez que ouvi “hit do momento” sendo repetido nas caixas de som, eu estaria rico. A repetição é tanta que parece que essas músicas foram compostas para tocar incessantemente em praias e irritar a todos.

6. Interrupção da Natureza:

A ideia de curtir a natureza vai por água abaixo quando você é forçado a competir com decibéis desnecessários. O barulho constante tira a magia de ouvir o som das ondas e dos pássaros, transformando a praia em uma pista de dança que ninguém pediu.

7. Praia ou Boate?

Sério, eu já me peguei olhando para os lados esperando ver uma fila para entrar na “boate de areia” que se tornou essa praia. A sensação é que, em breve, teremos ingressos sendo vendidos para o camarote à beira-mar.

8. “O incomodado que se mude”

Há um dito popular que sempre que alguém reclama de qualquer coisa que seja no Brasil, vem logo um otário falar: “o incomodado que se mude”. O problema é que no verão, essas merdas de caixas de som estão em TODOS os lugares, não tem, para onde o “incomodado” se mudar. (pressinto que alguém está me mandando para a PQP então).

Mas a ideia do “incomodado que se mude” revela muito sobre o estar do brasileiro no mundo. Ele é egoisticamente soberano e se ele quer ouvir o proibidão dele no talo no ambiente público, foda-se quem não gosta. Mas acho que pode ser ainda PIOR: Ele SEQUER pensa que alguém vai se incomodar. Não é que ele não se importe, ele nem sequer pensa sobre isso.  E eu acho que isso pé mais preocupante do que se ele fosse só um narcisista Fdp. 

9. Nem toda musica é ruim, mas fica

Por incrível que pareça, teve um dia que eu estava na praia com minha mulher e meu filho e chegou dois casais com um daqueles barracões. Para meu espanto os caras traziam cada um um carrinho. Um vinha com uma caixa de som de um METRO de altura e o outro, acredite se quiser, trazia um barril de chopp e um pequeno cilindro de gás.

caixa de som na praia
Era algo assim, mas com uma caixa que era o DOBRO dessa

As moças vinhas atrás com uns rapazes, possivelmente os filhos e namoradas, trazendo cadeiras. Imaginei que ali estava traçado o conflito, porque há dois metros de mim no sentido oeste já tinha um cara ouvindo Funk, e a três metros a frente outro cara ouvindo sertanejo.

Quando o maluco ativou o chopp, e ligou aquele monolito musical, eu temi pelo pior, mas o que saiu foi: Pearl Jam e Alice in Chains! 

Pearl Jam é um som bom, eu escuto ate na minha casa… Mas na praia estava uma merda! Para que eles pudessem ouvir confortavelmente, eles socaram o volume no talo para desgraçar completamente com o cara do pagode e o cara do funk. Com sua pequena JBL pirata da Shopee o cara do Funk jogou a toalha e foi embora. Mas o cara do sertanejo não aceitou a provocação e socou o dedo no botão do volume.

Então, essa história me mostra que há hoje, uma corrida pela hegemonia do barulho nas praias. O som alto e a caixa de som  gigante que vende na Casa e Video, é o novo tamanho do pau.

O Kid-babaca e suas armas

caixa de som na praia
Isso se tornou uma mazela social!

Os caras ficaram lá, cada um aumentando mais o volume que o outro. Obviamente que eu não sei que merda deu, porque a zoeira chegou num limite do desagradável (que já estava irritante) pra mim e fomos embora da praia.

Sinceramente, eu não sei se isso tem solução, porque há mais aí que apenas uma questão de educação e respeito pelo outro. Existe uma real disputa velada, que seria um ótimo tema de tese de Antropologia.

A prefeitura quer botar a guarda municipal para multar, coloca plaquinhas, implora… Nada resolve, porque o brasileiro não obedece a autoridade desde sempre.

Então, fica aqui meu desabafo. Praia é pra relaxar, curtir a brisa, escutar o mar e, talvez, até ter uma boa conversa. Não precisamos de caixas de som na praia, por favor, deixem as ondas serem as únicas a fazerem barulho. E se você é um dos responsáveis por essa praga sonora, dá um tempo, deixa a gente aproveitar o silêncio da natureza, que é muito mais bonito do que o seu repertório musical duvidoso.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. parece também haver uma lógica de inversamente proporcional na maioria das vezes, quanto pior a música, mais alta a caixa de som ?

  2. O Brasil é especialista em transformar tecnologia em merda. Da mesma forma que a TV é uma tecnologia incrível, mas usada 99% para propagar lixo, esses equipamentos de som igualmente possuem a mesma sina neste país.
    Para mim o pior de tudo são as ondas graves, que possuem baixa frequência mas que atravessam paredes e atinge grandes distâncias não importa o volume que o infeliz esteja (em aparelhos antigos não tinha tanta potência relacionada com os graves já que capacitores não tinham a capacidade dos modernos).
    Para mim os maiores errados são as empresas que fabricam essas bostas e vendem para qualquer um, também o governo, que sabe que esse país é uma bagunça, que não faz nada para coibir isso (como já é feito em outros países). Tinha que proibir, multa e enfiar a p0rrada em quem não se contenta e fica metendo som para azucrinar os outros, já passou da hora de uma lei de silêncio. E também proibir a venda de equipamentos a partir de determinada potência.
    Para os canalhas do “incomodados que sem mudem” a única alternativa é a mudança de país ou se você pode ter um bunker de concreto embaixo da terra. Porque mesmo numa roça distante sempre aparece um miserável que gosta de encher o saco: ou seja, só você tem que ter muita grana disponível para adotar uma solução dessas (sinceramente, se um dia eu tiver eu farei).

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