domingo, dezembro 22, 2024

A morte pelos mil cortes

Eu estava navegando no meu método doido de escrever alguns números e pular logo para a pagina doze do google e ir entrando sem saber onde vou parar quando me deparei com um site, que mostrava um sujeito sendo cortado vivo. A imagem, chocante pela própria natureza, só é atenuada pela idade do registro. Mas eu fiquei curioso para saber o que era essa tortura e vou contar aqui o que descobri.

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Já falei aqui antes sobre aqueles estranhos instrumentos e métodos de tortura usados na idade média, lembra? Pois neste post vou falar de outro estranho e macabro método de execução com direito à tortura: A morte pelos mil cortes. Esse método de execução foi criado na China e existe desde os tempos medievais. Este método é tão antigo que não se conhece quando começou a ser empregado na China, mas sabe-se que perdurou como modo de execução até meados de 1905.

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Quando as pessoas usam o termo “tortura chinesa” para qualificar algum tipo de tortura, eles não estão usando o termo em vão. Os chineses foram célebres idealizadores das mais agonizantes torturas que a humanidade concebeu para se punir, vingar ou dar cabo daqueles aos quais suas vidas não se justificavam para a sociedade.

A morte pelos mil cortes

A vítima condenada à morte pelos mil cortes é torturada até a morte através de pequenos cortes feitos com uma faca ultra-afiada.

 

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A agonia da vítima é inconcebível. Embora não seja uma regra, a tortura geralmente começa com a retirada dos olhos da vítima com a ponta da faca. O sujeito grita desesperadamente enquanto seus olhos vão sendo arrancados das órbitas com a ponta da faca operada pelas mãos hábeis do torturador.  A razão disso é cegar a vítima para o resto do ato, de modo a aumentar sua agonia mental, já que ele não sabe onde vai ser o próximo corte. Os sucessivos cortes vão, lentamente, removendo pedaços do infeliz, seguindo pela extirpação das orelhas, nariz, lábios, dedos e, finalmente, uma grande parte da carne. São muitos cortes, mas todos cuidadosamente planejados para não matar de imediato. Todo o processo, do início até o fim, com a morte do condenado leva mais de 3 dias.

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O que consegui apurar dessa execução em questão é que  as primeiras imagens da sequencia, com menor qualidade são as imagens da execução de Fou-Tchu-Li que foi considerado culpado pelos príncipes mongóis do assassinato do príncipe Ao-Han-Ouan. Ele foi condenado à morte lenta por Leng-Tch’e (morte pelos mil cortes) e foi executado em Pequim 10 de abril de 1905 (Bataille, 1989: 2004).

O que intriga e torna a cena da execução retratada tão impressionante nem é o fato de termos alguém vido sendo cortado em fatias, como fazemos com a carne de açougue, só que com o infeliz vivo. O que impressiona é sua expressão de êxtase. Seu rosto transmite uma estranha sensação de prazer enquanto é cortado.

Esse caso é abordado no ” Traité de psychologie (Tratado sobre a psicologia), de  1923, onde o autor relata que, a fim de prolongar a tortura, o ópio foi administrada ao homem condenado, muito provavelmente para estender sua capacidade de aguentar a dor e evitar que perdesse os sentidos durante a longa jornada de torturas.

Essa tortura obviamente era de categoria “especial”. Não era qualquer crime que acabava numa execução que levaria até três dias. Ela estava reservada para os criminosos que cometeram crimes particularmente graves (contra a vida de um membro da família imperial, ou rebelião contra o Imperador).

É impossível ver isso e pensar em como esse tipo de execução bárbara está ligada às execuções feitas pelos grupos terroristas árabes. Há hoje uma espécie de glamorização da morte, com um cuidados projeto de registro das decaptações, das pessoas pegando fogo… Não são o simples ato de exterminar a vida humana, mas a transmissão de uma mensagem através daquela morte. Do mesmo jeito que um jihadista do grupo Estado Islâmico escolhe com cuidado o ângulo e a lente perfeita para mostrar alguém tendo sua cabeça cortada, o traidor do império Chinês era cortado em pedaços em meio a uma multidão que assistia com atenção o tenebroso espetáculo.

Estado Islâmico: A espetacularização da morte
Estado Islâmico: A espetacularização da morte

Lamentavelmente, o uso da barbárie como meio de transmitir um recado através dela e inspirar o medo  é algo que está intimamente atrelado à condição humana, e nos faz sentir a dor narcísica de perceber que por mais avançados que sejam nossos dispositivos tecnológicos, ainda somos extremamente mais primitivos do que gostaríamos de admitir.

 

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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Comentários

    • Ia comentar sobre a série também…
      Na série, o povo da Terra que sobreviveu às explosões das bombas nucleares adotou esse método de execução em caso de assassinatos de inocentes. Segundo eles o assassino deve sentir a dor da morte do número de pessoas que ele matou.
      Aliás, deveria assistir uns episódios da série pra ver se curte. Apesar dos clichês a série conseguiu mostrar bem o efeito que alguns séculos sob circunstâncias extremas causa nas pessoas, além de umas viagens do autor, claro! hahahahaha

      • Tenho certeza que apesar de algumas “breguices” como a Dannu falou (afinal, a série é da CW) o Philipe iria gostar do tema. Eu mesmo quando soube que era da CW não esperei muita coisa, mas a partir do terceiro episódio eu comecei a me surpreender.

    • Cara o pior é que por mais bizarro , por mais triste é por mais espantoso que seja esse tipo de situação temos que avaliar os 2 lados , esses caras tiveram esse fim trágico por que comentaram crimes graves, porque foram o próprio demo em vida, não vou dizer que sou a favor de tal brutalidade mais também não vou dizer que sou contra, só sei que talvez se o Brasil tivesse leis parecidas com isso com tolerância zero. Muitas pessoas iriam pensar 1.000 vezes antes de cometer um crime. Pergunto? Que pena você daria a um vagabundo que estuprou é matou uma velhinha de 90 anos? Indefesa??? Ou um vagabundo que deu um tiro na cabeça de um bebê de 10 meses ? Desculpa aqueles que defendem os direitos humanos, mais pelo que vejo no Brasil o direitos humanos só sao respeitados quando é o marginal mais a vítima essa ninguém pensa nos direitos humanos delas. Talvez com punições assim muitos traficantes de drogas pensariam 2 vezes .

  1. “[…], e nos faz sentir a dor narcísica de perceber que por mais avançados que sejam nossos dispositivos tecnológicos, ainda somos extremamente mais primitivos do que gostaríamos de admitir.”

    Que conclusão foda, parabéns!

  2. Philipe, esse primeiro chinês é mencionado no filme francês Martyrs. Inclusive, esse filme é foda demais, acho que é de 2009, não lembro. Ele é tão diferente do que estamos acostumados em um filme de terror/suspense/drama que eu nem consigo descrever sem dar spoiler, acho que até por isso ele não ficou conhecido, embora seja uma produção sensacional. Se não tiver assistido ainda, procure aí porque vale muito a pena, filmaço, garanto!

  3. Belo artigo. Mas nada a ver mencionar o ISIS no final, até porque existe a possibilidade das execuções serem fake.

    “Do mesmo jeito que um jihadista do grupo Estado Islâmico escolhe com cuidado o ângulo e a lente perfeita para mostrar alguém tendo sua cabeça cortada,”

    https://www.youtube.com/watch?v=D3b3-_fFeTg

    https://www.youtube.com/results?search_query=fake+isis+execution

    https://www.youtube.com/watch?v=TnjnJvQXPz4

    https://www.youtube.com/watch?v=yqRIw_yx8yU

    Talvez seja perfeita até demais, não acha? hehehe

  4. The cruelty of feudal punishments in China, exemplified by the infamous “lingchi” or “death by a thousand cuts,” was a harrowing reminder of the brutal extent to which justice was pursued. Victims were methodically mutilated, with flesh slowly carved from their bodies, prolonging their agony before death. These public executions were designed to instill fear, reinforcing the absolute power of the ruling dynasty and ensuring societal compliance through terror.

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