Se você gosta de histórias esquisitas de desaparecimentos, e mistérios de um modo geral, acho que vai apreciar este post!
Ele não se trata de um desaparecimento, propriamente dito, mas sim de um aparecimento, hehehe.
A mulher que caiu do céu
Essa é a bizarra história de Rita Patiño Quintero.
Rita é uma mulher que foi encontrada sem teto no Kansas no ano de 1983. Ela não sabia dizer de onde vinha ou se tinha família.
O que puderam tirar do seu espanhol limitado, já que ela não falava inglês, foi que ela tinha caído do céu. Sabe-se que era mesmo do céu que ela dizia, porque “Céu” (é a mesma palavra em espanhol, cielo) Nos EUA, eles entenderam que ela dizia vir do paraíso (heaven).
Ela falava a maior parte do tempo em outro idioma, misterioso.
Por ser hispânica, as autoridades acreditaram que ela poderia ser portuguesa. Assim, eles trouxeram um intérprete, mas ele não conseguiu entender uma só palavra que ela dizia.
Então, eles acreditaram que poderia ser outra língua ibérica, ou algo sem sentido.
Afinal, concluíram que ela era obviamente uma louca, tendo problemas para controlar o tempo e começando a cantar e dançar aleatoriamente.
Então, ela foi enviada para um hospital psiquiátrico, diagnosticada como psicótica e basicamente drogada e esquecida pelo sistema até que um dia, um assistente social mexicano, Miguel Giner, visitou o hospital em 1994.
Tendo nascido em Chihuahua, Giner imediatamente reconheceu as “divagações malucas” daquela mulher. Ele sabia que Rita estava falando em Raramuri, a língua dos índios Tarahumara de Chihuahua. Um intérprete foi trazido, e logo obtiveram seu nome completo (na verdade ela havia sido registrada no hospital com outro nome), dados de sua família e sua aldeia natal.
Seus “atos malucos” de repente tornaram-se sensatos. Ela não tinha NENHUM problema para controlar o tempo, como preconceituosamente foi colocado no prontuário dela. Na verdade, a mulher apenas estava seguindo o calendário lunar do povo Tarahumara.
E ela não estava a cantar e dançar aleatoriamente. Ela estava realizando os cânticos rituais de seu povo nas datas que deveria.
No entanto, restava um mistério que persiste até hoje: Como ela chegou ao Kansas?
Rita, agora na faixa dos seus 60, e já de volta a sua casa, se recusava terminantemente a dizer qualquer coisa sobre sua misteriosa odisseia no Kansas, exceto que “ela odeia o Kansas”.
A única informação concreta que ela deu foi bem taxativa: Ela veio “do céu”.
Sendo analfabeta e de uma família pobre, vivendo precariamente numa vila nas montanhas, como essa mulher foi parar nos Estados Unidos?
O caso de Rita é emblemático porque revela um problema social. Em nenhum momento alguém considera que existem 25 milhões de nativos americanos apenas no vizinho México, a maioria em áreas rurais empobrecidas, e que, ao contrário dos EUA, as pessoas no México só são consideradas nativas americanas se forem de sangue puro e falarem um idioma. De preferência a língua nativa americana primeiro. Muitos outros milhões de mexicanos e centro-americanos também têm ascendência nativa americana total ou quase total, mas são contados como “mestiços” porque falam apenas espanhol e línguas restritas derivadas das grandes tribos mexicanas do passado.
Os preconceitos da era colonial contra os índios “não assimilados” ainda não desapareceram completamente.
Hipóteses
Entre as hipóteses levantadas sobre a aparição dessa mulher no Kansas estão:
- Ela foi andando a pé. Sem motivo, apenas saiu andando a la Forrest Gump e chegou no Kansas.
- Ela foi sequestrada para gerar bebês para uma quadrilha de venda de crianças, e por algum motivo, abandonada, (talvez porque foi detectada baixa fertilidade. Essa hipótese caiu quando viram que ela tinha 6 filhos)
- Ela foi abduzida deliberadamente por ETs e largada lá (parece bizarro mas existem precedentes)
- Ela atravessou algum portal bizarro e saiu no Kansas.
- Ela era uma simples imigrante ilegal traficada por coiotes para morar nos EUA.
Embora nenhuma dessas hipóteses tenha se mostrado validada até hoje, elas são o que há para lidar com o mistério. Atualmente se considera que a afirmação de Rita de que ela veio “do céu” deve significar as altas montanhas de Chihuahua.
Pessoalmente discordo, porque qualquer pessoa sabe a diferença entre o termo montanha e o termo céu. Ela não explica mais detalhes, porque aparentemente, ela não sabe como foi parar lá.
Um fato interessante a se observar é que se Rita tivesse chegado nos EUA de avião (a forma mais convencional de se chegar do céu), ela teria explicado.
Entretanto, quais são as chances de uma mulher Tarahumara de uma remota aldeia montanhosa em Chihuahua andar num avião antes de 1983? Como eles pagariam a passagem? Como conseguiria um visto de entrada? Um passaporte? Tudo isso deixaria registros. E não há registros. Aparentemente essa senhora BROTOU lá na meiúca dos EUA. O Kansas fica exatamente no CENTRO dos Estados Unidos.
Acredito que a ideia mais estapafúrdia seria a de que essa mulher saiu andando e chegou lá. São cerca de 1500km de distância. Em média, uma pessoa saudável pode caminhar a uma velocidade de cerca de 5 a 6 quilômetros por hora. Se considerarmos uma velocidade média de caminhada de 5 quilômetros por hora, levaria aproximadamente de 240 a 300 horas de caminhada contínua para percorrer a distância de 1.200 a 1.500 quilômetros a pé. Isso levaria a outros problemas. Ela teria que atravessar áreas desérticas e muito secas. Ela precisa de comida e provisões e todo um preparo físico que pelo que apurei, ela não tinha. Posteriormente, se descobriu que ela era mãe de 6 filhos. Eu acho no mínimo estranho uma mãe largar os seis bacuris para trás e sair andando para outro país. Seu fraco domínio do espanhol indica que ela não estudou por muito tempo no México.
Há rumores de que ela era uma fugitiva. Disseram que ela teria assassinado o marido e fugido da penitenciária de Chiuaua. No entanto, a própria Rita sempre negou isso, e talvez esse seja um factóide levantado para justificar sua improvável aparição ilegal nos EUA.
História adaptada para o teatro
A história dessa mulher foi adaptada para o teatro por Victor Hugo Rascón Banda. A história segue fielmente o caso de Rita, mostrando a forma como ela é tratada com eventuais toques de comédia. Após doze anos de hospitalização forçada, Rita Quintero foi finalmente libertado em 1995, a pedido da agência Kansas Advocacy & Protective Services (KAPS). Eles encontraram uma nota em seu arquivo de 1983 indicando que o Consulado Mexicano em Salt Lake City disse ao pessoal de Larned que Rita correspondia à descrição de um índio Tarahumara, uma tribo do norte do México.
O KAPS convenceu o hospital a liberá-la e permitir que ela voltasse ao México.
Este caso é um exemplo extremo do que pode acontecer quando os prestadores de cuidados de saúde ignoram as necessidades linguísticas e o contexto cultural de um paciente.
Talvez nunca venhamos a saber realmente o mistério de como essa mulher foi parar lá.