Naquela noite bela
Escura e estrelada
Olhei pela janela
E vi, ali, perto da escada…
Seus olhos escuros
Que me assustaram
Sua boca fina
Não me disse nada
Eu quis correr
Tentei me esconder
Mas perna eu não tinha
Congelei de aflição
foi tudo se apagando
e eu caí no chão
Acordei numa mesa
Sentindo um frio do cão
Era tudo brilhante
Com um ar cortante
Cercado por paredes de metal
Me sentia muito mal
Com a dignidade de um animal
Tinha mais alguém
Que eu não conseguia ver
Tentei virar a cabeça
Mas não podia me mexer
Uma mão gelada
Segurou no meu braço
Minha respiração falhava
Obliterada pelo cagaço
Experiência desesperante
essa que eu sofri
Eu tentei gritar
Sem sucesso, tentei lutar,
pra me libertar
E então eu vi…
Uma criatura ascética
enfiada num macacão
a cara era esquelética
Contrastando com o cabeção
E pálido feito assombração!
Os olhos eram bolotas escuras
Sem emoção,
não parecia triste nem feliz
E quase não tinha nariz.
Certamente não era gente
Era coisa doutro mundo
Ou até do cramulhão
Não me lembro muita coisa
daquela abdução
Acordei congestionado
confuso e tremendo
com aquela situação
Minha cabeça tava doendo
Senti nas pernas um comichão
Vi o brilho sumir no céu
entre as estrelas do firmamento
Tentei esquecer aquele acontecimento
Ninguém ia acreditar
Fiquei chateado
Mas de que adianta chorar
pelo leite já derramado?
Receio de ficar com fama de pirado
Sozinho no pasto e com medo
longe de casa pra dedéu,
Guardei o segredo
que eu levaria pro mausoléu.
O aparelho existe sim senhor
Não quer acreditar? Se esforce.
Admita,
Na calada da noite você também torce
pra não receber uma “visita”.
FIM