quarta-feira, dezembro 18, 2024

Ambição do brasileiro

O brasileiro é pouco ambicioso. Isso é uma constatação.
Eu estava dando uma olhada no blog Chá com o Capeta e vi que num post lá o autor comenta que estava comendo um miojo quando se tocou súbitamente que o brasileiro não está nem aí para a merda que o cerca. E de fato ele tem sua parcela de razão.
Salvo raros casos onde as pessoas tem garra e avançam por seus próprios esforços a despeito das dificuldades da vida cotidiana, a grande massa aceita essa vidinha mais ou menos com um conformismo medonho.
Chego a pensar na letra do hino do conformismo nacional:

Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, ahn
E poder me orgulhar
E ter a conciência que o pobre tem seu lugar!

Putaquipariu. Nunca uma música revelou a face do brasileiro médio dessa maneira.
Eu concordo com isso, concordo que a massa dos brasileiros aceita tudo muito passivamente, aceitamos novos roubos e escândalos a cada semana. Nas eleições, o brasileiro se vinga votando em um ex-costureiro, ex-apresentador gay que nem ao menos carrega consigo bandeiras e reivindicações homossexuais. Então é o voto piada. O voto como o voto no Macaco Tião. O voto que caçoa da estrutura democrática. O Brasileiro vota nos candidatos que o pastor manda.
Quantos brasileiros não votam nos números que encontram no papelzinho do chão?
Ele não pensa em propostas e planos de gorverno que poderiam beneficiar a eles mesmos. Ele acha que todo político vai roubar e então CONFORMADO com isso, aceita essa realidade perpetuando-a.
Resultado: Sarney, Collor, Maluf e tantos outros.
E o ciclo se repete.
Pedro, o autor do post no Blog chá com o capeta, comenta que o maior exemplo do conformismo e falta de ambição do brasileiro é nosso cinema nacional, que é precário e não é exportado para todo o mundo como o americano porque as produtoras não querem. E a explicação é que elas não tem ambição.
Nisso eu não concordo.
Não dá pra comprara o cinema nacional com o norte-americano. Primeiro porque é comparar uma parada artesanal com uma indústria. Basicamente é como comparar o hippie da beira da praia que vende pulseira a um real com a C&A.
Eu conheço vários diretores, varias produtoras que adorariam ter a possibilidade de exportar seus filmes em uma escala industrial e ganhar mais dinheiro. Quem não quer ganhar dinheiro? O problema é que entrar no mercado mais lucrativo que é o americano é semi-impossível. Não há abertura. A indústria cinematográfica americana é tamanha que não há salas. E ainda se tiver, não há público.
A única maneira de dar certo na indústria do cinema norte-americano é como um câncer. Entrando e crescendo. Entrando pela portas dos funos, feito o Fernando Meirelles e dirigindo um filme muito bom a ponto de botar seu nome na roda, e depois entrar na menor brechinha que abrir, fazendo um bom filme atrás do outro até ter bala na agulha suficiente para seu nome ser uma garantia de público, e aí sim, ousar produzir daqui do Brasil em parceiria (sem parceiria é impossível) com algum grande estúdio de lá.
Outra coisa, as pessoas que realmente desejam um cinema revolucionário de qualidade técnica e histórias menos Xou da Xuxa e novela das seis, não deve ficar atrás dessas merdinhas de leis de incentivo.

Eu pergunto se a Rede Globo é tão pobre que precisa de lei de incentivo? Pois é. Ela tem. O Cirque Du Soleil com lotação esgotada meses antes da estréia e ingressso a “preços populares” (R$200,00?) precisa de lei de incentivo? Pois é, eles também ganharam.

Isso é uma distorção tosca no incentivo que mais atrapalha que ajuda. Porque se você for ver, as produções de grupos pequenos no interior, os grupos regionais e galera sem grana que está começando na carreira e precisaria muito mais do incentivo muitas vezes não ganha. E quando ganha mas não conseguem captar, afinal o empresário prefere botar a marca dele num produto que vai ter propaganda na Globo, chamada no Jô, mechandising na novela. Os caras fazem bonito com o dinheiro que é nosso, afinal ele investe o que deveria pagar de imposto. E quem se dá bem são caras ricos e cheios de relações, com a faca e o queijo na mão como o Diler&Associados.

O que precisamos é de corajosos. Não só de ambiciosos. Ambição é desejar crescer, mas coragem pra dar o priemiro passo na direção do abismo como fez o Indiana Jones, ninguém tem. Eu queria que aqui tivesse mais gente que tivesse coragem pra investir e arriscar.
Minha meta é produzir filmes sem depender de governo, num esquema paralelo ao esquemão. Eu não vejo isso como falta de ambição. Eu vejo isso como visão de futuro. O problema não é a produção e sim a distribuição. E a solução virá em poucos anos, quando a tv digital se unir às midias interativas de vez. Aí poderemos ganhar acesso de público como nunca se ganhou. O acesso atrairá anunciantes, o anunciante custeará novos projetos. E novos projetos trarão renda. Veja o You Tube. Se a produtora que fez o “tapa na pantera” tivesse ganho um real por exibição, olha a mutueira de dinheiro que daria um curta assim… Eu aposto as minhas fichas num futuro similar. Posso estar errado, mas como eu não pego dinheiro público pra custear meus filmes, não me sinto roubando ninguém. Além do mais, eu tenho dado sorte de arrumar parceiros e investidores para projetos diversos.
O que me intriga no Brasil é a falta de visão para outros produtos potenciais. Veja por exemplo os filmes de terror e ficção científica. Quem é que faz este tipo de filme no Brasil? Zé do Caixão nos anos 70? Mais quem?
Quem?
Sandi e Júnior? Ora, faça-me um favor.
Pode me chamar de sonhador, de delirante de bêbado da utopia, mas acredito que seja possível fazer bons roteiros sem cair na mediocridade.

Ninguém arrisca. Não tô falando de fazer um Guerra nas Estrelas. Isso talvez funcione nos Estados Unidos. Mas veja Matrix 1. Um filme sensacional. Um roteiro foda. Nenhum dos efeitos de Matrix 1 é impossível de se fazer no Brasil.
Veja Lost. Lost é foda e ninguém pode refutar este fato. Pois o que há em Lost que o Brasil não pudesse fazer? Ilhas nós temos. O estado do Rio tem uma ilha pra cada dia do ano. Dava pra fazer um episódio em cada ilha só do meu estado. Mas a gente não faz.
Nossos melhores atores são tão bons quanto um ator médio americano. Nossos roteiros são ( salvo excessões) rasos e sem graça.
VEja “O sexto sentido” ou “A vila”. Eu considero ambos filmes bons. Perfeitamente produzíveis aqui. Veja “Os outros” Roteiros inteligentes… Por que não fazemos algo desse naipe? A tecnologia evoluiu, novos meios de produção ultrabaratos em comparação com a película surgiram, a computação gráfica já permite coisas inimagináveis, no entanto o cinema nacional é a mesma merda de filmes do Didi, filmes da Xuxa, filmes babacas do Daniel Filho, porcarias da Globo e mais nada. Não tô falando pra parar de fazermos este tipo de filme. Eu não sou doido. Sei que existe público pra ele.
Não é isso. Só acho que há espaço aberto, não explorado para quem ousarem outros segmentos que são, com absoluta certeza, negligenciados.
As inovações e inventividades estão nos curtas. Raríssimos filmes em longa escapam da mediocridade.
Copiar os americanos e almejar o que eles tem não deveria ser nossa definição de sucesso. Nossa definição de sucesso pode coexistir com a deles. Basta olharmos para o que vem por aí.
Você acha que eu tô errado?

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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Comentários

  1. por isso que o Brasil nao vai pra frente, pois tem um povo conformista e rotineiro, que de tanto ver coisas erradas, perde a capacidade de se indignar com elas e passa a aceitar como normal…quanto a falta de criatividade…eh soh pensar em quantos brasileiros ja ganharam o nobel de alguma coisa rsrs…tirando ai alguns que inventaram coisas uteis, poucos tem visao de futuro, essas coisas…eh phoda

  2. Foda que o proprio brasileiro nao apoia o cinema nacional!!

    E tem muitos filmes nacionais que recebem muito pouca divulgaçao! pouca gente fica sabendo que ele existe!
    A nao ser que passe propaganda na globo… dai fazem até um globo reporter sobre o filme.

  3. Concordo plenamente, o problema e que brasileiro adora reclamar, tipow quer tudo de mão beijada, não se esforça pra nada, só que que cumpram os seus direitos e so, isso já ta de bom tamanho. acho que porisso que so meio revoltado.

    Em tempo
    ai philipe

    http://lostdownload.blogspot.com/

    Se pediu no veiorosa (que conheci atraves daqui :))e postei aqui procê
    Pra voce que quer assistir a terceira temporada de lost. Passa quarta a noite nos eua, quinta as 6 da manha já da pra baixar.

    E so to postando o link pois seu blog é o melhor que já vi, e voce parece ser um cara muito gente boa :).

    Falows
    By loco

  4. Eu tb sou inconformado com o povo Brasileiro.
    Mas ainda acredito numa solução, ainda acredito que podemos mudar esse país.
    A longo prazo é claro.
    Mas primeiro de tudo, precisamos pensar juntos e um rumo único. Pois se atirarmos para todos os lado nunca iremos conseguir nada.
    Eu vejo isso em vários lugares, nos mais variados ambientes. Todos querem tudo para SI, e não para todos…

    Eu acho que falta pra gente um sentimento maior de comunidade, de realmente pensar em todos. E isso signifca tentar chegar num consenso de ideais…
    Acho que esse sim eh um foco importante.

  5. Cara,esse teu blog está cada vez melhor (não que um dia estivesse ruim)teus comentários estão diretos e incisivos, demonstrando uma visão geral e competente das condições do cotidiano das pessoas não alienadas ao mundo. Parabéns por essa ferramenta de entertenimento e informação que é esse blog!!!

  6. Olá, caro Philipe!
    Antes de mais nada, gostaria de parabenizá-lo pelo seu blog. Eu estava há tanto procurando um blog que fosse realmente útil, de opinião mesmo, de alguém que acha que pode mudar alguma coisa. Apesar de eu ter uma maneira de me expressar tão positiva que parece beirar (veja bem, parece) o deslumbramento, concordo com cada palavra que você disse. E ainda acredito que o mundo precisa de mais utopistas com fé do que os “pseudo-realistas” que se escondem atrás das dificuldades.
    Continue o bom trabalho, vale a pena ler seu blog. Por sinal, virou um link no meu.
    Ah, e o fato de eu ser uma satisfeitíssima designer gráfico faz o main de seu blog ser muito interessante! Meus parabéns!

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