Angelus – O filhote de dragão

Aqui está mais um projeto que eu finalizei para uma cliente amiga de SP. Esse filhote de dragão vai enfeitar e ser o mascote do restaurante dela, o Walfenda um restaurante temático sensacional, que inaugura esse mês ainda na capital paulista.

Angelus é um pequeno filhotinho órfão adotado por Eönwë Kementári o alquimista de Valot, quando a mãe dele foi caçada por Uvhran filho de Rynry Gorthol, o último dos Verteriakkis. Angelus é no geral um ser pacífico a menos que você cometa o erro de deixá-lo com fome. E é por isso que teremos uma placa avisando que o dragão é bravo.
A espécie habita quase que exclusivamente cavernas e ruínas de castelos. Por ser da espécie manto da noite, Angelus é ativo apenas durante a noite. Quando a noite cai, Eönwë  solta Angelus para que ele voe livre pelas imediações da cidadela, e possa caçar pequenos animais. Ao surgir do alvorescer, Angelus retorna para sua casa. Quando irritado, ele cospe um terrível ácido. Se Eönwë  não tivesse encontrado Angelus dentro do ovo, um dos dois teria certamente morrido. Ocorre que os dragões possuem um fenômeno chamado “Imprinting”, que basicamente registra como sua “mãe” a primeira criatura que ele vê e que o alimenta quando sai do ovo. Esse Imprinting vai produzir a fidelidade máxima que existe entre todo o reino dos vivos e até dos mortos. Um dragão jamais abandonará ou se virará contra seu mestre. Isso é uma coisa boa, na medida em que além de cuspir ácido, Angelus tem uma mordida venenosa. Uma única dentada pode levar uma pessoa à morte em horas ou até minutos dependendo do tamanho da pessoa. Assim, Eönwë nem se quer arrisca brincar com o pequeno Angelus. O tratamento é sempre frio e respeitoso, porque dragões seguem fielmente um padrão social onde o Alpha nunca pode ser desafiado.
Angelus dorme pesado durante o dia, imóvel, como as cobras, iguanas e demais répteis. Seu sono é imperturbável, mas nunca tente acordá-lo, pois ele tende a ser um tanto antipático com as visitas, especialmente crianças (o alimento preferido dos mantos da noite quando adolescentes).

A Criação

Angelus foi criado a partir da análise de vários dragões. Eu usei tudo de referência que achava maneiro e criei o meu design de dragão. Minha primeira decisão não foi nem o visual, mas a estrutura. Eu queria um animal que lembrasse um abutre. Então analisei diversas fotos de abutres dormindo em árvores. É dessa referência que saiu o design desse pescoço serpentiforme dobrado pro lado. Urubus tendem a botar a cabeça sob as asas quando dormem.
Também analisei algumas serpentes que dormem em galhos e a forma como elas usam uma volta do corpo, para estabilizar o peso, segurando no tronco, como a famosa cobra verde brasileira. A pose funcionou tão bem que não precisei colar ele no galho. Ele estava equilibrando mesmo. Só no final que colei por causa do envio.
Eu também queria um dragão de quatro membros e não de seis. Puristas dirão que Angelus não é um dragão, mas sim um Wyvern.  Ok. Ele não é um dragão de placas, é um dragão mais assemelhado biologicamente a um morcego pelos hábitos, e isso deveria se refletir nas cores. Por isso, suas escamas são sempre pequenas, e as maiores tem função aerodinâmica.
O animal tem a bolsa de ácido na altura da garganta e isso se reflete num leve bócio sob a curva do pescoço.

O dragão foi criado inteiramente no Zbrush usando zspheres e depois modelagem direta. Uma vez que fiquei satisfeito com o visual, separei ele em 8 partes, e imprimi em 3d na minha Sethi BB.

 

A peça foi impressa em PLA e levou 30 horas aproximadamente. Em seguida, montei e dei acabamento com massa putty de modelismo, e em seguida primer. O passo final foi a pintura. O galho é real e eu achei na praia.
Uma parte desafiadora que envolveu alguma inovação foi na asa, porque eu precisava criar uma membrana similar a dos morcegos. Então eu criei um material compósito de fibras e látex que simulou muito bem a pele, manteve elasticidade e ainda deu essa translucidez (SSS) na peça final.
A pintura foi finalizada com dois vernizes diferentes. Um acrílico fosco primeiro. E depois, entrei com um verniz também devia ser fosco, mas que é brilhante. (também nunca entendi essa cagada da corfix)  no pincel seco sobre as escamas, e isso dá um brilho de “cobra” na pele dele.

A Gaiola

A gaiola dele é de ferro, com pintura simulando oxidação, com barras relativamente fortes, e espaçadas (o que permite uma boa visibilidade da peça). Ela tem ceca de 60cm e forma de abóbada. É uma gaiola racional e sem fru-frus, como convém a um dragão. Ela tem um anel para fixação no teto, com uma corrente.

É isso. Mais uma escultura comissionada finalizada. A cliente amou, eu amei, e acho que vou fazer um pra mim, hehehe.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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