terça-feira, dezembro 17, 2024

As “casas suicidas” da Bolívia

O Risco das Casas Construídas em Penhascos na Bolívia

Tem que estar desesperado, e ter uma dose cavalar de coragem para morar nessas “casas”.  Se liga só:

casas suicidas na Bolívia

 

Nos arredores de El Alto, uma das cidades mais populosas da Bolívia, centenas de casinhas construídas na beira de penhascos íngremes estão em risco extremo. Apelidadas de “casas suicidas”, essas construções chamam a atenção pelo posicionamento precário e perigoso, agravado pelo alto potencial de deslizamentos de terra.

Apesar das advertências das autoridades e do iminente risco de colapso, os moradores – muitos deles xamãs locais (conhecidos como yatiris) e comerciantes – resistem a abandonar suas casas e locais de trabalho, colocando suas vidas em jogo diariamente.

casas suicidas na Bolívia

As chamadas “casas suicidas” de El Alto estão localizadas em áreas como a Avenida Panorâmica e La Ceja, uma das regiões comerciais mais movimentadas da cidade. Essas estruturas foram construídas em terrenos instáveis, situados à beira de penhascos verticais que são altamente vulneráveis a erosões e deslizamentos.

Nos últimos tempos, chuvas intensas têm causado danos severos em El Alto e arredores, aumentando o risco de um desastre iminente. As mudanças climáticas também contribuíram para o aumento da instabilidade do solo, colocando ainda mais pressão sobre as frágeis construções.

A Resistência dos Moradores: Entre a Necessidade e a Cultura

Mesmo diante das condições perigosas, os moradores dessas casas – especialmente os yatiris (xamãs locais) e comerciantes – se recusam a sair. Para eles, abandonar o local significaria perder suas fontes de sustento e romper laços culturais profundos com a região.

Um yatiri afirmou em entrevista à Reuters:

“Não vamos nos mudar deste lugar, porque este é o nosso local de trabalho diário. Mas vamos cuidar do solo, especialmente da água da chuva, canalizando-a para evitar a erosão.”

No entanto, especialistas ressaltam que impedir a erosão do penhasco é uma tarefa complexa, e a falta de infraestrutura adequada torna a situação insustentável.

 As Advertências das Autoridades Locais

As autoridades municipais de El Alto têm feito alertas sobre o perigo iminente. Gabriel Pari, secretário municipal de água, saneamento e gestão ambiental, destacou a gravidade da situação:

“O precipício neste vale tem uma inclinação de 90 graus. É justamente por isso que queremos que os moradores saiam deste lugar. Se eles não quiserem sair, seremos obrigados a agir com força.”

A remoção forçada, embora impopular entre os habitantes, tem sido considerada como uma última medida para evitar um possível deslizamento de terra catastrófico.

 A Importância das Casas para os Yatiris e a Cultura Local

Para os yatiris, as casas situadas na beira do penhasco não são apenas moradias ou locais de trabalho; elas possuem uma importância espiritual e cultural profunda. Acredita-se que com oferendas à Pachamama, a deusa da Terra venerada pelos povos indígenas dos Andes, o risco de deslizamento pode ser neutralizado.

Um xamã local explicou a crença:

“Podemos fazer uma cerimônia de oferenda, como um pagamento à Pachamama. Quando oferecemos algo, a terra se estabiliza, pois a deusa precisa ser alimentada. Assim, o solo não se moverá.”

confia!
Ah, tá…

 

Embora essa visão tenha raízes ancestrais e seja amplamente respeitada entre os moradores, especialistas alertam que rituais espirituais não substituem a necessidade de intervenções estruturais e medidas preventivas.

 O Impacto das Chuvas e das Mudanças Climáticas

A situação das casas suicidas de El Alto foi agravada pelas fortes chuvas dos últimos anos. A região já enfrentava desafios geológicos, mas a erosão acelerada pelo clima instável e pelo excesso de água no solo tem criado um cenário crítico.

Especialistas associam essa instabilidade ao impacto das mudanças climáticas globais, que têm causado fenômenos climáticos extremos com maior frequência. Isso inclui chuvas torrenciais que desgastam o solo e aumentam o risco de deslizamentos de terra.

Moradia de Risco: Um Problema Social e Urbano

As casas localizadas em áreas perigosas, como as beiras de penhascos, são um reflexo dos desafios enfrentados pelas cidades em crescimento acelerado, como El Alto. Muitos moradores escolhem viver nessas condições devido à falta de alternativas habitacionais, aliada à necessidade de permanecer próximos a centros comerciais para manter suas atividades econômicas.

Fatores que agravam a moradia de risco em El Alto:

  • Falta de Planejamento Urbano: Construções feitas sem análise geotécnica adequada.
  • Pobreza e Desigualdade: Muitas famílias não têm recursos para se mudar para áreas mais seguras.
  • Desafios Ambientais: Erosão do solo e falta de infraestrutura para drenagem pluvial.

Soluções Possíveis e Medidas Preventivas

Para enfrentar a crise das moradias de risco em El Alto, é fundamental adotar medidas de curto e longo prazo:

  • Reassentamento de Moradores: Criar programas para realocar as famílias em áreas seguras, garantindo alternativas viáveis e dignas.
  • Infraestrutura de Drenagem: Implementar sistemas eficientes de escoamento da água da chuva para reduzir a erosão do solo.
  • Educação e Conscientização: Informar os moradores sobre os riscos reais e a importância de medidas preventivas.
  • Estudos Geotécnicos: Realizar análises detalhadas do solo para identificar áreas seguras e inadequadas para construção.

 

As casas suicidas de El Alto, embora impressionantes visualmente, representam um risco iminente de tragédias causadas por deslizamentos de terra. A resistência dos moradores, impulsionada por fatores econômicos, culturais e espirituais, torna o problema ainda mais complexo.

casas suicidas na Bolívia

Enquanto as autoridades buscam soluções definitivas, a situação serve como um alerta sobre a necessidade urgente de planejamento urbano sustentável e de políticas públicas que priorizem a segurança habitacional.

Moradias de risco são um desafio global, e El Alto é um exemplo claro de como fatores sociais, econômicos e ambientais se combinam, exigindo ação imediata. A preservação das tradições culturais deve ser respeitada, mas não pode substituir a busca por soluções que garantam a vida e o futuro dos habitantes.

Não deixe de ver também essa outra galera, que vive na beira do abismo:

Eles vivem na beira do abismo

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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