domingo, dezembro 22, 2024

A bicicleta do Fom-fom

Eu tava aqui esperando um download terminar quando me peguei lembrando de uma figura da minha infância. Volta e meia isso acontece quando estou esperando alguma coisa chata, como em fila de banco, em repartição publica…
Achei graça, da lembrança dele que surgiu na minha mente por motivo algum; exatamente como ele sempre surgia, ao virar de uma esquina… Comecei a rir, porque simplesmente o apelido do cara era engraçado: Fom-fom.
Mais engraçado que o Fom-Fom só a cara dele. O sujeito era uma figura quase folclórica na cidade e eu, (como quase todo mundo lá) acabei conhecendo ele por causa da sua famosa bicicleta tunada.
Pensa numa bicicleta barra forte. A barra forte, para ajudar sua memória é esta aqui:

barra_forte_vermelha_l

Agora imagina isso tunada, mas TÃO MONUMENTALMENTE TUNADA que chega a ser difícil saber se a bicicleta está “tripulada”.
A bicicleta do Fom-Fom tinha buzina de caminhão (a musical!) tinha coisas coloridas nos raios, luz de led pisca-pisca, banco de silicone gel, rádio e Tv (sim, bem nos anos 80 ele tinha uma mini Tv de tubo preto e branca na bicicleta. Só isso já fazia o cara parecer ter vindo do futuro) Radio Am-FM-Ondas curtas, duas antenas antena de PX na traseira, baterias extras de moto para alimentar todo o sistema, freio a disco (sim, freio a disco na bicicleta) manoplas bizarras de silicone vindas do japão… Meu, o que você puder sonhar que dá para enfiar numa bicicleta tinha. Isso tornou o Fom-fom e sua bicicleta tunada quase que ídolos da molecadinha que andava (e caía) de BMX pela Beira Rio.

Pensa em algo parecido com isso, mas mil vezes mais “penteadeira de puta” que essa:

modifikasi_sepeda

Obviamente que com todo aquele conjunto de traquitanas, que somados daria um valor maior que um carro popular na época, o Fom-Fom andava devagarzinho e com muito cuidado. Aí era comum que a molecada passasse zunindo perto da bicicleta do Fom-Fom e berrasse:
-Fom-Fooom, viadoooo!

E tome pedalada. Ele nunca tinha gás para correr atrás e quando ficava puto, não era por ser zoado, mas sim porque chegávamos perto demais da bicicleta dele e o medo era de que batêssemos na sua relíquia suprema.
O nível do xodó que o cara tinha com a magrela era uma coisa quase patológica. Diziam na escola, que o Fom-Fom dormia pelado abraçado com ela na cama, mas certamente isso era uma lenda urbana daquele tempo. Eu era retardado e acreditava nessas coisas que a molecada da quarta série criava, como o ônibus de Paraíba do Sul que passava meia noite em Três Rios, só com gente morta dentro. “Se você por acaso pegasse ele, ia parar dentro do cemitério”.

A molecada não perdoava. O Fom-Fom por sua vez, gostava muito de ser cumprimentado. Ele se sentia “o tal” e quando ele passava pela praça, (era batata ele marcar presença sábado na praça com a bicicleta. Tinha sempre uma rodinha conferindo as últimas adições á magrela lá) o povo gritava: Fom-fooom! E então ele apertava um dispositivo e a bicicleta dava duas buzinadas de caminhão: FOOOM-FOOOM e por isso, suspeito que o apelido do cara veio daí.

Enquanto a bicicleta era a coisa mais escalafobética de se ver, o piloto não ficava muito atrás. O Fom-Fom era um cara meio estranho. Ele tinha um nariz meio diferente, e se não estou ficando gagá, ele também era fanho. Outra coisa interessante que me lembro é que ele sempre contava a mesma história (algo comum em Três Rios, não sei porque) sobre quando um homem rico da cidade que quis dar dois carros (uma Brasília e um Fusca) em troca da bicicleta dele e nem assim ele vendeu.

Eu tentei procurar no Google, mas não achei nada relacionado ao Fom-Fom, (seria uma surpresa se tivesse) nem à sua empolgante bicicleta tunada. O que eu acho digno de nota é que o cara começou a tunar a bicicleta nos anos 80, muito antes da ideia de tunar qualquer outra coisa, e dessa forma acho que ele foi um pioneiro. Não sei se este cara ainda está vivo, se ainda anda de bicicleta ou se ele enfim algum dia cedeu e vendeu a famosa magrela tunada.

Bom, meu download acabou então o post da bicicleta do Fom-Fom também acaba aqui.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.
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Comentários

  1. Legal este post. Tem um aqui na minha cidade tbm. O nome dele é “Terrão”.
    Falou de download, lembrei do quão precário é o serviço de internet em SP.

  2. Acho que em todo lugar tem um cara maluco da bicicleta. Aqui em São José dos Campos tem um que conheço desde que eu era criança (e tá na ativa até hoje). Não bastasse uma, ele tem varias bicicletas excêntricas e ganha até uma grana usando as bikes dele como outdoor, fazendo propaganda de marcas e lojas. Não diferente do fom-fom o cara também é tão estranho quanto suas bicicletas.

  3. Em curitiba tem um cara que é famoso não pela bicicleta, mas sim pelo fato de sempre andar com sua bicicleta de sunga (independente do frio que faça, e naquela cidade faz um fio de rachar no inverno) e besuntado de óleo de bronsear. É o famoso “oil man”. Basta uma simples busca no google e você verá a cara do peça rara.
    Já foi até entrevistado pelo Maurício Kubrusly no quadro “Me leva Brasil” em 2008.
    http://g1.globo.com/fantastico/quadros/me-leva-brasil/platb/2008/03/17/os-misterios-do-super-oil-man/
    Tem doido prá tudo.

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