-Temos três cemitérios na cidade.
-Qual o mais longe? – Rogério perguntou.
O motorista do táxi disse que havia um já abandonado, um tal de “cemitério São Pedro” que seria o mais antigo. Ele ficava do outro lado da cidade.
-A “corrida” vai sair cara, senhor.
-Sem problemas, meu amigo. Vamos direto pra lá.
Enquanto o táxi do indiano atravessava a cidade, Rogério olhava pela janela. Via os carros passando, pessoas saindo para o trabalho.
Aquela era uma manhã fria.
A imagem da misteriosa mulher sem cabeça não saia de sua mente. Rogério meteu a mão no bolso e olhou aquelas fotos mais uma vez. Eram assustadoras.
Ele precisava descobrir quem eram aquelas pessoas. Certamente elas estavam ligadas ao desaparecimento de Regina.
E sua imagem aos gritos na Tv? Teria sido uma alucinação? Um sonho? Será?
Em seu íntimo, ele sabia que não. Ele sentia que aquelas coisas estavam interligadas de alguma forma.
-Senhor, pode diminuir o ar condicionado, por favor? – Ele pediu ao motorista.
-Desculpe, senhor. Não tenho ar condicionado no carro. – O indiano retrucou.
-Nossa, ta congelante aqui atrás. – Disse Rogério
-Não estou sentindo, senhor… O senhor por acaso não estaria com febre?
Rogério não respondeu. Deu de ombros. Voltou sua atenção para as fotos antigas. A mais assustadora era a da mulher sem a cabeça, mas o olhar da menina morta lhe atraía. Era vívido, e não parecia um olhar de alguém realmente morto.
-Ela não estava morta. – Disse o motorista, segurando o volante com as duas mãos.
-Hã? O que? – Perguntou Rogério, levando um susto.
O motorista dirigia em silêncio. Não disse nada por quase oito cruzamentos. Rogério estava com medo e apenas esperou. O carro parecia um congelador e ele sabia que aquilo era um sinal de alguma manifestação desconhecida.
-Houve um acidente… – Disse o motorista, rompendo o silêncio dentro do taxi.
-O que?
-Um acidente. – Ele disse.
-Que acidente, senhor?
-A criança. A criança da foto. – Ele falou, pausadamente, enquanto olhava pelo espelho retrovisor. – A casa deles pegou fogo. As crianças se esconderam no armário. Morreram sufocadas. Menos ela.
-Como… Como você sabe?
-Não sei senhor. Isso é um dom que trago dos meus ancestrais. Eles se comunicam com as pessoas do outro lado. Eu apenas sinto essas coisas. Desculpe, eu não pretendia incomodá-lo com minha opiniões. -Disse ele se concentrando na direção.
-Não, não. Por favor! Fale mais. Preciso saber quem são essas pessoas. -Implorou Rogério mostrando as fotos para o indiano que nem sequer parou de dirigir. Ele apenas olhou de relance para as fotografias.
-Eu não preciso olhar para elas, senhor.
-Mas o que você sabe? Me diga! Olha, tome aqui! Eu pago bandeira dois! Preciso da sua ajuda, amigo! -Disse Rogério lhe estendendo uma nota alta de dinheiro.
-Não posso aceitar dinheiro por isso, senhor. Mas essa menina… Ela morreu depois das duas irmãs dentro do armário. Respiraram a a fumaça.
-Mas como? E o que ela tem a ver com essa outra foto?
-Essa menina… Não era a filha preferida do seu pai. A filha preferida era Alice Ko… Não sei.
-Koeher!
-Sim, isso. Alice Koeher.
-Ela… Ela foi dada à Ljuvbna, para que Alice voltasse para seu pai. Mas a alma da menina não deixou seu corpo antes dessa fotografia ser tirada. Ela estava morta aqui, mas vagava entre os dois mundos. O dos vivos… E o outro.
-E a mulher sem cabeça?
-Essa mulher foi uma bruxa na Croácia. Ela era uma das que criavam as… Crianças da noite.
-Crianças da noite?
-Sim senhor. As crianças da noite são almas que vagam no espaço entre os vivos e os mortos. Elas podem estar aqui ou lá. As crianças da noite eram livres até que passaram a ser controladas pelas Ljuvbnas.
-O que?
-Seria mais ou menos o que por aqui neste país vocês chamam de bruxas. Pessoas sem escrúpulos que usam os conhecimentos ocultos para controlar os seres imateriais e conseguir o que querem.
-Por isso arrancaram-lhe a cabeça?
-As Ljuvbnas parecem vivas mas estão mortas. Não tem alma, nem sangue. Apenas o mal anima seus corpos. Acreditavam que cortando a cabeça elas morriam, mas isso apenas as libertam do mundo físico.
-Olha… Pode parecer estranho isso que eu vou lhe dizer, mas… Eu dei de cara com essa dona sem cabeça hoje, lá no hotel! -Disse Rogério.
O motorista pisou no freio. O carro quase ancorou no asfalto, derrapou, cantando pneu e atravessou no meio da pista. Os carros atrás desviaram, buzinas começaram a soar. Um pequeno caos na rua se formou.
-Oh meu Deus! O que foi isso, meu amigo? Pirou? – Perguntava Rogério sentindo o puxão do cinto de segurança.
O indiano parecia transtornado. Os olhos arregalados e a expressão era de medo. Ele se virou para o banco de trás:
-Ela, ela te tocou? Responda! Rápido!
Rogério estava com medo daquele sujeito. Ele parecia completamente transtornado.
-Não, não. Eu ia encostar nela, mas ela não deixou. Então ela… Pulou da janela e… Sumiu.
-Você correu perigo de vida. Elas são poluídas! Se a Ljuvbna encosta em você, você só dura sete horas vivo. A menos que…
-A menos que?
-A menos que pegue uma criança e entregue a elas. É assim que as Ljuvbnas constroem suas famílias de crianças da noite.
-Como o senhor pode saber isso tudo?
-Essa não é a pergunta inteligente, senhor.
-Não?
-Não.
-Então qual é?
-Você tem que me perguntar por que a Ljuvbna sem cabeça lhe procurava.
-Foi ela que deixou essas fotos.
-Com licença, senhor. – Disse o Indiano. Ele pegou a foto antiga. Colocou sobre a testa e apertou os olhos, com a expressão de quem fazia uma grande força. Então silenciou. Parecia em transe.
Do lado de fora, as pessoas engarrafadas buzinavam loucamente. Um homem estava puto o bastante para sair do carro dele e socar o capô do taxi.
Rogério botou a cabeça para fora da janela:
-Calma meu amigo! Chamem os médicos. O motorista está tendo um derrame aqui, pô!
Então a multidão que estava repleta de ódio imediatamente se comoveu. Pessoas ligavam freneticamente de seus celulares chamando o socorro médico.
-Olha, espero que isso funcione, pois eles já iam linchar a gente. – Disse Rogério, fechando o vidro.
-Shhhhh! -O motorista lhe mandava calar a boca. Estava com os olhos fechados, como num transe profundo.
-Andela Dubravka! – Disse o Indiano.
-O que é isso?
-É o nome dela, da Ljuvbna! Cortaram a cabeça dela. Ela… Ela quer a menina. A criança da noite que lhe pertence… Mas há um problema.
-Que problema?
-Há outra Ljuvbna! Essa eu não sei o nome. Não consigo captar. Mas… Quem é Regina?
-Regina? Você disse Regina?
-Sim…
-Regina é a minha mulher! Minha mulher que sumiu. -Disse Rogério. O coração quase saindo pela boca.
Então o indiano abriu os olhos. Olhou seriamente para Rogério.
-Você não vai gostar de saber o que eu tenho a lhe dizer, senhor.
CONTINUA
E eu não gosto desses ganchos de suspense quando não tem um capítulo para ler logo a seguir!!! :P
Mas tá cada vez melhor.
Você me mata de ansiedade! Não aguento ficar tantos dias sem capítulo novo.
Hehehehe Calma!
Poooo Philipe…
Ta massa… e ta angustiante ficar esperando um capitulo novo!
Mas ta massa! hehehehe
Abraços!
Valeu David!
Muito bom cara! Não tenho idéia de como vai acabar!
Nem eu!
Mas bah, tchê! É uma pena que acabou na melhor parte, bagual! Continua isto logo, tchê!
Hehehehe Vou continuar! Fica ligado!
Caramba, o conto já tava excelente, mas esse décimo primeiro capítulo abrilhantou ainda mais o conto, e esse suspense uma dia ainda vai me matar de ansiedade.
Tomara que fique legal.
Se você ver um corpo sem cabeça andando por aí não tente agarrá-lo…
Se isso acontecer, a última coisa que me passaria pela cabeça seria agarrar a coisa… não existe curiosidade suficiente que motive isso. A primeira opção seria correr, mesmo… para bem longe!
CARAMBA!!!!!!!!!
Tá demais. Muito bom mesmo. Não vejo a hora do próximo capitulo. Tem previsão de quando sairá o próximo Philipe???
Se tudo der certo sai hoje.
Philipe, dá uma esclarecida melhor no que seja “Ljuvbna” e como se pronuncia isso. O google da vida não retornou nada, exceto o post. É criação sua?
Sim, eu criei.
O J tem som de Y?
Muito, muito bom!
Oi Philipe, ta muito bom o conto!!! Sei que é complicado, mas tenta postar com mais frequência, eu e os leitores ficamos morrendo de ansiedade pra ler e saber mais, rsrsr!!!!
Bjos
Juju
Pois é, mas eu só consigo postar quando dá tempo de escrever. Essa é a parte ruim de fazer o conto e postar ao mesmo tempo, eu só posso postar se eu conseguir escrever.
Pessoalmente, Philipe, não tenho esse problema de ansiedade, não. Fico curioso, mas só até ai. E, no máximo, posso perder o fio da meada, se demorar muito, mas então basta reler o capítulo anterior e tudo certo.
Em tempo: lembrei-me de ter lido, em algum lugar, que nos casos de contos, novelas e seriados, os autores mais sérios costumam deixar a trama meio que “fluir” ao sabor do gosto dos leitores/telespectadores. Explico: como no velho chavão “quem matou Odete Roytman”, o próprio autor não saberia quem seria o assassino(a). Ele coloca vários personagens possíveis e vai medindo o interesse do público.
Essa, inculsive, seria uma receita muito usada por séries americanas que são sucesso de temporadas, contra aquelas que naufragam logo na primeira. Afinal, o que interessa não seria apenas um determinado resultado, mas aquele resultado que mais atendesse às expectativas do público-alvo. Cria-se o desejo, e espera-se que ele seja atendido.
Assim como no seu caso (você escreve “parceladamente”) não seria de estranhar que a trama toda não esteja totalmente delineada. Seus/suas leitores(as) mais ardorosos podem acabar lhe dando dicas preciosas de como conduzir o enredo, de forma a manter a atenção presa. E isso garante leitores(as) fiéis e ansiosos. Uma tática inteligente (se for correta).
Eu gosto de fazer nesse sistema por uma razão que dá até vergonha de contar. Fazendo assim, como eu me “comprometi” com os leitores, eu sou obrigado a continuar. Se eu faço a história só pra mim, é fácil outras coisas entrarem na frente e a história ser largada em segundo plano na gaveta dos projetos a finalizar.
Ao mesmo tempo, escrever sem saber exatamente onde a história vai dar me deixa igualmente curioso com o que vai acontecer e é esta a razão do gancho final. Não é só motivar o leitor a ler o próximo capítulo, mas me fazer escrever ele. Por isso eu quase nunca sei o que vai se desenrolar depois do gancho. Eu coloco um gancho quase que aleatório, e passo o resto do tempo tentando ver o que ele vai causar.
A chance de ficar uma bosta é gigante. Essa ameaça permanente também dá um toque de adrenalina no negócio, pq eu não posso errar e alterar algo lá do inicio, pq o leitor já leu. É quase que um “se vira nos 30”.
Exato. Manter o fio condutor por toda a trama não é fácil, e é preciso muito cuidado para não entrar em conflito com detalhes ou situações já reveladas.
Vamos ver no que dá. sua missão: surpreenda-nos. Se vira nos trinta, cumpadre! Rssssss…..
Eu tava aqui me esforçando para não ler dessa vez, pq a caixa foi muito sofrimento… mas li a primeira parte e agora li um trechinho desta, vi que descambou pro lado da caixa, esse universo cheio de bruxas de nomes estranhos e entidades cabulosas… agora vou ter que ler! Cara!.
CONTINUUAA ASSIM NÃO DA NÉ FHII!!! =D
Nossa que história tem que virar livro, eu nem gosto de ler mas teu livro é o único que leio, que gostos, pois teu livro é tudo, espero não acabar logo, mas quandoo acabaar, FAZ OUTRO PARA TODOS NÓS QUE SOMOS MUITO FÃS DE VC!!!! =D
Estou te acompanhando desde o primeiro capítulo!!!
De volta ao mundo fantástico e empolgante das histórias do Philipe, já estava com saudade de ler um bom conto. Parabéns Philipe.
Tá ficando bom …
E em breve, veremos que a Regina está n’A Caixa !!!
Pelo amor de Cristo, faz favor. Posta logo o próximo! É triste entrar todo dia, apertar o F5 e nada! Gradicida ;-)
Acho que hoje tem!
Já estou assim também.. apertando o F5 frenéticamente.. ahahahh Isso é crueldade!
Muito bom! Qual é a desse taxista? Será que é o mesmo indiano de “A Caixa” ? Ansioso pelo próximo!
Caramba, hoje enfim resolvi ler essa história e me supreendi por vc ainda não te-la concluido (esperava não ter que passar por isso.. rss). Comecei a ler e não consegui parar. Me tornei adicto e estou ansiosa. Dia 14 vc disse que teria o novo capítulo e nada.. Pelamordedeus.. pára com isso senão vc vai me matar…
Em tempo… Excelente conto, lembrei dos meus 12 anos quando resolvi ler “O Iluminado” do Stephen King que produziu sensações de medo e calafrio de forma semelhante.
Parabéns!!!
Valeu mesmo, Marcy. Eu estava esperando o Davi dormir para poder me concentrar. É foda fazer suspense quando se tem um neném de 1 ano fazendo gracinha nas suas pernas.
Queria começar a ler do inicio, só que não acho o inicio….rsrs
OI Vanessa, perdão, eu esqueci de indexar este conto na pagina de contos. Agora ja fiz. Basta entrar em histórias longas. Ta la no final: http://www.mundogump.com.br/contos/