-Sangue?
As duas já se espremiam contra a parede. Mais e mais sangue entrava por baixo da porta.
Carlão estava ficando embebido no caldo escuro. Seus cabelos curtos estavam emplastrados de sangue.
Regina abaixou-se, passou o dedo no sangue e olhou na luz da lanterninha. Era sangue. Definitivamente.
-Mas… De onde isso tá vindo? -Perguntou Martina, toda trêmula.
-Não sei. Vem lá de fora.
-Se estamos nós três aqui dentro… Só pode ser… dela!
-Então ela sangra.
-Só pode.
-Mas então… Será que morreu?
-Não sei. Será? – Perguntou Martina. Ela tinha o semblante aliviado. -Talvez ela tenha morrido aí na porta.
-É… Talvez seja isso.
Martina coçou a cabeça e perguntou: -O que você acha que ela era?
-Gente normal não era. Eu evito pensar nisso, mas sei lá. É tudo muito estranho.
-Rê, eu fico pensando… como que uma menina assim de olho preto surge do nada. Bate na sua porta, pedindo pra entrar. Eu acho que ela é o diabo.
-Era, você quer dizer.
-Isso.
-Eu não sei, acho que não… Tipo se ela fosse o diabo não tava morta.
-Mas ela não morreu com o gancho que o Carlão jogou nela.
-Pode não ter acertado um órgão vital. Pode ser coincidência.
-E a porta? Ela arrancou a sua porta, porra!
-É… Isso é estranho. Sabe o que é mais esquisito?
-O que?
-Ela pedir pra entrar. Insistentemente. Noite após noite. Se ela derruba a porta e joga longe? Por que ela não entra?
-Deve ser tipo vampiro. Não tem aquele negócio que você tem que chamar o vampiro pra entrar?
-Se ela é vampira, quer o que no meu quarto? Sabe o que mais? Não tem dentão. Não faz sentido. E o olho preto? Vampiro não tem olho preto.
-O que tem olho preto é Et! -Sentenciou Martina.
-Extraterrestre? Tipo… Do espaço?
-Eu acredito!
-Você acredita em tudo, né? Demônio, Et, bruxa, vampiro… Até em disco voador.
-Pode ser uma criança híbrida, Rê. Eu li num livro que eles pegam as mulheres e misturam os genes deles com as mulheres gravid…
-Hã?
-…Nada. Nada. Desculpa. O que vamos fazer? Vamos abrir? O que a gente faz?
-Não. Vamos esperar um pouco mais. -Disse Regina.
-Mas por que Rê?
-Não sei. Não sei, Má. Acho precipitado. Vamos dar um tempo. Vamos ver o Carlão aí!
Martina concordou. Sentou-se na poça de sangue e colocou a cabeça de Carlão sobre suas pernas.
-Carlão? Acorda Carlão. Ei! -Ela falava baixo no ouvido dele.
Regina tentava iluminar com a lanterna, mas ela estava ficando fraca.
-A bateria deve estar acabando. -Disse ela, dando tapinhas na lanterninha.
-Acorda Carlão. Vamos!
-Sopra na cara dele. Minha diz que é tiro e queda.
Martina soprava no rosto do amigo, desacordado. Mas ele não esboçava nenhuma reação.
-A pupila ta dilatada. Aqui!
-Eu estou ficando preocupada! E se…
-Não, ele tem pulso. Ó. Foi a primeira coisa que eu vi. Ele ta desmaiado mesmo. O coração parece que tá irregular.
-A gente tem que tirar ele daqui, Rê.
-É… Tem razão. A gente não pode ficar aqui no quartinho pra sempre.
-E aí?
Bom, se prepara, Má! Vou abrir no três. -Regina disse.
Elas assumiram posição. As duas junto a porta estreita sob a escada.
Vai! – Sussurrou Martina.
Regina apurou os ouvidos, tentando escutar alguma coisa. Mas só ouvia a respiração da amiga.
-Um… Dois…
Então elas ouviram uma coisa raspando a madeira. O som produziu um arrepio congelante na base da coluna de Regina, que subiu até sua nuca, eriçando-lhe os pêlos.
-Que isso? -Perguntou Martina com uma tremedeira na voz. Ela tinha os olhos esbugalhados, que iluminados pela lanterna estavam ainda mais estatelados.
-Não… Não sei.
O som da madeira sendo raspado continuou, devagar.
-Ai meu Deus!
-Calma, Má! Calma!
-Ai, meu Deus, ai meu Deus! Ave Maria, cheia de graça, o senhor é convosco…
-Calma, Má! Calma!
-…Santa Maria, rogai por nós, pecadores….
O som da madeira raspado continuou e então parou.
As duas apenas se entreolharam iluminadas pelo fraco facho de luz da lanterna.
-Pa-parou.
-Será que foi a reza?
-Não sei…
Então elas ouviram um soco na madeira. As duas gritaram de pavor.
-É ela! É ela! -Gritou Martina, descontrolando-se. Ela agarrou-se no braço de Regina.
-Não… Espera! Não veio dali. -Regina disse, tetando controlar a amiga. Mas Martina estava fora de si. Não ouvia, estava sacundindo o braço de Regina e a lanterna caiu na poça de sangue do chão. Regina deu um tabefe na cara de Martina.
-Calma porra!
Martina caiu sentada no chão do quartinho. Estava chorando.
-O som não veio dali. Não foi daquela porta!
-Hã?
-Eu tava com a cara na porta. Minha mão estava na maçaneta. Não foi dali. Não teve vibração. -Ela disse, pegando a lanterna do chão e limpando o sangue na blusa.
-Então… De onde foi? -Perguntou Martina, limpando o rosto.
-Acho que… Acho que foi… Dali! – Disse Regina, apontando a outra porta, que dava para o porão.
As duas olharam para a portinha estreita nos fundos do quartinho. Então se entreolharam.
-O que? Que merda…
-Ela entrou? Ela tá aí dentro! É ela, Rê!
-Não… não sei.
Renata pediu licença à Martina e se aproximou da portinha. A porta estava trancada por fora, com uma simples fechadura de correr.
-Veio daqui… Tenho certeza.
-Shhhh! Vamos ficar quietas. Amanhã alguém vai dar pela nossa falta, Rê. Vão vir buscar a gente!
-Não… Tem alguém aí dentro. Acho que não é ela.
-É claro que é ela, Rê. Quem mais pode ser? É ela! É ela! Ela entrou ai!
-Ei. Shhh! Tá ouvindo isso?
-O que?
-Escuta Ó. Bota o ouvido aqui. É um… É um… Puta merda!
-É um choro de neném!
-Tem um bebê lá em baixo!
-Não! Calma. Calma! Não abre! Isso é artimanha do diabo!
-Eu tô ouvindo. Parece um neném, mas acho que pode ser sabe o que? Um gato. -Disse Regina, segurando a fechadura.
-Isso explicaria o arranhão na porta. O gato pode estar preso aí.
-Será?
-Não sei. Parou agora. O som parou.
-Acho que pode ser um gato mesmo.
-Meu Deus, quase vomitei minhas tripas de medo e era só um gato. Eu adoro gatos e eles se metem em lugares estranhos mesmo. -Disse Martina.
Martina colocou a cabeça junto à porta. Começou a chamar o gato.
-Psss,psss,psss… Gatinho? Vem aqui… Gatinho? Você tá ai querido?
Então uma estranha voz de criança falou baixinho do outro lado da porta de madeira:
-Eu quero sair daqui!
CONTINUA
Muito massa, espero que continue assim e que não acabe logo. Dá emoção lendo, imaginando tudo, parabéns Philipe. Conheci o Mundo Gump faz 2 dias e viciei. Entro sempre para os posts, tudo interessante.
Rapaz, essa parte, quando chegou no choro do neném me deu um certo cagaço…
E isso são horas de postar a parte 5, Philipe?! Isso tem que ser postado cedinho! E o cagaço de ler isso à noite?! rs Está excelente!
Bom mesmo de ler à noite, com chuva caindo do lado de fora, alguns relâmpagos e trovões…
Mudando o assunto e citando: “-Extraterrestre? Tipo… Do espaço?” Não, tipo da Terra mesmo… ET lá do Paraguay… rsssss…. essa foi a melhor até agora.
Philipe, o conto está interessante, mas tô sentindo um cheirinho de “Lost” no ar…
Muita gente – eu também – esperava um final fodástico para a série, com explicações mais condizentes com uma proposta “alien” e de ficção científica, do que a explicação metafísica e mequetrefe que deram. E com lacunas, ainda por cima.
Espero que a conclusão justifique a espera, e que tudo não tenha sido um sonho; ou imaginação de alguém; ou que todo mundo morreu, e as “almas” se encontram em algum tipo de “transição”!
No aguardo.
Sonho eu sei que não é. Quanto ao resto… Vamos ver.
Conto não recomendado para mulheres grávidas… eu nem tô grávida mas sou um ser altamente impressionável =8-O
Mano… Eu lembro que li o MIB todo e caraca…
Esse conto ta me prendendo igual o MIB…
Menina do capiroto!
hehehe
Parabéns Philipe!
UuuuuuuUuuuuuuUuuuuuuUuuuuu! E ao fundo ouvia-se os uivos de um lõbo que vinham lá do alto da montanha! UI que medoooooo!
Acabei de chegar do trabalho e ansioso para continuar lendo esse conto, já sou fã de carteirinha do Mundo Gump, já sou de casa, kkkkkkkkk, abraço Philipe.
Fala sério! Quando a voz diz eu quero sair daqui! meu telefone tocou… Quase tive um treco do coração!!! Meu Deus quase que vou dessa pra uma melhor… rsrsrsrs parabéns muito bem escrito e prende a atenção da gente.Abraço.