Desculpa a falta de educação de não entrar nem pra te desejar um feliz natal. Vai atrasado mesmo. Eu acabei tirando uns dias de recesso no final do ano, porque 2016 foi sinistro. Trabalhei feito um desgraçado esse ano, o que nos leva a essas consequências altamente preditíveis, de fazer um balanço do que passou.
Blogs como este aqui costumam fazer retrospectivas dos melhores posts, das coisas legais e etc e tal. Vou te poupar desse sofrimento. Estou sem saco de fazer isso, até porque trabalhei muito em 2016, de modo que em muitos momentos isso aqui ficou mais parado que patinete de Saci. Mas também não vou fazer isso orque eu sei que não vai te interessar. Todo lugar que você olha esses dias estão fazendo retrospectivas, que aliás é uma palavra que eu acho engendramente escrota.
Sabe como é esta época. As pessoas querem elencar em retrospectiva o que deu certo, o que não deu, se engordaram ou emagreceram, alguns se orgulham de estarem solteiros, outros de estarem casados, e muitos ainda evocam os ídolos que se foram, as tragédias que se abateram e toda uma infindável leva de desgraças à livre escolha do interlocutor.
Não é difícil sofrer de depressão nos dias atuais. A grande mídia sabe que desgraça vende e se propaga muito mais que boa notícia, de modo que quanto mais antenado você for, as chances de você se sentir moribundo num planeta acéfalo e agonizante é maior. Nunca a máxima que diz que “a ignorância pode ser uma bênção” foi tão fiel aos fatos.
Hoje, ligamos a TV e é desgraça, ligamos o computador e são Mimimis, e textões e brigas e egos, e pessoas que estão sempre certas. Muitos já concluíram com razoável grau de razão que “o mundo está um saco”. A tecnologia deu voz (e som, e imagem) a todos e no que nos tornamos? Nos tornamos chatos, reclamões, histéricos e frágeis consumidores de chatices alheias, com às quais processamos e construímos nossas próprias reclamações modorrentas, numa corrente eterna, num loop parafusesco do qual parece impossível escapar.
Cada vez mais são os algorítimos, a matemática e a estatística que determinarão o que devemos saber, ver, e qual o impacto esperado, planejado, calculado, sobre nossa mente. E isso é algo claramente assustador. Cada vez mais o espaço da descoberta, do acaso, se reduz diante de algorítimos, estudos de tendências, que nos limitam à redomas (ou currais, para melhor precisão).
A massa de manobra.
As pessoas não querem mais procurar coisas curiosas. Elas querem que as coisas apareçam pra elas como mágica, vindas de algum lugar, já descobertas, processadas, parcialmente digeridas, flavorizadas, reduzidas, otimizadas, resumidas para a mais fácil compreensão.
Porque ninguém tem tempo. O tempo urge e urge para que sobre espaço para mais textões.
Chegamos ao fim de 2016 com trancos e barrancos, tragos e barracos, tréplicas e bacilos, intrigas e vacilos. Chegamos à era onde o conteúdo é rei, mas é um banquete que se serve só à base dos canapés – que nunca encherão a barriga.
É como mágica. A mágica, que aliás, consiste, do outro lado do pano, em uma pressão direta para que você PAGUE para que as pessoas vejam o que você produz.
O mundo está se tornando repleto de tarifas. Algumas são explicitas, outras obscuras, mas elas estão lá. Você não vai mais do ponto A ao B sem pagar o pedágio, ou que alguém pague por você. O simples prazer de descobrir uma coisa que você nunca imaginou que existisse, algo que você tinha gratuitamente em doses cavalares em qualquer biblioteca, pode ocultar abaixo de si um mar de cálculos e planejamentos, estratégias, publicidades, quando não mentiras e deturpações propositais.
No ano novo renovam-se as esperanças da mudança. A eterna mudança que nunca muda realmente, porque no fundo no fundo, mudar da um trabalho do caralho, coisas quebram, coisas somem, e coisas eventualmente ocultas podem dar o desprazer de aparecer sem aviso prévio.
E também à reboque das esperanças renovadas surgem os votos de um ano novo com mais trabalho, com mais dinheiro, com mais calma, mais felicidade, como se na virada de um efêmero passar de segundos algo mágico se reorganizasse na conjuntura cósmica que nos ressignificasse.
ÁS FAVAS com os votos! A verdade verdadeira dos fatos se resumem a culpa sua. Você deu mole pra caralho em 2016. Foi ou não foi? Logico que foi! O ano foi merda? Aposto que em parte é sua culpa. Você deixou de fazer tanta coisa, se levou pela emoção quando devia ouvir a razão ou se apegou a razão quando tudo que precisava era escutar sua voz interior.
Voz interior… Nunca se precisou tanto de voz interior nessa sociedade da aparência, do ser o que não é. De projetar pro outro o que você quer que ele pense que você é. Essa sua voz interior amordaçada. Aliás, interior que ainda prende sua criança até hoje, triste, limitada, eternamente frágil. Então, esqueça votos. Votos não vão bem por aqui no sentido figurado e no literal. Troque seus votos por ações e pare de esperar que no ano novo aconteça isso ou aquilo de bom. CAVE a porra da realidade que você quer desenterrar.
O parágrafo acima, como você já pode habilmente imaginar, é também um reflexo dessa época de fim de ano, quando surgem essas frases de cagação de regra que te botam a culpa por toda a merda que aí está e te deixam pra baixo com um sorriso motivacional esculpido no rosto à base de porradas a la Analista de Bagé. Eventualmente ate funcionam.
Seja como for, o fim vai se aproximando, e tudo que queremos é que as coisas se arrumem, que tudo fique um pouco melhor, e o que estava bom, que continue.
Feliz 2017. Perdoai todos os meus erros e faltas.
Amém.
ISSO MESMO. AMÉM!