Experiências sensoriais na escuridão

Durante certo tempo eu achei que ia ficar cego. Isso se devia ao fato de que com o meu trabalho, de fazer esculturas, bonecos, monstros, efeitos e etc já tive o desprazer de sentir plastico derretido pingar no meu olho esquerdo, espirrei formol ( nos dois olhos tentando imbecilmente empalhar um tubarão), espirrei super-bonder nas pálpebras ( consegui fechar os olhos à tempo) quando aquela porra maldita de embalagem reteu uma gotinha na ponta do bico que virou uma pedra. Apertei o tubo como pude e nada. Aí tive a ideia genial de olhar bem dentro da ponta do bico e perfurar a cola ressecada com uma agulha – o que gerou um MIJO de superbonder bem na porra do meu olho.
Ok, sou burro, eu sei.
Então, entre conjutivites e tersóis, pedaços de plastico, papel, metal, tintas e solventes caindo nos olhos, até caldo de limão, eu tinha certeza que seria questão de tempo para a merda federal ocorrer e eu virar um Jatobá sem “Doutor Quartz” para ajudar.

Daí que comecei com uma estranha prática que era de andar de olhos fechados pela casa. Todo mundo que estranhava ficava ainda mais intrigado quando eu comentava ser um treinamento para não passar aperto quando eu definitivamente ficasse cego.
De fato, entre as muitas experiências que fiz de bancar o cego, tomar banho na mais absoluta escuridão foi uma das mais legais. Primeiro porque desperdiçamos luz ao tomarmos banho com a luz acesa. Não faz nenhum sentido nem há necessidade de enxergarmos para tomar banho, tem? Claro que quando você sabe qual é seu shampoo, fica mais facil, hehe.

Este restaurante no japão oferece esta experiência num nível ainda maior.
O restaurante é em absoluta escuridão. Tão breu que se você ficar pelado lá no meio ninguém – a não ser o garçom que usa óculos de nightvision militar- saberá. A comida vem em absoluta escuridão.

Com os demais sentidos desligados, seus neurônios poderão saborear melhor a comida.
( Na prática, o efeito sobre a mente é contrário, já que os mecanismos cerebrais gastam mais energia tentando repor um sentido supostamente perdido, creio eu.)

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.
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