quinta-feira, dezembro 26, 2024

Fazendinha feliz e os ratos do meu pai

Quando eu era criança, meu pai resolveu que ia aproveitar o nosso quintalzão lá em Juiz de Fora para plantar. Teve um tempo que ele foi louco com a ideia de ter sítio, sei lá porque. O fato é que me lembro bem que meu pai gostava de ver Globo Rural domingo de manhã, vício desgracento que eu também peguei. Não perco a porra do Globo Rural, apesar de não ter sítio, fazenda e nem mesmo casa. Eu moro num apartamento pequeno que mal tem uma varanda.

Mas como eu ia dizendo, meu pai resolveu plantar alguma coisa. Ele fez umas hortinhas e tal, mas não sei porque não parece ter dado muito certo. Aí um dia ele chegou com um saco de milho e plantou milho no quintal. Rapaz, o milho deu certo.

DEU CERTO DEMAIS

O resultado é que o milho se mostrou facilmente adaptável ao terreno do Bom Clima, e deu milho pra caralho. Era tanto, mas tanto milho, que o jeito foi estocar o milho no salão de festas. E com isso, o óbvio aconteceu. Certamente você já matou qual foi a desgraça pelo título nada misterioso deste post.
A casa ficou infestada de ratos. Eles começaram a se multiplicar no sucesso do nosso milho. E esse foi o fim de nossa experiência de fazendinha urbana.

Eu estou contando isso, porque esbarrei num video bem interessante sobre uma família que resolveu “inovar” e inovaram fazendo o que demandaria uma fazenda bem proporcionada caber no espaço de um quintal.
fazendinhafeliz

Sei que isso é um troço um tanto utópico, mas que é interessante de ver:

O que esses caras fizeram nessa casa parece mentira. Num espaço de cerca de 400 metros quadrados os caras conseguiram produzir mais de DUAS TONELADAS de alimentos, além de ovos de galinhas e outros tipos de alimentos.
Eles moram em área urbana, a apenas 15 minutos de Los Angeles. O que mais me impressionou no caso desses caras, é que eles conseguiram comprimir o espaço ao estritamente necessário, sem muita sujeira, sem muita bagunça. Parece até coisa de japonês!

Graças a capacidade criativa e otimização, eles chegaram a ultrapassar a autossuficiência alimentar e começaram a VENDER os produtos da “fazenda” deles para restaurantes, gerando uma graninha respeitável de 20.000 dólares!

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Claro que para mostrar que é fodão, o cara ainda fez tudo orgânico, isso é, sem usar hormônios, químicos, ou pesticidas.  Em um ano eles geram  cerca de 400 kg de carne de frango orgânico (Claro, todo ser vivo é orgânico). A diferença é que este frango não recebe nem antibiótico e nem hormônio para crescer rápido. O frango cresce naturalmente e vai para o abate no momento em que está “pronto”.  Do galinheiro saem também mais de 450 ovos (essa parte estranhei por ser bem pouco. Tenho amigos com galinheiro em casa que geram mais que isso no ano), além de 12 quilos de mel e frutas em abundância.

Não vou entrar nessa seara de tratar se orgânico é bom ou é “gurmetização da agricultura” para vender caro. O que eu sei é que me parece uma boa usar MENOS VENENO na COMIDA.

Essa família inteira trabalha na casa, pois só quem plantou alguma coisa na vida (por incrível que pareça, eu já) sabe que dá um trabalho bem considerável para fazer direito. Assim, todos os membros da família dão uma mão na horta. Se sambar na cara do mundo quanto a produtividade não fosse o bastante, os caras resolveram levar os tarados da autossuficiência ao êxtase e instalaram painéis fotovoltaicos.  A justificativa é que assim, os implementos agrícolas que exigem eletricidade, passaram a uma alimentação com energia limpa.

Grande parte da alimentação da família dessa fazenda urbana é focada em alimentos de estação, ou seja, produtos sazonais, muito embora com o dinheiro que entra da venda, eles comprem as coisas que não conseguem plantar lá, ou que seria caro demais ou complicado demais.

Eu gosto dessa ideia dos caras produzirem o próprio alimento. Acho interessante a demonstração da capacidade de produção de um espaço tão pequeno em termos de retorno.

É claro que a grande maioria das pessoas vê isso e pensa: “Porra e aquele terreno na casa do meu pai criando mato”…

Evidentemente que criar uma microfazenda no meio da cidade não é pra qualquer um. Isso é um caso em nem sei quantos. Mas o trabalho dos caras serve para duas coisas: Uma é ter o controle de grande parte do que eles comem. A outra é para avaliarmos se realmente isso serve de exemplo, já que de inspiração sei que serve.

Digo isso porque vamos extrapolar a imaginação e pensar num cara igual era meu pai quando eu era pequeno. Imagina agora uns mil caras assim tendo esta ideia: “Porra vou plantar em casa, vou ganhar grana, vou ter autossuficiência alimentar”.

O resultado disso pode ser calamitoso. A agricultura se bem feita, (e felizmente hoje temos a internet cheia de dicas, macetes foruns e tutoriais de tudo) pode dar MUITO resultado. Só que em área urbana, onde tem muita gente em pouco espaço, o que pode gerar é um excesso de produção, que se não for corretamente gerenciado, pode desencadear uma absurda quantidade de pragas. Não só ratos, como insetos, e até mesmo pode gerar doenças.

Sim, porque se você pensar, essas granjas enormes, repletas de galinhas tem uma razão para gastar dinheiro com antibióticos. E a razão disso é que o frango fica doente muito fácil. Ele pega gripe e morre. Se do nada começa uma porrada de gente a querer o tal frango orgânico, a coisa pode entrar numa espiral de doenças, onde um frango do vizinho do quarteirão ao lado pode contaminar o meu que vai contaminar o do vizinho do outro lado, e assim vai.

Mas é fato que hoje em dia, com o tanto de espaço que temos desperdiçados nas grandes cidades, seria bacana se pudéssemos usar para alguma coisa que preste, nem que seja fazer jardim. Sim, porque acredite se quiser, as abelhas precisam de flores para viver. E nesse contexto, as abelhas são fundamentais, mas nas cidades estamos exterminando elas com fumacê (que devia matar mosquito, mas mata tudo que passa na frente). Eu digo isso com base nas minhas observações do jardim do meu condomínio. Volta e meia estou no jardim ali fotografando insetos, e depois do fumacê, praticamente ACABOU com tudo que era inseto. Foi pro saco joaninha, ofídios, formigas, cigarrinha, aranha papa-mosca… Enfim, eu não sei o que é aquele bagulho do fumacê, mas tenho pena dos insetos que não são o mosquito Aedes.

Triste porque eu adoro inseto. Eu morava numa casa antes de mudar para este apartamento, e nessa casa eu comecei a plantar uma porrada de troço. Que delicia que era ver meu limão crescer, meu tomate ficar vermelho… É viciante.

Como sempre começo falando dum troço e mudo de estação. Plantar em casa é maneiro, e acho que pode ser uma coisa benéfica, mas esqueça competir com esses carinhas. Ninguém precisa fazer uma “biosfera” dentro do quintal.

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Eu não duvido que mais cedo ou mais tarde, do jeito que está ficando mau negócio manter imóveis para alugar gastando com condomínio e etc, as pessoas não vão começar a usar apartamentos fechados para fazer mini-fazendas. Parece maluquice dizer isso, mas acredite se puder, se você tiver acesso à bastante luz do sol, acho que funfa!

Há alguns anos um escritório começou a se especializar em projetos de fazendas urbanas. Trata-se do escritório Kono, do Japão.  (lembra quando eu disse que essas coisas pareciam coisa de japonês? Então!)

Videiras do tomate suspensas sobre as mesas de conferências e campos de brócolis na recepção são parte da vida profissional.  A Kono Design projetou este prédio de escritórios de nove andares em Tóquio para permitir que os funcionários plantem e colham seus próprios alimentos no local de trabalho.

Presepada? Talvez.

Mas esse não é um caso de fracasso, pelo menos. A criação da nova sede para a empresa de recrutamento japonês Pasona consistiu em uma completa reforma de um antigo edifício com 50 anos. Eles incluiram as áreas de escritórios, um auditório, lanchonetes, um jardim no terraço e tudo mais que forma um bom local de trabalho, mas incluíram também instalações de agricultura urbana. Dentro do prédio de escritórios de quase vinte mil metros quadrados, há 3.995 metros quadrados dedicados somente à “fazenda” da Pasona. Hoje eles plantam ali mais de 200 espécies de plantas, frutas, legumes e pasme: Até arroz. Sim, no prédio de escritórios, meu chapa!

Segundo o Kono, toda a comida do edifício comercial é colhida, preparada e servido no local nas cafeterias – Isso fez com que o  prédio da Pasona seja a maior fazenda urbana que se tem notícia. Bem no meio do centro de negócios do Japão!

Os funcionários da Pasona são encorajados a tirar um tempo para manter e colheita e preparar as culturas. Eles são apoiados por uma equipe de especialistas agrícolas contratados para fazer essa joça dar certo, afinal, é uma bela propaganda que deve deixar todo ambientalista romântico animadinho.

 

O edifício tem uma fachada verde, que está bem na moda hoje em dia. Ali, flores e laranjeiras são plantadas em pequenas sacadas. Do lado de fora, o edifício de escritórios parece estar envolto em uma floresta.


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Lá dentro a coisa é ainda mais louca:  Dentro dos escritórios, videiras do tomate são suspensas acima mesas de conferência, limoeiros e maracujá são usadas como divisórias para espaços de reunião, salada de folhas são cultivadas dentro de salas de seminários e brotos de feijão são cultivadas em bancos. Juro, não tô de zoeira. Saca só:dezeen_pasona-urban-farm_20

De cara na recepção, uma plantação de flores. E na sala de reuniões, tomates:

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Áreas alagadas permitem a plantação de arroz. dezeen_pasona-urban-farm_30Dentro do escritório, manolo!

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Esse prédio, é como dizem meus amigos “de cair o cu da bunda”.

Dutos, tubos e poços verticais foram especialmente desenhados  para permitir a limites máximos de altura e um sistema de controle de temperatura é usado para monitorar a umidade, temperatura e fluxo de ar no edifício, afim de garantir que o ar seja seguro para os funcionários e adequado para a “Fazenda”.

Presepada pra inglês ver ou não, esse caso do Kono Design nos ensina uma coisa que eu acho pertinente:

Se você tiver ciência, você planta em qualquer lugar!

A onda das fazendas urbanas vem ganhando mais e mais espaço, e isso é algo bem interessante. Se você procurar hoje “urban farms” no Google, vai se impressionar.

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Há verdadeiras fazendas no meio da cidade!

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Há projetos indoor e outdoor:

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Alguns parecem coisa de filme de Ficção científica!

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E se isso é só o que já existe, espere só até ver as fazendas urbanas que estão sendo projetadas:

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Ver isso me leva a questionar. Até que ponto ainda estamos plantando no Brasil como os homens primitivos plantavam?

Tenho amigos que plantam tomate, de vez em quando falo deles por aqui. É inacreditável a quantidade colossal de agrotóxico que eles tacam no tomate. Eles fazem isso porque não tem a MENOR noção de que aquilo é uma merda. Esses caras ignoram conceitos muito, muito básicos. Por exemplo, eles acham que todo inseto tem que morrer. Pra eles o mundo perfeito é sem insetos.

Foi curioso conversar com eles para saber que “cada dia é mais difícil ver dar produtividade”. Eles não conseguem correlacionar isso ao método que eles inventaram que é enfiar uma estaca com um baldão de água com sabão em pó em cima e uma luz de 100watts. Eles tem varias dessas pelo meio da plantação, que ficam ligadas a noite toda. Isso serve para pegar “todos os insetos”.

Isso significa que eles matam todos os insetos que comeriam as pragas, e aí dá explosão de pragas, e eles tacam mais e mais agrotóxico. O bagulho é absolutamente sem controle!

Estamos nesse nível. E isso é algo para pensar.

fonte fonte

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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Comentários

  1. O maior problema aí não é plantar mas ter alguém que cuide da parada porque se não ficar cuidando regularmente, essa coisinha bonitinha acaba se tornando um “elefante branco”. É muito bonito pra olhar mas…! Também tenho no meu quintal, horta, pés de frutas, limões, etc!

  2. Muito legal o post… Em Cuba com a queda da união soviética o governo se viu de mãos atadas sem saber como prover comida para a população… A solução vei junto a permacultura e um grupo de australianos que com o apoio do governo incentivou que os espaços públicos desocupados fossem utilizados para criação de hortas urbanos! Os primeiros anos foram complicados, porém hoje o povo cubano pode se gabar de ter uma das alimentações mais saudáveis da América Latina!!! É interessante caminhar pelas cidades cubanas é no meio da cidade presenciar hortas de diversos tamanhos com o posto de venda anexada diretamente a elas, muitas vezes os agricultores colhem o produto no momento da venda!

  3. Aqui em SBCampo, fizeram hortas embaixo das torres de alta tensão que cruza meu bairro. É interessante e volta e meia, minha mãe compra tomates, alface, frutas dentre outros.. E tudo sem agrotóxico(só a radiação das torres rsrsrsrs)…

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