Nascido na cidade alemã de Magdeburgo, em 21 de janeiro de 1905, tudo o que Karl Wallenda sempre conheceu foi a arte do circo. Ele foi criado nesse espaço e começou a se apresentar com a sua família quando tinha apenas 6 anos e, ao longo de muitos anos, ele construiu a própria carreira e elevou o nome da família para outro patamar ao ser devidamente reconhecido pela Circus Historical Society de Ohio por ter a maior carreira circense já registrada na história.
Em meados de 1922, em sua adolescência, após muito treinar com um amigo de circo, ele criou o The Flying Wallendas: um número de pirâmide de equilibrismo e ciclismo na corda bamba.
Para compor o número, ele convidou seu irmão Herman, a namorada dele, Helen Kreiss, e Joseph Geiger, um antigo amigo de escola que também estava envolvido com o circo desde pequeno.
A pirâmide da morte
Foi assim que eles se tornaram os Grandes Wallendas e construíram um caminho para o sucesso, tornando-se especialistas no que faziam por toda a Europa. Conforme os anos se passavam, eles foram aperfeiçoando o número de equilibrismo com a adição de mais elementos que elevavam o grau de dificuldade de execução, tudo para surpreender a plateia e poder ganhar mais dinheiro. Logo, vários membros da família entraram para o negócio.
Em 1928, a trupe foi notada pelo empresário norte-americano John Ringling, que os contratou para que se apresentassem no Ringling Brothers e no Barnum and Bailey Circus, nos Estados Unidos. Naquele mesmo ano, os Grandes Wallendas estrearam para a plateia lotada do Madison Square Garden, em Nova York.
A partir disso, eles passaram a se apresentar periodicamente no local, além de se tornarem a atração principal dos intervalos de jogos de basebol e futebol, o que os garantiu amplo reconhecimento midiático.
Em 1962, no entanto, a carreira dos Grandes Wallendas sofreu um revés trágico, e ninguém jamais poderia imaginar que a história da família estava prestes a desmoronar.
A pirâmide desmorona
O famoso número The Flying Wallendas consistia em formar uma pirâmide de 3 níveis com 7 membros da família sobre uma corda bamba a cerca de 10 metros do chão. Durante a apresentação no Shrine Circus, na cidade de Detroit, era Jana Schepp, sobrinha do fundador, que estava sentada em uma cadeira no topo da pirâmide quando Richard Wallenda acabou se desequilibrando após um passo em falso.Jana despencou diretamente sobre Wallenda, que conseguiu se segurar com as pernas na corda enquanto ela se agarrava às suas costas. O sobrinho do homem, Gunther, tentou segurá-la até que a equipe pudesse estender o colchonete no chão, mas ele não conseguiu por tempo o suficiente. A garota caiu de cabeça fora do colchonete e rachou o crânio, mas conseguiu sobreviver.
Richard, por outro lado, não teve a mesma sorte ao cair e morreu ainda no local. Karl Wallenda lesionou gravemente sua pélvis, enquanto seu filho, Mario, ficou paraplégico. Dieter Schepp e Dick Faughnan, o sobrinho e o genro do fundador, também foram encontrados mortos em meio à pirâmide.
“Há uma imagem em minha mente do picadeiro lá embaixo… e dos meninos. Eles estão quebrados e imóveis. Ao redor deles, estão as barras de equilíbrio e a cadeira em pedaços. Essa imagem está em minha mente e não sairá jamais. É por isso que eu nunca mais olhei para baixo”, disse Wallenda em uma entrevista.
Viúva, a filha do homem o chamou de assassino e jamais o perdoou por permitir que Dieter Schepp, aparentemente o mais inexperiente de todos os membros, fosse colocado na linha de frente no número.
Wallenda até pensou em desistir da profissão, porém, de um modo mórbido, o acidente apenas o impulsionou ainda mais às apresentações da família, sendo requisitadas por todo o país – o que apenas inflamou o seu orgulho por ser um alemão com prestígio nos Estados Unidos.
O sucesso continuou, assim como as mortes. No ano seguinte, Rietta Wallenda, a irmã do equilibrista, morreu junto à sua cunhada após uma queda. Dez anos depois, o genro de Wallenda morreu na frente de uma plateia cheia após ser eletrocutado ao agarrar acidentalmente um fio elétrico durante sua acrobacia.
O último ato
Após se tornar “o primeiro homem a atravessar o desfiladeiro de Tallulah Gorge em uma corda bamba”, Wallenda começou a realizar cada vez mais números solos para tentar se afastar um pouco da frequência com que a família morria.
Esse número, televisionado para todo os Estados Unidos, trouxe a fama internacional que Wallenda sempre desejou alcançar, o que resultou em convites para que a trupe se apresentasse pelo mundo.
Com uma carreira de mais de 5 décadas, aos 73 anos, o equilibrista estava longe de se aposentar quando a família foi contratada para se apresentar na capital de Porto Rico, em 1978.
Para promover a passagem dos Grandes Wallendas pela cidade e vender mais ingressos, o fundador decidiu realizar um ato de equilibrismo percorrendo 250 metros em uma corda bamba de um prédio ao outro de San Juan.
Em 22 de março daquele ano, a WAPA-TV estava transmitindo ao vivo quando Wallenda subiu a 37 metros de altura para realizar o seu feito. No entanto, ele não contava que no meio de sua travessia as condições meteorológicas fossem mudar e atingi-lo com fortes ventos de 48 km/h.
Assustado, o homem tentou se agachar para se sentar, lutando com o equilíbrio, mas acabou despencando em rede nacional sob uma plateia que também o acompanhava da rua.
O equilibrista foi socorrido e levado para o Hospital Presbiteriano, mas morreu devido a múltiplas fraturas e traumas internos.
Apesar de seu trágico fim e depois de muito desafiar a própria morte, o legado de Karl Wallenda foi eternizado pelos seus feitos e perpetuado através de seu bisneto Nik Wallenda.
Atualmente, Nik detém 11 recordes mundiais do Guinness Book of Records, incluindo a travessia de bicicleta mais longa e alta da história, bem como a caminhada na corda bamba de olhos vendados.