Ali diante da porta aberta, estavam dois homens. Ambos montados em cavalos, sob a chuva que estava apertando novamente. Os homens estavam encharcados, e do chapéu do que era mais velho, descia um filete contínuo de água, como a aba de um chafariz.
O mais novo estava enfiado num saco de lixo preto, onde furara buracos para os braços e a cabeça. Já o mais velho vestia uma capa de chuva amarela e sobre ela um chapéu de aba longa. As figuras eram estranhas, tinham mochilas nas costas, cobertas com plástico.
Todos os jovens foram até a porta. Marcelo teve a sensação de já ter visto o mais velho dos dois em algum lugar, mas não se lembrava onde. Ele olhou bem para os dois, parados, sobre os cavalos diante da escada de acesso à varanda. Pareciam cowboys do velho oeste.
-Bom dia! – Gritou o mais novo.
Nenhum dos jovens respondeu, então Marcelo acenou com a mão um joinha tímido.
-Na última vez que choveu assim, um tal de Noé fez uma barca! – Disse o homem mais velho.
-Pois é… O tempo tá bem ruim! – Disse Armando.
O clima estava estranho. Os dois homens dos cavalos estavam olhando para a casa, para as janelas. Novamente, foi o mais velho que falou:
-Desculpem a invasão. A porteira estava aberta. – Disse ele.
-Tudo bem. – Armando respondeu.
-Quem é o dono da casa? – Perguntou o cavaleiro do chapéu.
-Sou eu.
-Ah… Pois não. Meu nome é Antônio Carlos. Esse é meu filho, Reginaldo.
-Prazer! – Disse o rapaz, acenando. O velho continuou:
-Estamos vindo lá da Serra do Tuití. O temporal destruiu tudo que e cidade de lá aqui. Só tá passando de cavalo, e assim mesmo tem lugar que nem eles!
-Cês estão indo pra onde? – Perguntou Greg.
-Estamos indo para Santa Luzia.
-Nem adianta, que aí mais à frente, tem uma ponte e o rio levou. – Disse Marcelo.
-Nós vimos. Estamos vindo de lá. Não tem acesso por lá.
-Tem acesso pela ponte da Geplac. – Disse Armando.
-Pois é… Tentamos essa também, mas os seguranças chegaram a atirar pro alto. Aí voltamos.
-Estamos presos aqui também. – Disse Greg.
Armando olhou para Greg. Marcelo percebeu que Armando já estava prevendo o que estava por vir.
-Estamos sem saída aqui. Vamos ter que voltar pelo menos um dia de cavalo para tentar atravessar o rio. – Disse o velho.
-Certo… – Disse Armando, tentando bancar o durão.
Os homens dos cavalos ficaram parados em silêncio, na chuva olhando para todos ali na varanda.
-Será que não dá pra passarmos essa noite aí? – Perguntou o homem do chapéu.
-Não… A casa tá lotada já. – respondeu Armando.
Os jovens se entreolharam em silêncio.
-É que estamos sem água. Será que podem nos arrumar um pouco de água pelo menos? – Era surreal ver aqueles homens completamente encharcados pedindo água.
-Estamos sem água também! – Disse Armando.
Sarah olhou para armando com uma expressão de reprovação. Ela sabia que ele estava mentindo e se recusava a aceitar os estranhos.
-Pelo amor de Deus, meu amigo… Estamos nessa luta há mais de três dias direto. A mãe dele, minha esposa, esta doente no hospital. Estamos indo lá pra ver ela.
-Sabe o que é, moço… é que os cavalos não estão aguentando mais. Por causa da lama. – Disse o jovem.
-Esperem um pouco, por favor. – Disse Armando, fazendo sinal para os amigos o acompanharem.
Todos entraram e fecharam a porta, deixando os dois homens sobre os cavalos na chuva.
Na sala, começou a discussão. Armando, Greg e Marcelo não queriam deixar os dois estranhos entrarem. Sarah, Aninha e Vladmir achavam que era uma atitude desumana.
-Não sabemos que são esses caras! – Disse Armando.
-Meu… é um velho e um rapaz. Pai e filho, a cara de um é focinho do outro. A história faz sentido e eles estão cheios de lama. Molhados, véio!
-E daí, porra? Ema, ema, ema… Cada um com seu problema! – Disse Greg.
-Eu não poderia esperar outra coisa de um egoísta como o Greg, mas você, Armando? Vai fazer essa desumanidade?- Perguntou Sarah.
-Isso não é cristão, meu! – Disse Vladmir.
-Gente, a casa é do Armando, porra. Ele que decide. – Falou Marcelo.
-Olha, eu não me sinto seguro. – Falou Armando.
-O problema é que você faz o que você quiser, tem razão. Mas pode estar condenando esses dois sujeitos à morte. Já pensou nisso? Está preparado para isso? – Perguntou Aninha.
-Porra, não exagera, garota.
-Vai se foder Greg. Não tô falando com você!
-Quer tomar uma bifa, sapatão?
-Gente, gente! Ooou! Calma, porra. Os caras vão ouvir! – Disse Armando.
-Isso que a Aninha falou é sério. Pode não dar em nada… Mas todas as nossas decisões causam efeitos. Nessa chuva… Vocês viram o rio. Eles podem mesmo ficar em apuros.
-Eles já estão em apuros! – Sarah interrompeu o russo. – Você entraria numa fazenda sem saber o que esperar depois de ter levado tiro na outra se não estivesse realmente fodido? Eu não.
Armando parou para pensar. – Mas não temos como alojá-los.
-Podemos dizer isso pra eles. Mas podemos dar água, porra. Podemos deixá-los ir ao banheiro, colocar roupas secas, comer um pouco antes de partir.
-Eles podem dormir na van. – Disse Marcelo. – Pelo menos é seco.
-É… Ok!
-Vocês estão fazendo merda! Eu teria metido é tiro nesses dois! – Disse Greg.
-Felizmente você é um brutamontes babaca que não decide nada. – Respondeu aninha.
-Paraíba masculina, muié macho sim sinhô…- Cantou o lutador, para irritar Aninha.
Armando abriu a porta e os dois homens dos cavalos não estavam mais na varanda.
-Ué!
-Foram embora. Alá! – Disse Marcelo, apontando.
De fato, os dois estavam indo na direção da porteira.
-Opa. Vazaram. Deixa quieto, cara! – Disse Greg.
-Tá vendo? -Olha aí o que dá desconfiar de gente de bem. Os caras foram até embora.
-Será que ouviram o que dissemos?
-Eeeeeei! Eeeeeei! – Gritou Armando.
Os homens pararam os cavalos e olharam para trás. Armando fez sinal com as mãos para que voltassem.
Os dois voltaram correndo com os cavalos.
-Desculpem, não queríamos incomodar. Provocar desavenças. Está se vendo que são pessoas de bom coração. E não sabem quem somos. – Disse o velho com seu chapéu de couro, cheio de água.
-A gente briga por tudo mesmo. – Disse Armando. Não é por causa de vocês.
-Olha, conversamos e não temos mesmo lugar para hospedar vocês na casa, mas vocês podem dormir ali no carro. – Disse Sarah apontando o veículo sob a árvore, perto do final da varanda.
-Agradecido! Qualquer lugar seco está bom! – Disse o velho.
-Estou com medo de apodrecer! – Falou o rapaz.
-Vocês podem tomar um banho e colocar roupas secas. Podem jantar com a gente na casa. – Disse armando.
-Tem telefone aí? – Perguntou o jovem.
-Não… – Respondeu Greg. – Estamos incomunicáveis.
Marcelo olhou de rabo de olho para o russo. Vladmir sussurrou: – E o burro sempre falando demais.
-Temos café. Estão servidos? – Perguntou Aninha.
-Sim senhora!
-Meu reino por um copo de café! – Exclamou o rapaz, descendo do cavalo. Ele ajudou o velho a descer do outro cavalo. E enquanto o homem se esticava, gemendo bastante, o rapaz amarrou os dois cavalos na mangueira perto da Van.
-Muito prazer! – Disse o velho, apertando a mão de Armando.
-Seja bem vindo!
-Obrigado irmão! Antônio Carlos, Satisfação!
-Prazer! – Disse Marcelo, notando como o homem tinha um aperto de mão forte e decidido. Ele olhava as pessoas nos olhos e por uma fração de segundo era como se ele conseguisse enxergar através da pessoa. Era um olhar penetrante, invasivo, assustador.
-Olá, eu sou o Reginaldo, seu escravo. – Disse o jovem à Sarah.
-Oi, eu sou a Sarah e essa é a Aninha, minha amiga.
-Desculpe, eu nunca tinha visto ninguém de cabelo azul. Gostei. – Falou o rapaz.
-Vamos entrando, por favor!
Os dois se livraram das mochilas, deixando-as na varanda, junto à porta.
Os dois homens entraram. Enquanto Reginaldo se livrara do saco de lixo ainda na varanda, o velho olhava a casa toda, vasculhando com atenção cada detalhe do interior.
-Bela casa. – Falou.
-Era do meu tio. – Respondeu Armando. – Está caindo aos pedaços, viemos aqui para fazer um estudo de reforma, mas acabamos presos pela tempestade.
-Meu filho, aqui ela foi bem branda até. Tem lugar lá pra cima na serra que morreu gente que não acaba mais. Disse na rádio que foi a pior chuva nos últimos 70 anos.
-Vocês tem rádio? – Perguntou Greg.
-Não… Lá na serra, anteontem, passamos numa casa que tinha um radioamador. – Disse o Jovem Reginaldo.
-Queria usar o banheiro, se não for incômodo. – Disse Antônio Carlos.
-Pois não. É bem aqui no final da cozinha. – Disse Armando, mostrando a porta ao lado da do quartinho.
Sarah pegou um copo de geleia e encheu com café. Entregou a Reginaldo.
-Obrigado, senhora. – Disse ele, sofregamente, antes de virar o copo de café quente guela abaixo.
Antônio Carlos saiu do banheiro rapidamente. Foi até a sala. Então Reginaldo foi ao banheiro.
-Talvez o senhor queira tomar um banho… Mas só tem banho frio. – Disse Sarah.
-Não se preocupe, senhora. Eu tô acostumado com água fria! – Disse o velho, indo até a porta e pegando a mochila.
Marcelo notou que o homem não tirava os olhos das pernas bem torneadas da bailarina.
-Eu vou lhe mostrar onde é o banheiro que tem chuveiro. É aqui em cima… – Falou Sarah, apontando a escada.
-Pode deixar, Sarah. Deixa que eu levo ele. – Disse Marcelo, entrando na frente da moça. – Venham por aqui, senhores.
Marcelo subiu com os dois, deixando os amigos na sala. Armando e Aninha foram ver o almoço da galera. Vladmir, Sarah e Greg começaram a limpar a lama da sala.
No segundo andar, Marcelo levou os homens até o quarto dele.
-Só cuidado que costuma sair lacraia aí no ralo.
-Garoto, se a lacraia sentir o cheiro do meu chulé ela morre na hora! – Riu Antônio Carlos, tirando a bota molhada e revelando um pé horrendo, branco, todo rachado e enrugado devido à longa exposição à umidade.
-Vai lacraia, vai lacraia! – Cantou Reginaldo.
-Sabe, mais um dia nessa toada e eu acho que ia ter problemas de circulação… Olha o estado nas minhas pernas! – Disse o velho, sentando na cama e levantando a calça. A perna dele era um emaranhado nojento de veias azuis e varizes numa carne mais pálida que a do Michael Jackson.
-Cruzes… – Disse Marcelo. – Por favor, não sente molhado na cama!
-Oh… Perdão, perdão, meu amiguinho! – Antônio Carlos Desculpou-se.
-Bom… Vou tomar um banho então. – Disse ele, entrando no banheiro da suíte.
Marcelo sentou-se no chão, perto da porta do quarto. Os olhos fixos no rapaz. Os dois não falaram nada. Se olharam rapidamente e Reginaldo abriu a mochila e depois de três bolsas achou um maço de cigarros de baixa qualidade. Era o mais fedido. Ele acendeu com um isqueiro caro.
Marcelo recusou o cigarro ofertado por Reginaldo.
-Não, eu não fumo.
-Faz você muito bem! Essa merda é uma praga.
-Então… Quer dizer que estão na estrada há muito tempo?
-Sim… Há pelo menos uma semana antes da frente fria chegar e se instalar. Estamos atravessando a serra.
-Vocês dois devem ter muita história pra contar não é?
-O que quer dizer com isso? – Perguntou Reginaldo, com uma expressão estranha. Parecia preocupado.
-Tipo… Dois caras, num temporal desses, descendo uma serra…
-Ah, sim. É foda, viu meu amigo? Cada aperto que a gente passa na vida… Mas com Jesus no coração tudo dá certo.
-Pois é… – Disse Marcelo. Voltando a ficar em silêncio. Aquele silêncio perdurou por uns bons cinco minutos. Até que Reginaldo levantou-se e foi até a porta do banheiro. Deu dois socões:
-Vaaamos Acê! É pra hoje, porra!
-Tô acabando! – Gritou o homem la de dentro.
-Vai acabar com a água, desgraçado!
Marcelo estava quieto e manteve a mesma posição, olhando as gotas da chuva escorrer da janela. Sua mente fervilhava, tentando se lembrar de onde tinha visto o rosto do velho. Subitamente, uma ideia lhe invadiu o pensamento: “Quantos filhos chamam o pai de Acê e de desgraçado?”
-Talvez seja filho de criação…- Pensou.
Finalmente Antônio Carlos saiu do banheiro, metido numa roupa quadriculada preto e vermelha, e uma calça jeans surrada, que mais parecia uma fantasia de festa junina.
-Finalmente, hein Acê? Quase fumei o maço todo te esperando! – Disse o rapaz, pegando a mochila no pé da cama. Ele colocou a bolsa no colo e retirou um saco com roupas secas. Fechou a mochila de brim, recolocou junto ao pé da cama e entrou no banheiro. – Porra, Acê! Tu ainda cagou? – Disse Reginaldo farejando o ar.
O tal Antônio Carlos começou a rir. – Fiquei com vergonha de cagar lá em baixo por causa das meninas. – Disse.
-Você morreu, francamente, Acê!- Reginaldo abanava a porta do banheiro de um lado para o outro, tentando fazer o cheiro de merda sair.
-Amiguinho, depois vou te pedir a gentileza de me emprestar um saco qualquer pra eu guardar minha roupa suja.
-Sem problemas, seu Antônio Carlos. – Respondeu Marcelo, do chão.
Marcelo estava disfarçando, olhando para o homem como que decorando cada trejeito, cada modo de falar. Algo não parecia certo ali, mas ele não sabia direito o quê. O tal Antônio Carlos abriu a mochila para pegar perfume e por uma fração de segundo, Marcelo viu passar o cabo de uma arma.
-Puta que pariu! – Pensou.
Antônio Carlos tirou um vidro de perfume da bolsa e passou no pescoço. Fedia, era um perfume barato, de quinta categoria!
-Agora sim! -Disse ele, cheirando o pulso. – Tô mais apresentável. Ele pegou a toalha e secou os cabelos grisalhos, quase totalmente brancos. – Depois de dias num cavalo, tudo que você quer e um banho… E depois dele, uma cama… E depois dela, um leitão à pururuca com uma pinguinha! – Disse sorrindo.
Marcelo não deixou de notar o dente de ouro de Antônio Carlos.
-Almoçooooo! – Gritou alguém lá em baixo.
-Bora moleque! -Gritou Antônio Carlos, batendo na porta do banheiro.
-Já vô, porra! – Respondeu o rapaz.
-E aí? Vamos descer ou não vamos, meu amiguinho? – Perguntou o velho de camisa xadrez.
-Pode ir descendo. Eu vou ficar aqui para ajudar o seu filho, caso precise de alguma coisa. – respondeu Marcelo.
O homem olhou pra ele com uma expressão estranha. O velho tinha sido muito castigado pelo sol. A pele queimada e cheia de rugas era toda cheia de vincos, como uma roupa molhada que seca embolada. O rosto maltratado e a barba branca pontilhando a face davam a ele a expressão de um bandido de filme de bang-bang.
-Ok então! – Disse ele, saindo na direção das escadas. Então voltou. Passou olhando nos olhos de Marcelo com a expressão séria, pegou a mochila no chão e desceu.
Lá em baixo o pessoal falava alto e ria.
-Nossa! Quem melhora! – Alguém falou. – Cherôôôso…
-Que tal um aperitivo?
-Tem pinga? – Perguntou o velho.
Após ouvir o Antônio Carlos conversando lá na sala, Marcelo viu a oportunidade para saltar sobre a mochila do rapaz. Primeiro fechou a porta do quarto, depois, guiou-se pelo som da água do banho. Ele sabia que teria pouco tempo.
Abriu o ziper e começou a fuçar. Tinha de tudo ali dentro, mas como a maioria das coisas estavam em sacos plásticos amarrados com nós, não havia muito o que fazer. Marcelo se sentiu mal por fuçar a mochila de alguém desconhecido. Mas o medo e a adrenalina falavam mais alto. Ele foi passando pilhas de roupas dobradas, camisas, calças, camisetas. Então achou uma cartucheira de couro vazia. Não havia arma, mas havia algo ainda mais estranho, um saco preto de veludo fechado com um cordame preto. Marcelo puxou a boca do saco e ali dentro brilhou um bolo de colares de ouro e notas de dólar. Havia um relógio grosso e pesado. Marcelo puxou o relógio. Era um Tag Heuer de pelo menos trinta mil reais. Nisso o sujeito fechou o chuveiro. Marcelo se desesperou e deixou o relógio cair no chão. Fez um barulhão.
-Acê? Acê? – O sujeito começou a chamar dentro do banheiro.
Marcelo estava todo atrapalhado. O relógio estava agarrado no cordame, não queria entrar no saco de joias e dinheiro. Marcelo socou aquela merda de qualquer jeito enquanto ouvia o sujeito se mexendo dentro do banheiro.
-Vai, porra! Vai! – Pensava, desesperado, enquanto recolocava tudo na mochila. Ele colocou a mesma no chão e pulou na direção da janela.
A porta do banheiro se abriu.
-Ué? Cadê o Acê? – Perguntou Reginaldo, com a toalha na cintura.
Marcelo estava agarrado com o trinco da porta, fingindo que estava fechando.
Reginaldo olhou a mochila, caída no chão. Foi até Marcelo.
-Deu problema aí? – Perguntou.
-Pois é… O trinco não ta fechando direito. Bate um vento e ela começa a bater. – Disse, tentando disfarçar que engoliu em seco e estava com a respiração ofegante.
-Quer ajuda?
-Não… Acho que já fechou. – Disse Marcelo, sem tirar os olhos da janela.
O rapaz foi até o banheiro e pegou a roupa que estava empilhada dentro do vaso. Marcelo encostou-se na janela. O sujeito foi até a cama, tirou a toalha e ficou pelado no meio do quarto. Jogou a toalha molhada sobre a cama. Ele era coberto de tatuagens. Marcelo viu um palhaço sinistro armado com dois revolveres no braço dele, e uma teia de aranha enorme tatuada no ombro do outro lado. Nas costas, a figura de uma morte empunhando uma foice.
-Tu curte tatuagem né?
-Pois é. Respondeu Reginaldo, laconicamente.
O rapaz colocou a roupa, uma camisa social branca. Meteu as pernas numa calça jeans escura.
-Tu não usa cueca, véio?
-Não, cara. Cueca me aperta. Não sei viver sem cueca! Existe vida após a cueca! – Respondeu sorrindo.
Fisicamente, Reginaldo não era forte como Greg, que parecia um urso, mas era bem musculoso, com um corpo sarado de quem malha.
-Tu malha?
-Calmaí. Tu é viado?
-Viado? Hahaha tá louco?
-Ah, tá… É que cê tá aí me olhando… Sabe como é. Esse papo de tatauagens… Parece cantada de bicha. – Disse ele, vestindo uma camiseta branca.
-Não, pô! Eu sou… Quer dizer, eu era namorado daquela lourinha lá de baixo.
-Ah, to ligado. Bom gosto!
-É. – Disse Marcelo.
-Teu. Porque dela… Vou te contar! – Riu o cara.
Marcelo viu quando o sujeito desembrulhou uma pistola 9mm de dentro de um casaco de moletom. Ele se esforçou para disfarçar com o corpo e colocou a arma na cintura na frente da barriga. Em seguida, vestiu o moletom por cima.
-Vamos rangar? – Perguntou Marcelo, tentando fingir que olhava pela janela. Lá em baixo, os cavalos estavam amarrados na árvore, com as cabeças baixas, comendo a grama do jardim. Os cavalos tinham varias bolsas de couro presas a eles.
-O que será que tem nelas? – Pensou Marcelo.
Reginaldo já estava saindo do quarto, e Marcelo o seguiu. Desceram na hora em que todos se sentavam à mesa. Antônio Carlos elogiava a pinga envelhecida em barril de carvalho.
-Praticamente um uísque! – Disse, sorrindo com o dentão de ouro.
Como a mesa só dava lugar para seis, Greg e Armando estavam sentados no sofá com o prato na mão.
-Macarrão de novo? – Perguntou Marcelo ao ver o talharim com salsicha sobre a mesa. Na outra ponta a caçarola com vários bifes e uma panela de arroz.
-A comida tá acabando! – Disse Aninha.
-Saudade de comer feijão. Disse Greg, lá do sofá.
-Ainda bem que não tem feijão. – Disse o velho, se servindo de uma porção tão generosa de macarrão que formou quase um Everest no prato. – Quando eu como feijão fico peidando sem parar!
As meninas e entreolharam com aboca cheia de comida. Sarah se segurou para não rir.
Reginaldo também encheu o prato de macarrão com salsicha e não se fez de rogado ao escolher o maior bife, com uma camada grossa de gordura com quase um dedo na lateral.
-Sabe quanto tempo que eu não como uma carne assim? Nem lembro quando foi a última vez. – Disse ele, ao pescar a carne que saiu pingando sangue pela mesa, até mergulhar na cama de macarrão com salsichas no prato dele.
-Um brinde aos nossos novos amiguinhos! – Disse o velho, erguendo a tulipa cheia de cachaça amarela até a metade.
-Salve!
-Saúde!
-Que a chuva pare!
-Que o tesão nunca passe para o cu! – Gritou Greg.
Todos começaram a rir.
O almoço transcorreu sem problemas, apesar dos olhares de Marcelo para Armando. Marcelo mastigava a deliciosa carne pensando nos riscos de estar com dois estranhos armados dentro da casa deles. Certamente que eles só podiam ser bandidos, com o produto de algum roubo nas bolsas.
Aninha trouxe para a sobremesa uma lata de pêssegos em calda.
-Quer dizer que vocês estão usando o gerador só pra geladeira? – Perguntou Reginaldo, ouvindo o motor irritante que se ligava de tempos em tempos.
-Sim. É que trouxemos muita carne. O plano original era fazer churrasco todas as noites, mas acabamos num esquema de racionamento. – Respondeu Armando.
-Hummm. Sei. Bem pensado. – Disse o rapaz. Em seguida, enfiou o pêssego inteiro na boca.
-Então… No que vocês trabalham? – Perguntou Marcelo, tentando expor um pouco mais os dois visitantes misteriosos.
-Eu sou motorista de caminhão… Quer dizer, eu era, até ano passado, quando roubaram o meu caminhão. Aí me aposentei, comprei umas terrinhas no alto da serra pra plantar aipim. Com a chuva desabou tudo. pegamos as roupas enfiamos na mochila e saímos com os cavalos. – Disse Antônio Carlos.
-Nosso plano era plantar cebola, mas com a chuva, foi tudo por água abaixo.
-Que triste! – Disse Sarah.
-E vocês? Qual a história aqui dessa fazenda? – Perguntou Reginaldo.
Armando ia responder, mas Greg entrou de sola.
-Nós estudávamos juntos… Quer dizer, só eu que não. Eu era amigo do Armando da academia, onde a gente treina. Sou vice campeão estadual de MMA. Aí o tio do Armando ali morreu. Ele herdou a propriedade, que é uma fazenda da família dele. Esse cara é maior ricaço. Neguinho nem lembrava que tinha essa fazenda aqui. Aí ele trouxe a gente, porque está pensando em fazer um spa para milionários… Ago assim, né cara? – Disse Greg.
Os dois homens se entreolharam de um modo peculiar. Mas só Marcelo percebeu.
Marcelo teve ódio do Greg-boca-grande.
-E por que seu cabelo é azul, moça? – Perguntou o velho, olhando nos olhos de Aninha.
-Porque eu pintei, ué. -Disse ela. Aninha não gostava de piadas com o cabelo dela, apesar de estar acostumada com as provocações de Greg.
Depois do fora, o velho virou-se para Greg.
-Quer dizer então que você luta né?
-Pois é. Luto MMA.
-É tipo Box? Tipo o Eder Jofre?
-Quem?
-Éder Jofre.
-Esse eu não conheço.
-Não repara não, que ele é forte mas é meio burro! – Riu Sarah.
-E o senhor não repara não, que ela é assim gostosa e é a maior putinha! – Respondeu o lutador do mesmo jeito.
-Porra Greg! – Disse Armando se levantando.
-Deixa, Armando. Esse cara é um babaca mesmo. Cês estão vendo, né? – Disse Sarah.
O velho baixou os olhos. O rapaz sentado à mesa disse:
-Não se fala assim com uma dama, meu amigo. Mesmo que ela seja isso aí que você disse. A gente não diz.
-Liga não. Ele é sempre assim. – Disse o russo.
-Cala a boca aí, balofo! Alá! O rapaz quer te comer! Vai lá, Sarah! – Disse Greg, apontando para Reginaldo.
-Aí mermão! Chega. – Disse Reginaldo, em tom autoritário lá da mesa. E ficou em pé.
Marcelo não tirava os olhos dele.
-Que foi, rapá. Não gostou? – Disse Greg, se levantando. – Vem pra dentro que eu te arregaço!
-Ei! Greg! Porra! Cadê tua educação? Visitas cara! Visitas! – Gritou Armando.
Marcelo, quieto em seu canto, só observava a cena, com os olhos fixos nos visitantes. Ele viu quando o velho, sentado no sofá olhou bem dentro dos olhos do tal Reginaldo e discretamente fez um sinal de negativo. Imediatamente o tal Reginaldo se sentou e ficou na dele. Baixou a cabeça e continuou a comer sua sobremesa.
Deu um vácuo de uns dez segundos onde ninguém dizia nada.
Armando quebrou o gelo pedindo desculpas pelo mal jeito. – Sabe como é… Estamos presos aqui. Os nervos vão pra casa do caralho.
-Foi Mal aí todo mundo. – Disse Greg, sentando-se no sofá.
-O cara é lutador mesmo. É esquentado! – Riu o tal Antônio Carlos.
-Ele é meio igual o Hulk. – Falou Vladmir Obrushev, com a cara enfiada no livro. Virou-se para Aninha, que estava afinando o violão. – Vai rolar um som?
-Pode ser… Mais tarde. Agora tô só afinando.
-Cê toca?
-Toco guitarra e violão. Mas também um pouco de bateria. – Ela disse, ajustando as cordas.
-Eu toquei violão na juventude. Era viola pantaneira. – Disse Antônio Carlos.
-O senhor conhece o Pantanal? – Perguntou Marcelo.
-Sim… Sou lá de Campo Grande. Conheço Pantanal como a palma da minha mão.
-É muito lindo lá. Disse Sarah.
-Sim… terra boa… Comida boa, musica boa. Muita natureza e lendas.
-A gente via essas coisas na novela Pantanal. Aquela da Juma…- Disse a bailarina.
-A mulher que vira onça é uma lenda de lá mesmo. Mas eu não vi essa novela porque quando passou eu trabalhava na estrada, levando soja de um lado pra outro. – Falou o velho.
-E sucuri? Tem mesmo?
-Tão grandes que comem fácil um menino de uns dez anos. – Disse o velho, estendendo o copo vazio para Armando. – Mais um traguinho?
Armando se levantou e foi até a cozinha.
-A comida tava boa. – Falou o rapaz, saindo de perto da escada. Ele veio até onde estava aninha e sentou-se d lado da moça do cabelo azul.
-Quer ajuda pra afinar, gatinha?
Aninha sorriu pra ele. – Cê sabe?
-Também toco guitarra. – Disse ele.
-Sério? EU nunca adivinharia. Cê não tem cara de guitarrista.
-Todo mundo dizia isso. Até a galera da minha banda. Mas dizem isso só até me verem com uma Gibson na mão…
-Tu curte a Gibson? – Perguntou Aninha.
-Curto muito.
-Dizem que é a melhor que tem… Mas sei lá. – Respondeu a moça.
-A Gibson não é a melhor marca de todas. A Gibson é uma das grandes marcas, mas não é melhor do que uma Fender por exemplo, nem pior, é diferente,a Gibson fabrica Les Paul de altíssima qualidade e não fabrica strato, Fender fabrica strato de altíssima qualidade e não fabrica Les Paul…. é questão de gosto.
-Gosto e habilidade. -Disse ela.
-Só de olhar pra você, sei que “tu vai” tocar bem o que quiser. – Ele disse.
A roqueira riu, meio encabulada.
-Meu, nem tenta, que essa aí curte é colar o velcro! – Disse Greg.
-Ah, gente… O Greg tá foda. – Disse Armando. – Por favor, amigos, não reparem. – Greg, chega aqui na cozinha. Vamos conversar!
-Ele é sempre assim? – Perguntou o velho.
-Assim como?- Perguntou Greg, se levantando do sofá. Parou ameaçadoramente diante do velho. Com as mãos na cintura, na pose do Super-Homem.
-Assim… Um babaca?
Greg agarrou o velho pelo colarinho e levantou no ar: – O quê? Repete o que você disse, velho escroto!
Antônio Carlos sorriu e seu dente de ouro brilhou. – Que isso, amiguinho. Tá nervoso assim por que?
Todos se assustaram ao ouvir um “click”.
O cano da arma encostou na nuca de Greg. – Vai com calma, Hulk! – Disse o rapaz. Todos estavam atordoados, menos Marcelo, que olhava tudo da mesa, quase que podendo prever que aquilo iria acabar acontecendo.
Armando chegou segurando o copo de pinga e ficou parado como uma estátua no meio da sala. Todos estavam assim.
-Agora você vai soltar o Acê devagarzinho, tudo bem, Hulk. Não quero puxar o gatilho… Mas não vou evitar isso, até porque estou colecionando orelhas de babacas e essa sua orelha escrota seria uma novidade na minha coleção.
-Calma, moço! Calma. – Disse Sarah.
-Eu tô calmo. Eu tô calmíssimo! – Respondeu Reginaldo, segurando a arma contra a nuca do gigante. – Anda logo, babaca, que eu tô começando a sentir uma coceira no dedo.
-Acho melhor você fazer o que o menino tá falando. Ele mata mesmo! – Disse Antônio Carlos, ainda suspenso pelo colarinho.
-Greg estava tremendo. Parecia que ia explodir.
-Faz o que ele tá dizendo, Greg! – Disse Armando.
Vladmir lentamente fechou o livro e o colocou no sofá.
Greg olhou para os amigos, e então lentamente sentou o velho na poltrona de couro.
-Muito bem.
-Calma, gente! Calma! – Disse Marcelo, lá da mesa.
O sujeito não baixou a arma. Continuou com ela na nuca de Greg.
-Estamos todos calmos. Super calmos. E é assim que vamos ficar, né amiguinhos? – Disse o Velho, se levantando da poltrona.
-O único nervoso aqui é seu amigo fortão aí. – Disse Reginaldo.
O velho meteu a mão na cintura e debaixo da camisa, tirou um revólver 38.
-Que isso? Que isso, meu senhor? – Perguntou Armando, assustado.
-É um assalto, não tá vendo cara? – Disse Marcelo.
-Ei… Esse garoto vai longe! – Disse o velho sorrindo, enquanto apontava o cano da arma na direção de Marcelo Nareba.
Marcelo levantou os braços.
-Senta ali, grandão. – Disse Reginaldo.
Greg obedeceu em silêncio.
O medo estava estampado em todos os olhares. Marcelo sabia que o maior medo de todos ali é que Greg estourasse, tentasse reagir. Os homens pareciam dispostos a atirar. Numa fração de segundo Marcelo se lembrou da fisionomia enrugada do velho. Ele tinha visto aquele homem numa foto da polícia no jornal. Era parte de uma quadrilha de roubo de carga, que havia fugido da penitenciária um ano antes.
-Então aquele papo todo de motorista de caminhão… Era tudo conversa.
-Tudo papo furado, garoto. – Reconheceu o velho.
-A culpa é sua, biscate! Olha aí sua “caridade cristã”. – Disse Greg, olhando com raiva para Sarah, que só fazia chorar.
-Quer morrer, troglodita? Se quer fala logo que eu resolvo! – Gritou Reginaldo, apontando a arma para a cara do Greg.
-A gente não tem dinheiro , nem nada de valor! – Disse Armando.
-Senta ali, amiguinho! Vamos jogar um jogo bem divertido…- Antônio Carlos apontou o sofá com a arma. Silenciosamente, Armando atravessou a sala, ainda com o copo de pinga na mão e sentou-se no sofá. O mesmo fez Marcelo.
Agora estavam todos sentados no sofá e poltronas, ao redor da antiquada mesa de centro. Somente os dois bandidos estavam de pé, com as armas na mão.
-Muito bem… Vamos começar a rodada de perguntas de praxe. Não preciso dizer que conto com a sinceridade de todos vocês para que possamos ir embora. A primeira pergunta é: è verdade que vocês não tem comunicação?
-É sim senhor. Disse Armando. Nenhum celular nessa área está funcionando. Tentamos montar a antena do radioamador do meu tio para amplificar o sinal do celular, mas estava caindo raios… E nem sabíamos se ia dar certo.
-Radio amador?
-Sim, mas e-e-ele pi-pifou. -Disse Vladmir Obrushev, com medo, sem tirar os olhos da arma.
-Dá pra parar de chorar? – Perguntou o velho para Sarah, que tampava o rosto com as mãos. Sarah começou a soluçar compulsivamente e foi abraçada por Aninha, que se mantinha forte.
-Shhh. Calma. Já vai acabar. – Sussurrou Aninha.
-Melhor assim, disse o velho. Agora vamos para a segunda pergunta, valendo uma vida! Cadê o dinheiro e as jóias?
-Dinheiro? Jóias?
-Tá surdo?
-Não temos. A casa estava fechada há cinco anos. Olha ao redor, moço. Ela tá caindo aos pedaços. É só uma casa de fazenda. Tava abandonada! Viemos aqui fazer churrasco. Pode pegar o que quiser, mas dinheiro ou jóias nós não temos.- Disse Armando.
-Não era isso que eu queria ouvir! – Disse Antônio Carlos, dando um tiro na parede, bem ao lado da cabeça de Armando. Todos deram um pulo de medo. Sarah recomeçou a chorar desesperadamente.
-Shhhh! Cala a boca, porra! Ô menina chata do caralho! Irritante esse choro teu! Vou perguntar de novo! Cadê o dinheiro, porra?
Armando não disse nada. Baixou a cabeça.
Vladmir olhava para o buraco na parede. Os dois não estavam brincando. Olhou para Marcelo. Marcelo estava com uma cara de preocupação e medo. Não parava de olhar para eles.
-Que é? – Perguntou Reginaldo. Imediatamente Vladmir baixou a cabeça.
-Acê… O gordinho! O gordinho sabe de alguma coisa! – Disse Reginaldo, apontando a arma para Vladmir.
-Eu não sei de nada não senhor!
O velho foi até ele.
-Tá bom, chupeta de baleia. Vamos ser legais com você. Quero saber o que tem de valor nessa porra de casa.
Vladmir hesitou.
-Vai falar ou não vai, porra?
-Tenho cem reais na mochila, senhor. E meu celular vale uns dois mil. Tem os celulares da galera também, mas os que ainda tem bateria, não funcionam… – Disse o Russo.
O velho começou a rir.
-Vocês estão de gozação? Cem reais? Cem reais???
-Vamos matar eles todos e ir embora, Acê! – Disse Reginaldo.
-Calma, rapaz. Eles vão falar. Não vão? Vai… Fala Gordinho. O fortão ali falou que seu amigo ali é rico. Então se é rico, trem que ter dinheiro.
Marcelo estava vendo a coisa se complicar. Ele sabia que não demoraria, alguém iria entregar que eles tinham um Geodo que valia uma boa grana escondido no quartinho.
Todos os amigos estavam se entreolhando. Ninguém dizia nada, mas a troca de olhares funcionava quase como uma telepatia.
-Tá. Ninguém quer falar. – Disse o velho. – É isso?
-Não temos dinheiro, senhor. Somos estudantes! – Disse Armando, tomando um gole da pinga.
-Resposta errada, Amiguinho!- Disse o velho, apontando a arma para ele.
O velho atirou. E dessa vez não foi na parede. Um buraco estourou na testa de Armando, que tombou com um pedaço do crânio esfacelando no sofá no colo de Aninha. A menina começou a gritar quando pedaços de miolos quentes entornaram sobre suas pernas. Foi uma gritaria generalizada. Somente Reginaldo estava rindo.
-Não… Não… Por favor! Pelo amor de Deus! – Gritava Marcelo, com os olhos esbugalhados de pavor.
Sarah desmaiou, caindo do sofá.
-Ela desmaiou! – Disse Reginaldo, chutando a garota no chão.
-Tenham pi-pi-piedade da ge-gente! – Disse Vladmir, tremendo feito uma vara verde.
-Ok… Vamos dar uma vasculhada. Se eu não achar nada, o próximo da roleta de perguntas é o gordinho ali. Depois a gostosa do cabelo azul, a loura, o magrelo e então, para fechar com chave de ouro, o fortão. – Falou o velho. – Mas antes, vamos passar uma boa noite, vamos comer a comida de vocês e vamos nos divertir com as gatinhas. Sabe quantos meses não me deito com uma mulher? – Ele fez sinal para Reginaldo, que subiu as escadas correndo.
Havia somente um tenebroso silêncio. Aninha empurrou o corpo ainda quente de Armando, que caiu pesadamente no tapete. Uma grossa poça de sangue se derramou pelas tábuas de pinho de riga da sala antiga. Em alguns pontos, o sangue se misturava à cachaça derramada.
Marcelo pediu para ajudar Sarah. O velho concordou. Marcelo pegou a menina e colocou-a deitada em seu colo. Acariciou seus cabelos louros. Ela estava fora do ar.
-Talvez seja melhor assim. – Pensou ele.
Passaram-se intermináveis minutos em que os amigos apenas se entreolhavam com os olhos esbugalhados. Lá em cima, o som de armários sendo virados e gavetas vasculhadas sendo jogadas no chão. Aninha parecia estar em um estado de choque. Olhava reto, com os olhos azuis perdidos em direção a escada.
Lá fora a chuva continuava a cair. Raios estouraram ao longe, tornando aquela espera pela morte ainda mais dramática. Insuportável. Marcelo buscava refúgio em suas memórias, nos bons momentos. Tinha vontade de chorar por Armando, mas simplesmente não conseguia. O coração batia disparado.
Quase meia hora se passou. Quando Reginaldo finalmente desceu, a resposta foi negativa.
-Nada?
-Nem mil reais! – Disse o jovem, com a arma na mão.
-Próximo defunto! – Disse o velho, apontando a arma na direção de Vladmir.
-Não! Não! Po-po-po-por favor! – Gritava ele.
-Vamos lá, gordinho.- Disse o Velho, engatilhando a arma.
Então Vladmir se mijou.
-Porra! Ele se mijou!
Do outro lado da sala, Reginaldo começou a rir.
-Não tem dignidade nem pra morrer, desgraçado? – Perguntou o velho.
-Eu conto onde estão os diamantes! – Gritou Marcelo.
O velho abaixou a arma na hora. Meteu a mão no bolso e pegou algumas balas. Começou a colocá-las uma a uma na arma. Então retomou as perguntas em outro tom. Mais manso e mais assustador que nunca:
-Eu sou meio surdo… Você disse… Diamantes?
-Eu ouvi diamantes.
Agora Vladmir, Aninha e Greg olhavam com espanto para Marcelo. Ele mesmo estava espantado com sua reação.
-Que diamantes? – Perguntou Greg.
Os dois bandidos olharam para Greg, olharam para o russo, olharam para Marcelo.
-Teus amigos não queriam que você contasse, né caveira?
-Eu-eu-eu-eu… – Dizia Marcelo Nareba, tentando ganhar tempo. Havia evitado o tiro em Vladmir, mas agora a atenção dos bandidos estavam sobre ele.
Então, um som de metal se fez ouvir na casa. Era um barulhão. E vinha do quartinho.
-Que isso?
-Tem mais alguém na casa! – Gritou o velho!
-Quem tá com vocês? – Perguntou Reginaldo.
Vladmir não disse nada, só moveu a cabeça negativamente.
Antônio Carlos viu quando Greg e Marcelo se entreolharam. Greg olhou na direção da cozinha.
-Tem alguém escondido, né? – Perguntou o velho segurando a arma.
-Pode sair com as mãos pra cima ou seus amigos vão morrer! – Gritou o velho, indo na direção da cozinha.
O velho foi até o banheirinho.
-Tá aí cabôco? – Ele perguntou, antes de dar dois tiros na porta. Cada tiro fazia os amigos pularem no sofá. Greg suava frio. Marcelo estava com o estômago embrulhado. Achou que ia vomitar.
Antônio Carlos abriu o banheirinho de supetão. Não havia nada, além de dois buracos de bala na caixa da descarga que agora faziam uma cachoeira sobre o vaso sanitário.
-Nada aqui! Então, o cagão que está escondido só pode estar aqui na dispensa! – Riu o velho armado.
-Que? Que foi isso? O que está acontecendo? – Perguntou Sarah, acordando no colo de Marcelo.
-Shhhh! Fica quieta.- Disse Nareba para a ex-namorada.
Sarah se sentou. Viu com horror o corpo de Armando com a cabeça estourada no chão. Ela tampou a boca e começou a chorar em silêncio.
Enquanto isso, na área de serviço anexa à cozinha, o Velho tentava abrir o quartinho.
-E aí? Achou ele? – Gritou Reginaldo.
-Ele se trancou. Mas tô ouvindo ele se mexendo lá dentro! – Gritou o velho.
-Moço… – Disse Sarah.
-Quieta, Sarah. – Marcelo tentou segurá-la.
-Fala loura! – Disse Reginaldo em pé, perto da cozinha.
-A chave… Tá no bolso dele! – Disse Sarah, apontando o corpo.
-Tá? Então pega.
Sarah levantou-se foi até Armando no chão. Ela precisou conter o impulso de vomitar. Meteu a mão no bolso da calça do amigo morto e tirou a chave.
-Acê! A chave tá aqui! – Gritou Reginaldo.
O velho voltou. Puxou Reginaldo de lado e sussurrou alguma coisa, olhando para Marcelo.
Reginaldo foi direto até Marcelo.
-Inclina pra frente! Vai porra! – Gritou, dando uma coronhada em Nareba.
-Ai! – Berrou o rapaz, sendo empurrado pelos cabelos para a frente. Reginaldo então meteu o pé na cabeça de Nareba, que se apoiava precariamente contra a mesa de centro. A arma foi colocada no ouvido dele. Os amigos temiam o pior.
-Agora fala! Quem é que está no quartinho?
-É nosso bicho de estimação! Ai! Ai! – Gemeu de dor quando Reginaldo apertou o cano gelado da arma contra sua orelha.
-Ele ta falando a verdade, moço. É um bichinho que… – Aninha tentou interromper.
-Cala a boca porra! Vocês só falam quando eu mando falar! – Gritou Reginaldo sem tirar a arma da cabeça de Marcelo.
-Meu colega está achando que tem um amigo de vocês armado lá dentro. E o que você me diz.
-Não tem!
-Aposta sua vida, moleque.
-A-aposfo fim fenhor. – Disse Marcelo, tentando falar o mais claramente que podia, enquanto suas bochechas eram esmagadas pela sola da bota de Reginaldo.
-Acê? Acê? – Gritou Reginaldo.
-Fala, porra! – O velho respondeu lá de dentro.
-Eles disseram que é um bicho de estimação.
-Pelo esporro que está fazendo é um macaco! – Respondeu o velho, tentando abrir a porta, mas a porta do quartinho era mesmo difícil de abrir. Só Armando tinha as manhas. -Essa merda de porta não tá abrindo. A chave ta estalando e não gira! – Gritou o velho lá de dentro.
-Por que a porta não tá abrindo, caveira? – Perguntou Reginaldo.
-Vofêz mafaram o únifo fara fe fonfeguia abrir! Ai!…Ai! – Gemeu Marcelo com o pé esmagando seu rosto contra a mesa de centro.
O bandido tirou o pé da cabeça dele, e Marcelo finalmente pôde respirar. Ele ouvir o tal Reginaldo gritar:
-Acê… O caveira disse que tu matou o maluco que sabia abrir! – Berrou Reginaldo.
-Merda. – Disse ele.
Em seguida, todos na sala ouviram dois tiros.
-Que isso, Antônio Carlos? – Berrou o rapaz na sala.
-Estou abrindo essa porra do meu jeito! – Respondeu o velho, antes de dar mais um tiro e meter o pé na porta.
Cada tiro fazia os rapazes pular nas cadeiras. Na sala, todos os amigos se entreolhavam, petrificados. Mortos de medo. Sarah estava rezando em silêncio. Ela tinha os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Greg piscava os olhos insistentemente, num tique nervoso que já beirava o descontrole. Vladmir tremia, sem tirar os olhos do Reginaldo. Aninha parecia uma estátua, rígida, olhando para o nada. Marcelo se perguntou o que a moça do cabelo azul estaria pensando…O próprio Marcelo estava com as mãos juntas e os dedos entrelaçados. Ele apertava os dedos quase ao ponto de quebrá-los.
-Quando a porta do quartinho cedeu diante dos chutes do velho, todos na sala ouviram quando ele gritou.
Era um grito de pavor. E então começaram os tiros. Dois, Três… Quatro.
-Acê? Acê? – Gritou Reginaldo. – Quem se mexer, morre! – Disse ele.
Antônio Carlos não respondia. Reginaldo foi até a cozinha. Viu o pé do comparsa caído para fora do quartinho. Estava se mexendo.
-Acê? Acê? O que foi, cara? – Ele chegou até a porta do quartinho e o que viu o atordoou. Antônio Carlos estava com metade do corpo sendo derretida em uma poça azeda. Seu pescoço estava sendo comido com sofreguidão por um bicho com mais de um metro e meio, cheio de pernas e uma carapaça segmentada alaranjada que parecia com a de um grande lagostim.
-Puta que pariu! Que diabo é isso? – Gritou Reginaldo. Seu grito atraiu a atenção da criatura, que emitiu um barulho parecido com uns estalos. A criatura disparou para cima dele, passando por cima do cadáver de Antônio Carlos.
Na sala, os jovens se desesperaram ao ver Reginaldo pálido, desesperado, correndo em direção às escadas.
Imediatamente atrás dele veio o Ganzu. O espanto deu lugar ao pânico no segundo seguinte. O Ganzu que poucas horas antes não chegava a meio metro já tinha o tamanho de um homem adulto deitado. A criatura estava perseguindo Reginaldo, que subindo a escada disparou contra ela. Um dos tiros acertou uma das pernas da criatura, que esguichou uma gosma transparente. A criatura pareceu ficar ainda mais insana e frenética, soltou um grunhido e deu um pinote, subindo os degraus, enquanto Reginaldo se esforçava para mirar.
-Morre! Morre centopeia do inferno! – Gritou, atirando sem parar, mas errou quase todos os tiros, porque o Ganzu se mexia e contorcia o corpo sem parar. Vendo que o bicho vinha pra cima dele, Reginaldo pulou do alto da escada. Caiu deitado sobre a mesa da sala. Os jovens subiram no sofá, com medo.
Reginaldo saltou da mesa, enquanto o Ganzu descia as escadas.
Ele correu para a direção do sofá. Foi uma gritaria. Aninha e Sarah estavam berrando sem parar. Reginaldo subiu na mesa de centro. O Ganzu começou a andar de um lado para o outro pela sala.
-Shhh! – Marcelo fez sinal, colocando o dedo na frente da boca.
Todos agora estavam mudos. O Ganzu andou pela sala, e parou no corpo de Armando. Ali o bicho começou a fazer uns espasmos e vomitou um liquido malcheiroso e azedo sobre o corpo, que imediatamente começou a se liquefazer.
-Ácido! – Disse Vladmir, somente mexendo a boca, sem emitir som. O russo estava em pé do alto da poltrona, equilibrando-se precariamente.
-Que porra é essa? – Sussurrou Reginaldo, apontando a arma para Marcelo.
-Não sei! Achei essa porra lá fora! Mas era pequeno. – Marcelo sussurrou de volta.
Greg suava em bicas. Piscando os olhos freneticamente. Aninha tinha agarrado o violão e estava com o instrumento levantado no ar, pronta para desferir um golpe com o mesmo. Sarah estava sobre o encosto do sofá, equilibrando-se em desespero, num espaço ínfimo entre o móvel e a parede.
Marcelo olhou para os amigos e fez sinal para que ninguém se mexesse.
O Ganzu ficou ali um tempo, se alimentando do cadáver de Armando. A gosma secretada rapidamente dissolveu uma boa parte do corpo. Até os ossos iam se desmanchando rapidamente. O animal então sorvia aquele liquido gosmento e fétido.
O Ganzu largou o corpo, e deu uma volta pela sala. Parecia estar farejando o ar. De vez em quando ele parava e dava uns espasmos. Soltava uns estalos no ar.
Marcelo e Vladmir se entreolharam. Vladmir moveu a boca, mas Marcelo não entendeu o que ele quis dizer.
O Russo então juntou as mãos e formou a imagem de uma ave. Sua boca formava a palavra “morcego”.
Marcelo entendeu que o amigo estava sugerindo que o bicho enxergava por meio daqueles estalos. Por estarem sobre o sofá, eles estavam fora do alcance do radar do Ganzu e por isso ainda não tinham sido comidos.
O Ganzu continuou a andar. Sempre sob a mira da arma de Reginaldo, que tremia como uma vara verde.
O bicho lentamente foi saindo, voltando para a cozinha.
Reginaldo voltou a apontar a arma para os jovens. Não disse nada. Apenas apontava a arma, cada hora para um. Aninha espremeu os olhos com força, esperando pelo tiro, mas ele não veio.
Reginaldo baixou a arma. Meteu a mão nos bolsos, tentando achar alguma coisa. Depois de um tempo, Ele tirou. Eram balas. Reginaldo tirou o pente, começa a colocar balas na arma.
-Calma, cara! Calma! – Disse Marcelo, em voz baixa, agitando as mãos no ar.
-Shhhh! Aquilo… Ele… Ele vai voltar! – Sussurrou Reginaldo. Ele parecia desesperado.
-Cadê seu amigo? – Perguntou o russo.
-Ele comeu! – Disse Reginaldo, apontando a arma para a cozinha. Os estalos do Ganzu voltaram.
-Puta que pariu, puta que pariu… -Gemia Greg, parecendo ter surtado.
Lá fora a chuva era contínua, em média intensidade. A noite caía rapidamnete.
-Ele está voltando. – Falou Marcelo.
-E se a gente corresse para o jardim? Cada um corre para um lado.
-Não sei… Disse o Nerd. Acho que se descermos do sofá ele consegue alcançar a gente. Você viu como o bicho é rápido!
-Eu não vou morrer aqui! – Falou Reginaldo, decidido.
-Tá voltando! Tá voltando! – Disse Sarah, escalando o sofá.
O Ganzu voltou para a sala. Andava devagar, espreitando cada espaço. Os rapazes ficaram em silêncio mortal. Lá fora, a chuva caía forte. A criatura foi até a escada, ensaiou uma subida, mas fez meia volta e foi até a mesa da sala. Passou debaixo da mesa, empurrando a mesa e as cadeiras de um lado para o outro. Ele agora era uma criatura assustadora.
Marcelo tinha os olhos fixos no Ganzu. Todos tinham. O medo era que ele os descobrisse.
O Ganzu veio chegando na direção da mesa.
Reginaldo, nervoso, fez menção de saltar da mesa de centro para o sofá, mas Marcelo e Greg sinalizaram negativamente.
O Ganzu passou perto da mesa de centro. Circundou a mesma.
O horror era crescente.
Desesperado, Reginaldo deu um salto. Pulou da mesa de centro para o meio da sala e começou a correr na direção da porta.
Todos começaram a gritar conforme o Ganzu avançou, correndo atrás dele. O monstrinho de passos vacilantes era agora uma besta horrível, capaz de acelerar como um foguete, com suas diversas pernas compridas trabalhando em conjunto.
Aninha tampou os olhos da amiga quando o Ganzu agarrou a perna de Reginaldo. O rapaz gritava se agarrando à porta, quando o bicho começou a puxá-lo para dentro. Só então Marcelo percebeu que o Ganzu não só tinha boca, como a boca era uma coisa horrível, cheia de dentes pontiagudos e finos, uns sobre os outros, dispostos como os de um tubarão.
O Ganzu começou a comer Reginaldo Vivo. O rapaz, em desespero, tentava se segurar na porta, mas não conseguiu resistir por muito tempo, pois a porta cedeu e abriu. Reginaldo caiu no chão e ao ver que já não tinha mais nada do joelho para baixo, começou a chorar e gritar. Mas isso não durou muito. O monstro saltou sobre ele e soltou um copioso jato de gosma bem na cara dele.
Horrorizados, os amigos viram a face de Reginaldo derretendo como sorvete no sol, enquanto aos gritos ele se debatia, tentando tirar a criatura de cima dele.
Um minuto de agonia depois, a cabeça de Reginaldo caiu para trás, amassando no caldo ácido que escorria para todos os lados, derretendo inclusive parte do piso de madeira antiga.
A criatura passou sobre o corpo, e agarrando o que ainda restava de Reginaldo, começou a puxá-lo para fora. Lentamente o corpo que se liquefazia foi sendo levado para o jardim. Estava soltando pedaços, e um rastro nauseabundo de carne efervescente ficou na sala, ainda fumegando.
Ninguém disse nada. A criatura se arrastou pelo jardim, desaparecendo na escuridão.
-Caralho! – Disse Greg.
-Eu… Eu… -Balbuciava Vladmir ainda horrorizado com a cena.
-Eu quero sair daqui… – Chorava Sarah.
-Só digo uma coisa. Fodeu, Mané! – Disse Marcelo.
CONTINUA
Moaarrr!! Muito foda Philipe, primeiro conto que resolvo ler do seu blog e acho q vou ler todos os outros!! AUHAUHAUHAUAHU
Se a história ocorresse no Maine, seria facilmente confundível com algum conto do Stephen King!!
Foda é ficar na espera das próximas partes!
Caraio, Ganzu tá comendo geral, daqui a pouco o bicho vira um monstrengão gigante e come a cidade. Eita, e agora com essa morte do Armando, mais as mortes dos bandidos, como eles vão se explicar SE a chuva passar, esse pessoal arrumou uma encrenca enorme. Conto tá ficando cada vez melhor, parabéns pela criatividade Philipe.
Um conselho que eu te dou como leitor. Leia, e se possível compre o livro, porque tanto os contos (assim como o blog inteiro) como o livro são ótimos
Fazia tempo que não lia um conto seu, esse tá do caralho! Concordo com o Ricardo, está bem estilo Stephen King, me lembra “O Nevoeiro”. Só ta faltando uma fanática religiosa pra quebrar o grupo de dentro pra fora hahahah
Muito, muito foda! Esperando ansiosamente pela continuação…
Puuuts! É uma pena pelo Armando…. agora não tem mais clima ficar na casa.
Esse conto se encaixaria muito bem nos Mitos do Cthulhu, não consigo parar de pensar no Yog-Sothoth quando estou lendo o conto. É invenção minha ou se baseou mesmo neles, Philipe?
Excelente texto como de costume. Parabéns!
Não me baseei em nada especificamente. Pensei apenas em fazer um conto sobre um monstro comendo pessoas. A ideia de deixar os personagens isolados veio das grandes histórias de monstros, como enigma de outro mundo, cujo, e o nevoeiro…
Ah entendi, é que li muita pouca coisa do Stephen King. Ao contrário do Lovecraft. Então tendo a ver tudo com o viés Cthulhunesco. hehehehehehe
Sinistro, isso. Poxa vida, logo o Armando tinha que morrer? Foda viu…
Porra. Esses dois filhos da puta mataram o Armando! Tá certo que foram comidos mas eu ficaria muito mais feliz se o Reginaldo pulasse no sofá e o Greg o empurrasse para o chão soltando um sonoro “Vai se foder sua bicha”!
Muito maneiro!!!!!! Desenha o Ganzu pra gente Phelipe!!! Por favoooooor!
Bjos
Juju
Daria uma ‘bela’ escultura esse Ganzu!
Tenho medo de desenhar ele como eu imagino e atrapalhar a imaginação dos demais leitores.
pqp, que revira-volta! Essa parte foi muito louca!
Que filhos da puta esses bandidos, mataram o Armando! Agora eu quero ver, com o Ganzu solto por aí, quem vai ter coragem de deixar a casa? Tá da hora esse conto!
Puta que pariu! Fico um tempo sem acessar o blog e acontece isso! kkkkkk! Estou ansioso pela próxima parte! Tu és um escritor muito talentoso, Phillipe. Faz tempo que já acessava teu blog, mas nunca parei para ler um de seus contos (vai saber o porquê, hehehe). Vou começar a ler os outros agora.
Hahaha valeu. Tem conto pra dedéu aí!