Evandro estava preocupado, não havia nenhum sinal dela. Nem bolhas, nada. A gringa tinha desaparecido completamente sob as águas calmas da enseada.
Ele estava sem saber o que fazer. Resolveu voltar para a casa, aflito.
Conforme caminhava pela estrada de pedras ia pensando no estranho espetáculo que acabada de presenciar. “Então ela vai e entra no mar todo dia…” Evandro chegou na casa e encontrou a espada no chão da varanda.
Ele se sentou no toco de madeira cortada que servia de cadeira. O sol começava a se levantar atrás da ilha. Ele pegou a espada e ficou olhando para ela. Não havia qualquer inscrição em qualquer parte da arma que desse alguma pista de sua origem. Era uma espada simples, mas bem feita. Uma arma de bom balanço, pesando menos de 1 kg. A madeira e acabamento do cabo estavam se desfazendo em função do tempo.
Ele ficou pensando na gringa. Se ela todo dia ia para a enseada e entrava na água, aquilo significava que havia uma caverna submarina acessível pela enseada, obviamente, já que uma pessoa comum não fica sete minutos debaixo d´água.
Certamente a gringa tinha descoberto a caverna de alguma maneira e estava se escondendo lá. Mas por que? Talvez a gringa estivesse de alguma maneira relacionada ao tesouro. Ou quem sabe ela estivesse literalmente procurando o tesouro na ilha. A ideia de que a gringa sabia a entrada da caverna parecia bem definida em sua mente investigativa. Isso também explicaria por que a gringa sempre aparecia de noite com os cabelos molhados.
“Ela entra e sai pelo mar”. – Ele concluiu, enquanto deslizava o dedo pela lâmina gelada. A lamina tinha dentes marcados de impactos, mostrando que a espada já havia estado em combate.
Evandro decidiu que seu próximo passo seria investigar a caverna. Ela estaria ligada ao mistério da armadilha dos piratas? Ele se lembrou que a cova da armadilha no qual despencou parecia descer numa inclinação suave que estava inundada de detritos e de água da chuva de séculos. E se essa passagem de alguma forma se comunicasse com a entrada da caverna?
Se a gringa estava sempre molhada, era porque naturalmente a caverna só tinha uma entrada, mas isso poderia se dar pelo fato de uma ou mais entradas estarem obstruídas. A hipótese fazia sentido.
Evandro se levantou para preparar um café. Depois foi escovar os dentes enquanto a água estava esquentando no fogareiro.
Ele voltou e colocou a água e o café solúvel na caneca de metal. O aroma do café se espalhou pelo ar.
Ele agora pensava na ilha enquanto comia biscoitos. Poderia haver uma série de tuneis subterrâneos pela ilha, o que era uma ideia engenhosa para esconder um tesouro.
“Aventureiros procurarão em terra quando a entrada verdadeira pode estar sob a água. Genial!”
Ele também parou para pensar uma coisa: E se a ilha fosse em grande parte oca? E se ali por baixo estivesse mesmo o tesouro dos templários?
Evandro sabia que os templários haviam se espalhado por todo o mundo. Não seria inesperado que após serem perseguidos por Felipe na França eles tivessem se escondido em Portugal e financiado explorações pelo mundo. Com a ascensão de Napoleão na Europa, seria sensato que os templários gradualmente tirassem seus maiores tesouros de alcance, e por que não esconderem esses tesouros bem longe, nas colônias? Os Templários poderiam ter se infiltrado em outras ordens como a Companhia de Jesus ou mesmo na Maçonaria.
A pedra com a cruz parecia proposital. Era uma pista falsa, com certeza. Eles queriam manter os curiosos escavando e procurando nos lugares errados. A armadilha bem próximo da pedra deve ter sido bem efetiva para de tempos em tempos eliminar os curiosos, criando por tabela uma lenda de quem vai procurar o tesouro nunca mais volta. Isso deve ter dado a ilha uma fama de amaldiçoada, cujos ecos ainda ressoam no imaginário caiçara. Se essa ideia estivesse correta, então o poço da armadilha não deveria se comunicar mesmo com a entrada da caverna submarina.
Evandro também sabia, graças aos filmes, livros e quadrinhos, que é sempre uma má ideia criar um esconderijo em caverna com semente um acesso. Se por ventura qualquer problema impedir o acesso, seria catastrófico. Quem quer que tivesse preparado a ilha para ocultar o segredo, deveria ter feito pelo menos algum túnel de serviço. Até por uma questão pratica: Oxigênio!
Evandro acabou o café. Foi até o quarto, tirou a bermuda e vestiu uma calça jeans limpa. Ele calçou as meias e enfiou os pés no tênis de escalada. O tênis estava encharcado de água e lama fétidas. Ele fez um barulho engraçado quando Evandro os calçou.
Evandro pegou a mochila molhada e jogou uma garrafa de água lá dentro. Ele pegou a espada e saiu para a mata, afim de investigar melhor.
Caminhou pela estradinha de pedras e adentrou a mata no mesmo lugar que tinha entrado no dia anterior. O caminho agora era bem mais visível. Um dia mais luminosos pelo céu sem as nuvens ajudava. O sol se infiltrava pelas copas das arvores salpicando o chão de pontos de luz.
Ele percorreu o caminho de subida, sempre avançando com cautela ao pisar. Poderia haver outras armadilhas espalhadas na mata.
Quando finalmente chegou na pedra, examinou mais de perto. Viu que realmente a cruz havia sido cinzelada em baixo relevo na rocha de maneira que ela ficasse bem visível. Tudo se encaixava com uma pista falsa. Ele observou ao redor da rocha e não achou indícios de maior interesse. havia muitas plantas e raízes das majestosas árvores para todo lado.
Evandro sentiu o odor da morte. Ele seguiu pela lateral da pedra e encontrou o platô. As rochas se dispunham ao redor dele de maneira estranha. Vendo de cima, ele parecia formar um sol, com um tipo de poço em seu interior, onde estava o corpo esquartejado.
Ele se aproximou vendo as moscas voando para todo lado. O cheiro estava muito pior agora, depois da chuva da noite. A chuva tinha derrubado toneladas de folhas e galhos por toda a mata.
Evandro precisou conter o nojo e o horror ao subir na pedra e olhar novamente para os despojos. Lá estava ela, cheia de vermes passeando para todo lado.
Evandro subiu na pedra e entrou com cuidado num estreito espaço ao lado do corpo. No meio da montanha de folhas, ele pegou a espada e usou para mexer no cadáver. Estava com medo de colocar a mão naquilo, e eventualmente atrapalhar uma futura investigação da polícia.
Ao mexer com a espada, ele se espantou ao puxar um pé. Era uma perna cortada na altura do joelho. Mas a morta diante dele estava com os dois pés.
“Puta merda, tem mais gente morta aqui!” – Ele descobriu, horrorizado.
Evandro foi metendo a espada e movendo o cadáver. Havia outras, todas mulheres, todas em estado similar de decomposição. O monte de folhas havia ocultado as mortas debaixo. O fedor era indescritível. Os corpos tinham sido cortados, descarnados em algumas partes e empilhados uns sobre os outros. Ele mexeu entre as folhas e encontrou uma cabeça. Era uma mulher negra e jovem. Essa cabeça parecia quase intacta. Os olhos estavam estufados para fora como os de um peixe. Era uma visão horrível. Um dos crânios descarnados rolou do monte perto do pé dele. Ela tinha restos de cabelo comprido presos na parte posterior da cabeça. Evandro notou um buraco bem na testa. Ele percebeu que essa pessoa tinha sido morta a tiros. Uma lacraia preta passou, vagando por cima de um monte de costelas. Os órgãos vitais de todas haviam sumido. Não tinha intestinos, pulmões nem coração em qualquer parte.
Já havia visto o suficiente. Sua vontade era de vomitar. Ele não conseguiu contar mais de três corpos, mas poderia haver mais, porque naquela altura da decomposição, e por estarem esquartejadas e parcialmente descarnadas, era difícil saber o total de pessoas mortas ali.
Ele saiu do cercado de pedras. Não muito distante, havia uma área com uma mancha escura no chão. Seria o lugar onde os corpos haviam sido picados? Era bem perto de onde a mancha de sangue na forma de uma mão estava desenhada na pedra.
“A pessoa que matou e esquartejou essas mulheres limpou a mão aqui”. Ele pensou, enquanto examinava o rastro da mão.
Colocou a própria mão no ar, ao lado da marca e mediu. Era uma mão menor que a dele, então não era a mão de Alex, que dava quase duas da dele.
Chocado, um pensamento lhe invadiu: Aquele parecia o tamanho da mão da gringa.
“Mas ela não seria capaz.” – Concluiu. Eram muitos corpos. E além do mais, de onde a gringa ia tirar aquele monte de gente? E esquartejar por que? Se ela queria se livrar das mortas, era só jogar no mar. Era muito mais fácil e limpo.
Evandro pensou numa hipótese macabra: E se essas mulheres estivessem com ela? Se elas tivessem descoberto com ela o segredo, e depois de um desentendimento, a gringa as matou para ficar com o tesouro só pra ela… Aquilo sim, fazia sentido.
Evandro concluiu que se essas mulheres tivessem chegado antes deles na ilha, em busca do tesouro elas poderiam ter investigado bastante, descobrindo a caverna. Uma hipótese era que elas já soubessem da caverna, e durante as buscas, algo deu errado.
“E depois a gringa as matou?”
Ele olhou dentro da armadilha. A água da chuva já havia baixado, deixando expostos as madeiras e troncos do forro desabado. Ele notou um brilho perto de seu pé. Era a haste de seus óculos. Tirou os óculos do meio das folhas. Estava intacto.
“Porra que sorte!”
A gringa ocultou os corpos, na esperança de que ninguém as acharia. Talvez a gringa estivesse na caverna quando a tempestade atingiu a ilha e a caverna encheu de água… Aí a gringa tentou sair, acabou desmaiando sem ar, tentando sair da caverna e as ondas a jogaram na pedra, bem na curva da enseada. Isso também fazia sentido.
A gringa, se estivesse voltando na caverna todo dia para tentar abrir a tal passagem, passaria a manhã inteira, todos os dias, removendo pedras e abrindo as passagens, para chegar no tesouro.
As coisas estavam aparentemente, se encaixando. Evandro caminhou com cuidado até a armadilha, bem perto de onde estavam os corpos. Ele observou os caminhos.
Ficou pensando como a gringa teria conseguido trazer tanta gente até ali sozinha. Talvez ela não estivesse realmente sozinha. E se ela tivesse a ajuda de Alex? Alex com a força bruta que tinha, conseguiria facilmente levar duas mulheres daquele tamanho de cada vez.
O problema do mistério estava se clarificando mas havia um porém. A passagem com os corpos faria a pessoa cair na armadilha. Se ela desabou com o peso dele, que era pouco mais de sessenta quilos, uma pessoa levando corpos iria mergulhar no buraco quase que obrigatoriamente.
Então Evandro observou o solo e criou uma nova hipótese:
“O assassino esquartejou os corpos justamente para transportá-los”.
Aquilo sim fazia grande sentido. Levando de partes em partes era mais fácil. Demoraria mais, mas simplificava o processo tremendamente.
Evandro voltou-se para os arredores do solo. O chão da mata havia sido muito mexido pela tempestade, mas observando com bastante cuidado, ele encontrou marcas de sangue na trilha, sobre umas raízes.
As manchas de sangue confirmavam que quem matou as mulheres havia picado elas em muitos pedaços e levado os pedaços para a mata. Não era o Alex. Não podia ser o Alex por um motivo simples: Ele não seria tão esperto. Ele carregaria os corpos nas costas com facilidade e teria caído na armadilha com o defunto.
Só pode ter sido mesmo a gringa. Ela sabia da caverna, ela também devia saber da armadilha. Sabia exatamente onde devia passar.
Evandro voltou pela mata. O sol estava a uma altura boa. Devia ser umas nove horas da manhã. Ele pegou a água na mochila e tomou um gole. O cheiro de morte parecia estar impregnado nele. Tudo que ele mais queria agora era tomar um banho quente num hotel.
Conforme voltava pela trilha de pedras ia pensando que nunca devia ter aceitado entrar naquela ideia de comprar uma ilha. Devia ter continuado viajando pelo mundo. Agora estava envolvido até o pescoço numa trama esquisita de uma mulher aparentemente maluca e um monte de gente morta, fora a fortuna que estava perdendo com aquelas reformas.
Evandro voltou para a casa. Agora estava com medo de encontrar a gringa. E se ela descobrisse que ele viu os corpos? Ele se arrependeu de ter trazido a espada. Se a gringa soubesse da espada, ela teria demonstrado. Evandro ficou se lembrando da cena de quando ele apareceu. A gringa não tinha como saber da espada. Obviamente ela tinha ficado surpresa e impactada com a imagem dele todo cheio de lama e sangue, mas a espada estava afundada nos detritos da armadilha. A gringa não tinha como saber de onde a espada veio.
Mas era uma questão de tempo. Em algum momento a gringa iria ate o lugar dos corpos, veria a armadilha desabada. Descobriria que ele viu as mortas. E aí? Talvez a gringa tentasse matá-lo. Ele era efetivamente uma presa fácil, sozinho na ilha.
Evandro decidiu que já era hora de pedir ajuda. Foi até o telefone e ligou o aparelho. Para variar, não havia sinal. Ele então foi até os fundos da casa, pegou a escada improvisada e subiu no telhado. Nenhum sinal. O sol agora estava brilhando, inclemente.
Evandro desistiu. Desceu do telhado e voltou para a sala, escanteando o celular e depois, se jogou no sofá. Ficou pensando no que fazer. Ele precisava de uma ideia. Seu coração estava sofrendo, porque estava realmente gostando da Gringa como não havia gostado de ninguém até então. A gringa, como tudo indicava, também correspondia na mesma medida ao afeto dele. Era triste que ela fosse uma caçadora de tesouros assassina.
Evandro começou a teorizar que talvez a moça não fosse má. Não combinava com ela.
“Ela poderia ter feito para se defender…”
“Mas e se não foi ela que matou?” – Evandro pensou. Ele bebeu mais um pouco de água e foi até a varanda. Lá em baixo, o mar iluminado pelo sol parecia brilhar num esverdeado intenso, quase místico. O vento soprava da direção da costa. O céu estava absolutamente azul, sem nenhuma nuvem. O calor subindo rapidamente, deixava a ilha, ainda úmida pelo temporal, num abafado sufocante às vezes.
Ele tinha encontrado alguns corpos, havia a gringa na equação, mas nada, absolutamente nada poderia garantir que esses eram todos os “elementos” da equação. Poderia haver mais pessoas? Mais pessoas dentro da ilha? Nas cavernas? Sem dúvida!
Todo esse mistério tinha uma chave e a chave era a gringa. Se ela sempre ia para a enseada e entrava na caverna, era preciso examinar a caverna.
Uma ideia maluca passou pela cabeça dele. Ele podia simplesmente ir até a enseada e entrar na caverna e ver no que ia dar. Com sua habilidade de se esconder, poderia ser fácil ficar oculto numa caverna vendo o que se passava e entender o mistério por dentro. O elemento surpresa estaria a seu favor, já que a gringa estava pensando que ele não sabia de nada. Era domingo, quase na hora do almoço. A gringa nessa hora estava sumida. Ela só ia voltar a aparecer lá pelo final do dia, após o por do sol. Então à aquela altura, a gringa estaria em plena atividade na caverna. Ele tinha que agir rápido.
Evandro foi ate o quarto dos bagulhos e vasculhou pelos arredores das sacas de cimento onde estaria a mochila de Alex com as tralhas que ele trouxe. Alex havia comprado, a contragosto dele, uma máscara de mergulho e um snorkel na loja de caça e pesca de Itacuruçá.
O rapaz foi encontrar o saco com a máscara e snorkel intactos junto com um pacote de linhas e uma caixa de anzóis e chumbo para a pescaria. Evandro pegou a mascara, tirou a roupa, vestindo a bermuda e os chinelos. Na mochila ele pegou a faca e a lanterna de Alex. Meteu a faca na cintura e passou a alça da lanterna à prova d’água na mão. Foi lá pra fora e pegou o caminho da trilha.
Ele precisava ser rápido. Ia tirar proveito do sol. Nas pedras da enseada ele foi saltando de uma em uma. Ele então notou algo curioso atrás de uma das pedras. Era a camisa do Guns. Ele não tocou nela. As pedras estavam fervendo pelo calor. Já era quase a hora do almoço. O sol à pino ajudaria no plano.
Evandro colocou a máscara e entrou na água. A água não estava gelada, o que era bom. A temperatura estava deliciosa. O que incomodava era o machucado do braço, que estava ardendo sem parar com a água salgada, mas dava para aguentar. A Gringa tinha feito um bom trabalho na sutura.
O jovem nadou praguejando mentalmente por não ter deixado Alex comprar os pés de pato. Eles seriam de grande ajuda.
Com a máscara e o snorkel, ele conseguia ver muito bem as rochas do fundo, repletas de algas. Peixes passavam em miríades e cardumes para todos os lados. Havia muitos sargentos com suas listras pretas e amarelas. Eventualmente alguns peixes maiores passavam nadando no fundo. Em alguns lugares, agarrados nas pedras haviam grandes ouriços, cheios de espinhos pretos. Evandro pensou que havia desperdiçado muito tempo apenas parado tocando violão. A enseada era um lugar maravilhoso para o mergulho. Tinha pedra de tudo que era tamanho lá em baixo. E conforme a profundidade aumentava, o tamanho delas também parecia aumentar, gerando tocas, locas e cavernas para todo lado.
conforme explorava a enseada de águas calmas e cristalinas, ele encontrou duas grandes rochas bem perto da saída da enseada, que pareciam se apoiar uma sobre a outra, formando uma caverna em forma de triângulo. Não era uma caverna grande, a passagem media um metro e meio. A gringa passaria por ali com tranquilidade. Evandro ficou olhando da superfície. Estimou a profundidade em quatro metros ou menos. Ele encheu o pulmão de ar e desceu, batendo as pernas para chegar ao fundo.
Ao se aproximar da caverna, meteu meio corpo para dentro da passagem quando veio um susto: Uma coisa preta enorme avançou para cima dele. Foi rápido, ele mal conseguiu ver quilo que girava ao redor dele. Era uma moreia enorme e preta. A moradora da loca de pedra. Evandro ficou desesperado, tentou se desvencilhar daquele bicho. E nadou o mais depressa possível para a superfície. Desesperado saiu como louco nadando e escalou as rochas repletas de mariscos. Ele estava com o coração a mil por hora. Achou que ia ter um infarte com o susto.
Evandro sabia que as moreias são peixes bravos e muito territoriais. Ele tivera sorte de não ser mordido. Evandro subiu pelo costão, se lembrando de ter encontrado exatamente ali o corpo da Gringa.
Sem saber exatamente o local da entrada da caverna ia ser impossível ir lá. E essa entrada podia seu em qualquer lugar, já que o fundo estava repleto de pedras.
Evandro voltou para casa todo molhado e com frio, pois apesar do calor do sol inclemente, o vento soprava gelado do oceano.
Ele estava chateado. O plano de investigar a caverna tinha sido frustrado pela moreia horrível que mais parecia um monstro marinho.
“bicho do capeta!” – Ele pensou, conforme subia pelas escadas da trilha. O cimento havia endurecido e a escada tinha ficado perfeita. Evandro observou em detalhes a colocação do corrimão, numa altura boa e confortável. Subir para a casa agora era uma tarefa bem menos penosa, com os dois grandes platôs servindo ainda como pontos de observação panorâmica para o lazarento píer lá em baixo.
A próxima obra vai ser consertar aquela porcaria ali! – Ele disse.
Evandro chegou na casa morto de fome. Ele estimou que seria mais de uma hora da tarde.
Pegou a toalha que estava pendurada na janela e se enxugou.
Foi até a cozinha e pegou um pão. Ele estava meio duro, mas nada que jogar um pouco de agua no pão e depois um pouco de exposição ao fogo do fogareiro não desse um jeito.
Evandro colocou maionese no pão, abrindo o sachê com o dente.
Depois usou a panelinha para fritar dois ovos, que acabaram se desmanchando e viraram ovos mexidos.
Ele jogou os ovos no pão meio duro e foi comer na varanda.
A carcaça do peixe no mato estava atraindo moscas que voavam pela varanda.
“Porra ela largou tudo na maior bagunça.” – Pensou.
Evandro acabou de comer o pão com ovo e foi arrumar a sujeira. Jogou os pedaços de madeira não queimados no mato. Depois, varreu as cinzas da varanda lá pra fora. Pegou um saco plástico e recolheu os restos do peixe, que estavam fedendo. Ele enrolou a espinha com cabeça e tudo no saco e jogou no grande lixão que ficava do outro lado das obras da cisterna.
“Vou precisar dar um jeito nesse lixão em breve. Pelo menos antes das obras dos bangalôs começarem…”
Evandro voltou para a casa e notou que estava mais cansado que o normal. Seu braço ainda ardia, mas após uma inspeção, não pareceu estar infeccionado. Os machucados das pernas ainda enfaixadas não doíam mais. E nem ardiam. E ele já andava com mais desenvoltura.
Evandro sabia que estava cansado porque não havia dormido. Voltou para a casa e se sentou no sofá. Pensou em pegar o violão e dar uma treinada, mas desistiu. Seu corpo estava pedindo para que ele deitasse.
A tarde seguia seu ritmo modorrento na ilha, com vento entrando pela janela vindo da varanda, e o canto dos passarinhos na mata e as gaivotas e albatrozes ecoavam perto do costão.
Ele se deitou e ficou pensando na armadilha.
“Talvez a família que desapareceu pode estar morta em algum lugar numa dessas armadilhas”.
Ele fechou os olhos para descansar um pouco, afinal, aquele era um final de semana incomum. Evandro havia acabado de relaxar no colchonete sobre o sofá de alvenaria quando um barulho na porta o despertou. Ele abriu os olhos e num arrepio, deu de cara com um homem parado, olhando para ele da varanda. Era um homem de uns sessenta anos. Cabelos brancos bem ralos, sem baba nem bigode. O homem estava trajando farrapos estranhos e sujos e tinha olhos esquisitos.
Evandro quase deu um grito de pavor com aquela figura, que permanecia ali parado, com o olhar arregalado e branco.
-Santo Deus! Quem é o senhor? – Ele perguntou com o coração querendo sair pela boca.
O velho falou com sua voz grave, num tom cavo.
-Eu estou procurando o meu tesouro… O meu tesouro… – O velho disse, sem sequer olhar pra ele. Olhava para o nada como um cego.
-O tesouro é seu?
-Eu estou procurando o meu tesouro. Você sabe onde eles colocaram meu tesouro? Eu preciso achar o tesouro. – Disse o velho cego com um sotaque estranho.
Evandro sentiu que havia algo errado ali e sentindo e um calafrio percorrendo sua espinha, ele decidiu perguntar ao homem, que lembrava um padre moribundo:
– O senhor… Está… Morto?
O padre continuou a olhar para cima com os olhos brancos e disse com aquela voz macabra:
– Todos nessa ilha estão mortos! Alguns apenas não sabem ainda. Você está morto! Você morreu num incêndio. Essa é… A ilha dos mortos.
CONTINUA
EITA POARR!!!! ESSE FINAL!!!!!
Tô ansioso agora, chegou a hora das almas penadas
(___ô__ô)
a história está muito interessante e bem escrita, Philipe
até a parte 19 /