Foi um fim de noite ruim sozinho na ilha.
Alex tentou dormir de tudo quanto foi jeito, mas algo parecia estar errado. As imagens de Evandro desacordado e a dificuldade de saber o que aconteceu com ele contribuíram para a insônia.
E ele não sobrevivesse?
O plano da pousada ecológica na ilha iria pelos ares. Evandro era a última tábua de salvação de Alex. Um rapaz jovem, inocente e com muito dinheiro.
Alex ficou deitado na cama rememorando todo o trabalho necessário para convencer Evandro a investir no plano dele. Tudo havia seguido conforme seu plano, mas perder o investidor para uma cobra de merda não estava, definitivamente no planejamento.
Alex pensou em toda sua jornada até terminar ali, num quarto mofado e escuro, sozinho, praticamente preso numa ilha, longe do continente. Meses atrás, ele era um homem rico, desfrutando tudo que a vida tinha para oferecer.
Alex às vezes ficava lembrando das pessoas. Principalmente das pessoas que matou, ou que morreram após conhecê-lo. Não sentia nenhum remorso, fora Plínio.
Uma das pessoas no qual se lembrou naquela madrugada foi Plínio Marcos, o “rei da boate”. De todas as pessoas que passaram por sua vida, talvez Plínio Marcos tenha sido a pessoa que mais o ajudou, até encontrar um fim trágico.
Alex conheceu Plínio numa boate, mas muito antes disso, a figura já era bem conhecida, bem como seu patrimônio monumental.
Na época, notícias de jornal falavam dele. Suas festas badaladas atraíam atrizes da Televisão, socialites e gente de todo tipo. “Plínio Marcos, o rei da noite”, era famoso por entrar em três ou quatro boates por noitada, sempre acompanhado de um séquito de “amiguinhas profissionais”.
Apesar de seu interesse por festas e jantares, eventos esportivos como Turfe e corridas de lancha, Plínio Marcos se vestia elegantemente. Estava quase sempre de terno bem cortado, com colete, desenhados por Astor, seu alfaiate particular. Cabelos e barba brancos eram cuidadosamente aparados.
Os sapatos, sempre italianos, sob medida. Um anel de ouro no dedo mindinho e eventualmente óculos. Sempre um modelo diferente, da sua coleção de mais de 2000 tipos, alguns presentes vindos da coleção de figuras como Elton John e Júlio Iglesias. Tirando os óculos, sua aparência era um tanto quanto incomum para os ambientes que frequentava, parecendo estar sempre destoante e excessivamente formal.
Ele ia de festa em festa, pagando contas astronômicas, e alugando os mais requintados camarotes. Plínio era um homem viúvo. Ele perdera a mulher e o filho num acidente de carro ainda muito jovem. O sucesso nos negócios se refletia em sua vida totalmente vazia em termos afetivos.
Apesar disso, sua vida de luxo e gastança chamava atenção.
Numa noite, Alex estava justamente num camarote, olhando as mulheres bonitas dançando. Ele esperava sua grande chance quando ela finalmente aconteceu. Ele viu uma movimentação incomum na pista de dança. Era Plínio Marcos e suas amiguinhas. O homem logo enjoou da musica e subiu para o camarote, que ficava ao lado do camarote de Alex.
Plínio sentou-se numa poltrona, rodeado das mulheres. O olhar dos dois eventualmente se cruzou e Alex ergueu seu copo de uísque no ar, na sugestão de um brinde, saudação que foi repetida no outro camarote, dessa vez por Plínio com sua taça de champanhe.
Alex se levantou, foi até a varanda do camarote e fez um sinal para Plínio, indicando que gostaria de falar com ele. A àquela altura, Alex já havia lido e aprendido tudo que podia sobre o milionário dos empreendimentos e das grandes festas: “Quando você sabe onde o peixe está é muito mais fácil de pescar”.
Mas cansado, Plínio Marcos não se levantou do sofá. Fez um sinal e cochichou algo no ouvido de uma das moças. Ela se levantou e foi até a mureta da varanda do camarote.
Alex chegou no ouvido da moça e disse:
-Pergunta pra ele se ele quer vender a Ferrari.
A moça logo voltou e falou com Plínio, que imediatamente fez um sinal com o dedo, girando-o no ar para um segurança. O segurança foi até o camarote de Alex, e disse:
-Boa noite. O senhor Plínio convidou o senhor para o camarote dele.
Alex Agradeceu e foi até o camarote de Plínio, que era muito mais chique que o dele. O ambiente era requintado. Paredes forradas de madeira e couro, uma mesa de frutas e grandes sofás onde mulheres lindíssimas enfiadas em vestidos que pareciam estar lacrados a vácuo nos corpos esculturais bebiam drinks coloridos. Dois seguranças enormes estavam na porta vestidos em ternos pretos impecáveis. Havia ali dois garçons exclusivos. Um garçom servia bebidas diversas e outro, canapés.
Alex se preparou.
– Muito prazer, Alex Ribeiro Santos. – Disse, enquanto apertou a mão de Plínio, com os olhos fixos nos olhos do empresário. Deu seu aperto de mão mais forte que podia, afim de transmitir confiança.
Plínio sorriu mostrando os dentes novinhos. Ele também apertava forte.
-Plínio Marcos, ao seu dispor.
Alex sabia que dizer sempre o nome inteiro evocava um certo ar de aristocracia. Mal sabia o ricaço que os Ribeiro Santos eram no máximo donos de um bar pé sujo em Marechal Hermes.
Plínio Marcos fez sinal para que Alex sentasse com ele no sofá diante do dele.
-Dá licença aí, querida! – Mandou uma das moças se retirar, como quem enxota um frango.
Os dois se sentaram nos confortáveis sofás de couro que certamente já havia visto muita coisa acontecer naquele camarote Vip.
Alex viu olhares intrigados lá debaixo. Ele estava no lugar mais cobiçado da boate. Sua atenção logo se dirigiu para um pequeno brilho que apareceu sob a manga da camisa de seda francesa do seu interlocutor. Era uma pulseira de ouro da espessura de um dedo.
-Então o senhor está interessado na Ferrari?
-Sim. Ela é uma F355?
-Isso mesmo, V8
-Que ano que é?
-95. – Disse Plínio, tomando um gole do champanhe Dom Perignon Rose Gold.
Alex sabia que aquele champanhe não saiu por menos de vinte mil dólares a garrafa. Alex não tinha o mais remoto interesse em comprar a Ferrari, mas precisava atrair a atenção.
-Quer vender?
-Não sei… Estou aberto a propostas, mas eu gosto dela. Tem pintura exclusiva… Mas talvez eu venda para a pessoa certa. A questão é: Essa pessoa certa é você?
Alex engoliu o uísque. Precisava pensar rápido. O plano estava funcionando. Ele sabia que se Plínio pedisse muito dinheiro, ele não ia ter. Alex suava frio, ele sabia que estava arriscando praticamente todo seu dinheiro naquela noite. Uma das beldades sentou-se ao lado dele e colocou a mão em sua coxa grossa, subindo em direção ao seu pênis. Alex olhou para Plínio, que abriu um sorriso tão branco quanto o mármore da mesa de centro.
-O senhor… – Ele disse, tentando se concentrar. A mulher era maravilhosa. Era difícil manter a atenção nos negócios. -…Ficaria chateado com uma oferta de… Sei lá, 400? Não quero ofender, hein?
-Relaxa, meu rapaz. Relaxa. Os 400 pra mim não vai dar, infelizmente. Nem é questão do dinheiro, mas é mais pelo valor sentimental. Estava pensando em algo na faixa dos 680 mil. – Respondeu Plínio, já olhando para outra moça, que cruzou a sala vip e sentou do outro lado de Alex no sofá e languidamente passou o braço por trás do pescoço dele.
Com uma amiguinha de cada lado, Alex estava sem saber o que dizer.
-Entendo. Entendo… Não sei, acho justo, doutor Plínio.
-Só Plínio.
-Eu acho justo… Plínio. Mas eu estou com uns investimentos presos numa aeronave, e precisarei consultar meu sócio.
-Não se preocupe que eu não tenho pressa de vender… Éééé….Sua graça mesmo é?
-Alex Ribeiro Santos.
-Isso. Então, como eu ia dizendo, eu não tenho pressa em vender, Alex. Mas gostei de você. Quem sabe podemos negociar um valor diferenciado? Diga-me, você falou em aeronave?
-Sim, eu e meu sócio estamos avaliando entrar numa empresa de passeios de helicóptero pela orla do Rio.
-Interessante, hein?
-Sim… Mas temos outros negócios em vista. Um deles é um condomínio que estamos planejando para a região de Cabo Frio.
-Eu tenho um grande em Búzios.
-O Bahamas Golf?
-Esse mesmo. Conhece?
-E Quem não conhece? Então o senhor é a pessoa ideal para me dar alguns conselhos! – Exclamou Alex, puxando o saco.
PLínio sorriu e ficou parado, olhando Alex fixamente, como se o avaliasse. Alex se manteve firme. Era o momento decisivo.
-O segredo na Região dos lagos é um só: “O mar.” Se seu empreendimento não der vista para o mar, esquece, rapaz. Sai fora e acha outro terreno.
-Hum, interessante. Como foi a ocupação no Bahamas Golf?
-100% vendido na primeira semana. – Riu o magnata.
-Uau.
-Só trabalho com gente muito competente. Se quiser, eu posso te apresentar umas pessoas lá na área.
-Seria um prazer.
-O que você vai fazer no final de semana?
-Hum… Nada que me lembre. – Disse Alex, aceitando um canapé do garçom.
-Come esse ali, ó. Olha que delícia esse queijinho. Né?
-Hummm! – Alex Revirou os olhos.
-Eu devo dar um pulo lá no Bahamas Golf. Se quiser pegar uma carona…
-Claro! Seria um prazer conhecer de perto seu empreendimento.
-Só promete que não vai copiar os meus bangalôs! – Riu o velho, fazendo todas as moças rirem ao redor deles. -Decolamos do heliporto do Santos Dumont amanhã, nove e meia da manhã. Aparece lá. – Disse o velho, estendendo a Alex um cartão de visitas, todo preto.
Um dos seguranças chegou no ouvido de Plínio Marcos e sussurrou alguma coisa. O empresário se levantou do sofá de couro e pediu licença, pois precisava sair e “resolver problemas”.
Alex agradeceu e reforçou o prazer em conhecê-lo.
-Aproveita o camarote aí pra mim. Já tá tudo pago. – Disse, apontando para o lugar e claro, para as meninas.
-Claro! – Alex disse enquanto uma das “amiguinhas” de Plínio sentava-se no colo dele.
Aquele tinha sido seu dia de sorte. E a julgar pelas beldades que ele beijava na boca, era a noite de sorte também.
No dia seguinte, oito horas da manhã, numa ressaca magistral, Alex estava vestido com sua melhor roupa, suando em bicas, num sol violento no aeroporto.
Já havia passado de dez e meia da manhã quando um carro preto finalmente entrou. Dele desceram dois homens. Eram os mesmos seguranças mal encarados da porta do camarote.
Eles abriram a porta traseira do veículo e Plínio Marcos desceu, puxando um pequeno cachorro poodle branco pela coleira.
-Alex! Desculpa deixar você esperando, meu jovem! – Disse ele, num abraço efusivo.
-Que isso, Plínio, Tudo bem. Imagino como sua vida é corrida e…
-Afff… Imagina que ontem precisei resolver um problema com um amigo que se meteu em apuros. Tá separando da mulher, coitado. – Disse, fazendo um sinal de chifre na testa com os dedos. – Encheu a cara de remédio, quase morre. Cheguei lá em casa três da manhã.
-Nossa.
-Vem, por aqui. A Aeronave está ali ó. – Disse ele, apontando o helicóptero. – Linda, né?
-Wow!
Enquanto andavam lado a lado pela pista, Plínio deu uma cotovelada de leve em Alex e sussurrou: – Já estou sabendo da putaria ontem hein? Fez a fama já, rapaz.
-Sabe como é…
-Ah, meus tempos… Eu quase tive um bração desses igual o seu, Alex. Eu gostava de nadar e jogar tênis. – Plínio foi entrando no lindo helicóptero cujo interior era todo em couro bege.
Algum tempos depois, o Helicóptero decolou. Alex tentou conter a emoção. Era a primeira vez que andava de Helicóptero na vida, mas não podia transparecer. A aeronave Levava dois pilotos, Plínio, Alex e no colo de Tarcísio, um dos seguranças, Lulu, o cachorro.
Minutos após a decolagem, eles pousavam no heliporto do Bahamas Golf em Búzios.
Plínio apresentou todo o empreendimento com grande satisfação para Alex. Com o tempo, acabaram ficando amigos, muito amigos.
Alex passou a frequentar a mansão de Plínio. Toda quinta feira os dois se encontravam, para uma rodada de charutos, conversavam sobre as coisas do dia, assuntos do mercado, empreendimentos, investimentos, negócios, fumavam dois ou três charutos e desfrutavam de um bom uísque da coleção de Plínio.
Num desses dias, Alex chegou e viu Plínio Marcos sentado numa poltrona olhando para fora, através persiana da janela. Estava pensativo.
Diferente de todos os outros dias quando Plínio o recebia com abraços e até beijos – o que era estranhamente incômodo para Alex, nesse dia ele foi levado diretamente pelo segurança até a biblioteca. No canto, estava Plínio. Fumando quieto e pensativo.
-Tudo bem Plínio? – Perguntou Alex.
-Sabe, rapaz… Às vezes, a gente se engana com as pessoas.
Alex engoliu em seco. Imaginou que um homem com tanto poder certamente devia ter mandado revirarem sua vida. A essa altura talvez Plínio soubesse das mortes. Do roubo do dinheiro do casino clandestino da Avenida Brasil… Pensou em argumentar ou tentar se explicar, mas não teve coragem. Apenas sentou na poltrona e ficou a ouvir o que o velho homem em seu terno xadrez tinha a lhe dizer.
Ao fundo, num leitor de cd Mark Levinson No. 31.5 tocava a versão de “My Way” do Sinatra, o que deixava tudo estranhamente sombrio. Plínio tomou um gole no copo de cristal Baccarat.
-A gente pode se enganar com algumas pessoas, sobretudo quando você está numa posição como a minha… Mas não se engana uma raposa velha por muito tempo, você sabe.
-Eu.. Não sei o que dizer, Plínio. -Disse, com um nó na garganta. Não sabia bem o que falar. Sua vontade era de sair correndo da mansão.
-Então, eu nem sempre confiei em você, garoto. Mas com o tempo você ganhou minha confiança. Talvez… è claro… (PLínio estava com a voz embargada) …Você tem mais ou menos a idade que meu filho… Teria.
-Sinto muito Plínio.
-Eu tenho um talento para reconhecer as pessoas, sabia rapaz? Com você não foi diferente. Seu aniversario está chegando, não é, Alex?
-Sim… É amanhã. – Ele disse, olhando para o chão, como uma criança pega numa travessura.
Plínio pegou o controle do Cd Player e apertou um botão.
Um rock pesado começou a tocar nas poderosas caixas Bowers & Wilkins. Alex deu um pulo na poltrona.
-Feliz aniversario porraaaaaaaa!!! – Berrou o milionário, se levantando num pulo e abrindo os braços para um abraço. Voou Uísque para todo lado.
-Caralho tu quase me mata do coração seu puto! – Disse Alex. Todo tremendo.
-Calma, que ainda tem o presente! Peraí peraí! Ó…. Cê acha que não ia ter presente? Mete aqui a mão no meu bolso. Esse bolso aqui! Vai!
-Sério?
-Ta lá no fundo, vai, rapaz, deixa de medo, meu pau não alcança até aí não, rapaz!
-Que isso? Ah, não… Ah não…
-È tua. Olha ali da persiana.- O velho disse, apontando com o charuto cubano a direção da janela.
Alex olhou e viu a Ferrari vermelha estacionada no jardim. Era a F335 V8.
Os dois se abraçaram forte.
-Brigadão cara.
-Você vai longe, moleque. Eu sei! Você merece!
Com Plínio, Alex descobriu vários negócios do ramo financeiro que nem sequer imaginava. Alex comprou pequenas participações em vários negócios de Plínio Marcos. E se tornou um habitué das festas badaladas nas mansões.
Foi num desses dias, após sua fortuna ter pulado de dois para seis milhões, que Alex viveu o pior dia de sua vida.
Ele havia deixado um aporte de cinco milhões de reais com Plínio como garantia de um negócio que eles estavam preparando no México. Seria uma grande ilha resort, nos moldes dos hotéis das Maldivas.
Naquela noite, um telefonema o acordou com a pior das notícias: O Helicóptero do magnata havia caído no mar em algum ponto da costa da Flórida quando seguia para Fort Lauderdale. Não houve sobreviventes.
Foi como perder um pai. O dinheiro dos negócios estava todo atrelado ao controle de Plínio. Tudo ficou preso numa burocracia financeira sem precedentes.
Dos seis milhões, agora Alex só tinha acesso a pouco mais de 450 mil. O restante do patrimônio estava preso numa complicada composição financeira. Dois meses depois, um furacão no golfo do México destruiu as construções na ilha. Logo, surgiriam escândalos no Brasil sobre sonegação fiscal e diversos crimes, como grilagem de terras, corrupção e tráfico de influência envolvendo o Magnata.
Alex imediatamente percebeu que havia saído da confusão com menos dinheiro que entrou.
Vendeu a Ferrari e tentou aplicações em ações e renda fixa para resguardar o pouco que restava.
Foi nessa época de vacas magras que conheceu Evandro, num restaurante em Cabo Frio que planejava arrendar. Logo começaram a conversar e ficaram amigos. Evandro na época, era um rapaz rico, herdeiro de uma herança fabulosa, que vivia passeando e estava sempre tocando violão, que tocava com uma habilidade profissional.
Mas tinha um problema, o rapaz era literalmente paranoico com gastar a herança que havia recebido e que julgava “amaldiçoada”.
Por conta disso, Evandro se limitava a apenas viver de um bom salário que era pago com aplicações por uma fundação bancária da Suíça.
Alex apresentou o projeto incialmente criado com Plínio para a ilha no México, e Evandro gostou muito do projeto, mas o jovem idealista tinha planos um tanto diferentes: Queria adaptar a ideia para uma “ilha de descompressão”. Seu plano, era montar um pequeno hotel rústico numa ilha na Região dos Lagos, para onde as pessoas pudessem ir e ficar sem celular e sem energia elétrica, curtindo apenas a natureza numa “conexão cósmica”.
Aquilo era completamente diferente dos planos ambiciosos de Alex, mas ele viu nas ideias de Evandro um negócio potencial para retomar sua promessa de “não ser pobre nunca mais”.
Foi dessa forma que dois anos depois de se conhecerem, os dois formulariam o plano de compra da ilha Atlas em Angra dos Reis, na Costa verde, já que na Região dos Lagos eles não encontraram uma ilha ideal.
O vento soprou com mais foça e a chama da vela se apagou.
Alex ficou no escuro pensando.
Tinha sido um erro se abrir com Evandro. Falar das mortes e de como ele havia conseguido o dinheiro que cobriu a parte dele no negócio.
“O moleque é meio burro… E se ele der com a língua nos dentes? Maldita cachaça, que solta a língua da gente…”
Alex sabia que tinha violado o mais sagrado mandamento dos assassinos. “Se você mata você não assume. Nunca. Nem debaixo de porrada”.
Mas e a vontade de contar vantagem?
Se sentiu tremendamente idiota. “Talvez o garoto esqueça. Talvez ele ache que foi só uma bravata de um bêbado…” – Pensou.
As horas foram passando e o telefone não tocava. O sinal tinha sumido de novo.
Alex pensou que talvez tivesse que improvisar um tipo de plataforma de subida e observação sobre a casa, para poder pegar o sinal. Uma boa ideia para usar as madeiras das arvores cortadas, que se empilhavam num grande amontoado nos fundos da casa.
Ele olhou para a janela e viu o céu estrelado lá fora se estendendo pela escuridão do espaço. Sentiu a fraca brisa que soprava da janela.
Ficou ali pensando… “O que diabos teria acontecido com a tal mulher?”
“Será que uma cobra pegou ela também?” -Alex começou a maquinar um plano de ação para assim que amanhecesse o dia. Ele iria colocar os tênis e sair em busca dela pela mata, já se preparando para talvez a encontrar morta caída entre as folhas… Precisaria andar pela floresta com cuidado. As cobras já haviam provado que Manel tinha razão sobre elas e sobre os perigos traiçoeiros da ilha da ganchada.
Muitas pererecas e sapos cantavam na mata no meio da madrugada. Era um monte de barulhos diferentes. Ainda mais após alguns dias de chuva.
Se a fase da lua nova acabasse logo, ficaria mais fácil de andar no mato à noite. Alex sabia que a lua nova daria lugar à crescente dali a quatro dias. A lua cheia só viria após o dia 28, provavelmente no dia 30, que seria quando a maré estaria em seu ponto mais alto. Até lá, ele teria que lidar com pouca luz na escuridão. Felizmente, Manel havia trazido bastante provisões e pilhas para as lanternas.
Alex finalmente se entregou ao sono, mas acordou assustado. O dia já havia raiado. Dormira um sono sem sonhos. Um sono de cansaço.
Levantou-se como de costume, num pulo. Escovou os dentes e colocou água no caneco para esquentar o café no fogareiro.
Entre os novos itens trazidos por Manel estava um novo lampião a gás, que rapidamente ele conseguiu colocar para funcionar. Finalmente, estaria livre das luzes de vela e a dor de cabeça que elas lhe causavam.
Vestiu uma camiseta, pegou um dos pães da sacola e foi lá pra fora. Na montanha de cinzas uma fumacinha discreta ainda subia. O mar tinha uma cor azul escuro. Parecia parado, sem ondas. A ilha estava em paz. Poucas aves ainda cantavam, pois era cedo e o sol ainda não estava quente.
-Quem dera a temperatura fosse sempre assim. – Disse em voz alta.
Alex foi ate o celular que estava ao lado dele na cama. Sem sinal.
–Eta merda…
Tomou o café sentadona banqueta da varanda, olhando o mar, que muito raramente balançava em ondas que passavam sob o costão em uma espumeira branca de vez em quando.
Alex tomava seu café tranquilamente olhando o mar quando um pequeno ponto apareceu na água. Ele coçou os olhos e não acreditou no que estava vendo. O pontinho sumiu.
Alex se levantou e foi até a beira da varanda olhar com mais atenção. Então, lá de cima ele viu.
Era ela. A maluca gringa estava nadando… Pelada!
CONTINUA
Plínio apareceu tão pouco, e mesmo sendo um 171, senti a m0rt3 dele. Esse conto me lembra de uma vez que comecei a escrever um que se passava numa ilha também, e eu usava eu e meus amigos de um grupo de what’sapp como personagens. Os personagens acordavam numa ilha muito estranha, sem se lembrar de como pararam lá, quando na verdade, uma das ex-integrantes do grupo, queria se reaproximar da galera e inscreveu os amigos num reality show obscuro da deep web, só que ela não foi levada para a ilha, e enquanto aguardava sua ida, recebeu um link para assistir ao reality. Mas perdi o tesão nessa história e parei no capítulo 4.
PO era uma ideia muito boa. Tb fiquei triste da morte do Plínio. Acho que daria para aprofundar bem mais, pq o personagem coma tragedia do filho dava mais caldo. Odeio quando a história age sozinha.
Comecei a 10 anos atrás, e larguei. Mas hoje, do nada, reacendeu a chama, e comecei a reescrever. Quando a história começa a agir sozinha, eu começo a ficar interessado. Tô “novelizando” as minhas ideias para minha futura saga de hqs, e desde o ano passado, eu já tinha todos os fatos marcantes do primeiro livro feitos, aí comecei a escrever, e a história começou a se preencher sozinha de um jeito, que eu tive que mudar ordem de fatos marcantes, antecipar aparições.
muito bom, Philipe
até a parte 10 /