Os demais passageiros do ônibus argentino se espantaram ao descobrir que no veículo em que estavam viajando, iam também cerca de 600 cobras nativas das florestas do Brasil. O contrabandista estava usando uma caixa de papelão surrada para levar as cobras, no porta-malas do ônibus. O crime de tráfico de animais foi descoberto por puro acaso, quando policiais fizeram uma blitz no veículo, pedindo documentos e revistando bagagens, certamente em busca de sinais de narcotráfico.
Não obstante a levar ilegalmente 600 cobras num ônibus de viagem, o contrabandista de animais confessou que ainda havia mais coisas ali. Os policiais tiraram toda a bagagem do ônibus e encontraram mais caixas, sendo uma com cerca de 444 outras cobras, entre as espécies, jibóias, víboras e outras cobras, além de 186 jabutis de uma espécie ameaçada de extinção, 40 lagartos e até um tatu!
O passageiro criminoso foi preso e levado para Santiago del Estero, nas proximidades de Buenos Aires. A polícia acredita que o sujeito estivesse fazendo uma viagem de rotina, e que ele realiza continuamente este tipo de transporta há vários meses. Embora todas as espécies encontradas no ônibus sejam animais silvestres típicos da fauna brasileira, é difícil identificar com precisão a origem desses animais.
Pessoalmente, eu acredito que os contrabandistas estejam usando uma via através da fronteira do Brasil/Paraguai/Argentina e descendo com estes animais para o sul, onde eles devem embarcar para o mercado europeu e asiático.
Segundo o RENCTAS (Rede Nacional contra o Tráfico de Animais Silvestres), o tráfico de animais silvestres é o terceiro maior comércio ilegal do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas, que, segundo os especialistas, hoje se misturam tanto que são encarados como único. Movimenta aproximadamente US$ 10 bilhões por ano e o Brasil participa desse mercado com cerca de US$ 1 bilhão ao ano.
Por se tratar de uma atividade ilegal e por não existir uma agência centralizadora das ações contra o tráfico no país os dados reais sobre esse comércio ilegal são difíceis de serem calculados.
Fontes governamentais estimam que o tráfico de animais silvestres no país seja o responsável pelo desaparecimento de aproximadamente 12 milhões de espécimes. Em cada dez animais traficados, apenas um chega ao seu destino final e nove acabam morrendo no momento da captura ou durante o transporte. Todos os animais traficados sofrem no esquema montado pelos traficantes, que inclui, no caso das aves, práticas como furar os olhos, para não enxergarem a luz do sol e não cantarem, evitando chamar a atenção da fiscalização, e até anestesiá-los para que pareçam dóceis e mansos.
O Brasil é um dos países do mundo mais afetado por este tipo de crime horrível, pois desde os tempos do descobrimento, o Brasil despertou a cobiça mundial sobre a sua fauna e flora. A rica e preciosa biodiversidade nacional sempre esteve na mira daqueles que aqui aportaram. Em menos de 500 anos o Brasil já perdeu cerca de 94% da sua cobertura original de Mata Atlântica, um dos principais ecossistemas do país. São cada vez mais constantes as incursões nas matas tropicais em busca de animais para fomentar o tráfico nacional e internacional.
O Brasil além de ter sua biodiversidade ameaçada, perde anualmente uma quantia financeira incalculável e irrecuperável com o tráfico de animais silvestres. Só o mercado mundial de hipertensivos movimenta anualmente cerca de US$ 500 milhões, e o princípio ativo de seus medicamentos é retirado de algumas serpentes brasileiras, como a jararaca (Bothrops jararaca). No entanto, o maior fornecedor mundial de peçonhas ofídicas é a Suíça, que, originalmente, não possui uma única jararaca em seu território. A cotação internacional das peçonhas ofídicas é altíssima: um grama de peçonha de jararaca vale US$ 600,00 e o da cascavel (gêneroCrotalus) US$ 1.200,00.
Tudo é uma questão de dinheiro. Os valores alcançados internamente no tráfico de animais silvestres, dificilmente ultrapassam a casa dos US$ 200,00, enquanto que no mercado internacional esses mesmos animais atingem facilmente valores na casa de dezenas de milhares de dólares. O Mico-leão (Leontopithecus chrysomelas) é vendido internamente por US$ 180,00 e na Europa é facilmente comercializado por US$ 15.000,00. O pássaro Melro (Gnorimopsar chopi) é encontrado nas feiras livres do Sul do País por US$ 150,00 e nos Estados Unidos por US$ 13.000,00.
Recentemente, foi descoberto em uma espécie de sapo amazônico uma substância 247 vezes mais potente do que a morfina, algo que pode mudar todas as formas de tratamento com anestésicos no mundo. E o Brasil, com isso, certamente ganhará apenas mais um nome para colocar em sua lista de espécies ameaçadas de extinção.
No caso desses pobres animais, é provável que estivessem descendo pelo continente em direção ao Uruguai.
O destino internacional da rota de animais silvestres ilegalmente retirados de seus habitats são a Europa, Ásia e América do Norte, onde chegam para engordar coleções particulares, para serem vendidos em Pet Shop´s ou comporem o plantel de zoológicos, universidades, centros de pesquisa e multinacionais da indústria química e farmacêutica.
Também é grande o número de animais silvestres exportados pelas fronteiras com os países vizinhos, como Uruguai, Paraguai e Argentina, onde esses animais recebem documentação falsa para seguirem seu caminho.
Cara dá vontade de enfiar um cara deste amarrado dentro de uma caixa de papelão por horas até a cadeia.