Pode parecer surreal que alguém, ao preencher aquelas enfadonhas fichas de recepção de Hotel, onde você precisa dizer a profissão (um problema serio pra mim, já que faço tanta coisa que sempre fico na dúvida do que eu boto ali) coloque “monstro”. Mas há pelo menos uma pessoa nesse mundo que pode, e com todo o glamour, colocar monstro profissional em sua ficha, para espanto das camareiras.
O nome dele é Javier Botet, e se à primeira vista, você não reconhece esse nome, não se preocupe. Se você gosta de filmes de terror, é bem possível que você já tenha sofrido alguns calafrios com esse cara e nem imaginava que era ele por baixo de silicone, látex, pintura corporal e farrapos macabros.
Javier Botet nasceu na cidade espanhola de Ciudad Real, mas agora vive nos palcos de Hollywood. Devido ao seu talento artístico e à síndrome de Marfan, da qual Javier foi diagnosticado aos 5 anos de idade, o ator é muito requisitado pelos principais diretores do mundo que filmam filmes assustadores e com monstros. O Sr. Botet é quem interpreta os monstros, e ele faz isso melhor do que ninguém. Devido à sua flexibilidade natural e dados paramétricos extraordinários (ele tem dois metros de altura e pesa 56 quilos), Javier faz coisas diante das câmeras que parecem incompreensíveis para uma pessoa.
Ele não precisa de nenhum processamento computacional, apenas de maquiagem, que é aplicada com grande entusiasmo pelos profissionais mais famosos da área. O que eles dizem é que “Não há ninguém como Javier”!
A síndrome de Marfan é um distúrbio genético que torna a pessoa alta, magra e flexível, com membros longos e tecido adiposo subdesenvolvido. Essa característica faz com que seu corpo pareça resultado de processamento de computador.
Mas é claro que isso não é verdade.
O próprio Javier percebe isso como um dom natural que lhe permitiu fazer o que ama.
Javier Botet estrelou muitos filmes famosos, quase sempre aparecendo sob um milhão de camadas de maquiagem
Ele apareceu em uma participação especial no remake de It de 2017
No filme de terror “Mama”
“Pico Carmesim”
O filme de terror espanhol “Report” tornou-se famoso muito além da Espanha
Botet é um verdadeiro paraíso para maquiadores.
Este também é ele no filme “Alien: Covenant”
No set do filme “As Bruxas de Zugarramurdi”. Você pode até reconhecer Javier aqui
No filme “O Regresso” com Leonardo DiCaprio
Um pouco mais de “Mamãe”
Monstro de 4 braços de “Do outro lado da porta”
Botet foi a escolha óbvia para viver o famoso Slender Man
Em Game of Thrones ele interpretou um dos homens mortos no episódio “The Long Night” e retratou a morte de Melisandre.
Com mãos tão grandes, Botet poderia ter se tornado não apenas um herói de terror, mas também um pianista de sucesso.
No entanto, Javier idolatra sua profissão e tem muito orgulho dela.
Ele destaca especialmente sua capacidade de parecer assustador diante das câmeras, sem a ajuda de computação gráfica.
Botet com o Dracula em a ultima viagem do Deméter
Em uma entrevista recente, ele compartilhou detalhes sobre seu trabalho no filme Mara (2018), da Saban Films, e refletiu sobre alguns de seus papéis mais icônicos, revelando não apenas seu talento, mas também sua paixão pelo gênero de terror.
Diagnosticado com Síndrome de Marfan aos cinco anos, Botet cresceu com características físicas distintas: uma estatura alta e esguia, dedos longos e uma flexibilidade incomum devido à hiperlaxidez dos tecidos conectivos. Longe de ser uma limitação, ele transformou essas particularidades em uma vantagem, canalizando sua aparência e movimentos únicos para dar vida a monstros que parecem saídos de pesadelos. “Quando eu era criança, brincava com meus braços e pernas, dobrando-os de formas estranhas”, contou ele em outra ocasião. Essa habilidade natural, combinada com seu amor por ficção científica e fantasia, abriu as portas para o mundo do cinema.
Em Mara, Botet interpreta a criatura titular, um demônio ligado à paralisia do sono, um fenômeno que ele próprio experimentou há mais de uma década.
“Eu realmente queria fazer esse filme. O roteiro me interessou muito porque já passei por paralisia do sono, então a história era pessoal para mim”
Diferente de outros projetos, Mara exigiu uma maquiagem leve, o que permitiu maior liberdade criativa. O diretor Clive Tonge deu a Botet espaço para moldar o personagem, tornando a experiência confortável e colaborativa. “Foi um dos elencos mais gentis com quem já trabalhei. Espero voltar a colaborar com eles”, disse, destacando a conexão com a atriz Olga Kurylenko, que fala espanhol como ele.
A carreira de Botet decolou com Rec (2007), um marco do terror found footage espanhol onde ele interpretou Tristana Medeiros, a assustadora “Niña Medeiros”. Com um orçamento modesto de cerca de €1 milhão, o filme foi um experimento ousado que conquistou o público global. “Nunca esperamos tanto sucesso. Tínhamos muita liberdade criativa, e isso trouxe uma energia única”, relembrou. A partir daí, ele se tornou um dos atores mais procurados para papéis de criaturas, aparecendo em grandes franquias de Hollywood.
Entre seus papéis favoritos estão Mama Tristana Medeiros, o Xenomorfo e o Crooked Man em The Conjuring 2. Sua atuação como o Crooked Man, aliás, gerou tanto impacto que o personagem está em desenvolvimento para um spin-off próprio, embora Botet tenha mencionado que o projeto ainda está em fase de roteiro. Outro destaque foi Slender Man (2018), um papel que ele sonhava interpretar desde que conheceu o mito na internet.
“Quando souberam do filme, me chamaram. Foi uma honra dar vida a um personagem tão importante para tantas pessoas”.
Apesar de seu sucesso no terror, Botet sonha grande. Ele gostaria de interpretar um Nosferatu, participar de um filme de James Bond ou até encarnar uma versão “muito, muito sombria” do Coringa. Sua versatilidade e paixão pelo ofício mostram que ele não pretende se limitar ao gênero de horror, embora sua contribuição para ele seja inegável.
Javier Botet é mais do que um “ator de monstros”. Ele é um performer que transforma sua condição única em arte, trazendo autenticidade e emoção a cada criatura que interpreta. Com projetos futuros no horizonte, Botet continua a ser uma força singular no cinema, alguém cujo trabalho nos lembra que até os monstros podem ter coração.
Apesar do histórico do homem ser cheio de monstros, o próprio Javier é gente boa.
Botet nos ensina que muitas vezes, por baixo de uma criatura mística assustadora em um filme, pode ter um cara gente fina, e confiável, apenas se divertindo em seu trabalho. Coisa que com os políticos é exatamente o oposto, hehehe.