Deu na BBC brasil:
Em meio à crise financeira que vem se arrastando há quase cinco anos, a cidade de Marinaleda, no sul da Espanha, tem experimentado uma forma alternativa de lidar com a falta de trabalho, o estouro da bolha imobiliária e a deterioração econômica do país.
Localizada na Andaluzia, a região espanhola onde uma em cada três pessoas está sem emprego, Marinaleda adotou um sistema de fazendas coletivas, onde todos dividem o trabalho.
A agricultura emprega metade da população da cidade, e essas fazendas são uma amostra dos ideais socialistas que predominam na localidade.
O Partido da Esquerda Unida está à frente da prefeitura, e o prefeito, Juan Manuel Sanchez, quer criar uma espécie de utopia comunista em Marinaleda.
Construindo casas
Sanchez causou polêmica no ano passado quando junto com seus partidários roubou comida dos supermercados para dar para os pobres.
Ele diz que é preciso repensar os valores consumistas que permeiam a sociedade atual.
Além das fazendas, a cidade adotou a construção de casas com a ajuda da própria prefeitura e com mão de obra dos próprios moradores – evitando novos empréstimos bancários.
No primeiro trimestre deste ano, os espanhóis amargaram uma taxa de desemprego de 27%, a segunda maior da União Europeia após a Grécia.
A Andaluzia causou preocupação em Madri pelo grande número de pessoas que perderam suas casas por inadimplência depois da implosão do mercado imobiliário espanhol.
Aqui tem mais informações (inclusive o video que mostra o prefeito roubando o mercado na cara dura) , mas você também pode ver um video sobre a utopia comunista de Marinaleda:
Há quem veja este video da Folha, como “um tapa na cara de quem vê o comunismo com maus olhos”.
Eu creio que fora o erro de pensar que o prefeito do lugar, (que se aboletou no poder há 30 anos) é socialista (na verdade ele é conservador e democrata cristão) há uma certa tendenciosidade de vender a solução de Marinaleda como um “case” de sucesso em meio à crise econômica. Penso que um lugar lá no caixa-prego onde quase toda a população é de lavradores pobres não tem como ser um sistema de “solução” para um país inteiro em crise. Isso me soa mais como uma propaganda política (até porque não cita o fato de que o tal prefeito tem sido acusado de corrupção) que vende a utopia dos “sem terra europeus”.
Há uma crise, há! Sem dúvida, e essa crise é produto do capitalismo. Verdade também.
Mas dizer que o capitalismo causou a crise, vejo como afirmação meio torta. Porque se culpamos o capitalismo pelas coisas ruins que ele trouxe, também temos que creditar a esse sistema os benefícios, a começar pela internet onde você está lendo isso, e também pela máquina que você usa para conseguir ler aí na sua frente, e muito provavelmente as roupas que você está usando agora, seu tênis e essa cadeira onde você talvez esteja sentado, e por aí vai.
Só idiotas manipulados acham que sistemas econômico-filosóficos-sociais são “o bem ou o mau em si” Né Kim Jong Un?
Marinaleda será “exportada” para o mundo, numa possível ressurreição socialista? Talvez sim, dado que a busca de novas soluções aumenta muito em tempos de crise, e as utopias vão nesse vácuo, porque o ser humano é propenso em crer em milagres, em governantes messiânicos e soluções rápidas e indolores. Mas a questão é: Vai funcionar?
Provavelmente não.
Uma pergunta quase retórica seria: Será que essa solução socialista funciona mesmo em Marinaleda? Me parece que o tal “experimento social” local é deveras curto para se tirar conclusões. Não sei se esse socialismo 2.0 sobreviverá ao escrutínio do tempo.
E mesmo que venha a sobreviver, não há nenhuma grande novidade aí. Esse tipo de comunidade agraria supostamente igualitária é bastante comum. Os Menonitas, os Amish, e tantos outros pequenos grupos agrários separados em diferentes graus da nossa sociedade de consumo moderna, mostram que ainda é possível viver como no século XVIII nos dias atuais, muito embora, quem conheça de perto sabe que todos esses grupos são sistemas de absoluta opressão social, que bane e pune sem piedade os que não se enquadram na “forminha”, e o galerão é sempre controlado por um pequeno grupo de “elite”, que se denomina “os sábios, os anciãos, os líderes” e etc.
Agora, não vamos ser hipócritas: toda pessoa normal gostaria de viver numa sociedade com menos desigualdade, mais oportunidades, mais acesso à educação e saúde. Reconheço o mérito em pelo menos tentar fazer algo para a população e não ficar eternamente esperando que o Rei (aquele cheio de amantes que gosta de ir caçar elefantes na Àfrica), o primeiro ministro ou os líderes da União Europeia resolvam os problemas deles.
Entretanto, há experimentos que só funcionam em uma pequena escala. Numa sociedade restrita e quase isolada, de 2700 pessoas, isso é mais factível que numa cidade grande, quiçá um país inteiro. Experiências socialistas de tubo de ensaio, com pouca gente, como em Marialeda ( com população que equivale a um bairro) e em países como Cuba, (que não passa de um tubo de ensaio soviético na forma de ilha, onde basta você discordar do ditador para se foder numa cela fedorenta para sempre) podem expressar a realidade? É um caso a se pensar.
Ainda sobre a questão socialista, aqui tem uma pequena história que pode ser o retrato do que talvez acontecerá em Marinaleda em anos futuros.
Esta classe em particular havia insistido que o socialismo realmente funcionava: com um governo assistencialista intermediando a riqueza ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e justo.
O professor então disse, “Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas.” Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e portanto seriam ‘justas’. Todos receberão as mesmas notas, o que significa que em teoria ninguém será reprovado, assim como também ninguém receberá um “A”.
Após calculada a média da primeira prova todos receberam “B”. Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.
Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos – eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Já aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Como um resultado, a segunda média das provas foi “D”. Ninguém gostou.
Depois da terceira prova, a média geral foi um “F”. As notas não voltaram a patamares mais altos mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por ‘justiça’ dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram aquela disciplina… Para sua total surpresa.
O professor explicou: “o experimento socialista falhou porque quando a recompensa é grande o esforço pelo sucesso individual é grande. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros para dar aos que não batalharam por elas, então ninguém mais vai tentar ou querer fazer seu melhor. Tão simples quanto isso.”
1. Você não pode levar o mais pobre à prosperidade apenas tirando a prosperidade do mais rico;
2. Para cada um recebendo sem ter de trabalhar, há uma pessoa trabalhando sem receber;
3. O governo não consegue dar nada a ninguém sem que tenha tomado de outra pessoa;
4. Ao contrário do conhecimento, é impossível multiplicar a riqueza tentando dividi-la;
5. Quando metade da população entende a ideia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.
Perfeito!
Eu prefiro o capitalismo selvagem do que o socialismo domesticado.
Ei Philipe ou Phelipe?Me desculpe,eu sou novo aqui
no MG…hehe.Você já ouviu falar ou talvez já até deve ter lido(não duvido nada)o livro”Fuga do Campo 14″?Pois bem,este livro fala sobre Shin Dong Hyuk,umas,se não a primeira pessoa a conseguir fugir da Coréia do Norte.A história é real,bota REAL nisso,o livro é recente e já têm em Português.Recomendo ferozmente a você Ph(i)(e)lipe para os leitores acíduos do Mundo Gump!
É Philipe, hahaha. Cara ja me falaram desse livro. Vou ver se acho pra comprar.
Eu acompanho “anonimamente” o blog há um tempo(curto). E eu resolvi comentar nesse post porque eu ando esses dias muito indignado justamente com isso que tem na historinha do professor, na verdade, com esse ponto-chave bem aqui:
“Para cada um recebendo sem ter de trabalhar, há uma pessoa trabalhando sem receber;”
Isso sintetiza o que eu penso sobre políticas que tem relação com as chamadas ‘dívidas sociais’ ou coisa do tipo.
Pode parecer um pensamente simplista demais, ‘besta’ demais…não sei. Mas sinceramente, a dívida maior é com quem vai nascer ainda, com quem é pequeno. Se quisessem sanar dívidas, investiriam em escolas. Eu não sentiria nenhum remorso de trabalhar 4 meses só pra pagar a construção de uma escola. É conhecimento, é poder real.
*Pensamento
Quando os EUA estavam se recuperando da grande depressão da crise de 29, quando não havia emprego e todo mundo tava numa baixa auto estima fodida nos EUA, o que eles fizeram? Começaram uma caralhada de obras faraônicas, por todo o país. O governo empregou milhões de desempregados e deu ocupação para essa galera. Fizeram estradas, estradas de ferro, fizeram pontes, fizeram uma caralhada de coisas que ajudou os EUA a se reerguer da crise, e não só isso, a despontar como a grande potência mundial que virou.
Se o Brasil ao invés de criar bolsas criasse uma enorme estatal que teria a única função de ocupar gente atôa, pintando poste, arrumando calçada, limpando bueiro, fazendo pontes, abrindo estradas, duplicando a quilometragem de estradas de ferro do brasil, limpando córregos, arrumando escolas, recolhendo lixo de encosta, fazendo casa segura… Em vinte anos teríamos um outro país. E todas essas familias beneficiadas seriam sustentadas pelo trabalho e não pela pena, pela “ajuda” assistencialista que na verdade oculta intenções eleitoreiras.
Concordo com você, é justamente isso que eu penso. Tem sindicato, tipo o dos professores que NUNCA deve ter tido um aumento que não fosse coisa de 0,4% e isso porque o sindicato só faltou dar o cu pro governo pra conseguir.
Enfim, essa discussão tem resposta, tem tudo. O nome disso é paternalismo.
Seria lindo msm, mas infelizmente o brasileiro adora o jeitinho, a dependência e o ócio.
Vide nosso sistema penitenciário, cometem crimes e ficam lá sendo sustentados pelo resto da população que trabalha; se pelo menos colocassem esses uns para trabalhar e pagar a estadia, já ajudaria e muito, pq eh muita, muita gente.
O assistencialismo a meu ver, pode até ser bom, quando bem aplicado, mas aqui ele não é criterioso e nem tem caráter temporário e/ou emergencial, eh o melhor estilo das estórias pra boiada dormir e continuar quietinha.
O bolsa família têm um valor fixo de mais ou menos cinquenta reais cara,que aumenta a medida que o cara têm seus filhos na escola e do número também.Essa renda,como muitos dizem,não bastaria para uma família viver só disso,tenha dó..
Philipe, e se porventura tirássemos o dinheiro desta equação social toda? Será que daria certo ou o resultado seria como o da classe universitária americana? Digo isso porque já assisti videos do Projeto Vênus/Zeitgeist e, se você já os conhece, gostaria de saber sua opinião sobre o assunto.
Obrigado,
E parabéns pelo site! Um abraço.
Tirar o dinheiro da equação é uma utopia, mas pensando livremente sobre o assunto, teríamos uma reestruturação social onde os valores seriam outros. Como o dinheiro perde sua importância, o que acontece com a sociedade é que desaparece o estímulo existente. Isso vai provocar um rebuliço complexo inicial, que tenderá sem dúvida a busca de um novo lastro, e eu acho que a sociedade vai recair sobre o ouro, ou algum tipo de material muito raro que será o novo capital. Seria muito difícil que as sociedades conseguissem se entender e se organizar sem o dinheiro. Se isso acontecesse, o Brasil se tornaria uma das grandes potências mundiais, porque comida sempre será necessária, aço sempre será necessário. As comoddities que são o que mais exportamos ao mundo não deixarão de ser necessárias, e sem a grana, a especulação com esses bens de consumo correria livre e solta. A economia tentaria se reestruturar na base da troca, como era antes da invenção do dinheiro. Eu só não sei se os problemas decorrentes do dinheiro, como a inflação, a concentração de capital, a miséria, iriam acabar ou mudariam de nome e endereço apenas. A capacidade de abstração da Humanidade seria posta em cheque.
O problema da historinha do professor que reprovou a turma toda é que ela restringe as possibilidades.
Não me parece crível que os CDFs ficariam de braços cruzados, correndo risco de reprovarem, só pra fazer “birrinha” porque os outros não estudaram também.
Além disso a diferença da sala de aula para um país, ao menos na teoria, é que num país o governo tem a possibilidade de tomar os meios de produção (ainda mais com a tecnologia que existe hoje, que permite automatizar quase tudo) e garantir pelo menos o mínimo para todos.
Ninguém vai ter vida de bilionário, mas ninguém precisaria passar fome. E ainda, poderia ser permitido que quem quisesse se empenhar mais ganhasse um extra pra viver melhor. Ao menos em teoria.
Existe um sistema chamado “Economia Baseada em Recursos” que tenta aplicar uma alternativa ao capitalismo.
Se tiver interesse, procura sobre o Projeto Vênus e o Movimento Zeitgeist (http://www.youtube.com/watch?v=nlTFzGtNMyU). Esse carinha aqui fala bastante sobre o assunto: http://www.youtube.com/watch?v=M-VvizUG5Qk
Abraço, Philipe!
Juliano, a história do professor provavelmente é uma ficção que mostra que a aplicação do socialismo tradicional é uma tentativa de fazer justiça provocando a injustiça, uma vez que trata como iguais pessoas, que não são e nunca serão iguais.
Quanto a uma super estatização, uma vez que só pode ser conduzida pelo governo, penso que atenderia interesses de certos grupos associados ao poder e CAGARIA para o povo. Era assim no tempo das empresas telefônicas. O Brasil e sua história recente mostra claramente que as estatais eram gigantes ineficientes, que sugavam muita grana e geravam pouco resultado. Tentando mascarar a ineficiência, o governo colocava entraves à iniciativa privada, o que é uma selene putaria. Penso que nenhum governo devia tentar impedir a livre iniciativa. Fazer isso é um tiro no pé. Por outro lado o capitalismo mais selvagem é foda também, nego só visa o lucro e foda-se o resto todo. Achar um meio termo que respeite o ser humano e a natureza em primeiro lugar é o mais difícil.
Pra mim a crise não é do capitalismo e sim do sistema de reservas fracionárias:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=124
Todas as crises que houveram foram sempre depois do governo inflacionar a moeda.
Essa ultima crise aí foi uma conspiração da pior qualidade, com a finalidade de deixar uns caras muito ricos. Na pratica foi isso que aconteceu mesmo. Só o povo que se fodeu. Os bancos foram socorridos, as grandes empresas foram socorridas, as agências de avaliação de risco ficaram incólumes, e o Goldman Sachs continua a colocar seus executivos-espiões dentro do Federal Reserve e aparelhando a Casa Branca e o Congresso, para continuar seu projeto de poder.
O modelo econômico dominante no mundo ainda pode ser o capitalista, mas o modelo político é socialista faz tempo.
As 5 “morais” da historia da classe de economia foi uma definição perfeita do que seria o socialismo como forma de governo de um país .
O Juliano fez dois comentários que eu queria apontar aqui :
“Não me parece crível que os CDFs ficariam de braços cruzados, correndo risco de reprovarem, só pra fazer “birrinha” porque os outros não estudaram também.”
Extrapolando isso para uma nação , ninguém iria querer se matar de trabalhar sendo que teriam pessoas que ‘não iriam fazer nada’ e receber o mesmo , a gente já acha isso ruim recebendo dinheiro , imagina sem receber ‘nada’ ? Se eu fosse um pedreiro que tivesse que trabalhar 8 horas por dia debaixo de sol e chuva e ganhasse o mesmo que uma pessoa que só ficasse de boa curtindo a praia , eu sinceramente ficaria muito puto .
“E ainda, poderia ser permitido que quem quisesse se empenhar mais ganhasse um extra pra viver melhor.”
Se quem se empenhar mais ganhar mais já não é mais socialismo , a longo prazo isso acabaria se tornando capitalismo ou algum sistema de méritos doentio onde só quem faz mais vai receber pois para que dar para quem não faz nada se existe gente querendo receber mais e que toparia trabalhar mais por isso ? Acabariam diminuindo o ‘básico’ a pão e água para privilegiar aqueles que se empenhassem .
Eu concordo com o Matheus ai em cima , o modelo é capitalista mas o governo é socialista pelo menos na questão de ‘trabalho’ , gente trabalhando muito para beneficiar quem não trabalha .
O capitalismo ainda é o melhor modelo a se seguir , o problema é que ele é superestimado e levado de forma muito literal e acabam dando valor só ao dinheiro em detrimento de todo o resto .
Concordo com sua análise na segunda metade do post :)
É bem o que prego quando alguma empresa vai implantar sistema de remuneração variável (que não seja de vendas, pois aí tem um aspecto diferente): 50% da RV de acordo com o desempenho individual e 50% da RV de acordo com o desempenho da equipe ou da empresa.
Explico que esta é a melhor maneira e é como deveria funcionar na sociedade. Quem trabalha muito, se especializa, batalha, rala e quer sempre chegar a níveis mais altos, merece ter uma premiação por seus resultados (na sociedade seria a pessoa conseguir uma melhor colocação). A outra parte é aquela que é comum a todos, onde todos tem de colocar a equipe, o time para frente, é algo que se todos se dedicarem, conseguiremos alcançar, por mais que algum(ns) não se dedique(m) tanto, a média alcança (e isto na sociedade seria o comum, os serviços públicos, que deveriam ser bons).
Se dermos importância apenas para o individual, ninguém buscará a melhoria coletiva, assim como se dermos importância apenas para o coletivo, ninguém se empenhará tanto.
“Porque se culpamos o capitalismo pelas coisas ruins que ele trouxe, também temos que creditar a esse sistema os benefícios, a começar pela internet onde você está lendo isso, e também pela máquina…”
Bom, a notícia como um todo é boa, mas os comentários do blogueiro são muito fraquinhos acerca de toda essa situação.
Sem “ad hominismo”, mas indo direto ao que vc postou acima. Vc realmente acredita que o desenvolvimento tecnológico das últimas décadas é fruto do capitalismo em si ?
E onde fica a Humanidade nisso tudo ? Pensei que a força transformadora estivesse em nós, seres humanos, e não na abstração de um modo de produção econômico. Vc entende, é como dizer que as Grandes Pirâmides do Egito só foram possíveis por conta do faraonismo despótico (pelo menos de acordo com a história oficial). Nessa linha, quer dizer que não poderíamos questionar o modelo nazista porque os caras avançaram em muitas áreas científicas, o mesmo sobre o stalinismo, o Império de Napoleão ou sei lá mais quem !?
Uma coisa não justifica a outra. A crítica ao capitalismo, a política, a economia e a vida em geral deve ser uma constante filosófica. A História não pode estagnar sob o álibi de que ” bem ou mal, muito já foi conquistado com o que está vigente, e portanto basta que a gente execute algumas convenientes reformas”. História é ruptura, e a Idade Medieval, mesmo com incontáveis rupturas não tão significativas quanto outras eras, já nos demonstrou o quanto é falacioso o argumento de que termos que creditar a certas épocas certas vantagens que as blindem de uma inevitável ruptura. Detalhe: em qualquer momento eu citei aqui socialismo/marxismo/revolução nem nada disso.
que post idiota!
como que incentivando o individualismo poderemos crescer?
E dizer que o governo para distribuir renda e demais recursos, precisa tirar dos ricos… como se isso tivesse sido somente fruto de seus próprios trabalhos… quanta besteira!
E a culpa á do capitalismo sim! Tem suas qualidades, mas os pontos fracos desses sistema deve também serem revelados!
Primeiro faz insinuações à longa permanência do alcaide, demonstrando que não procurou se informar nem pelo próprio portal da BBC, do qual vincula a notícia. Caso o fizesse saberia que o partido de esquerda de Marinaleda recebe a maioria dos votos, e ainda que todas as questões administrativas são decididas a partir de assembleias gerais (várias durante o ano), pela qual toda a população tem o livre direito e poder de se expressar acerca das políticas municipais.
Depois insiste em restringir o relativo progresso econômico e social de Marinaleda à incidência de sua “remota” posição geográfica e a personalidade “bucólica” de seus cidadãos.
Assim diz ele:
“Penso que um lugar lá no caixa-prego onde quase toda a população é de lavradores pobres não tem como ser um sistema de “solução” para um país inteiro em crise.”
Esquecendo-se, entretanto, que a cidade nos últimos 4 anos tem “hospedado” os espanhóis que procuram escapar da fome e desemprego dos centros urbanos.
Em seguida o autor tenta dissimilar a responsabilidade do sistema econômico capitalista da crise ressaltando que se o capitalismo PRIVA, é porque oferece.
“Porque se culpamos o capitalismo pelas coisas ruins que ele trouxe, também temos que creditar a esse sistema os benefícios, a começar pela internet onde você está lendo isso, e também pela máquina que você usa para conseguir ler aí na sua frente, e muito provavelmente as roupas que você está usando agora, seu tênis e essa cadeira onde você talvez esteja sentado, e por aí vai.”
Uma falácia que tende a induzir o interlocutor a uma dicotomia equivocada. A economia capitalista é falha [fato], ao mesmo tempo em que nas atuais circunstâncias os bens de consumos e serviços em geral são obtidos através de empresas privadas. O QUE NÃO INDICA NECESSARIAMENTE que aqueles pertencem exclusivamente a estas. Produtores coletivos que se pautam pela socialização dos meios de produção podem muito bem produzir tudo aquilo que o autor citou, embora, óbvio, um sistema econômico atua na sociedade como um todo, sendo institucionalizado pelo governo de cada país, como também é resultado de determinado processo histórico (não confundir com “natural”) de acumulação e troca de capitais em variados graus e muitas vezes assentado com a ajuda da espada e do canhão.
E o desfile de falácias continua. O autor do blog persiste em desqualificar Marinaleda como um mero caso isolado em nosso mundo moderno. Caso contrário, em larga escala o socialismo decerto fracassaria, como a fotográfica experiência soviética nos mostrou. Ora, voltemos ao capitalismo, com toda sua ineficiência.
“Esse tipo de comunidade agraria supostamente igualitária é bastante comum. Os Menonitas, os Amish, e tantos outros pequenos grupos agrários separados em diferentes graus da nossa sociedade de consumo moderna, mostram que ainda é possível viver como no século XVIII nos dias atuais…”
Além de tentar colocar o capitalismo na posição de ETERNO sistema econômico da humanidade, o autor insinua que o socialismo (ou qualquer outro tipo de ordem econômica pós-capitalista) será sempre um sistema que atentará contra as sagradas liberdades individuais:
“…muito embora, quem conheça de perto sabe que todos esses grupos são sistemas de absoluta opressão social, que bane e pune sem piedade os que não se enquadram na “forminha”, e o galerão é sempre controlado por um pequeno grupo de “elite”, que se denomina “os sábios, os anciãos, os líderes” e etc.”
Certamente, os presídios superlotados e as pessoas de classe alta cada vez mais onipotentes juridicamente e a publicidade onipresente impondo o consumismo desenfreado como estilo de vida não indicam a “opressão social e o enquadro à forminha” na gloriosa sociedade capitalista.
E pra fechar com chave de ouro, o bloqueiro lança a velha historinha do professor que decidiu equalizar as notas dos alunos, supondo assim, a provável ruptura do modelo socialista adotado em Marinaleda. Primeiro: somente uma pessoa tendenciosa poderá enxergar nesse conto um exemplo de sociedade baseada na socialização dos meios de produção (uma comparação com a campanha do agasalho das igrejas seria muito mais crível). Segundo: o blogueiro, ao colocar o conto do professor em seu texto, alude à suposição de que todos se tornarão preguiçosos e improdutivos com a consolidação do socialismo. Uma retórica que vem sendo utilizada há vários anos…
(“Se assim fosse, a sociedade burguesa teria há muito tempo sucumbido de indolência, pois nessa sociedade aqueles que trabalham não ganham e aqueles que ganham não trabalham. Toda a objeção se reduz a essa tautologia: não haverá mais trabalho assalariado a partir do momento em que não houver mais capital.” – Já dizia Marx no Manifesto)
Como podem perceber, a população Marinaleda não se estagnou quando começou a gerir seu próprio trabalho. Muito pelo contrário. Quando a organização de trabalho é coletiva, os trabalhadores encontram um real motivo para trabalhar, pois sabem que o fruto de seu trabalho não será espoliado. O trabalho deixa de ser maçante e robótico e possibilita que o ser humano encontre nele sua razão de existência. *
Bem, sem me estender a essa crítica de padaria ao socialismo ou a qualquer tentativa de superação do capitalismo, chamo atenção para a contradição do blogueiro: ao tentar diminuir o relativo sucesso do socialismo de Marinaleda afirmando que só deu certo até agora por ser uma ocasião isolada em um local pequeno, prevê ao mesmo tempo, com certa convicção, seu iminente fracasso baseando-se no singular caso fantasioso do professor que decidiu distribuir as mesmas notas aos alunos de uma única sala.
_________
Para uma pequena crítica à equidade salarial, ver K. Marx: Salário, Preço e Lucro; cap. vii
“[…] Os custos de produzir forças de trabalho de diferente qualidade, assim têm que diferir também os valores das forças de trabalho aplicadas em diferentes negócios. Por conseqüência, o grito pela igualdade de salários assenta num erro, é um desejo insensato, que jamais se realizará…
Na base do sistema de salários, o valor da força de trabalho se fixa como o de outra mercadoria qualquer, e como distintas espécies de força de trabalho possuem distintos valores, ou exigem para a sua produção distintas quantidades de trabalho, têm de alcançar preços distintos no mercado de trabalho.
Pedir uma retribuição igual ou simplesmente uma retribuição justa, na base do sistema do salariado, é o mesmo que pedir liberdade na base do sistema da escravatura…
A questão é: o que é necessário e inevitável com um dado sistema de produção?
… Depois do que foi dito, vê-se que o valor da força de trabalho é determinado pelo valor dos meios de subsistência requeridos para produzir, desenvolver, manter e perpetuar a força de trabalho.”
Talvez eu estivesse errado. Espero que o lugar prospere e mostre-se uma via econômica efetiva. Mas acho muito improvável sua logica ser aplicada a sociedades mais complexas.
A essência do capitalismo é a desigualdade.
A essência do capitalismo são as trocas voluntárias. Ninguém é obrigado a nada.