Caetano Veloso é um grande compositor um cantor reconhecido – embora eu o considere muito superior compondo que tocando e cantando – e uma de suas criações mais célebres é a musica “Menino do Rio”, que se tornou famosa na voz inconfundível de Baby Consuelo. Desfrutemos dessa bela trilha antes do post:
Trilha sonora da novela Água Viva de 1980, na Globo a musica ficou para sempre como uma bem popular ode ao jovem surfista, que mais tarde ainda na década de 80 e por um trecho dos anos 90 materializados na figura de André de Biase e Cadu Moliterno, com Juba e Lula.
De fato, André De Biase havia personificado o Menino do Rio duas vezes em filmes de Antônio Calmon antes de formar o triângulo amoroso com Zelda Scott e seu incomparável parceiro Juba na serie “Armação Ilimitada”.
Uma curiosidade interessante de Menino do Rio é que eu acho que esse é o talvez único filme do cinema brasileiro em que um cara é abduzido por um ufo… E não volta mais. (eu não estou certo se isso acontece no Menino do Rio ou na continuação, Garota Dourada)
Mas o fato é que Caetano Veloso estava realmente inspirado quando compôs essa musica. Mas inspirado por quem?
Durante muito tempo imaginei que ele era um surfista genérico, uma espécie de arquétipo do que seria o cara mais desejável naqueles tempos. Bonito saudável, surfista, voava de asa delta, enfim, o protótipo do cara foda pelo qual todas as meninas eram apaixonadas (e dizem as más línguas, compositores também). Mas o fato é que descobri recentemente num grupo de coisas dos anos 80 no facebook que o “Menino do Rio” era de fato uma pessoa! Aqui está ele:
Trata-se de José Artur Machado, o “Petit”.
Conhecido na região, Petit namorou muitas mulheres e com a ex-Frenética Lidoka teve um filho.
Petit marcou toda uma geração, pelo simples fato de que ele era bonito pra cacete e ainda mais gente boa do que bonito.
O cara era super humilde, como todos os que o conheceram se lembram.
Petit foi famoso por ser um “garanhão”, chegando. Amigos contam que “não tinha tempo ruim e nem mulher feia” pra ele. De fato o rapaz vivia rodeado de meninas, numa época anterior ao boom da Aids, onde a pegação rolava solta (bem como a cocaína).
A história conta que Petit e Caetano se conheceram em Ipanema, na praia mesmo possivelmente no píer, e ficaram amigos – o surfista passou a frequentar a casa do músico. Aí, quando Baby estava gravando o Pra Enlouquecer, pediu que Caetano compusesse uma musica pra ela cantar. Segundo a própria, na noite seguinte, se encontraram todos na casa de Caetano: Petit, Baby, Dedé (a mulher de Caetano na época) pra bater papo. E vendo o belo surfista de um metro e oitenta, ele se inspirou.
O dragão
Petit realmente tinha um dragão tatuado no braço na década de 1970, quando ainda era tabu a classe média aderir à tatuagem. Era coisa de malandro, de criminoso, de presidiário, de marinheiro… e de rebelde. Petit não deu o braço pra qualquer um tatuar. O traço é do considerado primeiro tatuador profissional do Brasil. Nada menos que a lenda Tattoo Lucky.
O dinamarquês Knud Gregersen dizia que tinha rodado o mundo antes de vir atracar por aqui. Ele abriu seu estúdio em Santos, litoral paulista, na década de 1960. Virou uma lenda. Morreu em 1983, pouquinho depois de um do seus trabalhos ficarem imortalizados na MPB.
Petit teria ido no estúdio santista em 1974. Esse movimento dos cariocas descendo para Santos para se tatuar com Lucky acabou popularizando mais a tatuagem no Brasil, ajudando a tirar o estigma dela. Até os anos 1980, para algo virar moda a nível nacional, precisava virar moda no Rio antes. A Cidade Maravilhosa comandava as tendências de roupa, consumo e comportamento do país.
Um acidente trágico marcou sua vida
Petit recebeu muitos atributos inatos que iam além da beleza; era inteligente, espirituoso, simples, simpático e agradável. Inspiração para toda uma geração, o cara parecia ter vindo para ser um campeão literalmente ( surf, vôo livre e jiu jitsu), carismático era na praia o seu habitat natural que com seu carisma envolvia a todos.
Em 1987, Petit estava voltando de moto de uma festa, na garupa de um amigo, quando sofreu um acidente e caiu em uma curva na estrada do Joá. Ficou 40 dias em coma aproximadamente. Quando saiu do coma estava com sequelas, ficando com o lado direito do corpo, rosto e boca paralisados, ainda cogitava-se a hipótese dele piorar com o passar dos tempos.
Após um tempo depois do acidente, Petit ainda apresentava um déficit motor discreto em termos de perdas funcionais (segundo o padrinho de sua filha, ele mesmo hemiplégico nadava 1000 metros na piscina do clube do Flamengo) na vida relacional porém sabia que nunca mais teria a performance que estava acostumado.
Autonomia era uma obsessão dele. Petit passou a sofrer de depressão num tempo onde pouco se falava sobre isso, ainda mais quando era um homem que cresceu como o príncipe de Ipanema. Ele não aguentou a pressão e aos 32 anos, deu cabo da própria vida se enforcando com a faixa do quimono de Jiu Jitsu no dia 6 de março de 1989.