Estamos recebendo os primeiros relatos dos leitores, o que é muito legal! Aqui está o nosso primeiro reato dessa série, que é um relato do Leandro Rezende.
O Velho da Mangueira
Minha mãe sempre teve, desde jovem, uma espiritualidade muito aflorada.
É um assunto que é meio tabu na nossa família e talvez por isso que ela nunca comentou diretamente comigo.
Esse primeiro relato eu ouvi ela falando para outras pessoas e sempre gostei demais de ouvir, desde pequeno, a conversa dos adultos. Bom, meu avô pai da minha mãe era um “cuidador” de fazenda/rancho. Ele era vaqueiro e naquele tempo era normal o dono da fazenda empregar pessoas para morarem em algum lote e ali cuidar dos animais, do plantio etc.
Meu avô, que era um jogador viciado, brigou com o dono do lugar onde estavam e eles precisaram arrumar um lugar novo com urgência. Havia na região um rancho onde não parava ninguém, as pessoas diziam que era mal assombrado. Sem muita escolha, meu avô foi ao local com a minha mãe, que era primogênita da família, ver como era a roça.
Chegando lá, o dono ficou todo empolgado mostrando o lugar, e enquanto ele mostrava a fazenda minha mãe avistou umas mangueiras (pés de manga) carregadas.
Como ela adora essa fruta, ela se sentou embaixo de uma e começou a comer as mangas. Nisso chegou um senhor, um velho, muito simples, cumprimentou minha mãe e começou a falar com ela. Ele falava que morou ali a vida toda, que gostava muito dali. Ele contou como era a fazenda e que morava ali desde que era uma criança. Minha mãe estranhou que o senhor não comia manga e sempre olhava com um olhar triste, pesaroso, para o pasto e onde ficavam as vacas. Nisso, minha mãe ouviu o pai dela a chamando. Ela se despediu do senhor e saiu de perto.
Quando ela chegou onde estava meu avô, ela se lembrou que não perguntou o nome do velho. Aí ela perguntou para o dono da fazenda quem era o “senhor que estava ali”.
Nisso, o dono da fazenda ficou pálido porque a descrição era exatamente de um senhor que morava ali e ficou vivendo por lá até morrer.
Sem ter como esconder, ele contou ao meu avô que ninguém parava ali porque “o velho” assombrava o local. A noite, ele ficava tocando as vacas, ele ficava mexendo no quintal. Meu avô ia recusar ficar no local, porque minha avó era muito medrosa. Mas ele não tinha escolha, precisava de um lugar para ficar.
Como sempre tomava a frente, minha mãe disse que eles iam ficar ali sim e que eles iam dar um jeito.
Que satisfação ver meu relato aqui! Um abraço Philipe!