Parece estranho pensar que dá pra ter um micro-gado dentro de um apartamento.
Neste artigo, vamos explorar o fascinante universo do micro-gado, começando com a história de Dustin Pillard, o pioneiro nesse encantador mundo do boi bonsai.
A Saga de Dustin Pillard e as Micro Vacas
Dustin Pillard, aos 46 anos e pai de três filhos, cresceu na cidade, mas sua conexão com a fazenda dos avós perto de Cedar Rapids moldou seu destino. Sua jornada com microgado começou em 1992, durante um leilão de gado, quando teve o primeiro contato visual com esses animais diminutos. Fascinado, três anos depois, já como proprietário de uma fazenda de 10 acres, Pillard deu vida à Oxen Ridge Miniature, uma fazenda que revolucionaria o conceito de gado em miniatura.
A arte da criação seletiva
Através de meticulosa criação seletiva, Pillard conseguiu desenvolver vacas e touros com uma média de altura de aproximadamente 84 cm. É menor que algumas raças de cachorro!
Esses pequenos seres vêm em diversas cores, representando raças como Texas Longhorns, Texas Shorthorns, Jerseys, Dexters, Herefords, Angus, Zebus e Watusis. Com uma produção de 10 a 20 animais anualmente, Pillard conquistou o mercado norte-americano e despertou interesse na Europa, México e Argentina.
Personalidade Canina mas em Corpos Bovinos
Segundo Pillard, o temperamento desses micro bois assemelha-se ao dos cães. Com uma personalidade amigável e dócil, eles adoram guloseimas, correm ao ar livre como cachorros e são sociáveis. Esses animais de estimação peculiares também apreciam atenção, formando laços afetivos surpreendentemente próximos com seus cuidadores.
A Saúde nas Dimensões Certas
Ao contrário de algumas raças de animais resultantes de criação seletiva, Pillard assegura que suas micro vacas são perfeitamente saudáveis. Livres de problemas de saúde frequentemente associados a esse processo, esses pequenos bovinos são cuidadosamente criados para garantir bem-estar e vitalidade.
O Futuro na Dimensão Mini
A família Pillard tem um objetivo claro: estabelecer um rebanho de 25 a 30 animais, todos medindo menos de 36 polegadas e pesando menos de 500 libras (227 kg). Com a missão de trazer diversidade de cores à fazenda, eles continuam encantando pessoas ao redor do mundo.
O Preço da Novidade
Se você se sentir tentado a ter um rebanho de gado pequeno no quintal, prepare-se para desembolsar pelo menos US$ 1.000 por um bezerro. Contudo, a recompensa de ter esses seres encantadores ao seu redor pode valer cada centavo.
Questões éticas sobre o micro-gado
A busca pela criação de gado anão, muitas vezes apreciada por sua adorável estatura, levanta questões éticas importantes sobre o papel do homem na manipulação genética desses animais. Antes de condenar o cruzamento seletivo que resulta em gado em miniatura, considerado por algumas pessoas como um tipo de “Aberração ao padrão natural originário do boi” é fundamental analisar a história por trás da criação do gado em si.
O boi é uma criação humana
O gado que conhecemos hoje não é resultado apenas da natureza, mas sim de séculos de cuidadoso cruzamento seletivo feito pelo homem. Desde os primórdios da domesticação, os criadores buscaram aprimorar as características do gado para atender às necessidades específicas de suas comunidades. O ser humano, em seu deslocamento pela Terra, levou o gado e foi lentamente adaptando-o, praticamente construindo as raças de boi que existem hoje.
Adaptação Geográfica: Um Jogo de Cruzamentos
Então, podemos dizer que o boi não existia na natureza. O ser humano FEZ o boi. O animal que existia originalmente era um colosso de um tipo de touro gigante extremamente agressivo e perigoso, chamado auroque, há cerca de 10.500 anos atrás. Esse bicho era uma espécie bovina selvagem, que habitava as proximidades dos atuais países da Turquia e do Paquistão.
Um touro erado podia chegar a quase 3 metros de comprimento e 2 metros de altura, (devia ser assustador demais) uma diferença muito grande dos nossos bovinos. Os chifres eram enormes e pontiagudos e chegavam a 75 cm e eram curvados para frente. Os Auroques tinham uma pelagem negra e brilhante.
Os Auroques surgiram pelo menos a mais de 320 mil anos atrás. Eles viviam em manadas de no máximo 30 animais, os combates eram incrivelmente mortais. Cada manada era sempre liderada por um macho alfa, que conquistava sua liderança após grandes lutas sangrentas com outros machos.
Segundo relatos da história do Bos primigenius, a 80 mil anos atrás ele chegou às terras europeias, participou de lutas romanas, ajudou até os egípcios nas construções das pirâmides. Segundo registros históricos, o último exemplar do boi primordial foi morto na Polônia no ano de 1627.
E na tentativa de domesticar esse animal feroz, não houve resultado, então os habitantes da época passaram a caçá-los e ali foi dado o início da sua extinção.
Antes que ele fosse completamente extinto, os humanos começaram a separar os bezerros e observar os mais mansos e menores. Esses eram então levados para cruzarem entre si, gerando ao longo dos séculos, animais menores e mais calmos, por cruzamento seletivo.
A diversidade geográfica ao redor do mundo exigiu adaptações específicas do gado. Criadores em regiões quentes buscaram características que ajudassem na resistência ao calor, enquanto aqueles em lugares frios optaram por atributos que os protegessem das baixas temperaturas. O cruzamento seletivo foi essencial para criar animais adaptados a ambientes diversos, desde planícies de alagamentos até áreas montanhosas.
Um exemplo dese tipo de alteração feita pelo Homem, são os bezerros ewoks, que foram criados para serem peludinhos.
A Produção Eficiente: Uma Busca Contínua
Além das condições geográficas, o homem orientou a evolução do gado visando à produtividade. Características como docilidade, habilidades de pastoreio e capacidade de produzir leite e carne foram aprimoradas ao longo do tempo. A criação seletiva teve como objetivo não apenas a sobrevivência dos animais, mas também a eficiência na pecuária e na produção agrícola, já que muito antes do trator ser inventado, era o boi que puxava o arado.
Se o próprio boi é uma criação humana, é perfeitamente possível entendermos o gado anão dentro da perspectiva dessa atuação na formação de novas raças.
A Era do Micro-gado: Desafios Éticos Emergentes
O surgimento do gado anão, resultado de cruzamentos seletivos para reduzir o tamanho dos animais, coloca em foco as preocupações éticas associadas a essa prática. Enquanto admiramos a fofura desses animais em miniatura, é essencial questionar se a manipulação genética para criar gado anão é uma escolha responsável.
Responsabilidade na Criação de Gado Anão
Os defensores da criação de gado anão argumentam que, da mesma forma que o gado tradicional foi moldado para atender às necessidades humanas, o gado em miniatura é uma extensão dessa tradição. No entanto, a ética por trás dessa prática exige uma reflexão cuidadosa sobre o bem-estar dos animais, garantindo que sua saúde e qualidade de vida não sejam comprometidas em nome da estética.
Reduzir o tamanho de um animal não me parece um problema muito grande. Acho que seria pior se fizessem alterações muito bruscas no micro-gado, como as que fizeram com os cães, gerando raças bizarras, e cheias de problemas e sequelas de saúde, como no Pug, que mal consegue respirar.
Reduzir o tamanho de um boi e torná-lo dócil não creio que seja nada muito anormal. Imagino que esse tipo de gado, terá uma existência similar à dos pôneis, mais como uma curiosidade fofinha, uma vez que ele é tão pequeno que não teria valor comercial de corte.
Mas é evidente que enquanto buscamos aprimorar características que atendam às nossas necessidades, a ética deve permanecer no centro dessas decisões. Ao aproveitar as lições do passado, os criadores podem buscar um equilíbrio ético, objetivando acima de tudo, que a fofura do micro-gado não venha às custas de seu bem-estar e saúde, como foi com o Pug.
A responsabilidade ética é tão crucial quanto a inovação genética quando se trata de moldar o futuro do gado.
O futuro do micro-gado: Um encanto que perdura
Pillard, mesmo diante do crescente interesse em suas micro vacas, mantém uma visão despretensiosa. Se as pessoas perderem o interesse, ele afirma:
“Eu gosto delas. Se ninguém mais fizer isso, isso realmente não me incomoda. Estamos criando apenas para ser novidade, para um tipo de animal de estimação pequeno… para alguém que tem alguns hectares por aí e quer algo diferente além de ovelhas.”
Então, se você procura uma novidade adorável para seu pedaço de terra, as micro vacas podem ser a resposta. Afinal, quem poderia resistir à fofura em miniatura que a Oxen Ridge Miniature está trazendo ao mundo bovino?
E, se você se apaixonou por esses pequenos ruminantes, não deixe de conferir os bezerros da Fazenda Lautner, conhecidos como o “modelo do mundo bovino”.
Essa é uma tendência encantadora que veio para ficar, transformando o ordinário em extraordinário, até mesmo no mundo dos pastos e celeiros.