Nas montanhas dos Gorilas – Parte 2

Eu estava na caverna. Estava ouvindo os barulhos do macaco ecoando lá fora. Ele estava chamando a turma.

Peguei a lanterna e busquei uma saída da caverna, mas a escada que dava acesso ao piso superior estava repleta de entulho de uma parte que desabou.
O tempo estava contra mim. A cada segundo que ia passando eu precisava sair do buraco onde estavam os corpos.

Encontrei finalmente a arma no chão. Coloquei na cintura.

Usando a lanterna, pude olhar melhor o ambiente. Eram cerca de três metros e meio até o mezanino onde ficava o restaurante. Dava para ver algumas mesas lá em cima. Era muito alto.

O macaco ainda estava lá fora dando gritos e eu podia ouvir. Vi que ali no meio dos corpos e ossadas estavam uns ossos de animais selvagens também. A lanterna logo iluminou uma coisa peluda e me arrepiei pensando que talvez tivesse um macaco ali comigo, mas era um macaco morto. Concluí que a caverna do Kong era também  como um tipo de cemitério deles.

O som lá fora tinha mudo. Agora não era mais apenas um grito de macaco. Eram vários. Os bichos estavam chegando. Era uma confusão de guinchos estridentes. Os macacos estavam chegando.

E eu ainda não sabia como iria fazer para sair do buraco.

Eu precisava manter a calma. Me desesperar só baixaria minhas chances agora. Graças à minha experiência com parques temáticos, eu sabia que dificilmente não haveria um ponto de acesso restrito ali naquela caverna. Comecei a procurar nas paredes de fibra de vidro do malogrado ambiente. Finalmente, encontrei o que eu estava procurando. Havia um alçapão sob uma estalagmite falsa de poliuretano.

Abri a passagem e desci pelas escadas em direção ao que eu esperava que fosse um tipo de porão subterrâneo ou um túnel.

As escadas escuras eram úmidas e o cheiro de mofo forte, mas então, cheguei a uma porta, que certamente devia levar a um túnel de acesso. Esses parques grandes são cheios dessas passagens e túneis, que o pessoal de limpeza e segurança usam. Mas a porta do túnel estava trancada com um cadeado grosso. Se Olya estivesse vivo e com seus ferrinhos mágicos, eu teria como sair dessa…

Voltei pelas escadas até o alçapão. Levantei uma greta. Por ela, eu escutei o barulho dos macacos. Eles já estavam  lá dentro do Kong, revirando tudo lá em cima, a procura de mim. Era uma barulheira dos diabos!
Com medo que eles descessem para a caverna, fechei o alçapão com cuidado e fiquei sentado nas escadas, no escuro pensando e esperando. Refleti sobre a merda da minha condição: Eu havia descido um bom pedaço na cadeia alimentar!

Pensando sobre a cadeia alimentar, me dei conta que havia um mistério subjacente aos macacos do parque: Os macacos precisam de uma fonte de alimentos, mas onde eles se alimentam? Não pode ser só de pessoas que aparecem aqui de vez em quando. Talvez haja uma área com frutas.

Certamente existem fêmeas e filhotes em algum lugar no parque. Esse grupo é de machos, e deve haver um macho alfa. Se os macacos comuns são enormes, que tamanho será que deve ter o macho alfa? Pensei que o melhor seria não descobrir isso.
Por que os macacos ficaram assim? Teriam passado por algum tipo de experiência? Seria aquele parque apenas uma grande fachada para algo mais perturbador?

Eu ainda ouvia os  os barulhos e batidas dos macacos. Eles ainda estavam me procurando.

Foi quando algo bateu na tampa do alçapão.  Aí eu me assustei de verdade. Eu estava relativamente tranquilo escondido nas escadas, mas se eles achassem a passagem, eu estaria emboscado. Saquei  a arma e apontei no escuro, na direção do alto das escadas. Eu só poderia confiar nos meus ouvidos para me guiar no que estava acontecendo, pois a escuridão era abissal.

Felizmente, eles não conseguiram mover a estalagmite fajuta e abrir o alçapão. Estavam tateando no escuro, procurando por mim às cegas. O cheiro dos mortos ajudava a disfarçar meu odor.

A outra coisa que pensei foi que eu precisava encontrar os escritórios administrativos. Se as luzes automáticas acendem no parque, é porque ainda entra energia, e  deve haver algum local onde um telefone ainda funcione e eu possa pedir ajuda. Mas como sair do buraco dentro do enorme macaco de fibra?

Eu notei que havia muito menos batidas. Elas foram diminuindo bem como os ecos dos barulhos irritantes que eles faziam.

Os macacos pareceram desistir de me procurar. Certamente pensaram que o meu algoz era só um pirado. Eles foram embora.

Ainda fiquei ali um bom tempo para garantir, e também porque eu estava num puro estado de cagaço. Temer pela própria vida não é algo muito gostoso.

Precisei fazer xixi nas escadas. Eu precisava me aliviar.

O tempo passou e agora só restava um profundo e tenebroso silêncio.  Me encostei na parede afim de finalmente descansar. Eu estava exausto, a adrenalina baixou com a sensação de segurança que aquele buraco me dava. Eu dei uma cochilada rápida para recuperar as forças. Acho que acordei de fome. Meu estomago roncava feito um Opala 82.

Estava faminto. Quando acordei ainda estava na escuridão silenciosa. Eu precisava sair dali, porque o ar naquele lugar fechado era praticamente irrespirável e eu tinha medo de sufocar.

Quando acumulei coragem o suficiente, decidi arriscar. Abri uma greta no alçapão e fiquei escutando. Não havia mesmo qualquer som. Os macacos tinham dado no pé mesmo, para minha alegria.

Saí de volta para a caverna. Estava de volta ao problema inicial. Como sair dali do buraco?

Eu usei a lanterna do vigia falecido para  iluminar os arredores e vi que os macacos, na busca, desobstruíram parte das escadas. Eu consegui me pendurar no ferro da escada e passar por fora da grande massa de entulhos, provavelmente como eles também faziam para descer na caverna.  Então subi pela escada no canto da caverna para a área do restaurante. Eu levava a lanterna numa mão e a arma na outra.

O restaurante era muito bonito, mesmo todo destruído devia ser um lugar espetacular. Seu salão se estendia por uma área oval de cerca de dezesseis metros por uns nove na parte mais estreita. No centro tinha esse grande buraco com a caverna lá em baixo.  Imaginei que iluminado, devia ser bem legal. As mesas estavam espalhadas pelo salão. E havia um bar decorado com padronagens selvagens de zebras e detalhes como grandes presas de elefante de marfim no teto, provavelmente réplicas de plástico para dar o tom do parque. Eu fui até uma grande cabeça de rinoceronte na parede e percebi que era real. Devia ser algum troféu de caça do árabe rico. Ao lado do troféu vi um painel com diversos interruptores. Tentei  acioná-los, um a um, mas nada aconteceu, mas no último, algumas luzes se acenderam e pude ver melhor como eram as entranhas do grande Kong.


As paredes possuíam fotos, vi um enorme painel com imagem de uma savana com antílopes. Vi pelo salão telas de tv para todos os lados e em alguns lugares, cabeças empalhadas de animais nas paredes.  Havia muito dourado. Coisas douradas para todos os lados. Era tudo um negócio meio cafona. Mas na decadência e destruição, aquela estética excessiva parecia se encaixar, como um tipo de piada visual.

Eu fui até os fundos do bar e mexi numas caixas lacradas, onde não parecia ter mais nada para comer. O que tinha os macacos comeram tudo, mas então achei uma caixa, lá atrás de um monte de entulhos, com varias latas de atum. Eu abri as latas e comi com vontade. O melhor atum em lata que eu já tinha provado. Na mochila abri minha cerveja do gran finale e bebi. Com aqueles bichos lá fora, qualquer momento poderia ser meu gran finale. Estar vivo já era um.

O bar estava todo destruído, provavelmente pelos macacos. As garrafas quebradas. Notei que havia cacos e fragmentos de louça para todo canto. Muitas mesas estavam viradas com as cadeiras quebradas.

Fui até o corredor de saída e vi que ele era ladeado por tochas falsas nas paredes. Imaginei isso tudo novinho com aquelas tochas de led oscilando nos corredores, cheios de tapetes de pele de zebra. Devia ser um lugar muito impressionante.

Com cuidado olhei lá pra fora. O dia estava começando a amanhecer. Tudo ainda era em tons de azul lá fora.

Eu só tinha um pensamento em mente: Escapar do parque. A essa altura minha mulher devia estar preocupada. Eu devia ter escutado o que ela disse para não ir. Estava agora pagando o preço da minha teimosia… Bem, se eu queria aventura, aqui estava!

O melhor caminho naturalmente seria voltar por onde entramos. Mas era praticamente  certo que eu não iria conseguir pular o muro alto com arame farpado de volta para a floresta sem uma corda. O ponto de entrada não era mesmo o ponto de saída no nosso plano. Marcell e Lucca pretendiam sair do outro lado do parque. Mas agora com aqueles bichos, explorar a imensidão se tornou muito perigoso.

O ideal seria ir pelo caminho de volta até o muro e depois caminhar com cuidado rente ao muro, buscando algum ponto que desse para sair. Talvez saltando dos destroços da montanha russa, ou mesmo usando algumas madeiras para usar como uma escada primitiva. O importante era não ser visto.

Eu tive uma ideia. Me esgueirei até um dos brinquedos e fucei no meio do lixão de entulhos. Ali tinha um grande pedaço de lona que eu vi quando passamos na entrada. Ela estava toda suja. Havia bastante musgo crescido nela, mas era muito leve e relativamente maleável. Eu peguei também umas cordas de nylon que estavam amarrando a lona. Eu amarrei essa essa lona em volta de mim, cobrindo a mochila. A lona pendeu sobre a minha cabeça, ultrapassando ela   uns 60 cm,  e ia quase nos meus pés.

Com essa nova “carapaça” eu andei pelo parque, bem devagar.

Eu confesso que roubei essa ideia dos caranguejos marinhos. Algumas espécies colocam detritos em suas carapaças para parecer uma enorme bolota de sujeira. E sujeira ali naquele parque não faltava. A minha nova carapaça de lona era desajeitada, porque ela estava meio endurecida pela ação do tempo. A lona era bem fedida, mas nada se comparava ao odor de morte do buraco da caverna do Kong.

Fui lentamente caminhando até a montanha russa. Os destroços dela eram pesados, e eu não consegui movê-los. O muro estava bem ali perto de mim, mas ele devia ter na base de uns seis ou sete metros de altura. “Por que diabos um muro tão alto?”

Meu plano mudou para escalar a parte que ainda estava de pé na montanha russa, e tentar dar uma de doido, pular de lá numa das arvores próximas e passar por cima do muro pelas árvores, no melhor estilo Tarzã. Mas logo que comecei a tentar fazer isso, vi que era um plano idiota. Eu certamente ia cair, quebrar o pescoço e ser saboreado por macacos antropófagos.

Eu estava ali perto da montanha russa tentando um jeito de sair, quando escutei novamente o barulho dos macacos. Eles estavam correndo e eu pude ouvir os guinchos e os ecos aumentando.

Olhei ao redor e não havia para onde correr. Eles estavam chegando rápido, então apenas me  abaixei ali perto dos ferros retorcidos da montanha russa, esperando que o disfarce de lona ajudasse a ocultar minha presença.
Fiquei imóvel, vendo por uma minúscula greta os macacos passando correndo e saltando pelos brinquedos do parque.

Eram quatro macacos, três deles eram grandes mas um era um pouco menor.

Os macacos passaram, mas então, esse macaco menor parou e se virou na minha direção. O meu coração quase parou.

O macaco mais jovem voltou lentamente andando em seus quatro apoios.  Ele veio se aproximando na minha direção. Talvez tenha sentido o meu cheiro… Talvez estivesse me vendo.
Eu apertei forte o cabo do revólver na mão. “Se ele chegar mais perto, vou socar um tiro nele.”

O macaco agora já estava bem perto, coisa de uns cinco metros só e então os outros macacos maiores gritaram lá longe. Ele se virou e saiu correndo para se juntar ao grupo.
Respirei aliviado. Meu mimetismo de lixão tinha dado certo!

Esperei algum tempo para que os macacos estivessem bem longe e fui seguindo o muro ainda com minha carapaça de lona suja.

Cheguei enfim a um grande lago. A visão era impressionante.

O lago tinha um tipo de brinquedo lá na outra margem, que lembra o antigo rotor, com design bizarramente industrial. Ele estava todo carcomido e junto dele, havia um tipo de ilha flutuante, com uma torre de observação e uma estrutura de metal estranha que parecia uma enorme coluna vertebral, além de árvores com galhos retorcidos de metal que hoje mais lembravam um estranho coral alienígena. Eu não resisti à aquela visão,  e acabei pegando a câmera para fazer uma foto daquela estranha paisagem.

Imaginei que no projeto original, essa ilha-mirante-flutuante devia ficar no meio do lago, para ser acessada de barquinhos ou pedalinhos, mas certamente se soltou e o vento a empurrou para a margem.
O lago era um ponto interessante do parque porque pelo volume de água, dava pra ver que não se tratava de um tanque fechado, mas algum tipo de represa que segurava a água proveniente de um corpo de agua natural para formá-lo. Então essa seria a melhor saída. Sair pelo rio que alimentava o lago. O lago certamente tinha um ponto de entrada de água e um ponto de saída.

Na beira do lago, eu me livrei da carapaça de lona fedida porque ela já tinha cumprido bem o seu papel.

A parte onde eu estava era densamente vegetativa. O mato alto poderia ajudar me proteger.

Caminhei pelo mato até encontrar um pedalinho azul bem carcomido e descascado pela ação do sol. Mas ainda flutuava, felizmente.

Com cuidado,  puxei o pedalinho e entrei no mesmo. A vantagem dos pedalinhos é que são silenciosos. Então, eu pedalei  até me aproximar da ilha flutuante. Ao longe, escutei os guinchos. Felizmente os macacos vivem vocalizando sem parar e isso ajuda a dar a posição deles. Me deitei no pedalinho e fiquei ali, à deriva, no centro do lago, apenas observando. Vi, ao longe, alguns macacos brincando na beira do lago. Eram filhotes. E havia pelo menos duas fêmeas perto. Elas pareciam calmas. Os filhotes pulavam na beira da água em brincadeiras, se socando e se mordendo o tempo todo. Eu não não ousei mover o pedalinho, pois elas podiam me ver e dar gritos de alarme.

Depois de um tempo, os macacos se retiraram e entraram no mato. Foi bom, porque na posição que eu estava pela forma maldita do meu pedalinho, já estava praticamente me dando bico de papagaio nas costas.

Voltei botar em movimento meu precário pedalinho até chegar na ilha. Ali eu logo saltei e entrei no lugar.  Por dentro, era um lugar bem estranho. Após me certificar que não tinha nenhum macaco, eu saquei a câmera e fiz algumas fotos, aproveitando o nascer do sol.

Infelizmente a ilha flutuante era só um tipo de galeria de arte, com quadros e esculturas no salão principal, além de um tipo de bar com mesas. Uma escadaria em caracol por fora, dava a volta na torre, levando a um ponto alto, num tipo de mirante, de onde se observava a imensidão do lago e do parque. Devia ser muito bonito ver o parque dali quando ele estava novo em folha.

No céu eu vi garças passando voando. Tive inveja de quem podia voar. Se eu pudesse bater asas, daria o fora dali por via aérea.

Vi que as garças se dirigiam para uma torre alta, o ponto mais alto do parque, que era um tipo de torre onde subia um carrinho e depois ele despencava lá de cima. A torre do brinquedo havia sido transformado num enorme ninho de garças.

Do alto da torre, eu  vi o castelo ao longe.

Pensei em Olya. A essa altura, ele devia estar morto em algum lugar no castelo. De lá, vi que o lago se comunicava com o fosso ao redor do castelo, mas uma montanha de entulho havia impedido a comunicação da água do lago, deixando o fosso ao redor do castelo ligeiramente seco.

O castelo era um show à parte. Era formado por uma torre principal, ladeado por duas outras torres pontudas gêmeas menores, e um enorme leão de pedra decorava a frente do mesmo. Ainda naquele estado de degradação e abandono, era um lugar legal. Mas ir até lá seria loucura! Eu não planejava ir até lá, mesmo pensando que os escritórios de administração onde o telefone poderia estar deviam ser nas proximidades do castelo, por ele ser uma parte bem central do complexo. Mas algo ainda me faria mudar de ideia.

Enquanto eu me distraía olhando o castelo do alto da torre, ouvi um estalo de metal. Olhei para trás e vi um ferro balançando estranhamente. Não era o vento. Com cuidado, me aproximei e dei de cara com o macaco maldito!

O bicho tinha me visto e estava se aproximando, silencioso e sorrateiro como sempre. Assim que nos vimos ele abriu um sorriso bizarro, mostrando suas presas grandes. Aquela aparência maníaca que me horrorizou.

Ele estava sorrindo de felicidade por saber que eu não ia ter como fugir.

Mas agora, preso no alto da torre de metal, não havia mesmo para onde ir. O macaco vinha subindo com grande habilidade, saltando nos “galhos” metálicos da árvore decorativa para chegar no mirante e me pegar.
Só havia uma coisa a fazer, eu pulei para a parte debaixo da escada e de lá saltei e me agarrei precariamente na estrutura decorativa da ilha, que lembrava uma coluna vertebral. Ali eu corri por cima dela. O macaco estava vindo atrás, com olhos travados em mim.
“Seja o que Deus quiser!”  – E  saltei no lago, mergulhando fundo.

O macaco não pulou na água. Eu sabia que o macaco nadava mal. Isso tinha ficado claro pra mim quando ele me perseguiu na piscina. O Bicho ficou novamente lá, no alto do mirante, olhando para mim e então sumiu de vista.

Eu tratei de nadar o mais rápido que podia, esperando que o barulho na água não tivesse atraído a atenção de mais bichos malditos. Todos os anos de natação que eu fiz se justificaram naquele momento. A mochila encheu de agua e ficou bem pesada. Pensei e me livrar dela para nadar melhor, mas não fiz isso porque tenho amor ao meu dinheiro. Só minha lente de 500mm valia uma fortuna.

Notei, conforme nadava, que o lago estava lotado de tilápias, e por um segundo, a ideia de que devia ter uma porra de um crocodilo naquela bosta de parque de temática africana, me passou na cabeça.  O medo me ajudou numa descarga extra de adrenalina e acho que nadei num nível quase olímpico.

Fui direto na direção do rio que levava ao castelo. Logo, meu pé tocou o fundo. Escalei o monte de entulhos com satisfação de estar na terra e não ter descoberto se havia ou não repteis gigantes lá também.  Conforme eu subia no monte de entulhos, eu notei que aquilo ali não estava lá por acaso.

O entulho tinha sido deliberadamente colocado no riozinho para formar uma barreira. Percebi que com o monte de peixes, havia encontrado o local onde os macacos estavam se alimentando. Só podia ser obra deles. Acho que os macacos encontraram um jeito muito esperto de pescar. Eles abriam uma passagem escavando o entulho e o lago cheio de peixes enchia o rio do fosso do castelo. Depois eles tampavam a eclusa. A água devia escoar por alguma fenda lá perto do castelo e gradualmente todo peixe que entrou ficava preso, a mercê dos macacos.  Pude ver isso claramente notando a grande quantidade espinhas e pedaços de peixes secos espalhados pelos cantos.

Aquilo deixou bem claro pra mim que os macacos do parque, além de grandes estavam evoluindo intelectualmente.  Dava para ver isso até pela forma ardilosa com o qual eu vinha sendo caçado.

Falando no meu perseguidor implacável e silencioso, eu também sabia que aquele macaco maldito precisaria percorrer um caminho gigante para conseguir dar a volta no lago. Isso me daria tempo suficiente para chegar até o castelo. De qualquer forma, a sensação era ruim. Eu estava sendo novamente perseguido por aquele bicho incansável.

Corri pelo rio parcialmente seco e sujo até chegar no castelo. O enorme leão de pedra onde antes devia haver uma fonte magnífica, parecia rir da minha desgraça.

Entrei no castelo com cuidado. Saquei a arma. Eu não sabia se ela iria funcionar, porque ela havia ficado submersa um bom tempo. Do mesmo modo, sentia um terrível pesar de ter molhado meu caro equipamento, muito embora a boa qualidade da minha câmera de aventura tivesse uma garantia de funcionar até nas condições mais extremas. O corpo da câmera eu sei que ainda ia funcionar, mas as lentes provavelmente deviam ter ido para o saco!

Estava na espreita de encontrar os macacos. As primeiras portas estavam trancadas. Havia algumas lojas destruídas, banheiros, e uma sala grande, que parecia um teatro, ou cinema, com cadeiras detonadas e o teto de gesso parcialmente desabado.

O sol penetrava por buracos no telhado nos fundos do castelo.

Uma escada levava a um segundo piso. Subi pelas escadas, tentando fazer pouco barulho. Estava ensopado e sentia frio. A água do lago era bem gelada.

Eu fui subindo até ver que a escada levava a uma porta, no alto da torre principal do castelo. Mas ao puxar a maçaneta com força, nada aconteceu. A maldita porta estava trancada.

-Merda! – Eu disse, frustrado.

Então a porta se abriu de supetão e dei de cara com Olya, que estava com os olhos azuis arregalados apontados para mim!

-Caralho! Tu tá vivo, maluco?

Continua

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Lá vem mais um livro pra eu botar na minha lista de desejados lá na UICLAP. Eu juro que cliquei na parte 2 achando que era o final, aí vem um continua no fim do capítulo. Aguardando a parte 3

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