segunda-feira, fevereiro 3, 2025

No divã: John Locke, de LOST

200px Lost locke | Textos | locke, Lost, Textos
Estive pensando se a paralisia das pernas de Locke eram fruto do acidente ou não. Elaborei uma teoria sobre isso. Aqui está:

John Locke parece sofrer de histeria. Histéricos manifestam sintomas similares ao do Locke. Ex: param de enxergar do nada. Então as pupilas não reagem, porque a mente produz efeitos físicos no corpo. Ou então um braço do cara simplesmente “morre” não sentindo dor nem nada. Na histeria, o sintoma pode – acredite se quiser- “passear” pelo corpo do cara, se manifestando das mais diversas maneiras. Desse modo, um passiente pode ficar paralítico sem causa física aparente e depois voltar a andar, entretanto, cego.
Por causa dessa doença, Sigmund Freud começou a utilizar a hipnose em seu tratamento, após ver num experimento feito por um médico chamado Charcot que hipnotizando os histéricos podia mudar o sintoma deles de lugar. Mas ainda sem entender o porquê.
O sintoma da histeria em geral é caracterizado por uma situação traumática em um meio opressivo. Na época de Freud, isso era comum nas mulheres, que eram reprimidas socialmente e sobretudo sexualmente. Isso bate com a vida de Locke. Ele era oprimido pelo chefe, num emprego medíocre aquém das reais possibilidades dele. Ser enganado daquela forma pelos pais provocou um trauma. A perda de um órgão como vimos, pode ter estabelecido uma simples associação inconsciente por roubarem dele uma função vital. Esse sentimento poderia se manifestar na paralisia. Numa perspectiva lacaniana, o sintoma de Locke diz isso. Uma situação traumática como a queda do avião poderia provocar um momento de adormecimento da situação histérica e locke voltou a andar. Ao não ter mais um chefe, e tirar “férias” de sua vida medíocre, locke encontra uma nova e instigante razão de viver. Isso faz o sintoma se manter bloqueado, ou seja, ele anda.
Entretanto, a função traumática da perda do órgão ainda é muito presente em locke. Inconscientemente a situação histérica ainda tenta obrigá-lo a ficar paralítico. Seu mecanismo psicológico resolve o conflito bloqueando a sensação de dor nas pernas. Assim elas estão “mortas” mas “funcionam” ao mesmo tempo.
Locke vive um permanente conflito interno. A doença quer desligar as pernas dele e isso piora sempre que ele revive a angústia de ser vilipendiado pelos pais maldosos. Nas situações em que ele deve lutar pela sobrevivência e cuidar das pessoas, ( está implícita uma relação de carinho que locke sempre buscou na vida, sem sucesso) mantém a doença sob certo controle, e ele consegue andar.
O trauma de locke não é o fato de ter sido enganado ou que retiraram um órgão dele. MAs de ter sido usado. De ter acreditado que teria um carinho que sempre desejou e viu esse sonho ir por água abaixo. É a frustração de não ser amado. Locke é um homem desesperado por afeto. Típico de alguém órfão criado num orfanato. Nem a prostituta com quem locke tenta estabelecer uma relação de ternura aceita. Inconscientemente, locke quer se livrar de sua vida e toda mediocridade que o cerca. Assume um pacote de aventuras que ele sabe que não poderia jamais participar em uma cadeira de rodas. Por que? Poderia ser um desejo de morte inconsciente ou mesmo uma negação de sua situação. Um pedido desesperado por socorro. Ao estabelecer um desafio ainda mais opressor que sua vida, locke estava pronto para encontrar a morte. Este encontro desejado ocorreu na ilha. Mesmo sobrevivendo à queda, locke experimenta a sensação de morte. A sensação de cruzar o umbral e embrenhar-se no desconhecido. A queda do avião funciona como um ritual de passagem necessária para que o locke medíocre e paralizado dê lugar ao locke que ele sempre sonhou em ser.
Não acredito que locke não sinta as pernas nunca. Acho que a sensibilidade das pernas dele é variável. Se isso for verdade, corroborará a teoria de que é locke que se imputa uma paralisia psicológica.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.
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