Tem um cara na faculdade que ninguém fala com ele e ele não fala com ninguém. Você é naturalmente antissocial e mesmo assim já fez algumas amizades. Você fica triste por ele, mas tem receio de falar com ele e parecer que está com alguma intenção… Outras pessoas comentam que querem tentar falar com ele, mas todo mundo fica com receio de incomodar ou sei lá.
Então um dia você toma coragem e vai lá e fala com ele. O cara é gente boa. Você fica amigo dele.
No dia seguinte, quando você desce pelo elevador pra sair pra faculdade, ele está no hall do seu prédio te esperando.
E na padaria, na farmácia… Em todo lugar.
Agora ele depende de você. Ele quer sua amizade todo o tempo, você começa a se sentir cada vez mais sufocado.
No início você sentia pena, mas agora se sente acuado. Desesperado, resolve dar um basta, finge não estar em casa. Ele toca sua campainha, mas você não atende.
No escuro, você vê pela fresta da janela que ele passa a noite toda na rua com olhar fixo na sua casa.
Não há como fugir do amigo. Ele sabe onde você mora. Sabe seus horários.
Em Pânico e sem saber como agir, você tenta ligar para a polícia, mas quando batem na porta dizendo que é a polícia… Você abre a porta e é ele fingindo outra voz.
Você o expulsa de casa na base da porrada. Ele some por dois dias e você sente um grande alívio no coração.
Dias depois, você vai sair com sua namorada. Já no fim da balada, quando entra no Uber, é ele o motorista, sorrindo maniacamente.
Ele está armado ameaça vocês e leva o carro para um descampado. Ele tem ciúmes da sua namorada. Ali ele mata “a maldita”. Diz que ela não presta e só você é o verdadeiro amigo dele.
Vocês lutam. Um tiro é disparado. Num acidente, você mata o cara.
A investigação mostra que foi acidental, um tiro em legítima defesa.
Os dias passam e você tenta retomar sua vida, mas…
No meio da madrugada o tel toca. Você atende e escuta uma respiração do outro lado. Você sabe que é ele, mas ele não responde nem diz nada. Apenas respira profundamente.
Assustado você desliga. Não pode ser ele, não é possível… Você viu o cara morrer.
O telefone toca novamente. Você reluta mas atende. Do outro lado, num tom cavo, tenebroso, aquela conhecida voz diz ” Eu estou com você, amiiiiigo…”
Em Pânico você joga o tel da janela. Arrepios percorrem sua espinha. Como é possível? Será alguém imitando? Você está ficando louco?
Levanta, vai até a cozinha, está trêmulo.
Toma um calmante, tenta dormir.
Do nada você acorda. Está paralisado.
“Paralisia do sono”. Você sabe, viu no Discovery Channel.
Mas então, é quando você nota uma figura retorcida, cambaleante no escuro, que gradualmente chega até o pé da sua cama. É ele. Sua voz sussurrada explode em seus ouvidos:
-Oi amiiiiigo… Vamos ficar juntos… Para sempreeeee…