Em 30 de abril de 2008, Naomi Jacobs, então com 32 anos, foi dormir exatamente como fazia em qualquer outra noite.
Naomi era uma jovem mãe solteira de um menino de dez anos chamado Leo, junto com quem ela morava. Ela estava desempregada naquela época e estava fazendo estudos de psicologia para ver se conseguia um emprego melhor remunerado do que antes. Ela teve alguns problemas em sua vida, é verdade, mas não esperava de forma alguma o que aconteceu: acordou em primeiro de maio com quinze anos.
Ou melhor, acordou acreditando que ela ainda tinha quinze anos e sem se lembrar de um único evento de seus últimos 17 anos de vida.
Quando Naomi acordou em sua cama e abriu os olhos, ela simplesmente ficou em choque: não reconheceu nada. As cortinas, os cobertores e até as paredes eram muito diferentes das do seu quarto. Mas o fato é que ela estava convencida de que estava no ano de 1992 e ela 15 anos de idade.
Do ponto de vista dela, o que aconteceu foi uma espécie de “viagem no tempo”: ela havia dormido 17 anos e acordado no futuro. Claro que isso não aconteceu! O que aconteceu foi que a mulher apresentou um caso intrigante de amnésia.
Vivendo em um sonho
Naomi levou alguns minutos para perceber que não estava sonhando. Cheia de angústia, ela começou a se lembrar de um número de telefone, que voltou à sua mente várias vezes. Ela não sabia qual pessoa estaria do outro lado da linha, mas decidiu ligar de qualquer maneira para ver se poderia conseguir ajuda.
Quem atendeu do outro lado foi Katie, sua melhor amiga … E que não se lembrava de Naomi.
A princípio, Katie pensou que Naomi estava brincando, mas à medida em que sentiu a angústia em sua voz, logo foi até a casa dela para ajudá-la. Imediatamente Katie insistiu para que fossem ao médico, mas Naomi tinha certeza de que no dia seguinte acordaria em sua casa “real” e por esse motivo adiou a visita por quatro dias.
Quando ela finalmente percebeu que não voltaria para o passado, aceitou e foi ao médico. Logo ela descobriria que seu médico regular não estava atendendo e o médico substituto era completamente inútil na hora de ajudá-la.
Eventualmente, teve que esperar que seu médico voltasse das férias e juntos eles começaram a investigar o que havia acontecido com ela e por que ela não se lembrava de seus últimos 17 anos de vida.
Durante esse período de adaptação, Naomi não quis dizer nada a seu filho, porque não queria preocupá-lo. Mas ela teve alguns problemas, como ter que perguntar a que horas o menino costumava dormir. Felizmente, sua irmã estava com ela quando ela foi encontrar o filho na escola e a irmã contou a ela o básico de seu relacionamento com o próprio filho.
Reencontrando-se
Levaria anos até que a jovem recebesse um diagnóstico preciso, mas naquele período tinha uma grande vantagem que lhe permitiu começar a reconstituir sua vida: os diários que ela havia escrito por 20 anos.
No início, antes de ler sua própria história (que neste momento lhe parecia a história de uma estranha), sentiu uma grande decepção.
Aos quinze anos, ela tinha grandes sonhos e ilusões sobre seu futuro: ela acreditava que seria uma jornalista que viajaria pelo mundo escrevendo notícias. Despertar aos 32 anos com um filho, morando em uma casa minúscula, com um carro em condições muito precárias e sem trabalho (e dependendo da ajuda do governo) foi difícil de encarar.
Mas ao ler seu diário e conhecer sua própria história, começou a entender melhor a mulher em que se tornara.
Ela descobriu que sua família tinha sido destruída aos dezesseis anos, que ela perdera contato com sua mãe, tentou cometer suicídio naquele ano. Ela descobriu que ela havia sido abusada e tinha lidado com frustração e dor usando drogas. Ela entendeu o processo de cicatrização e esforço, em seguida, realizou o nascimento de seu filho, que a levou a fazer todo o possível para alcançar a estabilidade e até mesmo permitiu-lhe tentar construir uma empresa de pequeno porte, que não deu certo e a conduziu de volta ao mundo das drogas. Passo a passo, ela entendeu as origens de sua situação e sentiu compaixão por si mesma como nunca a havia sentido. E assim, ela acabou entendendo seu estado atual.
Eventualmente, Naomi escreveria um livro sobre seu caso peculiar. Nele ele garante que este evento foi uma grande oportunidade para a vida, porque permitiu que ela crescesse e resolvesse muitos dos problemas que ela não conseguia resolver, desta vez enfrentando-os do ponto de vista de uma menina de quinze anos. A moça assumiu que sua mente a levou para aquela idade porque foi o último momento de sua vida quando ela se sentiu no controle da própria vida.
Naomi estava terminando seus estudos como psicóloga e pretendia estudar a amnésia dissociativa, uma ocorrência rara na qual uma pessoa perde suas memórias, mas mantém suas habilidades. Com um diagnóstico à mão, um relacionamento recuperado com a família e uma situação econômica melhor, Naomi sente que isso, o que poderia ter sido um pesadelo, realmente se tornou uma bênção em sua vida.
Muito louco!
Tem também o caso da ativista humanitária Sabrina Bettencourt (uma das pessoas por trás do desmascaramento de João de Deus) que passou pelo mesmo tipo de amnésia em 2013 depois de um burn out (ela conta isso num TED Talks inclusive). Voltou 11 anos no tempo.
Tem também o caso de um médico italiano, mas no caso dele, não recuperou a memória.
Me fez lembrar do filme “De repente 30” com a atriz Jennifer Garner.