Quando eu era guri ouvia sempre aquelas histórias de criança que morreu pq engoliu o chiclete e aquilo foi uma verdade insofismável pra mim por anos até que um dia, a desgraça aconteceu. Eu estava mascando chiclete e fui rir de alguma coisa e pluf. Engoli a desgrama.
Pronto, eu estava condenado. Agora minha vida se resumia a contar os poucos minutos que me restavam, pensei em contar aos meus pais, mas seria somente estender meu sofrimento moribundo a eles. Era a condenação definitiva…
Não havia o que fazer. Logo, eu estaria sendo ensinado para meninos e meninas que compram chiclete como um exemplo, tal qual o filho da amiga da minha mãe, aquele que fingia estar se afogando de brincadeira até o dia que estava mesmo e morreu porque ninguém acreditou nele, ou o neto da amiga da minha avó que nadou assim que acabou de almoçar, e já acordou na terra do pé junto.
Sem esperanças, arrastei minha carcaça combalida e escolhi morrer no banco sob a árvore do jardim da minha avó. Ali deitei e esperei o momento derradeiro…
Estranhamente, a morte pareceu se atrasar. Comecei a ficar irritado, porque era um chicletão de responsa, um misto de uns três ping-pong e aquilo deveria me garantir uma passagem de ida para o além na primeira classe.
Talvez, não fosse imediato, nenhuma das histórias era precisa com relação ao tempo de agonia ante o desfecho macabro. Fui ver televisão. Eu não sabia o que estava vendo. Meus olhos pregados na Tv, mas eu estava virado para dentro, atento a qualquer dor abdominal inesperada, uma súbita cãibra nas tripas, poderia ser o estopim do meu inexorável destino final rumo ao Nosso Lar…
Já chegava o fim do dia e nada ainda. Comecei a estranhar e então, tive certeza que a morte se daria na madrugada. Imaginei o chiclete lentamente se espalhando pelas minhas tripas, grudando em tudo e enfim, parando as batidas do coração. E assim fiquei acordado no escuro, ainda esperando minha morte. Eu estava convicto e resignado, mas temia os minutos que antecederiam a agonia final. O quanto aquele chiclete de tutti-frutti me faria sofrer? Era como ser um condenado ao paredão a espera dos estampidos.
Eu rezei para que Deus me desse uma morte rápida, a ideia de sentir meu coração lentamente agarrando como se tivesse com uma graxa densa agarrando no motor me agoniava. Decidi que não gritaria, preferi ficar numa pose relaxada, já pronto para me enfiarem no caixãozinho. Todos me veriam morto, gelado na cama de manhã e pensariam que morri placidamente dormindo.
Seria reconfortante aos meus entes queridos. E assim esperei que a morte me abraçasse.
Mas o abraço não veio. Quando acordei de manhã, estava todo dolorido, mas vivo.
Desci para tomar café, ainda intrigado. Talvez Deus tivesse me dado uma chance… Ou não. Talvez a agonia fosse ainda mais lenta, àquela altura, meus órgãos já deviam estar todos colados, e quando caísse lá pra dentro o pão do café da manhã poderia ser a hora fatal.
Assim, comi com vontade um pão francês inteiro e fui para o jardim novamente, deitar no banco e esperar a morte.
Meu primo veio passando de bicicleta e me viu ali. Perguntou se eu estava tirando um ronco. Eu disse que estava esperando a morte porque havia engolido o chiclete. Ele então fez o que qualquer pessoa normal faria: Deu uma sonora gargalhada da minha cara.
Imediatamente percebi a terrível farsa que havia entubado.
Engolir chiclete não matava, tal qual apontar para estrela não dava verruga no dedo e nem o pozinho das asas da borboleta deixavam cego e todas as outras coisas que juravam que causavam a morte.
A morte que nunca veio.
já me aconteceu parecido, mas eu chorei sem parar até a minha mãe desmentir a história do chiclete
Uma vez engoli uma bala Soft, até a danada descer, senti como se fosse morrer kkkkk