sexta-feira, janeiro 17, 2025

O dia que testemunhei o talento

Talento sem dedicação e esforço é inútil como uma medalha de general que não foi pra guerra

Por alguns anos, eu dei aulas de escultura. Eram cursos bem básicos, pra pessoas que nunca tinham esculpido de verdade na vida. O grosso da galera era gente de produtoras, agências, empresas de 3d… Normalmente eu tinha um pensamento de que todo mundo poderia, com esforço, desenvolver grande habilidade em absolutamente qualquer coisa. Aquele lance das “dez mil horas.”

Pelas minhas mãos passaram centenas de alunos e pude observar sua evolução nos projetos. Havia mais ou menos uns 10% que não conseguiam fazer nada. Pareciam ter duas mãos esquerdas. Na outra ponta, tinham os que evoluíram rápido, também uns 10%. O resto era a média que eu estava enjoado de ver. Mas então, um dia, numa turma nova aconteceu algo interessante.

Tinha uma menina que era absolutamente fora de qq padrão que eu tinha visto. Em poucos segundos ela fazia as coisas. Achei intrigante e concluí que estava diante de uma profissional. Mas não, ela também estava chocada, pois nunca tinha esculpido NADA na vida. Eu dei uma massa pra ela e disse “tenta fazer uma cabeça humana aí” Mermão, eu devia ter tirado uma foto.

A mulher pariu em minutos uma cabeça PERFEITA. Era como estar diante de um mestre cascudo. Cada movimento dela era um gol. Era preciso, limpo. Era como ver o Philippe Faraut trabalhando. Os colegas pararam, acabou a aula e ela lá arregaçando na modelagem. E ali eu vi que era algo muito fora do normal na arte da escultura. Nem ela sabia explicar como ela sabia fazer. Os colegas brincaram que ela já veio de fabrica com os drivers pré-instalados.
As vezes, na peneira, vem um diamante.

É triste imaginar que muito provavelmente deve nascer um monte de gente com os mais variados drivers pré-instalados assim, mas nunca acontece uma conjunção situacional que  a pessoa descubra o talento oculto.  Imagina se Mozart tivesse nascido numa família de ferreiros, ou criadores de cabras? Talvez ele fosse só mais um pastor anônimo, como centenas de milhares na história.

Muitos professores podem passar a vida toda ensinando e não achar uma pessoa assim, muito fora da curva. O grau de raridade pode ser tamanho ao ponto de o senso comum pensar que não existem. Surgem as mais variadas hipóteses pra explicar, de vida passada a escolhido de Deus. A explicação eu não sei, mas é o tipo do troço que quando você vê , você sabe. Espero que ela tenha persistido na atividade.

Receba o melhor do nosso conteúdo

Cadastre-se, é GRÁTIS!

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade

Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

Artigos similares

Comentários

  1. Eu sempre digo: Em algum lugar do mundo tem um mendigo que consegueria bater um recorde mundial ou ganhar uma medalha de outro na Olimpiada, faltou para ele apenas oportunidade. Geral ri achando que é piada. Eu nao ligo. Eu nao só acredito, eu tenho certeza. O Brasil perde muito por nao tentar descobrir e incentivar seus talentos. Qnd digo incentivar quero dizer custear, algumas coisas requerem talento e dedicaçao, nao pra pessoa ralar da 8 as 17 ser o melhor do mundo, até existe quem faça isso, mas é raro. Abraço!

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos artigos

Os desafios de lidar com um blog grande como o Mundo Gump

Este é o post número 6500 desse blog. Isso deveria ser um motivo de comemorar, eu acho. Mas não tenho tanta convicção. Às vezes recorrentemente, eu me pergunto onde eu estava com a cabeça para...

Viajando sem drogas

É impressionante o poder da mente humana. Nós temos a fantástica capacidade de viajar, de sair por aí em devaneios semi-delirantes, indo onde nenhum outro pensamento jamais esteve. Muitas pessoas precisam de drogas e instrumentos...

O mundo depois de nós – Prepotente até no nome

O mundo depois de nós é um lixo de filme que as pessoas que gostam de sofrer podem assistir tranquilamente.

Menino do Rio: Quem foi o cara que inspirou a música

Conheça a história do jovem que inspirou a musica Menino do Rio