Eu me vejo preso e me encanto com o tanto do pouco choro chorado dos meus olhos.
Sinto a ampulheta da minha paciência se esvair a cada grão diário de desgosto.
Meu tempo já não é mais o tempo dos outros.
A vida não deveria ser uma sala de espera.
Nem toda porta tem tramela, nem toda janela, amplidão.
Sou um presidiário de mim mesmo, condenado à prisão perpétua
Devo me contentar com a limitação do ser ou do estar?
A pior fuga é a fuga de SI, quando se esperava um LÁ, e a frustração
se fecha em DÓ.
Porque não me escapo. Mas desistir é se entregar, e não me entrego sem luta.
Construo minhas fugas com ingredientes esquecidos de mim mesmo
monto andaimes de tristeza para escalar muros e do alto contemplo a minha própria vastidão.
É vastidão que me contém, que não ultrapassarei.
Percebo desesperado que fora do meu muro há outro muro.
Contento-me em aceitar o naufrágio seco de minhas próprias esperanças.
Admiro da janela de mim mesmo os felizes.
Eles que tem mais estrada à frente do que já percorreram e não se deram conta.
São os que dormem acordados, dançando ao sabor dos acontecimentos.
Também são prisioneiros, de cadeias coloridas.
E não sabem.
Por isso, são felizes.
muito bom, Philipe
“Sinto a ampulheta da minha paciência se esvair a cada grão diário de desgosto.”
lembrei desse:
Tudo quanto penso // Tudo quanto sou // É um deserto imenso // Onde nem eu estou – Fernando Pessoa