O executivo

Fui fazer um café e pensei numa historia:

Um poderoso executivo presidente de uma empresa multinacional resolve tirar um dia de descanso de sua vida estressante, mas é impossível. Pessoas do trabalho ficam ligando, mandando mensagens, mandando recados. O cara vai ficando cada vez mais puto.
Ele vai pra casa, mas em sua casa ele não consegue um minuto de tranquilidade e paz.
Então ele resolve se isolar. Mas isso também não dá certo. Logo seus empregados descobrem o hotel onde ele resolveu se isolar. Esse homem poderoso está ficando desesperado, pois queria descansar e não pode. Ele parte para um hotel.

Minutos depois de chegar, o telefone da suíte começa a tocar. São os executivos de suas empresas querendo soluções. O Homem berra que deseja descansar, mas do outro lado da linha, um diretor da companhia diz que precisa de decisões com urgência pois o “mercado esta ficando irracional”.
O presidente bate o telefone na cara do diretor.
Assim que desliga ele senta-se na cama e escuta o toque do celular. São eles ligando sem parar.
Ele joga o celular pela janela do hotel, desce, pega o carro e sai dirigindo sem rumo pela cidade. Mas ainda assim, logo surge um motociclista, trazendo um celular para ele. As pessoas do escritório detectaram o celular destruído e mandaram outro para ele, pois ele precisava decidir coisas, pois “o mercado está ficando irracional”.
Agora o executivo esta cada vez mais acuado. Ele joga o celular 2 no rio.
Seu relógio apita, estão mandando mensagem por smatrwatch. Ele arranca o aparelho e joga o relógio na água.

Um velho maltrapilho começa a resmungar dele espantar os peixes. Ele esta pescando na beira do rio, perto da saída do esgoto. O presidente da empresa pede desculpas. Logo um outro homem aparece, fumando um cigarro de forma misteriosa. Da beira da mureta o velho pescador assiste a conversa. O presidente conta ao homem que está ficando louco, pois não tem mais sossego. As suas empresas lhe demandam muito, e ele não consegue descansar ou
dormir há dias. Este homem então sugere que ele falsifique o próprio sequestro. Só assim teria paz.

Os dois se assustam ao ver o velho pescador maltrapilho sair correndo. Parece desesperado.

“-O que aconteceu com ele?” – O presidente da empresa pergunta.
“-Não ligue pra ele, é apenas um velho maluco. A cidade está cheia deles.” – diz o homem.

Os dois homens voltam a falar sobre fingir um sequestro. Segundo o homem só assim muitas pessoas conseguiram o sossego merecido e cita entre outros Elvis e Michael Jackson.
O empresário gosta da ideia. O homem então diz que pode oferecer um passaporte falso. Ele teria que depois da fuga pintar o cabelo e deixar crescer a barba… E que possui dois amigos que podem ajudá-lo por uma quantia considerável, é claro.

Eles então combinam o “crime” e selam o pacto com um aperto de mãos. O executivo entra numa loja de conveniência. Observa que câmeras de vigilância estão filmando.

Então eles falsificam um sequestro onde uma van para e homens mascarados descem e pegam ele.

Dias depois, ele está num barco na costa Amalfitana, tomando um drinque. Ele tem a cabeça raspada, um bronzeado brilhante e uma barba branca bem cuidada.

O por do sol é maravilhoso e nosso herói desfruta o silêncio do mar. Então no dia seguinte, ele come um polvo assado com uma vista espetacular do mar azul se fundindo com o horizonte. No outro ele está passeando… Assim, vários dias se passam e o nosso herói desfruta da paz que sempre almejou.

Após um tempo, o executivo começa a se incomodar com toda aquela tranquilidade.
Acredita que já deu “seu tempo”, que pode voltar para casa, até porque a mala de dinheiro está chegando ao fim.
Ele então vai pagar a conta do hotel quando a Tv do Saguão toca um “breaking news”. A notícia é que a policia havia encontrado o cativeiro e ele teria sido libertado.

Agora nosso executivo está chocado, assistindo ao noticiário na tv onde ele aparece literalmente sendo libertado pela swat. Homens com cara de árabes fortemente armados são presos. Em choque ele está testemunhando a si próprio dando uma coletiva de imprensa no qual agradece aos agentes por o libertarem de extremistas muçulmanos. É a cara dele, é a voz dele. Como pode ser aquilo?

Impactado, o executivo resolve voltar para casa, mas agora há um problema. Há um outro dele ali. É exatamente como ele, só anda cercado de seguranças. Nosso herói é escorraçado pelos seguranças. Ele tenta ir até a sua empresa mas é impedido.
Ele só tem documentos com outro nome, ele está careca e de barba, muito diferente, e com um bronzeado de vários dias.
Ninguém acredita nele. Ele não sabe o que aconteceu.

Nosso herói não faz ideia de quem é aquele impostor, mas sabe que não pode ser ele. As pessoas começam a dizer que ele está maluco. Ele mesmo começa a pensar que talvez esteja. Sem dinheiro e sem poder voltar para casa, ignorado por todos, menos pelo seu cachorro, que é o único que ainda o reconhece, nosso herói sai perambulado, atordoado.

Então ele resolve investigar. Ele consegue se infiltrar pelo muro dos fundos do Golf Hotel Club e pega de surpresa um de seus executivos. Eles lutam violentamente perto da sauna, e o diretor é subjugado.
É através do diretor que nosso herói descobre que aquela réplica dele trata-se mesmo de um impostor. Um impostor criado pela diretoria da empresa, que decidiu que precisava das decisões, decisões que só ele poderia tomar. A entrevista gravada havia sido feita digitalmente usando um avançado aplicativo.
Ele descobre da pior maneira que o impostor estava se saindo melhor do que ele, pois o impostor obedecia o que a diretoria decidia. Era mais negócio que o impostor continuasse, o diretor confessa.
Após revelar a verdade, o diretor tenta acertá-lo com uma faca, eles lutam. O diretor grita por socorro. Um capanga aparece e o acerta com uma barra de ferro na cabeça.
Ele é desovado num lixão. Mas então, ele recobra a consciência, está tonto. Um homem surge em seu socorro e cuida dele. É o velho pescador.

O velho e seus amigos (todos velhos decrépitos e maltrapilhos) ajudam nosso amigo executivo. Eles o levam para um cafofo imundo improvisado no subterrâneo do túnel de esgoto da cidade de Manhattan. Chegando lá ele encontra outros velhos. São todos homens idosos, mas todos distintos e com um ar nobre.

Ele estranha, mas seu amigo pescador diz a ele: Este aqui é Fulano de tal, das companhias X este aqui é o dono da refinaria Y, esse ali atrás e Beltrano III…
Todos eles são executivos como você. Aliás, eram, até que foram substituídos pelos “impostores”. Os banqueiros, empresários, os grandes homens que fundaram este país, meu amigo, estão aqui, nessa sala, nos esgotos.

Este é o seu lugar. E é por isso que o mundo lá em cima está do jeito que está, meu rapaz. O presidente da empresa, outrora tão poderoso, leva as mãos na cabeça em total horror.

O dia amanhece entre telefones tocando e buzinas. Vemos a vista aérea da grande Manhattan com seus executivos e homens de negócios andando de um lado para outro.

FIM

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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