O misterioso caso Anderson

Ontem por acaso me lembrei do meu amigo Anderson, e como ele me contou certa vez (mais de uma) uma história macabra e arrepiante que ele viveu e nunca soube explicar. Aí contando ela, me dei conta que nunca tinha contado ela aqui antes e assim, lá vai.

Anderson era filho de evangélicos, e ele era um dos meus poucos amigos que nunca mentia, sob hipótese alguma, dados seus rígidos padrões morais. Mas ele certa vez contou pra nossos amigos da rua uma história tão estranha quanto assustadora, e que era difícil de acreditar.

Seus pais tinham ido num casamento em outra cidade, mas relativamente perto e ele ficou em casa com a Vó. Lá pelas tantas, depois da novela, a vó botou ele na cama e foi dormir. O Anderson ficou no quarto, esperando seus pais chegarem, mas eles estavam demorando muito.

Sem sono, ele desceu para a sala, acendeu um abajur, e ligou a televisão. Ficou vendo um filme que estava passando (nota do Philipe: Imagino que ele devia estar vendo “O corujão”) e deitado no sofá da sala, dormiu.

Agora vem a parte estranha.

Anderson acordou com um estranho estalo na sala. Ele despertou e sentiu que havia alguma coisa errada. Era como se tivesse um vácuo, uma diferença de pressão no ambiente, como quando nosso ouvido estala subindo uma montanha.

Ele abriu os olhos e não estava mais passando o filme, mas a tv ainda estava ligada. O que ele viu na Tv foi a própria sala, como se o aparelho de televisão fosse uma câmera e exibisse o que ela estava vendo. Assim, Anderson viu a si mesmo no sofá de couro da sala.

Ele ficou tentando entender o que estava vendo, não entendeu a princípio que era a sala de casa, parecia estar vendo uma fotografia, mas notou que algo era diferente, em vez de estar deitado no sofá, como ele estava, o Anderson na imagem da televisão estava sentado no sofá, e olhando fixamente pra ele.

Meio intrigado, meu amigo levantou a mão e acenou para a televisão, esperando para ver se a imagem se moveria, como a de uma câmera de segurança. Mas nada aconteceu. O Anderson do sofá na televisão apenas ficou ali, parado, como um boneco, mas então ele lentamente se moveu e acenou de volta. A demora entre o aceno dele deitado e a resposta dele sentado parecia estranhamente conter um “delay”, como nas transmissões do jornalismo da televisão.

Quando o Anderson da tela se mexeu, meu amigo se cagou de medo.
O Anderson começou a se arrepiar sem parar e um verdadeiro pavor tomou conta dele quando o Anderson que estava sentado no sofá se levantou e veio andando até bem perto da TV.

A agonia foi crescente de ver sua própria imagem chegando cada vez mais perto, até que ele viu, seu próprio rosto, olhando de modo estranho, como se fosse um tipo macabro de boneco, uma réplica dele, iluminada pela luz da tela. E então, subitamente, a televisão desligou.
Meu amigo saiu correndo desesperado para o quarto, trancou a porta e se escondeu debaixo das cobertas.  E nunca mais ficou sozinho na sala vendo televisão. Na verdade, depois da estranha e traumática experiência, ele passou a ter um pânico de ficar sozinho.

Eu vi o Anderson contar para a galera da rua essa história pelo menos três vezes, e sempre que ele contava era igual, e sempre ele chorava e se arrepiava de contar.

Hoje, mais velho, me pergunto se Anderson na verdade sonhou tudo que veio depois de sair do quarto para ir lá em baixo, e acreditou no próprio sonho. Mas sei lá, o mundo é tão estranho, há relatos tão incríveis e assustadores… Será que ele pode ter vivido um encontro com ele mesmo de oura dimensão?

Talvez nós nunca saberemos.