Recentemente resolvi fazer uma cabeça de um orc morto (taxidermia fantástica) para colocar na parede. É bem mais artístico e mais maneiro que usar animais selvagens mortos para enfeitar a parede de sua mansão, certo?
O bicho ta lá na dele, de boas quando vem um filho duma égua e mete bala nele, só pra cortar a cabeça e meter na parede. Sacanagem.
Porém, quando se trata de seres fantásticos, eu acho absolutamente sensacional. Como seria a casa de um caçador de bestas míticas? E foi com esta ideia em mente que resolvi ressuscitar um projeto que eu já tinha feito no passado, o orc de parede.
Desde os tempos em que eu esculpia com durepoxi, a coisa evoluiu bastante. Assim, hoje eu poderia fazer um orc muito mais detalhado e impactante para meus clientes. E foi assim que após alinhar o interesse de dois amigos e um parceiro, comecei o projeto, esculpindo o monstro em 3d no Zbrush:
O passo seguinte, foi preparar o monstro para a impressão, um trampo “miserávi” que se chama “fatiamento” e é onde todos os problemas do mundo resolvem se materializar para foder com sua vida e te fazer querer suicidar.
Depois que ele passa horas e mais horas fatiando (afinal, estamos falando de um modelo onde eu joselitei e fiz ate poros, com milhões e milhões de microscópicas faces poligonais) ele finalmente gera uma coisa chamada Gcode que é basicamente uma instrução em texto, de posicionamento da cabeça de impressão da impressora 3d a cada linha. Quanto mais detalhes, mais linhas precisam para ele aparecer. Já que eu resolvi imprimir o Orc com nada menos que 01 milimetro de espessura em cada camada, isso me deu um numero obsceno de milhões de fatias. O Gcode do orc é tão monstruoso que levou mais de 40 minutos somente para gravar!
Uma vez que ele estava fatiado, mandei imprimir. Levou UMA SEMANA esse troço imprimindo, linha a linha, incansavelmente, dia após dia, madrugada adentro. A impressora vai derretendo uma linha de plastico e vai botando essa linha, na espessura quase de um fio de cabelo uma em cima da outra. Isso é um troço que tem tanta chance de dar merda, que sempre me intrigo quando consigo fazer qualquer escultura nela. Meu medo era que faltasse luz. Meu nobreak segura a impressora 15 minutos. Se passar disso, ffffffuuuu e eu perco tudo e ficarei um tanto quanto puto.
Felizmente a Ampla, essa empresa que é a que eu mais odeio depois da Oi, não sacaneou, e mesmo com temporal a luz não caiu. Demorou tanto que quando chegou em 50% eu quase chorei, mané.
Horas e horas depois, a impressora disparava sua sucessão de apitos histéricos, como uma galinha que canta feliz que botou o ovo. E que ovo!
Ficou uma cabeçona colossal, e com uma conta rápida, vi que esse bichão aí media aproximadamente três metros e vinte a três e quarenta de altura. Uma bela caça, não é?
Esse plastico, chamado poliácido Lático, é muito duro, mas fotografa mal pra caramba, porque reflete a luz de um modo bem estranho. Assim não dá pra ver nessa fase ainda os detalhes, mas eles estão lá e serão ressaltados na pintura. Em breve postarei mais detalhes sobre como eu pinto esse cara. A pintura sempre dá um ganho na peça de uns 200% de melhora, então eu estou bem animado!
Sempre me perguntam qual a minha impressora. Ela é uma Sethi BB, essa peça é unitária, não são varias partes coladas. Minha impressora faz um cubão (kkkk 13 anos mode on) de 40cm. O material é PLA. A Sethi é uma marca nacional de impressoras 3d que eu recomendo muito.
Mas qual a vantagem Efetiva de fazer isso em 3d?
A vantagem é que com o modelo em 3d eu consigo aprovar com o cliente ANTES de começar a imprimir, de modo que ele antecipa a validação da peça me evitando um retrabalho depois. Outra vantagem, que vou usar aqui é que como a impressora é um robô que faz o que eu mando sem se cansar nem reclamar e nem exigir horas extras, eu vou mandar ela fazer mais DUAS cabeças desse orc, porque teremos três opções de pintura nessa peça! Obviamente, que essas aqui se tratam de matrizes. Depois, essa peça será novamente impressa, mas com uma resolução ainda MAIOR que a que eu usei aqui e será preparada para moldagem. Ela será então replicada e vendida em resina.
Ou seja, depois desse tempo todo pra imprimir 3 cabeças, você vai pintá-las e depois reimprimir em outra impressora de maior fidelidade pra criar o molde? Já que o cliente pré aprovou, era realmente necessário uma impressão prévia em “baixa resolução”?
OI NIlton, no caso, essas três matrizes funcionam assim: As duas primeiras são peças de clientes que também servirão de referência de pintura para as replicas industriais depois. Elas não estão em baixa resolução, estão em resolução altíssima e por isso demora tanto para nascer. A última, que será a peça que dará origem ao molde, também terá uma resolução altíssima, mas essa peça não será produzida no sistema FDM por derretimento de plastico, e sim por um processo de endurecimento de resina usando uma frequencia luminosa. Isso por natureza consegue gerar uma resolução ainda maior para a peça final. Todas as peças são em alta resolução, mas a última delas a definitiva usa outro sistema de impressão 3d, feito numa impressora que custa mais de um milhão.
show de bola! boa jornada…
Orra! Muito massa! Ansioso pra ver como vai ficar depois de pintada! =D
Philipe, sempre fico impressionado com a qualidade de seus trabalhos, seu patamar é realmente Gump! kkkkk
Te mandei um email lá pela na seção de contatos, answer me please….
Valeu mesmo. Vou responder aqui.
Philipe, qual é a diferença de imprimir inteiro, como nesse caso, e em partes (tipo frente e verso)? Se não me engano a Santa Rita de Cassia foi diferente o método né?
Foi sim. Eu poderia ter feito ela inteira, mas naquele caso, eu tinha pouco tempo no cronograma, e a parte de trás da cabeça estaria debaixo do manto. Não havia razão logica para usar alta resolução na parte que nunca apareceria. Por isso dividimos, foi para acelerar. Já esse cara aqui vai ser olhada de perto de todos os ângulos imagináveis por isso precisava ser todo na mesma resolução.
As impressoras 3d (a sua, em particular) são de excelente qualidade, pelo visto. Ficar trabalhando tanto tempo num projeto tão “pesado” desses e não dar pau é realmente de tirar o chapéu. Para quem está acostumado com impressoras comuns, e que tem arraigada aquela ideia de uma coisa frágil e que dá problema toda hora… é um novo conceito de “impressora”.
Na verdade, as impressoras 3d não são realmente impressoras, mas o apelido pegou. Me parece que o nome correto dessas maquinas é “prototipadora” Elas são criadas para muuuitas horas de trabalho contínuo.
Que foda, Philipe! Sempre me surpreende com seu trabalho!
Fala Philipe!
Quando sai a segunda parte do Orc Gigante?
OBS: Bem que o Jô poderia te entrevistar novamente antes de encerrar o programa
Creio que sai amanhã; seria legal mesmo, mas acho improvável.