Os mistérios da ilha de Páscoa

Enigmas de uma Civilização Perdida

Hoje, nossa jornada nos leva ao vasto Oceano Pacífico, mais precisamente à enigmática Ilha de Páscoa, terra dos famosos Moais. A ilha tem diversos nomes, sendo o nome que eu acho mais curioso Mata Ki Te Rangi (“Olhos Fixos No Céu”)

Localizada a mais de 3.500 km da costa do Chile, a ilha é uma província chilena. A Ilha de Páscoa, ou “Rapa Nui”, como é conhecida pelos seus habitantes nativos, é um dos lugares mais isolados do mundo. Eu estive num museu dedicado a essa ilha quando fui ao Chile. Um lugar incrível mesmo.  Esta pequena ilha vulcânica é mundialmente famosa por seus impressionantes monólitos de pedra – os “Moais” – que têm intrigado cientistas, historiadores e viajantes por séculos.

Os Guardiões de Pedra

Há uma hipótese de que cada moai representa um rei da ilha

Os Moais são gigantescas esculturas de pedra que representam cabeças e torsos humanos, com alguns exemplares atingindo até 10 metros de altura e pesando mais de 80 toneladas. Até hoje, existem cerca de 900 dessas estátuas espalhadas pela ilha, muitas ainda de pé sobre suas plataformas cerimoniais, conhecidas como ahus.

Mistérios Não Resolvidos

A grande questão que perdura é: como uma população de uma ilha tão remota e com recursos limitados conseguiu esculpir, transportar e erigir estas imensas estátuas? Embora diversas teorias tenham sido propostas, incluindo o uso de troncos de árvores como roletes e sistemas de cordas, a verdadeira técnica ainda permanece um mistério.

Uma Civilização Perdida

Os moais são estátuas esculpidas a partir das pedras do vulcão Rano Raraku, dispostas em diversas plataformas, que podem ser de 2 tipos: “ahu”, situam-se junto ao mar e têm câmara crematória; ou plataformas “marai” que se situam em zonas mais elevadas, onde se faziam observações astronómicas. A maior plataforma tem 15 moais, mas existem plataforma apenas com 1 moai. O maior deles tem 21 m e está inacabado, estando ainda na pedreira do vulcão. O maior moai que foi colocado de pé é o “Paro” e tem 11 metros.

A expansão polinésia, que ocorreu até 1200 a.C., representa uma das mais notáveis explorações marítimas pré-históricas. Originários do arquipélago de Bismarck, próximo à Nova Guiné, povos asiáticos navegaram por cerca de 2.000 metros de mar aberto até as ilhas da Polinésia Ocidental, como Fiji, Samoa e Tonga, sem o auxílio de bússolas ou instrumentos de metal, demonstrando uma notável habilidade em navegação e construção de canoas. A cerâmica lapita, produzida por seus ancestrais, é um marco dessa cultura.

Contrariando teorias anteriores que sugeriam uma descoberta acidental dessas ilhas, evidências atuais indicam que as jornadas e a colonização foram meticulosamente planejadas, com rotas provavelmente iniciando das ilhas de Mangareva, Pitcairn e Henderson para a Ilha de Páscoa, facilitando a viagem de dezessete dias e o transporte de recursos essenciais para a sobrevivência. A transferência intencional de diversas espécies de plantas e animais reforça essa teoria.

A datação exata da ocupação da Ilha de Páscoa permanece incerta, com estimativas variando entre 300-400 d.C., baseadas em análises linguísticas e radiocarbônicas. No entanto, a confiabilidade desses métodos é questionada devido à complexidade da língua pascoense. Entre 600-800 d.C., as ilhas da Polinésia Oriental foram colonizadas, com evidências radiocarbônicas confirmando presença humana em Anakena, na Ilha de Páscoa, antes de 900 d.C. A expansão polinésia alcançou a Nova Zelândia por volta de 1200, completando a colonização das ilhas pacíficas habitáveis.

Estudos genéticos dos habitantes da Ilha de Páscoa confirmam sua origem polinésia, vindos da Ásia, e refutam teorias anteriores de colonização a partir da América do Sul. Instrumentos e características físicas, como a “mandíbula oscilante”, também corroboram sua herança cultural polinésia.

A 5 de abril de 1722, o explorador neerlandês Jacob Roggeveen atravessou o Pacífico partindo do Chile em três grandes navios europeus, e após dezessete dias de viagem desembarcou na ilha num domingo de Páscoa, daí o seu nome, que permaneceu até hoje.

A história da Ilha de Páscoa é também uma lição sobre o impacto ambiental e a sustentabilidade. Acredita-se que a ilha já foi coberta por uma densa floresta, que foi gradativamente destruída devido à expansão da população e à necessidade de recursos para transportar os Moais. Essa degradação ambiental é considerada uma das causas do colapso da sociedade da Ilha de Páscoa.

A primeira e mais adequada descrição da ilha foi feita pelo Capitão James Cook, em 1774, em sua breve visita de apenas quatro dias, com o seu destacamento, quando realizou o reconhecimento do território pascoense. Cook tinha a vantagem de estar acompanhado por um taitiano, cujo polinésio era similar ao dos insulares, possibilitando o entendimento entre eles. Em 1870, comerciantes europeus tomaram posse das terras e introduziram gado ovino na ilha. Em 1888, o governo chileno anexou Páscoa, que se tornou uma fazenda de
ovelhas administrada por uma empresa escocesa estabelecida no Chile. Os nativos  passaram, então à condição escrava: trabalhavam para a empresa e eram pagos em bens e víveres, “(…) no barracão da empresa em vez de dinheiro.”. Os nativos, em 1914, se revoltaram contra o invasor estrangeiro, porém foram dominados com a chegada de um navio de guerra chileno que intercedeu pela empresa. Somente em 1966, mais de meio século depois, os insulares foram reconhecidos como cidadãos chilenos.[5] Os insulares e chilenos nascidos no continente são em número igual ao dos nativos. Ainda hoje existe tensão entre eles, porém renasce no pascoense o orgulho cultural e sua economia é estimulada pelo turismo: há diversos vôos semanais vindos de Santiago e do Taiti,
realizados por empresa aérea estatal do Chile, transportando visitantes atraídos pelas famosas estátuas. Páscoa é uma ilha vulcânica, seu território tem a forma triangular e é o pedaço de terra mais isolado do mundo, no limite da Polinésia Oriental. Sua origem consiste em três vulcões que emergiram do mar um junto ao outro, em tempos diferentes, nos últimos milhões de anos, e têm estado adormecidos ao longo da história de ocupação da ilha. O mais antigo deles é o Poike, que entrou em erupção há cerca de 600 mil anos, formando o canto sul do triângulo. A subseqüente erupção deu origem ao Rano Kau, o segundo a emergir, formando o canto sudoeste da ilha. Por último, a erupção do Terevaka, localizado no canto norte do triângulo. A ilha ocupa uma área de 170 km² e sua elevação é de 510 metros. A sua topografia é suave, sem vales profundos, exceto suas crateras e encostas íngremes e cones de escória vulcânica. A geografia de Páscoa sempre representou grandes desafios para seus colonizadores, como até hoje ainda o é. Seu clima, embora quente para os padrões europeus e norte-americanos, é frio para os padrões da maioria das ilhas da Polinésia. Tanto que plantas importantes, como o coco  não se desenvolvem bem na ilha, e a fruta-pão (também recentemente introduzida), sendo Páscoa um lugar ventoso, cai do pé antes do tempo. Além disso, o oceano ao redor é demasiado frio e não permite a formação de recifes de coral, tornando a ilha deficiente tanto para
peixes e moluscos associados aos atóis de coral, como para peixes em geral (de todas as espécies de peixe existentes, Páscoa possui apenas 127). Todos esses fatores resultam em menos fontes de alimento. Além do que, a chuva – cuja precipitação média anual é de 1300 mm, aparentemente abundante, infiltra-se rapidamente no solo vulcânico e poroso da ilha. Há, portanto, limitação de água potável. Somente com muito esforço o povo do local conseguia água suficiente para beber, cozinhar e cultivar.

1500 pessoas sequestradas

Em 1805 — ano mais sombrio da história de Páscoa — duas dúzias de navios peruanos sequestraram a metade da população (1 500 pascoenses) de uma só vez, e os venderam em um leilão para trabalho escravo nas minas peruanas de guano. A maioria dos sequestrados morreu em cativeiro. Os 15 sobreviventes, devido a pressões internacionais, foram repatriados.

Lições para o Presente

A Ilha de Páscoa e seus Moais não são apenas um testemunho da engenhosidade humana, mas também um aviso sobre os limites dos recursos naturais e as consequências de sua exploração desenfreada. Em um mundo que enfrenta desafios ambientais sem precedentes, Rapa Nui serve como um lembrete crítico da necessidade de vivermos de maneira sustentável.

A Ilha de Páscoa permanece como um dos maiores enigmas da arqueologia e um símbolo poderoso da capacidade humana de criar e, ao mesmo tempo, destruir. Suas estátuas silenciosas guardam os segredos de uma civilização perdida, nos convidando a refletir sobre nosso próprio lugar no mundo e sobre como queremos ser lembrados pelas gerações futuras.

Acredito que cada enigma esconde uma história fascinante, pronta para ser descoberta. A Ilha de Páscoa é apenas um dos muitos mistérios que povoam nosso planeta, nos lembrando de que, por mais que avancemos, sempre haverá perguntas esperando por respostas.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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