domingo, dezembro 22, 2024

Pão de Açúcar

Você já parou pra se perguntar por que diabos o morro carioca se chama Pão de Açúcar? Isso foi uma coisa que me intrigou durante anos, e sempre pensei nesse troço ao pé da letra. Eu pensava que nos tempos do Cabral, no período histórico quando os portugueses chegaram ao Brasil, havia um tipo de pão doce de forma cônica, que acabou batizando o morro.

Rio7-Vista do Pao de acucar A verdade é quase isso, mas um pouco diferente. Eu nunca tinha visto o famoso “pão de açúcar” de verdade até dar de cara com ele num gif! Assim, entendi que o pão de açúcar nunca foi um pão de verdade, mas sim um blocão de açúcar  monolítico! O processo de criação desse foguetão doce era bem curioso. Veja aí:

Era assim que se comia o açúcar em meados do século 16. Imagino que esse troço devia pesar bastante e era bem difícil de gerenciar. A forma cônica tinha a razão de eliminar a água do açúcar por gravidade. A forma é realmente muito similar á do famoso morro carioca. O Morro do Pão de Açúcar, o mais alto do complexo de montanhas do Rio, sendo constituído por um bloco único de gnaisse-granito com mais de seiscentos milhões de anos de idade, que surgiu da separação entre os continentes sul-americano e o africano, e que sofreu alterações por pressão e temperatura. Ele está 395 metros acima do nível do mar.

Os nomes do morro

Segundo o historiador Vieira Fazenda, foram os portugueses que deram esse nome, pois durante o apogeu do cultivo da cana-de-açúcar no Brasil (século XVI e XVII), após a cana ser espremida e o caldo fervido e apurado, os blocos de açúcar eram colocados nessas fôrmas de barro cônicas para ser transportado para a Europa. A semelhança do penhasco carioca com aquela forma de barro teria originado o nome.
Mas a montanha já teve outros nomes:
“Pau-nh-açuquã” da língua Tupi, dado pelos Tamoios, os primitivos habitantes da Baía de Guanabara, significando “morro alto, isolado e pontudo”; “Pot de beurre” dado pelos franceses invasores da primeira leva; “Pão de Sucar” dado pelos primeiros colonizadores portugueses; “Pot de Sucre” dado pelos franceses invasores da segunda leva. Ortograficamente, segundo a anterior ortografia da Língua Portuguesa, “Pão de Assucar”, se escrevia com ss.
O nome Pão de Açúcar generalizou-se, a partir da segunda metade do século XIX, quando o Rio de Janeiro recebeu as missões artísticas do desenhista e pintor alemão Johann Moritz Rugendas e do artista gráfico francês Jean Baptiste Debret que, em magníficos desenhos e gravuras, exaltaram a beleza do Pão de Açúcar.

As lendas

Como com quase tudo no Brasil, a montanha tem suas lendas. Uma delas é o Gigante, uma figura com 200 metros de extensão, que se pode observar na montanha do Pão de Açúcar , é a silhueta de um ancião chamado Guardião da Pedra.
Segundo uma versão lendária, esta figura seria São Pedro abraçando a pedra do Pão de Açúcar, que representaria a Igreja. Acima de sua cabeça pode-se observar um solidéu – barrete privativo dos bispos – e Pedro foi considerado o bispo dos bispos. A imagem também ostenta uma longa veste talar usada habitualmente pelos sacerdotes hierárquicos e São Pedro foi o primeiro chefe da Igreja.

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Às 11 horas podemos avistar uma sombra na cavidade da pedra, com cerca de 120 m de altura, formando a silhueta de um pássaro pernalta, chamado Íbis do Pão de Açúcar. Na mitologia egípcia há uma imagem da humanidade como um gigante deitado tendo aos pés, acorrentada, a Íbis, o pássaro sagrado do Egito.

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Como o relevo carioca visto do oceano apresenta a silhueta montanhosa de um gigante deitado (aquele que acordava naquela antológica propaganda) – onde o queixo é a Pedra da Gávea, o tronco é o Maciço da Tijuca e o pé é o Pão de Açúcar – nasceu a versão de que egípcios teriam estado no Rio de Janeiro muito antes do nascimento de Cristo e se inspirado no gigante deitado das montanhas cariocas para conceber a sua imagem mitológica. Nesse caso, teriam sido os antigos egípcios os primeiros turistas vindos ao Brasil. O mais puro caô!

Alpinista

Uma coisa curiosa, é que embora a sociedade machista da época ditasse a tônica das explorações no mundo, foi uma mulher, que em 1817, escalou o rochedo pela primeira vez. Era a montanhista inglesa chamada Henrietta Carstairs (no centro, em pé), de 39 anos. Ela tornou-se a primeira pessoa a escalar o morro do Pão de Açúcar e para comemorar, deixou uma bandeira de seus país lá no alto. Naquela época, o lugar era um desafio para poucos e corajosos alpinistas. Um militar português do quartel colonial da Urca, que nem alpinista era, indignado com a ousadia subiu lá no dia seguinte, no peito e na raça e trocou a bandeira inglesa pela bandeira portuguesa.
escaladora

O bondinho

Quase todo mundo sabe que tem um bondinho que sai do bairro da Urca e vai até lá em cima, no cume da montanha. Mas você pode imaginar a dificuldade monstra para subir na pedra e instalar esse bondinho lá? Foi uma ousada operação, que levou três anos, de 1909 a 1912, e envolveu cerca de 400 pessoas. Para poder levantar a estrutura básica, foi preciso que diversos alpinistas escalassem a montanha, levando equipamentos em mochilas e posteriormente que alguns operários corajosos se arriscassem na construção de uma edificação estrutural da estação, a 400 metros de altura. A construção do bondinho custou 2 milhões de contos de réis, valor que, ajustado aos dias de hoje, ultrapassaria R$ 100 bilhões! Naquela época, só existiam dois teleféricos parecidos no mundo, na Espanha e na Suíça, e o bondinho carioca superou os dois em tamanho, e talvez, complexidade.

Bondinho_Rio_1940

Na inauguração do transporte, no dia 27 de outubro de 1912, subiram 577 pessoas corajosas ao Morro da Urca, ao preço de 2 mil réis pela viagem de ida e volta (cerca de R$ 10, enquanto hoje custa 62)
O “Camarote Carril”, como era conhecido o bondinho, era todo construído em madeira, e tinha capacidade para 17 pessoas. Ele fazia o trajeto suspenso em dois cabos-trilho, sobre os quais deslizava com oito pares de roldana. A energia era fornecida por uma máquina elétrica de 75 HP e os freios elétricos davam ao sistema completa segurança. Cada viagem durava, em média, 6 minutos, a uma velocidade de 2 m/s (nos dois trechos).

Bebês e tiros

Em 1º de maio de 1933, nasceu a primeira criança no alto da montanha. Dois anos depois, o ponto turístico sofreu reflexos do levante comunista. Nas suas proximidades, os rebeldes lutaram com as forças legalistas, e os cabos do caminho aéreo foram danificados por disparos feitos pelos dois lados. Por muito tempo, o bondinho ficou sem funcionar, até que novos cabos fossem importados da Europa. Em outubro de 1972, o bondinho original deu adeus aos cariocas. Após 60 anos e algumas reformas, foi substituído com a duplicação das linhas do teleférico. A nova cabine passou a transportar até 75 passageiros por viagem, caindo para seis minutos o tempo total para percorrer os dois trechos. Hoje são no máximo 65 passageiros, por causa do aumento do peso da população. Em seus mais de cem anos, o bondinho já transportou cerca de 40 milhões de passageiros, e até o James Bond já lutou lá em cima, hehehe.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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