domingo, dezembro 22, 2024

Pernilongo: O maior desafio do mundo

Volta e meia vemos a expressão fatídica na Tv: Vamos vencer a guerra contra a Dengue Nada pode ser mais tragicamente falacioso como "vencer a guerra contra o mosquito".

Volta e meia vemos a expressão fatídica na Tv:

Vamos vencer a guerra contra a Dengue

Nada pode ser mais tragicamente falacioso como “vencer a guerra contra o mosquito”.
Dá a estranha sensação de que o errado na história é o mosquito, que ele é o vilão a ser exterminado, que ele é o invasor que veio estragar nossa alegria com suas doenças.

Eu sei que este não é o mosquito da dengue. Mas não dá pra não postar essa minha foto, né?
Eu sei que este não é o mosquito da dengue. Mas não dá pra não postar essa minha foto, né?

Isso está, é óbvio, completamente errado desde sua gênese. Nós chegamos depois. Os mosquitos existem na Terra desde antes dos dinossauros! Se for por mérito de antiguidade, a Terra é deles.
Segundo, não há uma guerra. O mosquito nem sequer sabe o que é dengue, ele nem imagina que doença exista. O mosquito, aliás, mosquita, que só a fêmea precisa de sangue, segue vivendo a vidinha dela, alheia aos NOSSOS problemas. A dengue, chikungunya, Zica e seja lá o que vier depois, são doenças humanas. O mosquito é o vetor, que passa a doença de um sujeito para outro.
A pior de todas as falácias é tentar convencer a população de que tirar pneus e potes do jardim tem impacto real na população de mosquitos.

A arte de Enxugar gelo

Vou te falar. Existe pouca coisa mais difícil no mundo que exterminar um animal como um mosquito. O mosquito levou só 250 milhões de anos se adaptando. Não é um adversário a quem se possa desrespeitar achando que tirando uma garrafinha aqui e um potinho de margarina dali vai acabar. Seus ovos são extremamente resistentes, podendo sobreviver vários meses até que a chegada de água propicie a incubação.  O bicho é foda. Choveu, ele nasce. Ele bota ovo em QUALQUER LUGAR.

É simplesmente estúpida a ideia de que seria possível eliminar todos os locais onde o mosquito vai colocar ovos. Lugar NUNCA vai faltar. Jogar fumacê custa caro, mata uma meia dúzia de mosquitos e uma caralhada de outros animais que não tem nada a ver com o pato, e que vão fazer falta na polinização depois, mas horas após o fumacê passar, já vai ter milhões de mosquitos voando.

O fumacê é um inseticida em aerosol. Ele é feito para matar mosquito, seja ele qual for. Além dos humanos, havia um outro grande inimigo do Aedes Aegypti que é o Aedes Albopictus  (que também transmite a dengue). A competição entre as duas espécies ocorre devido ao fato de a fêmea do A. aegypti se acasalar tanto com o macho de sua espécie, quanto com o macho do A. albopictus que é mais agressivo e, sendo de outra espécie, gera ovos inférteis, reduzindo assim a população de A. aegypti.

O governo SABE que não adianta bosta nenhuma esse negócio demagógico de “cada um faz sua parte”, mas se vê sem saída para lidar com o problema que é histórico e vêm de décadas, só se agravando multiplicado pela incompetência de todas as esferas governamentais.

Mas aqui é assim. Chega o verão, chove pra dedéu, desaba tudo, escorre lixo da encosta, nego perde tudo, dá enchente, a rua enche, o bueiro entope, o carro dá perda total… Todo ano. Todo ano a mesma porra!

Entra ano, sai ano, é tragédia de chuvas no verão. São as coisas cíclicas do Brasil, como faltar água e luz na região dos lagos. É todo ano igual. Ninguém faz rigorosamente BOSTA NENHUMA para solucionar, porque solucionar sai caro. Gasta muita grana e esses problemas são sazonais, logo chega abril e o problema começa a acabar. Vai ficando mais frio, os mosquitos reduzem, a chuva reduz, o político ganha um fôlego para pensar em outros problemas, como pagar funcionalismo, resolver (ou empurrar com a barriga) a falta de remédio em hospital …

Chuvas, inundações, enchentes, dengue. Entra ano sai ano. Só piora.
Chuvas, inundações, enchentes, dengue. Entra ano sai ano. Só piora.

Essas doenças, apesar de matarem, são pouco respeitadas pelo poder público porque são consideradas episódicas e sazonais. É uma merda mas é assim que eles pensam. A gente que segure no pau da goiaba e espere a merda passar.

O problema todo é que ao convencer a população de que eles precisam tirar a água do pratinho, ou recolher as latas, tampar a caixa dágua e etc, estamos dificultando a vida do mosquito. Esse é o plano. Atrapalhar o mosquito. Só que isso não ACABA com o mosquito. Isso faz realmente a vida do mosquito mais complicada um pouco. E por ser mais foda, ele vai migrar pela sua casa em busca de um lugar para colocar os ovos. E se não for na sua casa, ele vai para a casa do seu vizinho. Nessa, ele chupa o sangue do seu vizinho também… É assim que a doença vai se espalhando.

A gente não deve dificultar se pode facilitar

Há um ditado que diz que nadar contra a corrente sempre será difícil. Subir ladeira é sempre pior que descer, certo? É assim porque a gravidade, que é um elemento da natureza do universo, está puxando a gente pra baixo. Subir é mesmo difícil. Lidar com a dengue escondendo os lugares do mosquito se reproduzir é subir ladeira plantando bananeira. Dá? Dá. Mas é muito difícil. Seria muito mais inteligente entender qual é o VETOR NATURAL. O vetor natural é a programação básica que diz à mosquita: Chupe o sangue, procure água e bote os ovos!
É uma programação básica. O mosquito, no fundo, é praticamente um robô. Ele tá programado para fazer aquela merda. O que um ser inteligente, como a Dilma deve fazer para resolver o problema do robô? Usar a programação dele contra ele, certo? O ponto fraco do mosquito é justamente que ele está programado. Aconteça o que acontecer, ele não consegue mudar o fato de que vai chupar seu sangue e vai procurar uma poça para botar o seus ovos. E é aqui que entra a armadilha de matar mosquito.

A armadilha de matar o mosquito da dengue

A ideia é do caralho. Tão boa que o gênio que inventou isso devia ganhar a comenda do Cruzeiro do Sul como herói da pátria. Veja, hoje, um dos maiores problemas que existem por aí são as garrafas Pet. Basta ir em qualquer lixão para você dar de cara com milhões delas. Garrafas de refrigerante, um poluente escroto, que não degrada e entope bueiro, acumula nas margens dos rios… Enfim, o Pet é essa maldição que todo mundo conhece. Eu não entendo qual era a dificuldade de fazer uma lei igual a da Alemanha que obriga cada garrafa a pagar um imposto de poluição. Por exemplo, você compra uma coca. Custa dois reais. Pra você vai sair a quatro. Você paga quatro reais pela coca e pela garrafa poluente. Aí você bebe e leva sua garrafa no ponto de venda. Entrega ela e pega de volta seus dois reais de poluição de volta.
No final do dia, a Coca Cola passa no ponto de venda e pega aquele montão de garrafas pet e ela mesmo leva para reciclar. Se você foi um otário sem noção e jogou sua garrafa no chão, algum esperto vai ver, pegar e correr para trocar em dindim.

Logo, mesmo que você seja um babaca completo, sua garrafa não vai ser poluente muito tempo, porque ela representa dindim!
Aqui nego dá boa vida ao fabricante e foda-se a natureza.

O resultado são garrafas pra caralho virando um passivo ambiental tosco.

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Ha milhares de ideias legais para reciclar o Pet das garrafas. Eu gosto de todos eles, mas essa armadilha de mosquito merecia um prêmio. Facílima de fazer e realmente tem impacto na população dos mosquitos. Olha só:

Aqui estão os passos para fazer:

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O mosquito simplesmente não consegue resistir a essa armadilha. Ele vai detectar a água por evaporação e vai colocar os ovos nela. Uma vez que colocou, o mosquito que nascer dentro da armadilha ele não sai dela nem ferrando e morre ali, levado consigo toda sua descendência de bilhões de mosquitos futuros. Se todo mundo fizer essa armadilha, estaremos dando ao mosquito exatamente o que ele quer, e isso é irresistível! Só que ele entrou ali, se ferrou!

O que o governo poderia fazer?

Estimular a fabricação em grande escala,  e distribuição dessas armadilhas, criando repasse para comunidades pobres de catadores. Condicionar a colocação dessas armadilhas nas casas ao recebimento do bolsa família.  Isso misturaria a solução do problema ambiental com o estimulo ao emprego e redução da problemática epidêmica com transferência de renda. Só que fazer isso deve dar trabalho. É muito mais jogo pegar um monte de dinheiro e comprar carros de luxo para o combate à dengue:

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O Governo do Estado do Rio (aquele que ta quebrado sem dinheiro pra nada) comprou 170 carros modelo Nissan Versa para “combater a Dengue”. Os carros foram destinados às secretarias de saúde de vários municípios do RJ.  Isso dá mais de R$8 milhões. Há muitos anos o combate a dengue recebe dinheiro na inversa proporção da efetividade das ações, e causa espanto imaginar um carro de luxo servindo para reduzir mosquitos. Ainda mais quando servidores são flagrados indo a praia com o carrão.

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É a farra de sempre com o dinheiro do contribuinte.

Enfim, essa armadilha realmente funciona. Com 50 mil reais, ou seja, um só carro desses 170, quantas armadilhas será que o governo fabricaria?

Meu ponto é o seguinte: Temos que criar um jeito dessa armadilha se popularizar. Sem ser esse lance primitivo de “faça você mesmo”. A armadilha tem que ser feita em escala industrial, direito! Na China ou seja lá onde for, mas precisa ser feita, e tem que ser gratuita e ser distribuída amplamente pelo governo. Aí vai ter efeito.

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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Comentários

  1. Complicado, tava ouvindo um podcast essa semana com uma especialista justo nesse tema, ele conta que ja foram relatados casos de larvas encontradas num pequeno acumulo de agua na parte traseira da geladeira (alguma pedaco da estrutura pra escorrer gotas do congelador) de um apartamento do 15° andar em plena zona urbana, outro caso mencionado por ela foi sobre os containers de carga marítima, a agua que se acumula entre aqueles sulcos da estrutura na parte superior, abriga muitas larvas, e eles circulam o mundo todo.

  2. Acredito que a questão do combate à dengue no Brasil pode ser comparada à política anti-drogas americana da seguinte forma: o governo sabe que a forma como é feita é inócua mas é uma excelente justificativa pra gastar quantias absurdas de dinheiro.

  3. Philipe concordo com você que nossas políticas são uma merda e a ignorância do povo só dificulta as coisas.
    Sobre o mosquito da dengue eu acho complicado, acabei de ler um post falando sobre essa armadilha. Atrair ele, não impede que o mosquito utilize os outros pontos que possam existir no quintal das pessoas ou mesmo as piquem antes de chegar até a armadilha.
    Já li alguma coisa sobre um raio de poucos metros que o mosquito consegue voar a partir de onde ele nasceu. Acredito que em grandes centros urbanos seja possível diminuir a população apenas com os cuidados simples mas é complicado demais quando a gente lembra que muitas pessoas não são capazes nem de cuidar da higiene pessoal.
    Exemplificando com meu “causo”: Comprei um terreno próximo da minha casa faz pouco tempo, moro em um bairro periférico, e fui feliz e contente fazer a limpeza com meu pai, enquanto estavamos cortando a grama, bem alta, fomos achando copos, talheres entre outras coisas. Ficamos intrigados pois ali haviam pelo menos 4 copos de vidros inteiros e do mesmo conjunto. Meu pai conversando com o vizinho do lado esquerdo fisgou a informação que foi confirmada pelo dono da casa a direita do terreno. Suas filhas com preguiça de lavar a louça simplesmente jogam a louça pelo muro!!!!! enfim , para não enrolar e ficar mais puto do que já estou, limpamos o terreno novamente e dessa vez o pai das crianças deixou uma escrivaninha lá pra gente !

  4. Esperar que o Governo tome decisões inteligentes, é querer muito. Realmente é muito melhor comprar e gastar o dinheiro, que não é deles, de maneira errada e ineficiente.

  5. Cara, não despreze nenhum tipo de ação contra as doenças do mosquito. Se você acha a armadilha uma boa opção, compartilhe, mas qualquer ação é importante.

  6. Tanbem sou da opinião que devermos atacar asse bichinhos pelos seus próprios pontos fracos. Capturando os adultos e ou evitando o desenvolvimento da fase adulta, como na armadilha para filhotes ( ovos).
    Outra opção é desenvolver uma química que quando ingerida pela “possível vítima ” seja o homem ou animal, que seja tóxica para os mosquitos e os mate em algum tempo, assim como já existem drogas que combatem piolho quando ingerida. .. o caminho é o mesmo e o processo e bem parecido.
    Agora, tentar acabar com o bicho poluindo o ar e ou matando outras espécies é uma COMPLETA BURRICE.

  7. Oi Philipe,
    Uma coisa interessante que você falou é sobre o uso indiscriminado do fumace, que acaba por eliminar outras especies de insetos, além de ser ineficaz. Concordo com essa opinião mas gostaria de saber se vc conhece algum estudo, pode ser no exterior para dar maior embasamento nessa critica? Já tive problema para discutir isso com algumas pessoas.

    • Cara eu fiz uma observação empírica. Não sei se tem estudo, mas aqui no meu condomínio onde eu faço fotos de insetos com recorrência, notei uma clara ação de extermínio de diversas espécies após o início do fumacê. Como eu vou justamente ao jardim atras de insetos para fazer foto macro, eu vi nitidamente que eles desapareceram todos em diversas espécies uma semana depois de passar o fumacê pela primeira vez. Algumas espécies jamais retornaram. Mas esse é o fumacê particular contratado pelo meu condomínio e não o público da dengue. (que nunca passa aqui) e por isso pode ser que o fumacê particular seja com algum tipo de DDT (algo nessa linha de largo espectro).

  8. De fato, exterminar o mosquito não vai se dar por tirar uma tampinha daqui ou dali, mas isso serve, sim, para amenizar a população. Se você tira as possibilidades de reprodução do mosquito da sua casa, você terá menos mosquitos picando menos pessoas e isso diminui a probabilidade da distribuição do vírus pelo vetor. Mas, é claro, isso tem que ser feito de forma massiva, pois se você faz, mas o cara da esquina não, o risco permanece dado a autonomia de vôo do mosquito ser grande. Infelizmente, o governo vem fazendo isso há anos, desde os tempos da SUCAM – pode até voltar mais e dizer que desde de Oswaldo Cruz!

    Quanto ao carro fumacê, só há indicação do uso em caso de epidemia ou altos índices de foco registrados, visto que o produto mata a população de mosquitos adultos sem interferência nas larvas que se desenvolverão e nos ovos que eclodirão. Ou seja, é só pra quando está complicado e perigoso mesmo!

    Com relação à sazonalidade, sim, procede para o sul e sudeste, mas o nordeste é quente o ano todo e a população, principalmente em pequenas cidades, tende a ter depósitos de água quase que necessariamente: são baldes, tanques e até os antigos potes! Nisso reside o fato do larvicida usado em escala nacional, Pyriproxyfen, ser extremamente usado no nordeste do país e menos usado nas outras regiões – inclusive foi publicado um relatório médico na argentina relacionando o atual larvicida com os casos de microcefalia, mas é outra história.

    E, por fim, também acho bem legal a ideia da “mosquiteira”, mas SÓ se houver trabalho concomitante, pois só isso não vai adiantar muito. Existem muitos depósitos além da armadilha e o mosquito está se adaptando, o que amplia as possibilidade: o Aedes aegypti preferia água limpa e locais escuros, pois é fotofóbico, mas já se vê foco em água parada na rua, ou seja, suja e clara. A adaptação é clara ao ver que o larvicida utilizado pelo governo é trocado de tempos em tempos. Assim, não adiantaria colocar uma armadilha se não limpar, trabalhar com os agentes e orientar incansavelmente a população. Seria como colocar um queijo na ratoeira para os ratos e esquecer do lixo cheio de resto de comida no quintal.

    No mais, achei muito legal ver o Mundo Gump postando sobre isso também!

  9. Philipe, eu já não sou tão favorável a estas armadilhas, por um motivo…o conteúdo dela tem que ser trocado pelo menos 2 vezes por semana. O povo vai fazer o que? Jogar a água fora. Deste modo, estamos “forçando” uma seleção natural aos mosquitos, onde somente as larvas mais resistentes sobreviverão – e passarão seus genes mais resistentes adiante. E isso sem contar que o brasileiro é um povo desatento, não consegue nem cuidar pra que sua casa não tenha foco…imagina ter a disciplina de olhar 2x por semana uma armadilha.
    Talvez com essa armadilha, a primeiro momento, a população de mosquitos diminua…mas depois pode piorar, e teremos uma infestação de “super mosquitos” com genes mais resistentes. Não sei, creio mais na idéia do mosquito alterado geneticamente.

    • Mas o ovo fica aderido na parede da armadilha. O que fica na água é o mosquito na forma de larva ou pupa. No video diz que basta jogar água sanitária que mata geral.

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