Procissão e o incômodo alheio

Ontem eu fiquei acordado até tarde. uma porra dum virus bagunçou o meu coreto aqui e eu fiquei tentando matá-lo sem sucesso até altas horas.
Fui dormir lá pelas três da manhã e peguei um filme já começado. Acabei vendo-o até o fim. Quando eu desliguei a Tv nem sei que horas eram. MAs isso não era um problema, afinal era madrugada de sábado e eu teria o domingo todo para dormir e descansar.

Lêdo engano! O serviço despertador da Igreja Católica apostólica Romana, – a procissão – passou com uma porra dum carro de som e umas mil pessoas malditas entoando cânticos bem debaixo da minha janela. Parecia uma micareta do Senhor.
Eu já fiz um post sobre isso. Mas como eu estou puto de ser acordado de manhã cedo por um bando de religiosos praticando uma porra dum ato medieval sem o menor sentido, me darei o direito de usar meu espaço público para choramingar no seu ouvido. Vai que o Bispo de Niterói é chegado numa bizarrice e lê o Mundo Gump, né?

Eu não sou contra religião. Eu acho bom que as pessoas tenham fé e manifestem sua fé da maneira mais cômoda. O problema é que o direito do católico começa no lugar onde termina o do ateu, o do Judeu, o do espírita, o do evangélico e por aí vai.
Não é certo que uma religião se considere ” a última bolacha do pacote” ao ponto de arrumar uma porra dum carro de som usado em carnaval para desfilar pela cidade acordando as pessoas, simplesmente porque eles acham bonito. Acham tradicional.
Pensem bem:
Deus, se é que Ele existe, mas nem vou entrar neste mérito, por acaso PEDIU uma procissão?
Uma procissão acrescenta o que à fé de alguém? Andar com uma vela, um raminho na mão ou outra coisa qualquer muda a religiosidade da pessoa? Se muda, ela deveria avaliar melhor seu conceito de fé.
O estado brasileiro é libertário e omisso (pra variar) no que concerne ao poder das igrejas no país. Igreja não paga imposto. Padre não faz imposto de renda, embora muitos padres ganhem bem mais que eu… É muita regalia.
Mas se o estado dá o direito às igrejas de serem construídas sem impostos, não é óbvio que os fiéis deveriam se manter ali dentro orando, rezando, cantando, sei lá o quê?
Não me parece nem um pouco certo que uma missa se dê sob a minha janela.

Este post não é um mero post polêmico. Não quero criar atrito com os católicos aqui, até porque eu passei a vida ligado a esta religião. Batismo, primeira comunhão, milhares de missas, casamento lá e tudo mais.
Só que certas coisas eu não posso concordar. O estado deveria ser laico. E ser laico é cortar certos excessos em benefício da sociedade. Se os macumbeiros não podem sair na rua baixando santo, se os evangélicos não podem fazer a corrente dos 318 nas avenidas mais movimentadas do país, os católicos deviam ter mais semacol!

Aposto que as procissões católicas não passam sob a janela dos prefeitos.

Estou certo que se Jesus voltasse aqui e visse isso não ia achar nada bonito. Jesus ensinou a amar e respeitar ao próximo. A verdadeira fé é demonstrada por atos e não por shows pirotécnicos ou dancinhas coreografadas.

Quer fazer bonito? Quer demonstrar sua fé em Deus? Quer ser salvo? Faça o bem. Ajude a quem precisa. Doe um órgão seu. Doe sangue! Garanto que Deus, Jesus ou qualquer um dos milhares de santos da sua Igreja, iriam ficar bem mais satisfeitos vendo você ajudar ao próximo do que incomodando as pessoas que querem dormir.

Ok, é impossível acabar com a tradição católica da procissão? Façam a procissão num estádio! Rodem ao redor do campo de futebol. Se o lance é andar e cantar o lugar é o que menos importa, certo? Ou não?
E se não, então o motivo é exibir fiéis. O motivo não é religioso e passa ser dos mais detestáveis. Porque ninguém normal entra para uma igreja só porque centenas de pessoas desfilam cantando numa avenida.
Mesmo assim, eu até aceito que a Igreja tenha DIAS ESPECÍFICOS para fazer procissões, que deveriam ter um HORÀRIO ADEQUADO. UMA ÚNICA VEZ NO ANO.

Certos abusos são foda. Recentemente a igreja católica aqui em Niterói se recusou a casar no religioso duas pessoas “deficientes” por PURO PRECONCEITO. Não é nenhuma síndrome ou coisa do tipo. A moça tem problemas de aprendizado e o rapaz paralisia cerebral que afetou apenas sua fala. Ambos trabalham, tem família, amigos, enfim, se amam e estão dispostos a PAGAR a TAXA CARÍSSIMA para o casamento na igreja. E até chegaram a fazer o Curso de noivos. (obviamente, pago)
O padre, do alto de seu poder, supostamente designado por Deus, alega que eles não poderão ter filhos, logo casar pra quê? E baseado nisso, neste argumento que eu educadamente chamarei de “idiota”, se recusa preemptóriamente a realizar o matrimônio.

Santos Deus! Eu que sempre achei que o casamento por AMOR era legítimo!

Ao invés de zanzar cantando musiquinha com CARRO DE SOM, – aqui eu abro um parênteses para questionar: Carro de som pra quê? Pra Deus ouvir lá do céu? Não basta só cantar? Tem que ser um esporro generalizado? – eles deveriam é investigar por que um padre proíbe duas pessoas de casar se elas se amam. A fé delas é menor por serem diferentes?

Vamos refletir.