Hoje estava lavando louça e pensando aleatoriedades.
Ao longe alguém estava ouvindo o Tim Maia. Me lembrei de uma entrevista que eu li na Playboy há muitos anos, com o Tim e daí fiquei pensando em como a Playboy era realmente boa.
Quando eu era mais novo eu já sabia que ela era boa, mas ainda pensava que o melhor dela eram as mulheres em ensaios que todo mundo conhece, mas de fato, a parte editorial da revista era um verdadeiro colosso. A revista tanto na versão internacional quanto na brasileira reuniu um time de muita categoria na criação de matérias, e artigos sobre cultura e lifestyle.
No Brasil, a Playboy foi publicada regularmente em formato impresso entre os anos de 1975 e 2015, pela Abril. Em 2016, ela retornou por meio da PBB Entertainment, saindo a cada dois meses e depois trimestralmente, até 2017, quando ela encerrou a sua presença no país com a edição nacional. Aqui no Brasil, a Playboy sempre teve rostos bem conhecidos nas capas. A primeira edição foi publicada em 1975, encerrando sua vida 40 depois, com 487 edições, com uma sobrevida entre 2016 e 2017. Antes de falir por problemas financeiros decorrentes de diversas questões incluindo a pandemia, a revista chegou a mudar a linha editorial. Como parte de uma reformulação, a publicação se inclinou mais para o estilo de vida e a literatura, reconhecendo que os leitores interessados apenas em nudez podem encontrar mais facilmente o que desejavam na Internet. Mas já era tarde.
Eu arrisco dizer que talvez o que matou a Playboy tenha sido justamente o excesso de mulher pelada… E a internet, claro.
A internet matou as revistas praticamente todas, é claro, mas no caso da Playboy, como ela começou a construir uma imagem de a revista que trazia as grandes celebridades como vieram ao mundo, pagando verdadeiras fortunas por ensaios, chega um momento em que a publicação condiciona o leitor. Se é preciso a cada edição colocar uma mulher bonita mais famosa, com cacife mais alto, a revista vai dobrando a aposta a cada mês. Se eventualmente as negociações com a gostosa do momento não vingam, ou emperram com advogados, maridos e palpiteiros mil, é preciso tampar o buraco, mas agora sua base compradora foi condicionada a só querer a grande celebridade de capa. E muitos não vão comprar com qualquer desconhecida na capa…
Então o que ocorre é uma revista com um conteúdo muito bom, de muita qualidade sendo relegado ao limbo, porque não tinha mais uma celebridade de capa.
Tornaram a mulher pelada num trunfo mas depois com a internet, há bilhões de fotos de mulheres nuas para todo gosto, ao alcance de um clique de distância. O famoso fotografo J.T. Duran, costuma dizer que não foi a internet que acabou com a playboy, mas a revista “Caras” e a “Quem”:
“Antigamente, uma celebridade queria comprar um apartamento e saía na Playboy. Quando começaram a entrar em anúncios e em revistas como a Caras, em que lucravam sem se despir, a revista perdeu espaço.”
Eu até entendo isso, mas acho que o erro está no fato de que a revista em um certo momento incutiu na massa que a capa dela seria sempre uma celebridade.
Enfim, era uma boa revista, e a seção de piadas e cartas eram muito boas.
Era assinante e também sinto falta.