Tava até demorando pra acontecer.
Conforme esta notícia, um cara chamado Jason Allen de Pueblo, ingressou num concurso de arte da feira estadual do Colorado, nos Estados Unidos, e faturou o primeiro lugar com uma peça criada com o Midjourney, que é aquele software de criação de imagens por inteligência artificial que eu falei neste post aqui.
Conforme o Olhar digital disse,
A imagem “Théâtre D’opéra Spatial” foi criada por Jason Allen de Pueblo, Colorado, usando o Midjourney, mas ele teve um certo trabalho para conseguir inscrevê-la na premiação.
Primeiro, Allen criou centenas de imagens no servidor do Discord do Midjourney, depois retocou suas três favoritas no Photoshop, e usou o software Gigapixel AI para fazer um upscaling das imagens. Então, ele imprimiu essas três imagens em telas.
Jason Allen inscreveu suas três obras feitas com o Midjourney na categoria de artes digitais da competição da Colorado State Fair. Para a sua surpresa, “Théâtre D’opéra Spatial” foi agraciada com o primeiro prêmio.
O fato de uma arte feita com inteligência artificial pelo Midjourney ter vencido o concurso foi considerado algo surpreendente, e muitos artistas ficaram chateados. è preciso deixar claro que:
1- Ele avisou que era arte feita com IA na inscrição.
2- Estava na categoria ARTE DIGITAL.
3-A arte foi aceita para concorrer.
O descontentamento foi demonstrado pelo Reddit e principalmente no Twitter, dizendo que o cara usou um subterfúgio tecnológico para concorrer.
Eu penso que talvez criem uma categoria exclusiva para artes com IA. Mas nesse caso aí, se eles aceitaram, é isso mesmo.
Claro que a história foi o mote perfeito para a grande discussão do momento, que é:
Usar IA para criar uma arte torna a arte menos arte do que se ela saísse do seu cérebro inteiramente?
Opinião é igual bunda, cada um tem a sua. Mas a minha sobre isso é que não. Não é menos arte. Ainda mais se você teve trabalho para consertar e refazer coisas que o Midjourney não sabia resolver. O MJ ainda faz muita coisa onde ele dá uma “acochambrada”, porque simplesmente vai preencher o espaço com algo que ele considera válido. Nem sempre, no entanto isso vai gerar uma compreensão agradável do resultado.
Eu acho que há um certo interesse comercial em fazer parecer que é mais fácil do que é. Isso ocorre com a impressão 3d também, e provavelmente pelo mesmo motivo. É legal fazer parecer que você só precisa apertar um botão e pronto, NASCE UM TRABALHO INCRÍVEL, graças a magia da tecnologia!
Quem já tentou fazer alguma coisa do zero em 3d e depois imprimir direito sabe o quão essa delirante fantasia se distancia da realidade prática. O mesmo corre com o Dall. E e com o Midjourney.
Mas você pode se perguntar: Criar com a ajuda de uma IA é uma experiência legal?
Não. Não é legal. É alucinantemente uma das coisas mais incríveis que um artista pode experimentar! Mas não se iluda! É igualmente uma experiência frustrante se você tem uma ideia na cabeça pronta e precisa usar a IA para materializar. Simplesmente você gasta tempo, fica puto, não sai nem por um cacete o que você quer. Por melhor que você explique, o robô não vai materializar sua ideia se ela está graficamente representada na sua cabeça. Não vai. Não dá. Esquece.
O processo de criação com a IA envolve você aceitar o fato de que você está usando uma segunda inteligência para CRIAR COM você, e não sob seu comando direto. Nesse processo, o artista vai criando as ideias e burilando as recriações e reexplicando coisas, e mudando a frase, mandando ele tentar novas possibilidades gráficas dentro da ideia original, e misturando esses resultados, até que vá se aproximando ao que você achar desejável. Se você entendeu este parágrafo, percebeu que isso pode ser um trabalho simplesmente sem fim. Você pode passar todos os dias que restam até a data de sua morte fazendo apenas uma imagem lá (se seu dinheiro permitir).
O que eu penso é que talvez a criação com o uso da inteligência artificial transcenda a condição da criação em um certo nível, como a fotografia fez com a pintura, e como o 3d fez com a fotografia.
Engana-se redondamente os que pensam que a IA, como o Midjourney apenas copia estilos de terceiros. O sistema está crescendo e ficando cada vez mais inteligente, ele está entendendo, com a ajuda de milhares de usuários, que mandam feedbacks sobre os resultados que estão obtendo, auxiliando o Midjourney a entender o que um ser humano considera aceitável e o que não considera. E isso vai além da representação expressionista. Essa coisa pra mim, beira a magia tecnológica, e pode em menos de um minuto fundir estilos como pontilhismo de Seurat com o estilo barroco de Rembrandt, adicionando elementos de Gustave Climt gerando algo com uma estética nova, ou não exatamente nova, mas revigorada.
“Ah, mas não saiu da mente de um ser humano. “
E daí? Quer dizer que a arte então estará restrita a mente humana?
Não me leve a mal, mas eu prefiro um bilhão de vezes um computador operado por alguém que rala a mufa pensando em como convencer um programa matemático a fazer isso aqui:
…do que um “artista celebridade” que vai e faz:
Criar com uma inteligência artificial do lado é um processo que envolve muita experimentação e ajustes. Eu levei horas e horas para fazer esta que foi minha ultima arte com o MJ (acabei com meus créditos)
Sem falar que ainda estamos no que eu considero a pré-história da tecnologia de inteligência artificial. E ela está evoluindo numa velocidade espantosa.
Esta é uma ilustração de uma mulher feita no Midjourney por mim no início do mês passado.
Este é o padrão que ele consegue fazer um mês depois:
Enfim, eu acho algo realmente incrível, e fico boquiaberto com os resultados que vejo. Onde isso nos levará é algo ainda não claramente previsível. Não acho que vai acabar com os artistas como esses arautos do apocalipse gostam de berrar por aí. A Tv não matou o radio, o videocassete não matou o cinema, a fotografia não matou a pintura, a impressão 3d não matou a escultura e nem mesmo o CD não matou o vinil.
As pessoas ficam com medo, mas eu julgo que isso é natural. O progresso pode soar ameaçador, até porque muitas vezes, a história mostrou que a inovação disruptiva pode mesmo matar algumas atividades, como o PC extinguiu a máquina de escrever…
Mas eu não sei se esse medo se justificará por parte de artistas capazes de criar. Agora é fato que tem gente que devia começar a colocar a barba de molho, sejam coladores de banana nas paredes, ou jogadores de tinta na tela. E principalmente se forem artistas como aquele famoso pintor que só faz a mesma coisa. Sempre.
Concordo totalmente com você. Mesmo que eu não goste, tem muita coisa que é arte, sim, mas tem coisa que é cafagestagem – tipo a banana na parede ou a escultura invisível, ou os nfts ridículos de macaco que não tem esforço de criação nenhum. E esse povo que chora pq uma obra foi feita usando IA, queria ver eles fazerem algo assim tbm. Dá o maior trabalho.