Eu me lembro que estava na rua. Matando aula de inglês. Ao invés de ir para o CCAA, eu mudava de rota e ia direto para a rodoviária.
Não, eu não ia pegar um ônibus, mas pretendia viajar. É que a biblioteca municipal de Três Rios ficava em cima da rodoviária velha. Talvez ainda fique, sei lá. Eu comecei com este vício de matar aula para me enfurnar em biblioteca muito cedo. Me arrependi pouco de ter feito isso, sendo que pena mesmo eu tenho de ter matado tantas aulas de inglês. Mas estar ali, no meio daquelas estantes, repletas de livros, enciclopédias, manuais, jornais velhos, tantos livros amarelados cuja lombada já havia há muito apagado, tornavam-se verdadeiros mistérios a desvendar. E era preciso abrir todos, para descobrir do que se tratavam. Aquele cheiro de livro usado era inebriante, e eu renovava meu estoque de ácaros pulmonares com certa regularidade. O bibliotecário sabia, mas estava pouco se lixando. A primeira vez que eu o encontrei lá, ele me olhou de um jeito estranho. Era como um vendedor de loja prestes a falir que já não acredita quando surge um cliente. Ele perguntou o que eu queria. Eu rateei. Disse que não sabia.
-É trabalho de colégio! – Sentenciou ele, certo de que estava acertando na mosca. Neguei com a cabeça.
Não era comum uma criança ir sozinha para a biblioteca. Ainda mais sem que a mandassem para lá. A biblioteca, quando eu era um menino, era como o cemitério de elefantes. Não era exatamente um terreno proibido, mas simplesmente os jovens não iam lá. Não era natural.
-Então o que é? – Perguntou.
-Vim ver os livros. -Respondi, com um na mão.
Ele pareceu não acreditar, mas quando eu voltei na semana seguinte, e na outra, e na outra, e depois quase todos os dias, pois a Biblioteca Municipal ficava no meu caminho de volta da escola para a casa da minha avó, nos tornamos grandes amigos.
Ali eu conheci uma série de livros interessantes, em que eu embarcava firme rumo ao desconhecido. Alguns foram inesquecíveis como as aventuras do Tom Sawyer, os três mosqueteiros, 20.000 léguas submarinas, o mundo perdido… E finalmente, Tarzã (ou Tarzan, como preferir).
Quando eu li o Tarzã, eu já era um fã desmesurado do personagem. Curtia-o nas reprises da Sessão da Tarde. Bastava ver um filme do Tarzã eu já saia feito um macaco, pulando em árvore. Uma coisa engraçada sobre o livro do Tarzã é que no final dos livros da biblioteca, sempre vinha uma ficha com os nomes e datas em que ele foi alugado. Pra meu espanto, que nome eu vi ali? O do meu pai. Aquele livro que agora eu lia tinha sido lido pelo meu pai na juventude dele. Aquilo foi interessante, pois foi a primeira vez que percebi como o tempo do livro é diferente do tempo humano.
O Tarzan foi criado por Edgar Rice Burroughs. Ele surgiu meio que despretenciosamente, como uma aventura curta publicada na revista All-Story Magazine em 1912. Tarzan só foi virar livro depois, publicado em 1914. Tão logo foi publicado, tornou-se talvez a primeira grande franquia mundial de personagem, com mais 24 livros saindo posteriormente. No Brasil foram 14 livros publicados, sendo que muitos deles foram traduzidos por escritores de renome, como o Monteiro Lobato e até mesmo o poeta Manuel Bandeira.
Em plenos anos 80, era praticamente impossível ter contato primeiro com o Tarzã literário de Burroughs do que com o Tarzã dos filmes. Também pudera, dada a quantidade inimaginável de filmes do personagem. Saca só:
[toggle style=”closed” title=”Todos os filmes do Tarzã”]
- Tarzan, O Homem Macaco (Tarzan of the Apes, 1918, National); Elmo Lincoln (Tarzan) e Enid Markey (Jane)
- O Romance de Tarzan (Romance of Tarzan, 1918, National); idem
- A Vingança de Tarzan (The Revenge of Tarzan/ The Return of Tarzan, 1920, Goldwyn); Gene Pollar e Karla Schramm
- O Filho de Tarzan (The Son of Tarzan, 1920, National); P. Dempsey Tabler e Karla Schramm; seriado em quinze episódios
- As Aventuras de Tarzan (Adventures of Tarzan, 1921, Western); Elmo Lincoln e Louise Lorraine; seriado em quinze episódios
- Tarzan e o Leão de Ouro (Tarzan and the Golden Lion, 1927, FBO); James H. Pierce e Dorothy Dunbar
- Tarzan, O Poderoso (Tarzan The Mighty, 1929, Universal); Frank Merrill e Natalie Kingston; seriado em quinze episódios
- Tarzan, O Tigre (Tarzan The Tiger, 1929, Universal); Frank Merrill e Natalie Kingston; seriado em quinze episódios
- Tarzan, O Filho das Selvas (Tarzan the Ape Man, 1932, MGM); Johnny Weissmuller e Maureen O’Sullivan
- Tarzan, O Destemido (Tarzan The Fearless, 1933, Principal); Buster Crabbe e Jacqueline Wells (mais tarde Julie Bishop)
- A Companheira de Tarzan (Tarzan and His Mate, 1934, MGM); Johnny Weissmuller e Maureen O’Sullivan; geralmente considerado o melhor da série
- As Novas Aventuras de Tarzan (The New Adventures of Tarzan, 1935, Burroughs-Tarzan); Herman Brix; seriado em quinze episódios, produzido pelo próprio Edgar Rice Burroughs
- A Fuga de Tarzan (Tarzan Escapes, 1936, MGM); Johnny Weissmuller e Maureen O’Sullivan
- A Vingança de Tarzan (Tarzan’s Revenge, 1938, Fox); Glenn Morris e Eleanor Holm; único trabalho de Morris no cinema: terminado o filme, ele voltou para sua profissão original: bombeiro
- O Filho de Tarzan (Tarzan Finds a Son!, 1939, MGM); Johnny Weissmuller, Maureen O’Sullivan e Johnny Sheffield (Boy)
- O Tesouro de Tarzan (Tarzan’s Secret Treasure, 1941, MGM); idem
- Tarzan Contra o Mundo (Tarzan’s New York Adventure, 1942, MGM); idem
- O Triunfo de Tarzan (Tarzan Triumphs, 1943, RKO); Johnny Weissmuller e Johnny Sheffield
- Tarzan e o Terror do Deserto (Tarzan’s Desert Mystery, 1943, RKO); idem
- Tarzan e as Amazonas (Tarzan and the Amazons, 1945, RKO); Johnny Weissmuller, Brenda Joyce e Johnny Sheffield
- Tarzan e a Mulher Leopardo (Tarzan and the Leopard Woman, 1946, RKO); idem
- Tarzan e a Caçadora (Tarzan and the Huntress, 1947, RKO); idem
- Tarzan e as Sereias (Tarzan and the Mermaids, 1948, RKO); Johnny Weissmuller e Brenda Joyce
- Tarzan e a Fonte Mágica (Tarzan’s Magic Fountain, 1949, RKO); Lex Barker e Brenda Joyce
- Tarzan e a Escrava (Tarzan and the Slave Girl, 1950, RKO); Lex Barker e Vanessa Brown
- Tarzan em Perigo/Tarzan na Terra Selvagem (Tarzan’s Peril, 1951, RKO); Lex Barker e Virginia Huston
- Tarzan e a Fúria Selvagem (Tarzan’s Savage Fury, 1952, RKO); Lex Barker e Dorothy Hart
- Tarzan e a Mulher Diabo (Tarzan and the She-Devil, 1953, RKO); Lex Barker e Joyce MacKenzie
- Tarzan na Selva Misteriosa (Tarzan’s Hidden Jungle, 1955, RKO); Gordon Scott
- Tarzan e a Expedição Perdida (Tarzan and the Lost Safari, 1957, MGM); idem
- A Luta de Tarzan (Tarzan’s Fight for Life, 1958, MGM); Gordon Scott e Eve Brent
- Tarzan e os Caçadores (Tarzan and the Trappers, 1958, TV); idem; três episódios feitos para a TV, editados como longa-metragem exibido também nos cinemas
- A Maior Aventura de Tarzan (Tarzan’s Greatest Adventure, 1959, Paramount); Gordon Scott
- Tarzan, O Filho das Selvas (Tarzan, the Ape Man, 1959, MGM); Dennis Miller e Joanna Barnes; o primeiro Tarzan louro do cinema é considerado o pior de todos os tempos
- Tarzan, O Magnífico (Tarzan The Magnificent, 1960, Paramount); Gordon Scott
- Tarzan Vai à Índia (Tarzan Goes to India, 1962, MGM); Jock Mahoney
- Os Três Desafios de Tarzan (Tarzan’s Three Challenges, 1963, MGM); idem
- Tarzan e o Vale do Ouro (Tarzan and the Valley of Gold, 1966, American International); Mike Henry
- Tarzan e o Grande Rio (Tarzan and the Great River, 1967, Paramount); idem; filmado no Brasil
- Tarzan e o Menino das Selvas (Tarzan and the Jungle Boy, 1968, Paramount); idem; também filmado no Brasil
- Tarzan and the Four O’Clock Army (1968, National); Ron Ely; episódio duplo “Four O’Clock Army”, da segunda temporada da série de TV, lançado nos cinemas
- A Revolta de Tarzan (Tarzan’s Jungle Rebellion, 1970, National); idem; episódio duplo “The Blue Stone of Heaven”, da segunda temporada, lançado nos cinemas
- O Silêncio de Tarzan (Tarzan’s Deadly Silence, 1970, National); idem; episódio duplo “The Deadly Silence”, da primeira temporada, lançado nos cinemas
- Tarzan and the Perils of Charity Jones (1971, National); idem; episódio duplo “The Perils of Charity Jones”, da primeira temporada, lançado nos cinemas
- Tarzan, O Filho das Selvas (Tarzan, the Ape Man 1981, MGM); Miles O’Keeffe e Bo Derek; considerado pela crítica como um dos piores filmes de todos os tempos
- Greystoke, A Lenda de Tarzan, O Rei da Selva (Greystoke: The Legend of Tarzan, Lord of the Apes, 1984, Warner); Christopher Lambert e Andie MacDowell
- Tarzan and the Lost City, 1998, Warner; Casper Van Dien e Jane March
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E isso sem contar a série de Tv, e a mutueira de desenhos animados e quadrinhos com o personagem!
Eu sempre curti muito este personagem, e acho que grande parte da força dele vem do conceito quase ancestral do humano-selvagem, que é criado com animais. Eu inclusive fiz um post sobre crianças selvagens aqui.
Agora, ao que parece, vem aí mais um produto da franquia Tarzan. Dessa vez um filme feito em 3d tendendo mais do que eu esperava para o realismo. Bom, eu tenho medo de filmes de 3d que tendem tanto para o realismo. Não sei, me parece uma coisa meio forçada, uma tentativa de imitar a realidade com um meio que permite ousar muito mais do que simplesmente copiar o mundo real. Pode soar meio radical dizer que ou o 3d devia ser tão realista que não apenas pareça, mas que seja real (ex, efeitos especiais de alguns poucos filmes) ou assume-se que é animação e faz a parada deixando logo bem claro que não é o mundo real. Claro que esta é só uma opinião pessoal, limitada apenas a estética dos filmes, não entrando no mérito do roteiro. Se o roteiro for foda, o filme pode ser até de palitinho que eu vou gostar.
Então agora teremos um novo Tarzan de computação gráfica. Saiu até este trailer dele, que ão agradou muita gente.
Eu pessoalmente gostei. Acho que faltou alguns pequenos detalhes que poderiam melhorar muito esta animação, como o galho balançar, algum vento, mais varioação nos tons de verde… Agora o que incomodou muito neste video é este shader do cabelo do Tarzan. Porra que brilho maluco é esse? Isso não é comercial de Shampoo, gente! É um cara que é criado na floresta no meio de um monte de macaco! Esse cabelo dele não pode brilhar nem a pau!
E você? O que achou do trailer? Deu vontade de ver?
Em mim não deu mita não. Mas caso esteja curioso com o processo, aqui tem o making of:
Para fechar o post, algumas curiosidades sobre o Tarzã. Você sabia que os descendentes do autor de Tarzan tentaram patentear o famoso grito do Tarzã? A coisa é uma luta que se arrasta há mais de uma década. O escritório de patentes espanhol não está muito disposto a aceitar patentar um grito, mas os caras querem porque querem tornar o grito, que é 100% atrelado ao herói, numa espécie de “marca”. Caso eles conseguissem isso, poderiam ganhar milhões de dólares em direitos autorais, já que o famoso grito está em ringtones, games, filmes, e até em musicas. Mas o problema é que aquele grito é um mistério.
Segundo o escritório de registro europeu, o grito não pode ser registrado como marca porque não cumpre vários critérios, inclusive o da impossibilidade de reconhecer, nos filmes da série, se o som representado é uma voz humana ou outra coisa, como melodia de um violino ou o latido de um cão. Os familiares prometem recorrer.
O grito mais famoso da história é na realidade, uma colagem de diversos sons. A única certeza é que o grito de Johnny Weissmuller na figura de Tarzan não era totalmente de sua autoria e sim a combinação de diversos sons, incluindo o seu próprio grito, misturado com um dó agudo de uma soprano e um uivo de hiena gravado em fita e reproduzido de trás para frente.
Muitos especulam que um homem com o nome de Lloyd Thomas Leech era a voz original por trás do grito de Tarzan do filme da MGM. Este cara era um cantor de ópera durante os anos 40, 50 e 60. Leech até ganhou o Festival de Música de Chicago em 17 de agosto de 1946. O próprio Leech diz em algumas gravações de como o grito de Tarzan foi criado. Sua história é apoiada por seus filhos e netos:
“À sua voz, se misturou o rosnar de um cachorro, um trinado cantada por uma soprano, uma nota tocada em um corda de violino e uivo de uma hiena registrada de trás para a frente.”
De acordo com Bill Moyers, o famoso gito foi criado pela combinação das gravações de três homens: um barítono, um tenor e um chamador porco do Arkansas. O ator Weissmuller alegou também que o grito era na verdade sua própria voz. Sua versão é apoiada por seu filho e por sua co-estrela de Tarzan, Maureen O’Sullivan.
Uma outra curiosidade do famoso gruto do Tarzan é que ele é um palíndromo , ou seja, se ele é tocado em sentido inverso, soa idêntico.
Isso revela que o som é sem dúvida, uma gravação manipulada de uma voz humana. Dessa forma, podemos concluir que o grito é uma criação do estúdio de dublagem. Quando a franquia dos filmes passou para as mãos da RKO Studios, uma nova – um pouco diferente e não-manipulada – versão do grito foi gravada. Essa versão foi usada até meados dos anos 60.
Essa biblioteca ainda continua encima da rodoviária velha.
Fui diversas vezes fazer trabalhos do CER por aquelas bandas na era pre-internet. Copiar textos imensos a mão. Mas, eu gostava mesmo da biblioteca do SESC porque la tinha uns livros como Operação Cavalo de Troia e Senhor dos Aneis, no qual eu adora ler.
Eu era criança, e ainda assisti alguns destes antigos de 1930, eram seriados na verdade, episódios muito curtos, cheios de ação em alta velocidade. O primeiro caçadores da arca perdida tenta imitar muitos destes momentos destes tarzas antigos, aquela cena na ponte pensil, é retirada direto destes filmes. Mas aquele com a Bo Derek, tem o tarza mais parecido com os gibis. O cara não fala, o que é lógico. E aqueles com o Johnny Weissmuller, são impressionantes ainda hoje. E como a Jane era bonita. Qualquer tarzâ largaria tudo por ela.
Acho que um dos últimos, o do Crhistopher Lambert, é muito, mas muito bom. Tem uma cena, que ele já na mansão do suposto vô dele, e que dá uma depressão, ele na sala de jogos, comoça a dar uma melancolia pela falta de adaptação com o mundo civilizado, ele começa a agir como um macaco, ele dá um banho. Achei um baita papel.
Porra Philipe tu realmente gostou dessa bosta ?
Isso pra 10 anos atras tava bom, pra hoje em dia um estudio devia ter vergonha de por isso no ar.
Só pra termos um paralelelo te deixo o video da engine que fizeram o Crysis, e isso é o da engine antiga, de 3 anos atras, se voce ver o da cryengine 3
http://www.youtube.com/watch?v=aZR5IvXGMts
Rodando um filme atraves da engine do jogo ficaria melhor e com custo bem menor.
Sou mais os fundo de quintal feitos com Blender