sexta-feira, dezembro 20, 2024

Ultra bombadismo

Por que todo super-herói tem que ser assim?

Todo artista acaba tendo uma preferência em termos de estética, quando se trata da representação do ser humano. Isso é do jogo.

Mas eu tenho um lance que me incomoda, e que de vez em quando me vejo na conflitante situação de ter que lidar com ele. Como algumas pessoas sabem, eu trabalho esculpindo coisas para os outros,  e em alguns meses, essa é minha principal fonte de renda.

Muitas vezes um cliente me pede um super herói, e é justamente aí que meu problema começa.

Eu verdadeiramente não gosto do ultra-bombadismo, na proporção inversa que corpos mega-sarados fazem sucesso com o povo. Acho exagerado, não sei, não curto.

Em alguns personagens, como o Conan, Juggernaut, ou no Incrível Hulk, o ultra-bombadismo acaba sendo uma parte do negócio, quase indissociável do personagem, mas é no exagero que eu vejo por aí que reside minha angústia.

Muitas vezes eu vejo caras que esculpem bem pecando nisso, como num vício que é mais forte do que eles.

A necessidade do conhecimento anatômico nos personagens para fazê-los mais criveis faz com que todo artista precise passar HORAS E HORAS E HORAS E MUITO MAIS HORAS AINDA estudando como cada maldito músculo se parece.

Assim, estudamos muito com fisiculturistas e pessoas musculosas, para entender como cada músculo se encaixa um ao outro.

O artista acaba sendo levado a demonstrar para o mundo o que aprendeu com tanto tempo de estudo e faz seu personagem ultra-mega-super-hyper-uber bombado, para que qualquer um não tenha dúvidas:

“Ei, esse cara aqui sabe onde se liga o esternocleidomastóideo!”

Então, o que se sucede é que personagens em estado de repouso, em poses que não pedem a contração muscular aparecem totalmente contraídos, com todos os muques possíveis e imagináveis quase estourando, como um tipo de Ronnie Coleman de palco, 24/7. Busca-se a potência do personagem numa super muscularidade.

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Por que parece ser preciso marcar tanto cada músculo em contração impossível?

Os personagens, heróis, guerreiros, monstros, são sem gordura. Todo mundo parece estar pronto para tentar uma vaga de Mister Olympia.

plumas | Textos | Arte, esculturas, Textos
Muitas vezes, personagens igualmente potentes, podem ser feitos com um “chassi” mais humano – Escultura do Allan Carrasco

Dentro desse problema, ainda vejo coisas que não fazem sentido, como personagens com barrigas avassaladoramente grandes, mas nos braços e pernas, iguais as do Arnold.

Porra, se o personagem tem uma pança, não parece inverossímil demais que a gordura  fique toda ali e NADA no resto do corpo? Isso é uma falha de design recorrente em monstros e até em zumbis.

O problema da penteadeira de p*ta

Outro problema que me incomoda no design de personagens, sobretudo os de fantasia, são o excesso de presepadas. Tem gente que perde a noção. O personagem acaba aparecendo uma arvore de natal, é um podrão de rua com tudo que tem direito. Correntes, armaduras, espetos, emblemas, e assim vai sendo colocado um treco por cima do outro, a peça vai se tornando um carro alegórico de elementos, e tudo é detalhado, tudo tem uma bossa aqui e ali, arabescos, e detalhes saltando e tudo grita por sua atenção.

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Vai socando a peça de elementos como se não houvesse amanhã! (autor desconhecido)
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Personagens selvagens com roupas intrincadas quebram a lógica (autor desconhecido)

Mas o pior não é isso. O pior mesmo é quando um personagem é um monstro selvagem, feral, brutal, um ser primitivo, mas a roupa dele diz o oposto. A roupa é cheia de detalhes intrincados e caprichados que NÃO TEM COMO aquele bicho usar. Eu bato o olho e fico pensando, quem fez essa roupa? Onde esse monstro que sei lá, habita alguma caverna encomendou essa armadura toda trabalhada?

Enfim, personagens existem de todos os tipos, formas e com as mais variadas características. Mas é sempre bom pensar de onde cada coisa vem e como ela funciona antes de sair jogando simplesmente porque dá.

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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